
Com a moeda desvalorizada e uma inflação galopante (alguns preços duplicaram no espaço de um ano), muitas famílias iranianas estão em sérias dificuldades. A crise parece ter chegado ao Irão.
Tenho visto homens a remexer no lixo à procura de comida e mais pedintes que o habitual nas várias cidades por onde tenho passado. Mas foi um encontro com uma criança que mais me marcou.
Era noite. Atravessava a ponte Si-o-Seh, em Esfahan, quando me tocaram na perna. Era uma menina de olhar triste, não teria mais que 5 anos, e trazia nas mãos algo para vender. Talvez fossem lenços ou pensos, seguramente algo de pouco valor. Os pais estariam nas proximidades, mas não os consegui ver.
Baixei-me e disse que não suavemente, ela insistiu impávida e serena, pronunciando apenas uma palavra em farsi que não entendi; voltei a dizer que não. Repetimos este diálogo várias vezes, calmamente, como se estivéssemos a testar a paciência um do outro.
Frente a frente, eu de cócoras para que ficássemos cara a cara e a olhasse sem ser de cima para baixo, só me lembrava da minha filha.
Ela não desistia.
Levantei-me e comecei a caminhar. A menina deu uns passos de petiza e colocou-se de novo à minha frente. Estava decidida. E triste. Fosse um adulto e teria levado um encontrão. Mas era uma menina da idade da minha filha.
De novo me baixei e recomeçámos o diálogo da paciência. Por três ou quatro vezes repetimos esta “luta”: ela queria vender, eu queria ajudá-la a simplesmente ser criança.
É um dilema antigo. Tinha vontade de comprar tudo o que a menina trazia na mão para que ela pudesse ir para casa brincar, dormir ou simplesmente sorrir. Mas fazê-lo seria contribuir para que nas próximas noites ela fosse de novo impelida para as ruas pelos seus pais. Por mais contraditório que possa parecer, a melhor forma de a ajudar era não ceder. Não comprar. Para que nas próximas noites pudesse ficar em casa a brincar, a dormir, a ser, enfim, uma menina de 5 anos.
Depois de alguns minutos que pareceram uma eternidade, a menina dirigiu-se por uns segundos a outras pessoas que passaram ao nosso lado. Aproveitei a “distração” e continuei a caminhar. Olhei para trás e “vi” a minha filha a vender lenços ou pensos aos transeuntes da Si-o-Seh Pol.
E não contive uma lágrima de tristeza, de raiva, de desespero.
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Deve ser bastante doloroso e triste passar por uma situação destas. Por vezes é difícil optar pela decisão certa!