Compactas, mirrorless ou SLR – qual a máquina fotográfica ideal para as suas viagens?

Por António Luís Campos
Como escolher uma máquina fotográfica

Esta é uma pergunta que amigos, familiares e até desconhecidos me fazem recorrentemente e para a qual o número de respostas possíveis é quase infinito! A problemática subjacente à questão “que máquina fotográfica devo comprar para fotografar em viagem?” pode ter dezenas, para não dizer centenas de soluções, e que vão desde as pequenas compactas automáticas, desafiadas pelas presença permanente dos telemóveis, até sistemas reflex que podem custar o salário de um ano!

O advento digital trouxe uma democratização da fotografia, elevando a sua conspicuidade a níveis nunca vistos! Facto paradoxal, atendendo a que uma máquina fotográfica digital é mais cara que o modelo equivalente de película e que, apesar da evidente poupança na revelação de rolos e impressão em papel das fotos, há ainda a adquirir toda uma parafernália de novos acessórios – cartões, leitores, cabos, adaptadores, baterias, discos externos, software e ainda um computador à altura.

Nas próximas linhas irei então viajar pelo panorama atual das opções que se apresentam a quem se deseje equipar com as ferramentas adequadas à fotografia de viagem. Da SUA viagem, porque são também muitos os tipos de viagem! Tendo em atenção uma máxima que ouvi e não esqueci, há muitos anos, de um mestre da fotografia: “a grande maioria das máquinas é melhor que a grande maioria dos fotógrafos”! Ou seja, por mais que nos queiramos convencer de que precisamos urgentemente de uma nova peça de equipamento (seja a que nível estivermos, e nem os profissionais escapam a tal), será difícil esgotar totalmente as capacidades de uma dada máquina, pelo que raramente essa “necessidade” o é na verdade!

Mas a luxúria fotográfica a muitos assola, pelo que, para melhor estruturar este périplo virtual, o dividirei em três conjuntos, respeitantes a outros tantos tipos de máquinas, das mais simples para as mais complexas: compactas, mirrorless e SLR, com algumas variações pelo caminho.

1. Compactas

Máquina compacta: Fuji X100T
Fuji X100T, uma das compactas avançadas mais atrativas do mercado

São as máquinas mais acessíveis, que têm como principais características:

  • Económicas
  • Leves
  • Silenciosas
  • Sensores digitais diminutos
  • Menor nível de controlo fotográfico sobre os parâmetros
  • Focagem automática
  • Tudo incluído – objetiva, corpo, flash, com poucas ou nenhumas opções de acessórios
  • E, sem surpresa, as pequenas dimensões!

O problema é que, nos últimos anos, mesmo este segmento se subdividiu:

Point and shoot, 50€ a 300€. As mais básicas e acessíveis máquinas totalmente automáticas e diminutas, com zooms relativamente pequenos e objetivas pouco luminosas. Para apenas captar o instante sem grandes preocupações funcionam, mas um bom telemóvel faz praticamente o mesmo.

À prova de água, 100€ a 400€. E também de quedas, pó e frio! Máquinas muito robustas, submersíveis e que, para viajantes mais aventureiros (ou azarados), são uma boa solução. Na prática são point and shoot numa estrutura especialmente desenhada para este fim.

Bridge, 200€ a 600€. São maiores, apresentam controlos manuais, objetivas com uma enorme gama de distâncias focais e funções um pouco mais avançadas. Muitas vezes parecem externamente SLR, pelo facto de terem punhos tridimensionais e objetivas proeminentes.

Compactas avançadas, 400€ a 3.000€. Modelos de grande qualidade de construção, com controlos manuais e botões externos para uma ergonomia e facilidade de operação ótimas, com grandes sensores e muitas vezes mais caras até que as SLR de entrada de gama! Tipicamente as objetivas são muito luminosas, o que faz uma grande, grande diferença naqueles momentos em que o dia se esgota e a pouca luz existente luta contra os píxeis! Estas são, para mim, uma excelente opção, independentemente de se ter uma máquina mais substancial para diferentes situações.

Uma compacta tem diversas vantagens: ser pequena e leve permite que a tenhamos sempre connosco. Por outro lado, ao ser relativamente barata, também não nos preocuparemos tanto se a vamos estragar, perder ou até nos cruzarmos com alguém que esteja firmemente convicto que precisa mais dela do que nós próprios!

Além disso as pessoas prestam muito menos atenção a uma câmara pequena que a um canhão. É de longe mais agressivo fotografar com uma teleobjectiva e uma máquina que, ao disparar, parece uma metralhadora, do que com algo discreto, silencioso e que deixa a cara descoberta. E, mais importante ainda, sobretudo se estivermos a falar de culturas muito distantes e em que o fosso socioeconómico seja grande, uma pequena máquina vai sempre parecer um objeto de diferenciação cultural menos intrusivo, o que nos permitirá maior proximidade com as gentes locais e ser recebido de forma mais franca e aberta.

