Não deve haver muitas praças tão carismáticas como a praça Djemaa el-Fna, de Marraquexe. Lembro-me da tristemente célebre Tiananmen, em Pequim, onde estive em 2004, da Praça Vermelha de Moscovo e da Naqsh-e Jahan Square, na minha querida Esfahan, cidade iraniana que visito várias vezes ao ano.
Mas nunca tinha estado em Marraquexe, pelo que, enquanto caminhava pelas ruas da medina em direção à praça Djemaa el-Fna com imagens noturnas bem definidas na minha cabeça de uma praça vibrante e quase mágica – com fumo a sair das bancas de comida iluminando os toldos brancos, contadores de histórias, malabaristas e vigaristas, encantadores de cobras e demais personagens de uma versão marroquina de um qualquer filme do sérvio Emir Kusturica -, sentia aquele nervoso-miudinho-adrenalina-formigueiro-no-peito próprio dos grandes momentos.
Iria a Djemaa el-Fna corresponder às minhas expectativas?
Estava acompanhado por Mohamed Had, um guia contratado pelo Turismo de Marrocos para acompanhar a visita e, por isso, caminhava pelas ruas de Marraquexe sem pensar nas direções, apenas seguindo-o sem fazer ideia se estava longe ou perto da praça Djemaa el-Fna. Quando me disse que chegáramos, através de uma entrada lateral sem a magnificência da entrada pela Koutubia, estava completamente distraído e nem me apercebi. Mas dois segundos bastaram para o desalento se tornar real – “é isto?”.
Não havia magia nem confusão nem luzes nem fumo nem cheiros. As bancas de rua não tinham os toldos brancos da minha imagem, e muitas delas estavam vazias. Falta-me competência literária para traduzir o desalento que se apoderou de mim quando olhei para a Djemaa el-Fna e a atravessei rumo a outras paragens. Haveríamos de voltar, mas definitivamente aquela praça não era a que tinha na cabeça. Pelo menos àquela hora, como haveria de comprovar depois!
A meio da tarde, voltei à praça Djemaa el-Fna decidido a explorar um dos maiores atrativos de Marraquexe para viajantes como eu. É nas ruas que me sinto bem. Em mercados, em vielas dos centros históricos, em locais a fervilhar de vida e gente. E era assim – em ebulição – que eu imaginara a praça Djemaa el-Fna.
Havia homens com macacos que subiam aos ombros dos turistas e cobravam pelas fotos, um (único) aguadeiro-modelo fotográfico desprovido da função original (até porque, em pleno Ramadão, não se bebe durante o dia), encantadores de cobras, vendedores de sumos de laranja, de doces, de pão, de lamparinas, dezenas de bancas de comida, mulheres berberes tatuadoras com hena.
Mas, talvez por ter viajado para Marrocos durante o Ramadão, faltavam personagens como os míticos contadores de histórias, os dentistas (vendedores de placas dentárias), as videntes e até os lutadores.
A luz começava a oferecer aqueles tons quentes de fim de tarde, mas continuava a faltar a alma da Djemaa el-Fna tal como eu a tinha imaginado.
Mais satisfeito mas ainda sem estar convencido, subi ao enorme terraço do Le Grand Balcon Cafe Glacier, paguei dois euros por uma água tónica, sentei-me junto ao varandim sobre a praça e fiquei a observar o sol a descer e o movimento a aumentar.
E foi então que a magia aconteceu.
A praça Djemaa el-Fna à noite (no Ramadão)
Assim que o sol se escondeu, a praça ganhou uma nova vida. Alma. Cor. Movimento. Animação. As luzes dos tascos no meio da praça foram-se acendendo, o fumo dos cozinhados começou a pincelar de branco o escuro do céu, os empregados movimentavam-se como formiguinhas incansáveis, ouvi os muezzins, os turistas iam-se sentando nos restaurantes, o homem das lamparinas acendeu-as e, num ápice, a minha Djemaa el-Fna ali estava diante dos meus olhos (embora com toldos laranjas, porque as velhas bancas foram recentemente substituídas).
Fiquei tempos infinitos a observar a praça do terraço do café, fotografando. E é em situações como esta que as imagens valem de facto muitas palavras.
Bastante tempo e muitas fotos depois, desci de novo até ao piso térreo e voltei a percorrer a Djemaa el-Fna.
Havia muita gente na praça. Os empregados dos restaurantes guerreavam-se amistosa mas freneticamente pelos turistas, com insistência mas sentido de humor (“sente-se neste restaurante que a comida tem dois anos de garantia”) e batendo ruidosas palmas sempre que algum se decidia a sentar-se – um espetáculo que me deixou com um sorriso no rosto.
A praça estava finalmente vibrante, as barraquinhas de comida iluminadas por focos estrategicamente colocados, a comida disposta em mostruários para atrair clientela, havia sons, cheiros, movimento, fumo e cores.
Sim, a desilusão fora ultrapassada. A praça Djemaa el-Fna de Marraquexe é mesmo especial! Mesmo no Ramadão.
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Bonita praça noturna.
Sabes que eu não lhe achei graça nenhuma? Para mim foi total flop.
Mas pronto, acho que há cidades a que há que regressar para irmos conhecendo diferentes pontos e ver se gostamos mais. Eu pessoalmente não achei piada nenhuma a Marraquexe, mas já sabes que eu sou uma esquisitinha 😉 beijinhos
Tive a sorte de chegar a Djemaa el Fna, com a minha filha, ao pôr do sol… magia pura! Parece que ainda a estou a ouvir dizer, com os seus 19 anos da altura:
– Eu vou gostar muito disto!
E gostámos!
Tenho um encanto natural por Marrocos. Mais o Sul. Já estive diversas vezes e viajei de diversas formas.
Há 11 anos foi a primeira vez que estive nesta praça e foi amor à primeira vista!
Achei mágica a praça Djemaa el-Fna. Esperei pelo por do sol, precisamente no café glaciar. A transformação da praça que antes eram vendedores de tudo, placas dentarias, dentes soltos, telemóveis, cintos, bicharada, encantadores de serpentes, contadores de historias, barbeiros, tudo existia ali para vender e comprar… em minutos tudo desaparece e aparecem inúmeros restaurantes e cheiro a comida. Adorei, embora não tivesse arriscado por lá jantar.
A primeira vez em Marrocos e senti precisamente o que aqui foi relatado pelo Filipe Gomes. Revi-me completamente neste interessante relato. Só não vi as placas dentárias