Nesta época, em que parece já não existirem lugares desconhecidos nem inacessíveis, é bom retomar uma actividade antiga, que transforma qualquer viagem numa descoberta lenta e saborosa: caminhar. Durante horas ou dias, seguindo trilhos um pouco por todo o planeta, chegamos a locais onde só assim se pode chegar, penetrando mais profundamente na natureza e na vida das gentes.
A diferença entre o trekking – ou trek – e uma simples caminhada é apenas a sua duração; qualquer uma das actividades pode ter dificuldades intensas ou absolutamente nenhuma, mas um trek implica dormir “fora”, em abrigos ou tendas, mudando de lugar como um nómada, enquanto numa caminhada se regressa ao ponto de partida para passar a noite.
Os conteúdos das mochilas são muito discutidos, e dependem não só da duração, como do local onde se vai desenrolar o passeio; o clima e o piso influem decisivamente na escolha do material a levar, e o ideal é começar por pequenos passeios de um dia, para se ter a noção das próprias necessidades. Mas seja qual for a latitude, uma coisa é certa: a cada hora o peso vai duplicando.
Deve transportar-se o que é verdadeiramente essencial e, sobretudo nos treks, não há lugar para o “posso às vezes precisar”. No caso de trekkings prolongados em zonas sem qualquer tipo de apoio, deve equacionar seriamente as suas capacidades físicas e a possibilidade de contratar os serviços de uma agência que se encarregue de toda a logística: tendas, comida e material de cozinha.
Pessoalmente, não transporto mochilas com mais de dez quilos.
Trekking, tão natural como caminhar
Trekking é uma palavra de origem sul-africana que significa seguir um trilho. Não é alpinismo, não implica escalada – apenas caminhar, o exercício mais natural do mundo. Com alguns cuidados no que diz respeito a vestuário, peso a transportar e aclimatação, qualquer humano saudável pode percorrer carreiros, mesmo que estejam cobertos de neve.
Como regra geral, diz-se que o trekking não vai além dos 6.000 metros de altitude, já que a partir daí é necessário conhecer algumas técnicas especializadas que ultrapassam em muito o simples “seguir um trilho”, como o eventual uso de crampões ou encordagem.
Na mochila, a casa às costas
O essencial para caminhar é um bom calçado, e é um grande erro fazer um trekking de botas novas, ou levar calçado de alta-montanha para um trilho de piso fácil e sem grandes declives; é tão mau como fazer de sapatilhas um caminho muito irregular ou com neve. Um pouco de bom senso e umas botas usadas, leves e com um bom apoio de tornozelo, são essenciais para não andarmos a coxear monte acima, transformando um prazer num pesadelo. Para o fim do dia ou para atravessar riachos, é bom ter também uns chinelos ou sandálias de plástico.
A roupa também tem de estar de acordo com o clima e a situação: peças usadas, quentes ou frescas e, no caso de um trekking de montanha, várias camadas sobrepostas, que as temperaturas baixam sempre ao cair da noite. A única coisa que se deve levar em quantidade é roupa interior e meias. Quanto ao resto, uma muda (ou duas) de calças e de camisolas de manga curta, outra de manga comprida, e sempre um casaco impermeável corta-vento. Os materiais técnicos, mais leves e transpiráveis, são caros mas uma boa mais-valia. Não esquecer nunca o creme e o baton com protector solar, assim como protecção para a cabeça e uns bons óculos. E mesmo que a caminhada dure apenas duas ou três horas, não se afaste sem água e um punhado de barras de cereais, que não pesam mas salvam vidas.
Para levar tudo isto, é necessário uma mochila confortável, que se experimenta na loja como quem veste um casaco, regulando as alças de apoio à nossa medida, de preferência com alguma coisa lá dentro – e ao contrário do que muita gente parece pensar, a coisa menos importante é a cor. Pequeno truque: não compre uma mochila grande, que a tendência vai ser sempre para a encher.
Precauções, antes e durante o trekking
Para um percurso mais longo e duro convém estar em forma, e o melhor treino para caminhar é subir e descer escadas. No caso de caminhadas no estrangeiro, é sempre mais fácil levar de casa os medicamentos mais comuns ou que usamos todos os dias, sem esquecer um punhado de pensos próprios para ferimentos causados pelo calçado, e um desinfectante para alguma queda ligeira ou arranhadela.