Recomendações: Canon S120, Sony RX100 III, Lumix LX100, Fuji X100T

2. Mirrorless

Olympus OM-D
Uma mirrorless interessante: Olympus OM-D

400€ a 1.500€. Sem uma designação consensual, são também designadas por MILC (Mirrorless Interchangeable Lens Camera) ou EVIL (Electronic Viewfinder Interchangeable Lens). São sistemas com lentes e acessórios intermutáveis, em corpos relativamente compactos. São portanto muito mais versáteis que as compactas, partilhando algumas das suas funcionalidades:

  • Pequenas
  • Objetivas intermutáveis
  • Sem visor, ou apenas com visores eletrónicos
  • Relativamente silenciosas
  • Sensores de dimensão intermédia
  • Focagem automática eficaz
  • Vídeo de boa qualidade

As opiniões dividem-se. Há quem diga que é um “faz-tudo” que não faz nada bem. E quem opine que é o melhor dos dois mundos – pequenas e fáceis de utilizar como uma compacta, versáteis e com qualidade de imagem como uma SLR. Copo meio cheio ou meio vazio? Ou será um meio buraco!? Pessoalmente não uso, e a minha opinião orienta-se mais para a do primeiro grupo. Prefiro ter uma boa compacta para quando estou em viagem pessoal, e uma SLR para quando estou em trabalho.

Se só se pudesse ter uma, concedo que há mirrorless bastante interessantes. Mas para serem devidamente aproveitadas, é necessário investir algo mais em acessórios. Para além de um zoom generalista (distância focal equivalente a 24-70mm), é importante ter uma objetiva fixa de grande abertura. Quanto às marcas, tenho uma particular queda pela Fuji, pela qualidade e tridimensionalidade das imagens e pela facilidade de utilização, mas quase todos os fabricantes têm ofertas nesta gama.

Recomendações: Olympus OM-D, Fuji XT1, Lumix G/GF

3. Single Lens Reflex (SLR)

Nikon D7200
Nikon D7200, uma excelente SLR de gama média

€500 a €6.000. O topo da cadeia alimentar no que diz respeito a equipamento fotográfico (utilizável em viagem, dado que existem máquinas ainda mais sofisticadas mas que estão em geral confinadas a estúdio), as SLR apresentam uma variedade quase infinita de opções, podendo ser usadas virtualmente para qualquer tipo de fotografia. Os principais elementos diferenciadores são:

  • Visor ótico
  • Versatilidade
  • Qualidade de imagem, sobretudo com grandes sensores
  • Objetivas de grande abertura e de ótima qualidade
  • Focagem automática de topo
  • Velocidade de disparo
  • Robustez
  • Controlos manuais otimizados
  • Vídeo avançado

O layout e ergonomia são pensados para um uso intensivo e intuitivo, com pouco recurso aos menus, e muitas vezes têm até botões personalizáveis. O visor ótico é algo que alguns rotulam como uma relíquia do passado, sem futuro, mas a verdade é que a sensação de ver efetivamente o que se está a passar à nossa frente (e não uma imagem digital disso) permite uma relação muito especial com a máquina e com o sujeito fotográfico.

Embora não sendo câmaras de filmar dedicadas, as SLR atuais permitem uma excelente qualidade de gravação, permitindo acessórios externos de áudio, importantes para quem desejar mergulhar a fundo no mundo do vídeo. Um pormenor que cada vez mais passa despercebido é o botão de profundidade de campo, que permite fazer a visualização da imagem no visor antes da foto ser tirada. E, dependendo dos modelos, estas são das mais robustas máquinas disponíveis, sobretudo se assumirem ser “weather proof”.

A grande vantagem advém, por um lado, da imensa escolha de objetivas que existe. Uma boa objetiva – que custa tanto ou mais que o corpo da máquina – pode durar décadas, um corpo anos (e poucos). O uso de flash externo avançado é também possível e recomendável. Por outro lado são grandes, pesadas, caras e ruidosas. Não há bela sem senão!

Recomendações: Nikon ou Canon. Entrada de gama: Nikon D3400, D5300, Canon 100D, 750D. Gama média: Nikon D7200, Canon 70D e 7D II. Topo de gama: Nikon D4s, D810, D750, D610, Canon 1Dx, 5D III ou 6D.

Conclusão: compactas, mirrorless ou SLR?

Ao longo dos últimos anos, enquanto fotojornalista e viajante, vim a simplificar a minha abordagem no terreno. Não faz sentido carregar 15kg de material fotográfico às costas, se depois estou tão exausto ou desconfortável que não me apetece usá-lo. Ou andar sempre a olhar por cima do ombro a ver se alguém se prepara para me aliviar da carga!

Penso que cada um deverá encontrar o equilíbrio entre os seus objetivos fotográficos, a sua forma de viajar e, claro, o orçamento disponível. Como referi acima, na minha ótica a solução ideal passa por ter equipamento complementar, que se adapte a diferentes funções. Uma máquina pequena, simples, é sempre muito útil. Mas não é suficiente para tudo. Poder-se-á dizer até que um bom telemóvel a substitui. Concordo!

Nas minhas últimas viagens à América do Sul tenho levado apenas a Fuji X100s (compacta avançada) e um iPhone 5s como backup, porque se adapta perfeitamente ao tipo de cenários que vou fotografar. Em 2014, na travessia da Amazónia, um ambiente muito mais exigente e uma viagem com objetivos profissionais mais definidos, para além da Fuji levei ainda uma Nikon D800 e três objetivas (35mm f1.4, 85mm f1.4 e 28-300mm f:3.5-5.6).

Não há portanto soluções universais. O primeiro passo é cada um definir que tipo de fotografia quer fazer, quais as características que são de maior importância para si, do que está disposto a abdicar e, dentro disto, que opções se encaixam dentro do orçamento disponível.

E, nunca esquecer, muito mais importante que o equipamento é a criatividade, a inspiração, o prazer que retiramos do ato de fotografar e que, sem qualquer sombra de dúvidas, se reflete no resultado final.

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António Luís Campos

Fotojornalista freelancer e colaborador regular da National Geographic Portugal, tem presença online em www.antonioluiscampos.com. Apreciador de chá e exímio na confecção de crepes, vibra com viagens de barco.