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As marcas que o tempo não apaga, no Vietname (VM #20)

Por Filipe Morato Gomes | Volta ao Mundo Ásia Delta do Mekong Ho Chi Minh Vietname
Atualizado em 23.07.2017 | Tempo de leitura: 4 minutos

Delta do Mekong, Vietname

Chego a Ho Chi Minh (Saigão), no sul do Vietname, e nomes como o napalm ou o Agente Laranja tornam-se escandalosamente familiares. No Museu da Guerra. Mas também nas ruas. São as marcas de uma guerra absurda que o tempo demora a apagar.

Saigão. O nome da cidade, por si só, traz à memória cenas revistas vezes sem conta em filmes, documentários ou artigos de imprensa. Imagens típicas de uma guerra tão absurda como todas as guerras. Sequências intermináveis de bombas a caírem do céu, jovens estropiados, crianças aterrorizadas gritando e chorando e morrendo. Nomes como o napalm ou o Agente Laranja tornam-se escandalosamente familiares. Pelos piores motivos. E, estando fisicamente lá, no sul do Vietname, essas memórias ganham vida ao misturar-se com a realidade presente. Um encontro difícil de suportar.

Casas nas margens do Mekong, sul do Vietname
Casas nas margens do Mekong, sul do Vietname

Visitar o Museu da Guerra em Ho Chi Minh, por exemplo, não é uma experiência agradável. Uma vasta colecção de fotografias da chamada Guerra do Vietname, no tempo em que os fotógrafos circulavam sem restrições nos teatros de operações, impressiona pela frieza com que conta aos visitantes a história de um conflito tão ilógico quanto sangrento. Mostra rostos com nome. Nomes com vida. Quase se sente o cheiro do napalm ao percorrer as salas do museu. A revolta invade o corpo do mais insensível dos visitantes ao ver os efeitos nas populações do nefasto Agente Laranja, usado pelas tropas americanas. Ou ao conhecer com detalhe atrocidades como o infame massacre de My Lai onde, em poucas horas, soldados americanos destruíram aldeias inteiras e executaram barbaramente centenas de civis desarmados, incluindo velhos, mulheres e crianças de tenra idade. Mas o mais triste de tudo é que não é preciso visitar o museu para sentir as consequências dessa guerra nas gentes vietnamitas.

As marcas estão, aliás, em todo o lado. Visíveis da mais cruel forma possível. Homens mutilados vagueando pelas ruas suplicando a ajuda misericordiosa dos transeuntes. Descendentes de pais afectados pelo infame Agente Laranja, agente destruidor de tudo o que o Homem conseguiu para o seu próprio corpo após milhões de anos de evolução, sobrevivem sem esperança. Caras queimadas pelo napalm numa qualquer esquina da cidade. Gente com deformações inacreditáveis em todas as partes do corpo. Autênticos monstros à luz das leis da Natureza. Pessoas a quem foi roubada a felicidade do resto da vida no instante de um estrondo.

Nunca esquecerei a imagem daquele senhor caminhando sem pernas, apenas uns pés minúsculos e deformados colados na bacia, os braços inexistentes, o olhar triste implorando ajuda. A guerra não é uma coisa bonita – costuma dizer-se -, mas ver os seus efeitos diante dos olhos é algo que não os consegue deixar enxutos.

Mercado flutuante de Cai Rang, delta do Mekong
Mercado flutuante de Cai Rang, Delta do Mekong

Depois disto tinha que ver como os vietcongs enfrentaram o poderoso inimigo americano e as tropas do sul do país então dividido. Decidi ir até aos túneis de Cu Chi, a duas horas de viagem de Ho Chi Minh. Entrar naqueles túneis foi uma experiência marcante. Rastejei como um verdadeiro vietcong através de centenas de metros de túneis incrivelmente estreitos e baixos. O ar abafado, apesar dos sistemas de refrigeração engenhosamente inventados, dificultava a respiração. Outros visitantes desistiram a meio e abandonaram os túneis numa das inúmeras saídas outrora camufladas na selva. Claustrofobia, talvez. No fim, suávamos em bica – os quatro resistentes – mas estávamos satisfeitos com a experiência.

Dias depois, saí de Ho Chi Minh e percorri de barco o Delta do Mekong em direcção a Chau Doc, na fronteira com o Camboja. É a forma mais lenta de fazer a viagem mas, ao mesmo tempo, uma das que melhores recordações deixam num viajante. Um pouco de normalidade depois da dura realidade do passado. E assim pude observar que a vida corria natural e tranquila no impressionante mercado flutuante de Cai Rang, o mais concorrido da região. E, a bordo de um barco a remos conduzido por uma simpática e enérgica velhota, deixei-me absorver pelo charme labiríntico de pequenos canais de água barrenta. E tomei contacto com o ritmo de vida de uma aldeia flutuante em que os seus habitantes ganham a vida criando peixe em viveiros no meio do rio. Tempo de sorrir, depois da intensidade bélica das experiências anteriores.

Deixo agora para trás um país maravilhoso e um povo incrivelmente optimista que tenta olhar em frente e ultrapassar as marcas de um passado nem sempre fácil. Mas dirijo-me para outro que vive ainda sob o fantasma de um dos mais ignóbeis regimes de que há memória na história da humanidade: o de Pol Pot e os seus Khmer Vermelhos. Sei o que me espera em Phnom Penh. Mordo os lábios, carimbo o passaporte e atravesso a fronteira.

Esta é a capa do livro «Alma de Viajante», que contém as crónicas de uma viagem com 14 meses de duração - a maioria das quais publicada no suplemento Fugas do jornal Público. É uma obra de 208 páginas em papel couché, que conta com um design gráfico elegante e atrativo, e uma seleção de belíssimas fotografias tiradas durante a volta ao mundo. O livro está esgotado nas livrarias, mas eu ofereço-o em formato ebook, gratuitamente, a todos os subscritores da newsletter.

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 52 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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