Estive recentemente a viajar pelo sul do Irão e, ao delinear o meu itinerário, confesso que me interroguei se valeria a pena visitar Bam.
A cidadela de Bam (Arg-e Bam), em tempos uma das mais emblemáticas edificações de adobe de todo o mundo e classificada pela UNESCO como Património Mundial, ficou praticamente reduzida a pó no terramoto de 2003. Naquele dia, perderam-se milhares de vidas e a maioria das edificações ruiu (quer na cidade, quer na velha cidadela). Num ápice, Bam desmoronou-se.
Valeria, pois, a pena viajar até Bam?
Decidi visitar Bam para ver in loco o lento processo de restauro que, paulatinamente, vai devolvendo à velha cidadela a glória de outrora. Apanhei um autocarro em Kerman, principal cidade da província homónima, e três horas depois era largado na rotunda principal da nova Bam. Instalei-me numa pequena pousada já a tarde ia longa e deixei por isso a exploração da cidadela para a manhã seguinte.
Visita à cidadela de Bam
Demasiada conversa ao pequeno-almoço e uma imprevista ida a uma agência de viagens fizeram com que não saísse da pousada tão cedo quanto tinha previsto pelo que, quando cheguei à cidadela de Bam, estava já um calor tórrido.
Paguei a entrada no complexo e comecei a caminhar. Atualmente, a visita a Arg-e Bam não é feita de forma livre. Existe um trajeto delimitado por um gradeamento que pretende evitar que os turistas se aventurem nas zonas ainda degradadas da cidadela, alegadamente por razões de segurança. Infelizmente, entre as zonas fechadas ao público encontra-se a parte mais alta da fortaleza. Ainda tentei que um funcionário me deixasse subir pelo portão temporariamente entreaberto, mas sem sucesso.
Não visitei Bam na melhor hora do dia, mas o que vi – e senti – foi suficientemente fascinante para ficar rendido. Caminhei, espreitei, subi onde pude, esquivei-me ao sol de quando em vez e explorei as paredes de adobe um pouco por todo o complexo, para facilmente chegar à conclusão que, com mais ou menos edifícios reconstruídos, a alma de Arg-e Bam continua intacta. Sente-se uma energia boa naquele espaço.
Caminhava já em direção à saída quando um trabalhador da cidadela me chamou. Estava a transportar terra e palha num carrinho de mão para renovar uma parede, mas interrompeu o trabalho e fez-me ir com ele até à entrada de um edifício aparentemente destruído.
Gestualmente, disse-me para passar a barreira de proteção, descer por um pequeno túnel e entrar por uma porta numa sala escura praticamente enterrada no solo. Estava prestes a entrar em território proibido, mas convites destes não se recusam. Ele entrou, eu segui-o. Lá dentro, uma habitação praticamente intacta com séculos de existência. Com poucas palavras em comum e muitos gestos, foi-me mostrando as diferentes partes da casa à luz do meu frontal, com especial relevo para a cozinha, com o forno, alguns artefactos e algo que parecia um recipiente de pedra para moer cereais com um pilão.
Estava boquiaberto, quase emocionado. Tinha recuado centenas de anos, estava a ver a cidadela literalmente por dentro, e isso tinha sido apenas possível pela amabilidade iraniana (e um ligeiro quebrar das regras, é certo).
Imagino que esta e a boa parte das outras casas de Arg-e Bam pudessem ser visitadas antes do terramoto. Intactas. Hoje, boa parte delas estão danificadas, mas enquanto visitava a cidadela era notório o enorme esforço feito para recuperar boa parte do património destruído, seguindo as ancestrais técnicas de construção de adobe.
Uma vez terminado o lento processo de restauro, Bam recuperará todo o seu esplendor mas, até lá, vale a pena visitar Bam?
Claro que sim!
Dicas sobre Bam
- A entrada em Arg-e Bam custa 200.000 rials para visitantes estrangeiros (pouco mais de 5€ ao câmbio atual, preço de 2016)
- Vá o mais cedo possível ou ao final da tarde para evitar o pico do calor que, na região desértica em torno de Kerman, é implacável. Se puder escolher, vá ao fim de tarde: a luz ao entardecer torna a cidade muito fotogénica.
- Independentemente do local onde estiver alojado, a cidade é pequena e, por isso, é sempre possível chegar à cidadela a pé. No entanto, recomendo que apanhe um táxi: são baratos e isso permite minimizar o tempo exposto ao sol.
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