É sabido que os Alpes Suíços atraem os amantes dos desportos de Inverno de toda a Europa. Acontece que o Verão pode ser uma época igualmente aprazível para viajar até às montanhas da Suíça. De entre alguns outros, há um lugar especial na região de Valais, bem próximo de Brig, que vale a pena conhecer. A UNESCO inscreveu-o na exclusiva lista de lugares Património Natural da Humanidade. Sejam bem-vindos à brancura em movimento do Glaciar Jungfrau-Aletsch.
Sobre a região de Valais
Situemo-nos na bucólica povoação de Mörel, uma pequena vila da zona de Valais, onde as casas de madeira teimam em se apresentar impecavelmente floridas, e até o simétrico cemitério é de uma perturbadora beleza estética. Fica na vizinhança de Brig, ponto de partida para uma viagem ao assombro chamado Jungfrau-Aletsch, o glaciar que a UNESCO classificou, em 2001, como Património Natural da Humanidade.
Chegámos a Brig, vindos de Genebra, depois de duas horas e meia de comboio por entre vinhedos impecavelmente alinhados. A viagem é tranquila e aprazível. Também aqui, na região de Brig e um pouco por todo o Valais, o caminho-de-ferro é um dos meios de transporte mais apelativos.
Linhas de caminho-de-ferro históricas encavalitadas na rocha, íngremes subidas em paisagens idílicas e alguma adrenalina ao olhar os precipícios, será um pouco do que se poderá esperar numa boa parte dos trajectos.
E mesmo quando os carris cessam a sua existência, o mais provável é haver teleféricos para transportar todo e qualquer visitante o mais próximo possível dos cumes brancos no Inverno, do sol que queima sem avisar no Verão, do topo das montanhas em pleno coração dos Alpes Suíços. Tudo está rigorosamente preparado para levar o visitante para além das nuvens. O desafio é, tão somente, saber desfrutar o glaciar e as montanhas!
O Glaciar Jungfrau-Aletsch, na Suíça
Com os seus longuíssimos vinte e quatro quilómetros de extensão, o Glaciar Jungfrau-Aletsch é descrito como o maior glaciar da Europa. Possui incontáveis camadas de gelo sobrepostas pelo tempo que atingem, no seu ponto mais profundo, quase mil metros de profundidade.
Branco vivo, esbatido ou sujo pela terra, quase tudo veste tons de paz na paisagem do glaciar. Por entre as cores pálidas das superfícies rochosas, o azul do céu e o verde da vegetação existente – como as majestosas árvores, com cerca de seiscentos anos, que dizem ser as mais idosas de toda a Suíça -, os olhos são atraídos pelos diversos tons de branco do glaciar serpenteando o vale gelado.
Calcorreando o glaciar, tem-se a sensação de recuar alguns milhares de anos. É uma sensação difícil de descrever, aquela de pisar uma gigantesca massa de gelo aparentemente imóvel – na verdade, o glaciar move-se continuamente, alguns centímetros por ano. É como se um rio de caudal gigantesco tivesse, de repente, congelado por completo no conforto do seu enorme leito e, lentamente, fosse deslizando vale abaixo, como um todo. Poder-se-á caminhar horas a fio no interior do glaciar Jungfrau-Aletsch ou pelas encostas circundantes, que o único cansaço a registar será, muito provavelmente, um cansaço feliz, rendido à grandeza da paisagem. Porque ali tudo é paz, tudo é beleza, tudo é naturalmente encantador.
Não será por acaso que os suíços, cientes dos paraísos naturais que albergam a elevadas altitudes, e porventura conscientes de que a vida no seu país não é das mais acessíveis, exaltam esses valores naturais de forma bem vincada. “O bem mais valioso da Suíça é gratuito: a natureza das suas montanhas”, dizem. Que assim permaneça por incontáveis gerações!
Prazeres gastronómicos – o queijo dos Alpes Suíços
Os tempos são rigorosos. É cedo. A hora que o relógio marca indica que não está ainda chegada a hora certa. Albert Lenoir é um dos oitenta produtores certificados que, em ambiente familiar, rigorosa e artesanalmente, leva a cabo a tarefa de fabricar o L’Étivaz – preciosidade alpina em forma de queijo. Faltam trinta minutos, assegura com a sabedoria de quem sabe que sabe o que diz.
Lá fora, sob um límpido céu azul matinal, dezenas de vacas pastam num pequeno pedaço de terra dos mais de seis mil hectares de pastagens utilizados para alimentar todo o exército bovino da região. Ao fundo, imponentes, os cumes brancos dos montes circundantes destacam-se na paisagem.
Está-se a uns respeitosos mil e setecentos metros de altitude. Antes, o enorme caldeirão, onde um olhar indicia um gigante bolo de leite coagulado, esteve em repouso na escuridão de um quarto muito fresco e sem luz para que a nata pudesse vir ao de cima, mergulhando ele próprio – o leite, seiscentos litros dele! – lenta e religiosamente, no fundo do caldeirão. Passou depois pelo rústico forno a lenha, à temperatura de uns inexplicavelmente exactos trinta e dois graus, pois o leite – dizem as regras – não pode ferver.
Coagulou então, foi retalhado com estranhos utensílios de cozinha de fartas dimensões, até as formas dos coágulos se assemelharem a universais grãos de arroz e, por fim, voltou ao calor do forno a lenha para uns bons três quartos de hora de espera. Ainda é cedo. Um café é preparado enquanto o ancião da casa, pelas mãos de quem porventura terão passado milhares de outros caldeirões de genuína sabedoria, lava vagarosamente duas vasilhas de leite ordenhado horas antes.
