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Vestígios dos Diabos da Tasmânia, em Port Arthur (VM #47)

Por Filipe Morato Gomes | Volta ao Mundo Austrália Oceânia Tasmânia
Atualizado em 7.07.2017 | Tempo de leitura: 4 minutos

Viagens: Hobart, Tasmânia - Volta ao Mundo

Sigo inesperadamente para a Tasmânia, em busca do homónimo diabo mas, de diabólico, apenas encontro vestígios dos duros tratos infligidos a outras criaturas: os seres humanos trazidos para o estabelecimento prisional de Port Arthur.

Procurava definir que rumo tomar quando entrei numa agência para mochileiros em Adelaide. Lá dentro, debruçada sobre o balcão, uma canadiana que conhecera dias antes fazia perguntas sobre a Tasmânia. A palavra ecoou nos meus tímpanos. “Porque não?”, pensei. Saí da agência sem nada inquirir e minutos depois comprava na internet um bilhete de avião para a ilha do diabo. Menos de vinte e quatro horas depois aterrava em Hobart, capital da Tasmânia.

Salamanca em dia de mercado, Hobart
Salamanca em dia de mercado, Hobart

Apesar do tempo frio e chuvoso, Hobart revelou-se uma cidade com charme. O bairro residencial de Battery Point, com as suas casas térreas e cafés intimistas, dava um toque de elegância à cidade. A zona envolvente à Praça Salamanca, centro pedonal da área ribeirinha, transmitia serenidade. Os edifícios eram antigos, de grossas paredes de pedra e fachadas bem preservadas, majestosos. E o centro da cidade, apesar de área comercial e de negócios, não deixava de ter algum encanto.

Ao terceiro dia na cidade o calendário marcava sábado, dia do mercado semanal na Praça Salamanca. A pacatez dera lugar à azáfama num lugar normalmente tranquilo. Convergiam turistas e tasmânios em busca de pechinchas ou petiscos. Havia muitas frutas e doces regionais, roupas e tecidos, livros em segunda mão, madeiras e artefactos de mil utilidades e – claro – souvenirs desinteressantes. Numa banca de rua recomendada por um transeunte, lancei-me a novos sabores provando uma iguaria regional – uma crocante empada de peixe com um molho de maionese, cogumelos, milho e vários outros ingredientes. Uma delícia, a comprovar o que havia já experimentado noutros locais: a cozinha da Tasmânia é muito apelativa.

Era então tempo de abandonar Hobart e rumar a Port Arthur em busca dos vestígios de um passado tortuoso. A região de Port Arthur foi originalmente habitada pelo povo Pyderrairme mas, a partir de 1833, foi transformada num estabelecimento prisional erguido para albergar os “piores criminosos” do império. O tratamento que recebiam era de acordo com essa fama. Torturas, chicotadas, semanas de isolamento em celas exíguas e escuras e alimentação deficiente era com o que podia contar quem ali chegava. Muitos acabaram com profundas deficiências psicológicas. Muitos outros, simplesmente, sucumbiram. Apesar de tudo, Port Arthur é considerado o embrião das prisões australianas da actualidade. Os princípios da divisão dos presos por categorias hierárquicas, da disciplina, da recompensa e punição, bem como os primeiros programas de educação vocacional e formação profissional foram testados em Port Arthur. Tudo fazia parte de um sistema prisional deliberado e coerente e muitos desses princípios são hoje pedras basilares dos sistemas carcerários da actualidade.

Antigo complexo prisional de Port Arthur, Tasmânia
Um grupo de turistas percorre o antigo complexo prisional de Port Arthur, Tasmânia

Port Arthur deixou de receber prisioneiros em 1853 e foi finalmente encerrada vinte e quatro anos mais tarde. Actualmente, as ruínas dos edifícios do complexo prisional – das celas da prisão à igreja, do hospital às salas onde os presos desenvolviam uma profissão – são a maior atracção turística da Tasmânia. Mais do que as montanhas Cradle, onde viajantes destemidos efectuam caminhadas de vários dias, longe de tudo menos da Natureza em estado quase puro. Ou o Lago St. Clair, uma das paisagens mais belas da ilha, localizado no homónimo Parque Natural. Ou ainda o Parque Natural Freycinet, famoso pela atractiva Wineglass Bay, nome devido à geografia dos contornos da baía que, com alguma boa vontade, se assemelha a um copo de vinho. Ou às colónias de pinguins que habitam a região de Bicheno. Ou ainda o famoso diabo da Tasmânia, animal raramente observado por humanos fora dos parques destinados a reabilitar feridos e órfãos.

Um dia, num desses parques, observei o comportamento de um daqueles diabos. Apesar do rosnar estridente e dos dentes assustadores, a criatura parecia tudo menos diabólica. Como dizia um turista passeando por entre as ruínas de Port Arthur, “o verdadeiro diabo da Tasmânia deve ter vivido aqui, quase dois séculos atrás”.

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Comentários sobre “Vestígios dos diabos da Tasmânia, em Port Arthur”

Calculo como deve ser fantástico decidir assim, de um momento para o outro, apanhar um avião para a Tasmânia e menos de 24h estar lá, mas para si deve ser quase banal, ao fim de tantos meses de viagem, não? Que sensação de liberdade e independência poder decidir na hora e com todo o tempo do mundo… Tal como noutros lugares, também na Tasmânia, mais uma vez descobriu uma tema interessante e original para as suas reportagens (muito melhores que os banais textos “turísticos” agora publicados em livro por um jornalista famoso cá do sítio)! Aguardo com uma expectativa especial as suas crónicas do Chile e Bolívia, pois estarei por lá em Agosto…

Enviado por Paulo Goncalves em 15.JUN.2005 – 14:19

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 52 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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