Espalhados pelas colinas frondosas, os campanários das igrejas de Olinda despontam no meio da vegetação tropical. Estão rodeadas por um casario português na traça e brasileiro na alegria das cores, um dos mais belos complexos de arquitectura colonial do Brasil. Um roteiro de viagem à “cidade alta” de Olinda, paredes-meias com Recife, capital de Pernambuco.
Olinda e Recife – até o clima é diferente
Sempre que vou a Olinda, chove. Mesmo que esteja sol quando chego, é só o tempo de dar uns passos na calçada de pedra duma das ladeiras que leva ao Alto da Sé, e o céu logo começa a ameaçar. Por vezes o sol continua a brilhar sobre os prédios da cidade de Recife, lá ao fundo, depois da mancha verde e frondosa que rodeia Olinda.
Mas a praça da igreja da Sé transforma-se num pequeno caos, com turistas e vendedores ambulantes a fugirem para o abrigo das barraquinhas de souvenirs; deve ser conluio dos vendedores com S. Pedro, assim sempre conseguem que autocarros inteiros de turistas se distribuam pelas lojas.
E, já que ali estão, sempre vão comprando uma bela garrafinha de licor de jenipapo, umas estatuetas dos célebres Lampião e Maria Bonita, um jogo de damas com figurinhas do folclore regional ou até, quem sabe, uma tentadora cama de rede.
Esta é considerada uma das zonas do país mais rica a nível de artesanato, e enquanto chove podemos preparar-nos para o que nos espera lá fora, apreciando miniaturas do casario em forma de presépio que constitui a parte antiga de Olinda – e que são quase tão bonitas como a realidade.
O Mercado Eufrásio Barbosa, e até o antigo e de má memória Mercado da Ribeira, um belo edifício do século XVI onde também se comprava escravos, reconverteram-se a esta actividade bem mais saudável e criativa. O turismo tornou-se uma actividade essencial e proliferam os guias de ocasião, os cafés com música ao vivo e as barraquinhas itinerantes de comes e bebes.
E mais do que tudo estão lá os olindenses que, como a generalidade dos brasileiros, são calorosos, despretensiosos e bons conversadores. Sempre prontos a passar o cartão de uma pensão ou a oferecer um serviço, mas igualmente prontos a retomar a conversa, risonhos, mesmo que não haja negócio.
Na verdade, Olinda é agora uma parte do Recife – e sem dúvida que é a parte melhor. É um jardim, um refúgio, o parque recreativo onde os recifenses vêm passar o serão ou o fim-de-semana. Sobretudo à noite, a cidade antiga ressoa de músicas que saem de pátios rodeados pela vegetação tropical.
Há bares, pequenos restaurantes, música ao vivo, e uma animação que já lembra os festejos do Carnaval que, a par com o do Rio de Janeiro e o de Salvador, é considerado um dos melhores do Brasil. A cidade tem uma fortíssima tradição musical, e artística em geral, tendo vindo a transformar-se na “casa” de muitos músicos e pintores que aqui vieram instalar-se. Até os grafitos que aparecem nas paredes – incluindo nas do cemitério – são de qualidade, sejam eles de carácter político ou abstractos.
Mas claro que a arte mais apreciada, aquela que atrai cada vez mais turistas nacionais e estrangeiros, é a que os colonizadores portugueses deixaram por aqui e que foi sabiamente copiada e reconstruída desde então.
Se Nova Olinda é apenas mais uma cidadezinha brasileira comum com trezentos mil habitantes, a parte antiga, a chamada “cidade alta”, é um festival de barroco. Espalhadas pelas colinas e sempre com vista para o mar, as duas dezenas de igrejas, para além de construções elegantes, funcionam como miradouros extraordinários sobre o mar verde de coqueiros que só termina no verde mais claro do mar, ou nas torres mais longínquas do Recife, plantadas em redor da baía.
Vale a pena entrar, pelo menos, no Convento Franciscano, para ver os azulejos com cenas da vida de Jesus e de S. Francisco de Assis, e também na igreja da Sé, ou de S. Salvador do Mundo; ambas oferecem um panorama sem igual sobre a velha Olinda e ambas se situam na sua parte mais alta.
