“E agora, o que é que compro?”
Esta é a pergunta mais comum após a compra de uma máquina fotográfica. Para quem está entusiasmado com a disciplina, não há um fim para a aquisição de equipamento. E não se julgue que é um problema de deslumbramento de amador: mesmo os profissionais dificilmente escapam a essa “urgência”, com uma agravante – o material começa a ser mais exótico, dispendioso e cada vez mais especializado!
É também uma máxima universal que “a maioria do equipamento é melhor que a maioria dos fotógrafos”. De uma forma lata, quero dizer com isto que muito raramente esgotamos realmente o potencial de um dado componente fotográfico (e em particular dos corpos, quando falamos de sistemas de objetivas intermutáveis). Surge, paulatinamente, aquilo a que chamo luxúria fotográfica, uma vontade crescente de evoluir no equipamento. Que é perfeitamente compreensível e, dentro de certos limites, saudável.
Mas, voltando à pergunta original, a resposta não é fácil. E por isso irei desenvolver numa série de artigos, nas próximas semanas, as diversas respostas. Porque nada na fotografia é linear! E, assim, começo por aquela que, na minha perspectiva, é efectivamente o mais interessante upgrade fotográfico: objetivas fixas de grande abertura.
Objetivas fixas de grande abertura
Nas seguintes linhas faremos um percurso pelas diferentes opções, para diferentes objetivos e, sobretudo, diferentes carteiras. Porque, caros leitores, já deverão ter percebido que (quase) nada na fotografia é barato.
Mas porque acho tão importante uma objetiva de grande abertura? E ainda por cima fixa? Apontar-me-ão de imediato o desconforto que é não ter a possibilidade de fazer zoom. A limitação tremenda que tal comporta. A razoabilidade de investir dinheiro em algo tão específico. Ao que respondo: os zooms são uma invenção recente na história da fotografia. Não há praticamente nenhum zoom que se aproxime da abertura de diafragma de uma objetiva fixa, mesmo das mais acessíveis. E, juntando à lista de vantagens improváveis, junto a pedagogia fotográfica. Mas a isso voltaremos mais adiante.
Para começar a elencar os encantos de uma objetiva fixa de grande abertura, é relevante revermos a importância da abertura de diafragma na fotografia. Os chamados “f:” denotam a capacidade de uma determinada objetiva – até num telemóvel – captar e transmitir luz ao suporte fotossensível subjacente (nos dias de hoje um sensor, mas em tempos ido uma película fotográfica). Não entrando em detalhes demasiado técnicos, este número é conseguido através de uma fórmula matemática que conjuga a distância focal dessa mesma objetiva (50mm, 35mm, 85mm, etc) e a dimensão física do diâmetro da objetiva. Assim uma 50mm f:1.0 terá um diâmetro ótico de precisamente 5cm. Daí para a frente a multiplicação é por um fator de √2 (1.414), motivo pelo qual a sequência habitual é f:1.4, f:2, f:2.8, f:4 e daí em diante.
Existem duas grandes consequências diretas na utilização de uma objetiva deste tipo. E mais algumas secundárias. A principal é a enorme capacidade que tem de transmitir a luz que capta. A cada f-stop que a abertura de diafragma diminui, metade da luz é perdida. Logo, a diferença entre uma f:1.4 e, por exemplo, uma f:5.6 é de 8 vezes. Numa mesma circunstância, a objetiva mais luminosa faz chegar ao sensor 8 vezes mais luz. A aplicação óbvia que temos é em situações com pouca luminosidade ambiente (interiores ou à noite), dado que nem sempre é desejável (ou sequer possível, se já estivermos no limite superior) subir a sensibilidade ISO da máquina.
A segunda mais-valia – e, para mim, até talvez mais importante – é a estética visual que se consegue com este equipamento, devido à extremamente curta profundidade de campo resultante. Os sujeitos fotográficos – sejam pessoas, animais ou até paisagens – quase flutuam na imagem, com fundos diáfanos, suaves, que prendem o olhar do espetador na mensagem principal. E não há truque de pós-produção que o substitua.
Depois, embora menos relevante, há o menor custo destas objetivas em comparação com o equivalente em zoom, maior qualidade ótica, menor peso e dimensão e – já o tinha dito? – o fator pedagógico, que nos obriga a fazer foot zoom em busca da composição ideal e a ser mais criativos.