Para treks mais longínquos, aconselha-se comprimidos para desinfectar a água – que se deve ir bebendo mesmo sem sentir sede -, e uns pacotinhos de frutos secos ou dos nossos doces favoritos, para nos dar energia e consolar de uma dieta por vezes desmoralizante. No caso de treks em altitude, é costume recomendar comprimidos de Diamox, um diurético que alivia o mal da montanha – mas não impede que se desça o mais rapidamente possível.
Os principais problemas que surgem durante um trek estão relacionados com quedas ou pés torcidos; aconselha-se muita atenção ao caminho e evitar saltos audaciosos, para não voltar para trás com os braços apoiados nas costas de dois amigos furibundos. Conheci alguém que partiu uma perna no momento em que disse “olha um veado!”, porque se esqueceu que o caminho estava coberto por uma camada de gelo transparente; outro levou com uma pedra na cabeça porque, apesar do estrondo, continuou distraído a olhar para a paisagem.
Os melhores conselhos são:
- Não partir sozinho;
- Caminhar devagar e com atenção ao piso;
- Beber muitos líquidos;
- Baixar o consumo de proteínas e aumentar os hidratos de carbono (menos carne e mais farináceos);
- Nos treks em altitude, acrescente-se ainda: descer para dormir (não dormir no lugar mais alto que alcançou) e não subir todos os dias; fazer paragens periódicas de um ou dois dias, para aclimatação.
Muitos dos treks desta secção passam a barreira dos 3.500 metros, pelo que convém ter alguma informação sobre o chamado mal da montanha, que mata mais gente todos os anos do que qualquer outro problema causado pela altitude.
O abominável “mal da montanha”
O “mal da montanha” é uma doença grave causada pela altitude, que pode levar rapidamente à morte; no mínimo, faz-nos passar um mau bocado. No Nepal, reino por excelência dos trekkings de todos os géneros, declara-se em cerca de 58% dos que praticam esta actividade. Só ataca depois dos 3.000 metros, e não há nada que nos faça prever a sua aparição: quem é grande desportista e habitué das montanhas está tão à mercê deste mal como o turista comum. Para piorar, o facto de não se sentir mal da primeira vez, não quer dizer que assim seja da próxima. Felizmente, a cura é fácil: basta descer – às vezes cem ou duzentos metros – e os sintomas desaparecem.
Os maiores problemas aparecem nas viagens organizadas, onde ocorreram, nos últimos dez anos, 80% das mortes causadas pelo mal da montanha: a vergonha de desistir ou de atrasar o grupo leva muitas vezes a um ritmo forçado, e a frustração de não completar o trekking faz com que se desculpe uma dor de cabeça ou as náuseas com a mudança de hábitos alimentares, ou com uma constipação. As últimas consequências são o coma e a morte, por edema pulmonar ou cerebral, e os médicos previnem: em caso de dúvida, assuma que se trata desta doença e pare, no mínimo, 24 horas; caso os incómodos desapareçam pode continuar a subir, sempre com paragens de aclimatação.
As regras principais são: subir lentamente (cerca de 300 metros por dia), dormir mais baixo que a altitude máxima a que passou, conhecer os sintomas e, sobretudo, não os ignorar.
Não é factor de protecção:
- ter treino em trekking;
- ter experiências anteriores em altitude;
- não ser fumador;
- estar em boa forma;
- estar há mais de 24 horas em altitude (pode surgir após dias de permanência em altitude).
É factor de risco
- Altitude igual ou superior a 3.000 metros;
- subida rápida (mais de 600 metros num dia);
- actividades cansativas;
- experiência anterior com Mal da Montanha;
- obesidade masculina;
- falta de paragens de aclimatização;
- uso de sedativos ou comprimidos para dormir.
São sinais de uma aclimatização normal do corpo à altitude:
- sono mais leve;
- respiração acelerada;
- caminhar muito devagar;
- aumento da excreção de urina.
Primeiros sintomas (podem aparecer em bloco ou um de cada vez):
- dores de cabeça que não passam;
- insónias;
- falta de apetite;
- tosse seca;
- diminuição da excreção de urina;
- falta de fôlego, mesmo em descanso.
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Agradeço tudo o que aqui li, pelo que vou ponderar melhor os meus interesses na área do lazer. Obrigada.
Gostaria de saber dicas para fazer trekking a nível de:
A que horas nos devemos deitar no dia anterior à fazer um trilho?
Qual a melhor hora de manhã para começar?
Até que hora ao fim do dia devemos caminhar?
A alimentação a base de sandes/ pão é a mais indicada?
Obrigado