O acesso é feito por ruas íngremes, que percorremos a pé para admirar as casas baixas de cores quentes – e aqui até o azul parece ser uma cor quente -, que dão à zona aquele inimitável ar de presépio, reproduzido até à exaustão em pinturas, cerâmicas, estampados e fotografias.
“Oh, linda!”
Quando aqui chegaram as primeiras esquadras de barcos portugueses, a vista do mar já devia ser encantadora; rezam todos os guias que Duarte Coelho Pereira, administrador do estado de Pernambuco em 1535, exclamou “Oh! Linda situação para fundar uma vila!”, e daí nasceu Olinda, que depressa se transformou na capital do estado, recheada de igrejas e casas senhoriais.
Mas os holandeses, que chegaram a ferro e fogo em 1630, não foram em conceitos de beleza, e mudaram a capital de novo para Recife, onde o porto de águas baixas facilitava a partida de mercadorias. E ainda fizeram o obséquio de queimar todas as igrejas à excepção de uma – justamente aquela que está agora mais arruinada, a de S. João Baptista dos Militares.
As restantes foram construídas ou reconstruídas depois da partida dos insensíveis flamengos que, no entanto, foram bastante menos severos com a comunidade judaica do que os portugueses. Desde essa altura que as duas cidades, Recife e Olinda, se tornaram rivais, chegando mesmo a protagonizar, no século XVIII, a chamada Guerra do Mascate.
Depois da sua reconstrução, Olinda tornou a ser capital do estado, entre 1676 e 1827, até que a importância do Recife, a capital actual, se tornou definitiva. Mas a verdade é que, se perdeu a importância política, Olinda ganhou em muitas outras frentes.
Para começar, a sua beleza incomparável e o seu valor histórico levaram a que fosse decretada a sua protecção como Monumento Nacional e, no início dos anos oitenta, logo a seguir a Ouro Preto, teve direito à classificação como Património da Humanidade pela UNESCO, a segunda em solo brasileiro.
São dezoito igrejas dos séculos XVII e XVIII, pracetas, fontanários e conjuntos arquitectónicos dignos de museu, como o da Rua do Amparo, que estão destinados a ficar para a posteridade, lembrando uma época histórica que marcou os dois países.
Recuperadas e pintadas de fresco, as velhas igrejas e as casas coloridas dispostas em filas pelas ruas empedradas fazem parte da memória colectiva, ao mesmo tempo que continuam a ser palco de um quotidiano agitado e alegre que não deixa a cidade morrer.
Guia prático
Este é um guia prático para viagens a Olinda, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de atividades na cidade vizinha de Recife, capital de Pernambuco. Veja também o que fazer em Olinda.
Quando viajar para Pernambuco
Todo o ano. A época em que chove menos é, obviamente, o Verão austral, que coincide com o nosso Inverno.
Como chegar a Olinda
A maneira mais fácil é embarcar num dos muitos voos TAP até Recife, por cerca de 800 €, e daí apanhar um táxi ou autocarro até Olinda. Uma vez na cidade antiga, as distâncias são suficientemente curtas para se percorrer tudo a pé.
Onde ficar
Não falta alojamento para todas as bolsas em Olinda e Recife, do parque de campismo aos hotéis de luxo como o Sete Colinas, na Ladeira de S. Francisco. Uma das pousadas mais acolhedoras e bem situadas é a Pousada dos Quatro Cantos, na Rua Prudente de Morais. Para ficar em Olinda durante o muito concorrido Carnaval deve reservar com meses de antecedência.
Gastronomia pernambucana
A comida pernambucana é bastante saborosa, mas é também frequente encontrar algumas delícias baianas na rua, como o acarajé. Um dos locais gastronómicos mais famosos de Olinda é a Oficina do Sabor, na Rua do Amparo 365.
Informações úteis
É possível levantar dinheiro em ATM e pagar com cartão de crédito em grande parte das lojas. O Turismo Municipal de Olinda fica na Rua de S. Bento.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.