Ainda na Austrália, voo da Tasmânia para Sydney, naquela que constitui a última paragem antes de rumar ao continente americano. Lá chegado, rendo-me aos encantos de Balmain – um dos mais elegantes bairros da cidade -, à ímpar arquitectura da Sydney Opera House e a uma dobrada tipicamente portuguesa.
Vindo de uma curta visita à ilha da Tasmânia, Sydney era a última paragem antes de rumar ao continente americano. Lá chegado, seria normal ter procurado alojamento numa qualquer pousada no centro da cidade, próximo das grandes atracções citadinas e do postal ilustrado perfeito que constitui o edifício da Sydney Opera House. Mas tal não sucedeu, felizmente. Uma troca de mensagens electrónicas com um casal australiano levou-me a fixar residência temporária em Balmain, bairro periférico onde Mary e Mike moravam. E assim, quase por casualidade, conheci uma zona diferente da Sydney tradicionalmente visitada. Balmain, um bairro recheado de história, personalidade e beleza.
Balmain fica a apenas dez minutos de autocarro do bulício da área central de Sydney. Ou a vinte de ferryboat. Tão perto e, no entanto, um mundo à parte. Actualmente, ninguém diria que Balmain foi outrora o centro industrial da cidade. Indústrias pesadas tendo como objectivo a construção de navios, linhas de caminhos-de-ferro e equipamento mineiro estavam sediadas neste bairro periférico até meados do século XX. Nessa época, um elevado número de operários das indústrias pesadas necessitavam de alojamento económico. E assim Balmain cresceu à base de pequenas e modestas habitações, construídas com o propósito de serem arrendadas aos operários daquelas indústrias.
Mas, aos poucos, intelectuais, professores e artistas foram descobrindo a zona de Balmain e escolhendo-a como refúgio permanente. Uma zona tranquila e bonita, com charme, a lembrar uma pequena e elegante vila rural, mas suficientemente próxima do centro de Sydney. O lugar ideal para uma vida relaxada próxima das facilidades de uma grande metrópole. E assim as pequenas casas foram sendo remodeladas com extremo bom gosto o que, aliado à excelente localização geográfica – uma boa parte das habitações tem vistas fabulosas sobre Sydney, do outro lado do rio -, fez de Balmain, actualmente, um dos lugares mais dispendiosos em termos de negócios imobiliários. “Comprámos esta casa por tuta-e-meia quando Balmain era uma zona marginal. Hoje vale muito, muito dinheiro”, afiançou o simpático casal que me acolheu em sua casa.
Usei Balmain como base para explorar o próprio bairro mas também a agradável cidade de Sydney. Diz-se que Sydney possui um dos mais espectaculares portos de todo o mundo. Não tenho muitos termos de comparação, mas posso pelo menos garantir que a área envolvente ao porto é de facto, deveras aprazível. Dedicada primordialmente ao bem-estar das pessoas. Parques verdes, extensas zonas pedonais, vistas sobre o rio, sobre a azáfama do porto e a famosa ponte faziam as delícias de turistas curiosos e habitantes locais em busca de uma melhor forma física. E claro, entre a ponte e o miradouro de Mrs. Macquaires, a soberba Sydney Opera House, edifício controverso do arquitecto dinamarquês Jorn Utzon que, ironicamente, nunca viu presencialmente a sua obra mais famosa terminada, após ter abandonado, desgostoso, o conturbado processo de construção do edifício.
Estava a planear o último dia em terras australianas quando Mike, excelente companhia e óptimo conversador, disparou: “queres ir almoçar ao bairro português?”. “Vamos a isso”, concordei. E então seguimos de automóvel, durante cerca de meia hora, até que chegámos a uma rua onde os letreiros das casas comerciais eram ininteligíveis para Mike. “Restaurante O Pescador”. “Hoje há caldeirada de peixe”. “Prato do dia: sardinhas pequenas com arroz de tomate”. Um pequeno pedaço de Sydney onde quase tudo estava escrito em português. Não consegui controlar um rasgado sorriso. “Pareces feliz”, disse Mike. “Claro, estou numa rua portuguesa nos antípodas do meu país”, retorqui.
Entrámos num restaurante cujos clientes eram, evidentemente, todos portugueses. Uma dobrada bem preparada, um café bem tirado e um aceitável pastel de nata selaram a minha passagem por aquela comunidade lusitana além fronteiras. Uma excelente forma de terminar mais uma fase desta odisseia, a lembrar o bem que sabe um esporádico sabor a casa quando se viaja mundo afora.
Esta é a capa do livro «Alma de Viajante», que contém as crónicas de uma viagem com 14 meses de duração - a maioria das quais publicada no suplemento Fugas do jornal Público. É uma obra de 208 páginas em papel couché, que conta com um design gráfico elegante e atrativo, e uma seleção de belíssimas fotografias tiradas durante a volta ao mundo. O livro está esgotado nas livrarias, mas eu ofereço-o em formato ebook, gratuitamente, a todos os subscritores da newsletter.
Comentários sobre “Balmain, de bairro operário a subúrbio elegante de Sydney”
Olá grande Filipe
Vejo que tudo continua a correr como deve. Já não vinha cá há algum tempo… fiz as leituras em atraso e sonhei um bocadinho. Estou satisfeito! Esperamos por ti na nova casa do Capelo, perto do vulcão, onde também se descansa verdadeiramente daquilo que não interessa (bom, para ti nos últimos tempos, tudo interessa!).
Grande viagem. Grande abraço. Granda flash way.
Comentário enviado por Pietz em 20.JUN.2005 – 12:15
Olá, Filipe (e Luísa, se ainda aí andas).
Era só para dizer que gosto de cá vir.
Beijinhos e que a viagem continue soberba!
Comentário enviado por Dora em 21.JUN.2005 – 20:05
Vi ontem a tua entrevista para o programa Timor-Leste Contacto.
Fiquei impressionado, a tua viagem é bem mais complicada que a minha, quando tinha 25 anos, logo após o 25 de Abril de 74.
Fui dar a volta à Europa à boleia.
Foi engraçado, boa experiência.
Entrei no teu site porque entendi ser um dos que te devia apoiar, e foi pena que enquanto em Sydney não te tivesse cruzado, se bem que até estava a trabalhar na minha Portuguese deli, em Petersham, que fica situada entre os dois talhos portugueses um pouco abaixo do restaurante “O Pescador” quando visitaste a área. Área que é o nosso orgulho, identifica-nos com Portugal. Quando pessoas como tu por aqui passam, sabem dar o valor que aqueles que aqui vivem não sabem dar.
Boa viagem, boas experiências, mas mais do que tudo, à tua maneira estás a levar bem longe o nome de Portugal.
Um abraço e se voltares a Sydney a minha casa está à tua disposição.
Manuel Lopes
Comentário enviado por Manuel Lopes em 27.JUN.2005 – 00:03