Objetivas fixas 50mm
Começando pelas opções mais comuns, na base da cadeia alimentar, está a sempre popular 50mm f1.8. Carinhosamente apodada de “niftyfifty”, é a mais acessível das opções, podendo, nalgumas marcas, nem chegar aos 100€. A qualidade mecânica e os materiais utilizados não serão os melhores, mas a fórmula ótica é simples, testada, o que permite a melhor relação qualidade/preço possível. Existe em praticamente todas as marcas estabelecidas, e é uma excelente entrada neste mundo. É especialmente útil num corpo full-frame (que, por seu lado, nunca é barato), mas mesmo em corpos APS-C (crop) resulta numa solução interessante para retratos e pormenores.
Ainda dentro das 50mm, o próximo nível passa para as f:1.4, já de construção mais cuidada, 2/3 de f-stop mais luminosas, mas com o preço a triplicar. Só justifica relativamente à versão f:1.8 se for usada verdadeiramente a 1.4 a maioria do tempo.
No topo desta distância focal temos ofertas únicas (e quase milionárias): a Canon 50mm f:1.2, a Nikon 58mm f:1.4 e a mítica Leica 50mm f:1.0, que custa tanto como um pequeno automóvel. A qualidade ótica e mecânica são fenomenais, a estética única e o preço assombroso.
Objetivas fixas 24mm, 28mm e 35mm
Abaixo das 50mm temos diferentes ofertas: a 24mm, 28mm e 35mm. Em diferentes sabores: f:1.4, f:1.8 e f:2.0 A Sigma tem agora uma oferta muito tentadora de objetivas da gama Art, f:1.4, a preços muito inferiores aos dos fabricantes (Nikon/Canon).
Anteriormente a qualidade não era particularmente famosa, mas estas versões recentes têm vindo a contrariar essa ideia – e digo-o com conhecimento de causa, estando extremamente satisfeito com a 35mm f:1.4 em baioneta Nikon. São para já 3 opções: 24mm, 35mm e 50mm, todas abaixo dos 1.000€. As versões equivalentes dos fabricantes podem chegar a custar o dobro! A 85mm deverá ser anunciada em breve.
A Nikon, por seu lado, tem na gama f:1.8 propostas muito aliciantes: 28mm, 35mm, 50mm e 85mm. Na Canon destaca-se a 35mm f:2.0 IS (com estabilizador de imagem, o que ajuda ainda mais a desafiar o limite inferior da velocidade de obturação).
Objetivas fixas 85mm a 200mm
Finalmente, no oposto do espetro, as 85mm. Por definição a objetiva de retrato, por pouco ou nada distorcer a figura humana, é também a mais específica, dado que sofre de uma menor versatilidade que as suas congéneres anteriormente abordadas. As versões f:1.8 rondam os 500€, as f:1.4 acima dos 1.500€. Com a Canon a destacar-se pela oferta de uma f:1.2, dita fabulosa.
Mais exóticas temos ainda as 105mm, 135mm f:2.0 e 200mm f:2.0, muito usadas por profissionais da área da moda, mas que só recomendaria a alguém já muito consciente do nicho que preenchem.
Vantagens de fotografar com objetivas fixas
Para terminar, não posso deixar de sublinhar o quão a minha fotografia mudou em anos recentes através destas objetivas. Fiel à máxima Less is more, sinto-me mais solto, menos intrusivo, mais em controlo com uma objetiva fixa, surpreendendo-me a mim próprio com as soluções que acabo por encontrar por não ter a (aparente) comodidade de uma objetiva de distancia focal variável (zoom). Tanto com a Fuji X100s – que tem uma objetiva fixa (equivalente) 35mm f:2.0 – como com a SLR – usando a 35mm e 85mm f:1.4 – cada vez mais me convenço que os zooms são úteis, mas não indispensáveis.
E se o assunto for fotografia de rua e de viagem, o cerne do meu trabalho presente, mais ainda. A fina linha que define a interação com pessoas que não conhecemos, e que muitas vezes têm enquadramentos socioculturais muito diversos do nosso, pode sofrer um forte impacto, para melhor, se usarmos equipamento mais discreto.
Mais do que escolher entre uma fixa ou um zoom, o ideal é dispor de ambos, para diferentes situações.
Em todo o caso, se o leitor se encontrar perante a decisão de que novo investimento fotográfico fazer, recomendo vivamente uma objetiva fixa. E, se se sentir hesitante, experimente um pequeno truque: coloque a sua objetiva zoom na distância focal pretendida (sugiro 24mm ou 35mm em corpos crop e 35mm ou 50mm em full frame) e use fita-cola para fixar o anel do zoom. Não utilize o zoom durante um período de tempo e obrigue-se a ver e a fotografar o mundo com esta distância focal.
Rapidamente chegará à conclusão de que, após o choque inicial, em que tudo parece mais complicado, irá descobrir uma nova forma de fotografar!
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