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Bogotá por quem lá vive: Fausto Vieira da Silva

Viver em Bogotá: Fausto
Fausto Vieira da Silva na Plaza de Bolívar, Bogotá

Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Bogotá pela mão do Fausto Vieira da Silva. O Fausto tem 32 anos, é Gerente de Departamento e está a trabalhar e a viver em Bogotá há mais de três anos. Desafiei-o a partilhar connosco as suas experiências na maior cidade da Colômbia; bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Bogotá e conhecer um pouco melhor a cidade.

É um olhar diferente e mais rico sobre Bogotá – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da capital colombiana, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 63º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Conteúdos do Artigo

Em Bogotá com o Fausto Vieira da Silva (entrevista)

Define Bogotá numa palavra.

Caótica.

Bogotá é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar; e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

Acho que Bogotá pode ter duas caras. Depende muito dos objetivos e prioridades de cada um.

Se as tuas prioridades são criar um negócio, subir na carreira profissional ou poder fazer a diferença em termos de empreendedorismo, acho que Bogotá é uma cidade cheia de oportunidades, vibrante, com muita diversão e poucos dias monótonos.

Por outro lado, se as tuas prioridades são tranquilidade, tempo livre, segurança e ar puro, talvez viver em Bogotá não seja a melhor opção. De qualquer forma, para quem fizer essa opção, morar e trabalhar em Bogotá durante um ou dois anos pode ser uma excelente experiência.

A realidade que encontrei foi, no geral, muito melhor do que a ideia preconcebida que existe da Colômbia. Bogotá não é tão perigosa como as pessoas pensam, e é uma cidade bastante multicultural, cheia de cultura e espetáculos. No entanto, estranhei muito os horários. Tudo começa muito cedo e termina muito cedo também.

E o que mais te marcou em Bogotá?

La Candelaria, Bogotá
La Candelaria, Bogotá

Primeiro que tudo, é a cidade onde me apaixonei e casei.

Temos uma grande quantidade de sítios fantásticos para visitar muito perto de Bogotá; a variedade de municípios e paisagens naturais a uma hora de carro, para todos os lados, é inacreditável.

Conseguimos ter, durante todo o ano, temperaturas de cerca de 30ºC numa zona, e numa outra zona temperaturas mais baixas; na zona montanhosa dos Andes, cheia de vida selvagem e com altitudes de mais de 3.000 metros, temos quedas de água enormes, rios, áreas de produção de café, aldeias coloniais, tudo a poucos quilómetros de distância. Basicamente temos todas as estações do ano quando queremos.

Pela negativa, impressionou-me muito a poluição do ar na cidade e a estratificação social.

Como caracterizas os colombianos?

Acho que são um povo maravilhoso. São alegres, amáveis, educados, sempre prontos a receber bem e qualquer motivo serve de desculpa para fazer um asado ou beber umas cervejas ou aguardiente. Espanta-me quão positivos podem ser e, mesmo depois de tantos problemas, conseguirem ter um coração tão aberto. Teriam razões para ser um povo mais fechado, pela violência que vivenciaram, mas é precisamente o contrário – são pessoas muito sensíveis.

Claro que, como todos os povos, também têm os seus defeitos. São, por exemplo, pouco pacientes, levam tudo muito a peito e têm muita dificuldade em pensar no coletivo e em respeitar uma fila, por exemplo.

Mas acho que os pontos positivos são muito superiores aos negativos.

Como é um dia “normal” em Bogotá?

Trabalhar em Bogotá: Plaza de Bolívar
Vista da Plaza de Bolívar, em Bogotá

Um dia normal em Bogotá passa por acordar entre as 4.30 e as 5.30 da manhã. Preparar os filhos e deixá-los nas rutas escolares que os recolhem em casa e os levam à escola. Normalmente as pessoas saem de casa entre as 6.30 e as 7.30 e demoram cerca de uma hora/hora e meia a chegar ao local de trabalho.

Vive-se demasiado para trabalhar, por isso o horário legal na Colômbia é de 48 horas semanais. Dependendo da hora de entrada, pode-se sair do trabalho entre as cinco e as seis da tarde. Passa-se muito tempo dentro de transportes. E normalmente toda a gente se deita bastante cedo.