Falta, agora, pouco tempo. Albert prepara os utensílios necessários, arregaça as mangas da camisa como que a anunciar a proximidade da hora certa, molha durante alguns segundos os braços em água gelada e… é agora! Um pano de linho agarrado pelas duas mãos e pelos dentes é mergulhado no enorme caldeirão, os braços outrora gelados enterram-se, por breves segundos que parecem uma eternidade, no leite quentíssimo e buscam abraçar trinta quilos dessa pasta láctea com o pano de linho, numa singular trouxa de futuro queijo. Os dentes cerram-se para suportar tamanho peso, os braços resistem, avermelhados pela temperatura elevada.
A pulso e dentes, a trouxa fumegante é içada até uma circular base de madeira, ponto final de uma curta mas difícil operação. Enquanto elimina da trouxa esbranquiçada os líquidos em excesso, Albert transpira abundantemente, numa involuntária empatia homem-queijo. Albert repousa, de cigarro na boca. A enorme patela branca segue para um quarto escuro, onde permanecerá alguns meses até que L’Étivaz seja o seu nome. Genuíno!
Guia prático
Este é um guia prático para viagens ao glaciar Jungfrau-Aletsch, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região de Valais.
Quando ir
Os meses de Novembro a Fevereiro são perfeitos para os amantes de desportos de Inverno, como o snowboard e o ski, ou do simples prazer de apreciar a beleza e os sons que emanam das montanhas por entre o branco omnipresente. De facto, vale a pena percorrer a imensidão das altas montanhas suíças nesta época do ano e permitir-se o deleite de variar entre o frio gélido do meio envolvente e o calor retemperador das fabulosas estâncias de Inverno que abundam nas montanhas desta região.
Mas a região é muito mais do que um popular destino de Inverno. Pese embora nessa época do ano as estâncias de desportos invernais estejam, efectivamente, na sua altura de maior afluência turística, o Verão nestas paragens montanhosas afigura-se, seguramente, como uma alternativa muito interessante.
Especialmente para actividades ao ar livre, como caminhadas, passeios de BTT e voos de parapente. Os meses de Junho a Setembro são uma óptima escolha para desfrutar de todas as belezas das montanhas Suíças sem os atropelos provocados pelo número excessivo de turistas.
Como chegar
Depois de chegar a Genebra, a bordo de uma aeronave da TAP ou de uma companhia low cost, aconselha-se o uso dos caminhos-de-ferro como meio de transporte até às zonas montanhosas envolventes ao glaciar Jungfrau-Aletsch. Os comboios são agradáveis, cómodos e rápidos, e a paisagem – percorrendo vastas áreas de exuberantes vinhedos ao longo das margens do Lago Léman – é suficientemente atraente. Para alcançar o glaciar património da humanidade, pela vertente sul, existem vários teleféricos operacionais a partir de pequenas povoações como Mörel, situada na vizinhança de Brig.
Onde ficar
Inquestionavelmente, nos acolhedores chalés de montanha que existem um pouco por toda a região. São elegantes, simpáticos e os preços não ficam nada a dever aos hotéis convencionais. As entidades oficiais de cada região possuem abundante informação sobre todo o tipo de alojamento disponível. Se viaja em família, saiba que os chalés são, do ponto de vista económico, ainda mais aconselháveis. Se preferir um hotel na região recomenda-se, entre muitas outras opções, o Hotel Belalp, situado na povoação homónima, e cujos aposentos são verdadeiros quartos com vista sobre… o glaciar Jungfrau-Aletsch.
O que comprar na Suíça
Numa época em que as distâncias entre os povos são cada vez menos significativas, produtos como os afamados relógios ou chocolates suíços encontram-se, com relativa facilidade, no nosso país. Resta, pois, a surpresa de encontrar numa qualquer povoação do sopé de uma montanha, genuínos produtos tradicionais de origem e qualidade controladas – como os deliciosos queijos da família Lenoir, confeccionados da mesma forma desde que o leite é leite, no calor de um forno a lenha, a poucos quilómetros de Leysin. Não se prive também de tomar o pulso aos vinhos suíços: será, provavelmente, surpreendido pela positiva.
O que levar para as montanhas
Mais importante do que tudo o resto, é imprescindível fazer-se acompanhar por um bom par de botas de montanha, de preferência em gore-tex. Viajando nos meses de Inverno, não esquecer roupa bastante quente mas leve, por forma a que a mobilidade não seja prejudicada.
Em qualquer estação do ano não esquecer, igualmente, um eficaz impermeável – nas montanhas mais vale prevenir, mesmo nos meses de Verão -, e um ou outro agasalho leve. Por último, se viajar durante os meses de Verão, é absolutamente indispensável fazer-se acompanhar por um eficaz protector solar.
O que fazer nos Alpes Suíços
Definitivamente, tudo o que promova um estreito contacto com a Natureza. Turismo activo. Múltiplas actividades ao ar livre estão disponíveis nestas regiões montanhosas: caminhadas a pé ou circuitos em bicicletas todo-o-terreno, passeios a cavalo, alpinismo, escalada para todos os graus de exigência, voos de parapente pelos vales alpinos, esqui ou snowboard.
Na Internet
O site oficial do Turismo da Suíça oferece informação atualizada sobre os principais pontos turísticos do país, incluindo, naturalmente, sobre o glaciar Jungfrau-Aletsch.
Seguro de viagem
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