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Bogotá sem…”

Tomar um pequeno almoço típico, como por exemplo: um chocolate quente caseiro, com ovos perico e tamal, ou um caldo de costilla ou uma changua.

Sair à noite e beber aguardiente, ir dançar Salsa, Merengue ou Vallenato.

Comer empanadas e visitar pelo menos um Pueblo típico.

Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Bogotá. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

Las Aguas, Bogotá
Las Aguas, Bogotá

Não sei se as minhas sugestões são suficientes para ocupar três dias, mas posso tentar.

Dia 1

Não podem deixar de passear e de ficar a conhecer o Bairro La Candelaria e a Plaza de Bolívar, o coração de Bogotá.

O Museu del Oro é um dos mais fascinantes da América do Sul e merece bem uma visita, tal como a subida ao Cerro de Monserrate, de onde se tem uma vista magnífica de toda a cidade.

À noite, podem ir jantar na Zona G ou em Usaquen e, depois de jantar, continuar a noite na Zona T.

Dia 2

Podem começar o dia com uma visita ao Mercado das Pulgas de Usaquen.

De seguida, caminhar por Chapinero, pela carrera 13, ou no Centro, pela carrera 7, e experimentar comer comida local e apreciar a vida da cidade.

À noite, sair para dançar.

Dia 3

Não podem abandonar Bogotá sem fazer uma caminhada pelos trilhos de Quebrada La Vieja, um pequeno tesouro natural.

Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Bogotá? Conta-nos.

Bogotá: Avenida Jimenez
Vista da Avenida Jimenez, no centro de Bogotá

Evita as zonas mais caras da cidade. Explora Chapinero em vez do Parque da 93, por exemplo. Usa Uber ou apps para chamar táxis. Pergunta sempre o preço antes de pedir algo. Evita produtos importados. Evita comer nos restaurantes que pertencem às grandes cadeias internacionais; é mais barato comer num pequeno negócio na rua do que em qualquer centro comercial.

Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Bogotá?

Tens que provar um ajiaco, uma changua, agua de panela com queso e arepa, lechona, mondongo e empanadas, por exemplo.

Mas a verdade é que Bogotá também tem excelentes restaurantes de comida internacional. Na minha opinião, a cozinha de autor colombiana, está a dar grandes passos para se tornar mais conhecida, mas ainda é muito normal perceber que os melhores restaurantes da cidade se baseiam na cozinha mediterrânica, árabe, peruana, e não só.

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

Cerro de Monserrate, Bogotá
Cerro de Monserrate, Bogotá

Há pequenos segredos desconhecidos mesmo para muitos bogotanos. Alguns deles são:

  • Arco Baleno, um desconhecido maravilhoso. Uma casa de campo colorida, mas perto da cidade, onde temos massas frescas e caseiras, sobremesas espantosas e um ambiente fantástico;
  • La Trattoria de la Plaza. Comida italiana, com vinho da casa português;
  • Hambúrgueres: é impressionante a qualidade e variedade existentes em Bogotá. Alguns exemplos entre muitos: El Gordo, Maikki, Juan Burguers;
  • Pizzas: 18 Scalini, e a minha favorita, Forno di Claudio. Esta última é fora da cidade, na estrada de Bogotá para La Calera, em zona rural e com um ambiente muito especial;
  • El Canon de la Chicamocha, comida da zona de Santander;
  • El Portugués, onde o Luís, um português natural de Vila Verde, faz adaptações de comida portuguesa misturando ingredientes colombianos. Comida caseira, de boa qualidade e a preços fantásticos. Tem inclusive francesinhas;
  • Tapas La Macarena, num dos bairros mais interessantes de Bogotá;
  • La Castaña em Chapinero Alto, empanadas maravilhosas;
  • Casa Bizarra na Zona G, comida colombiana com toques modernos;
  • El Labirinto del Fauno, em Chapinero Central, pratos do dia onde se pode almoçar por menos de 3€ com entrada, prato e bebida.

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. No caso de Bogotá, em que zona nos aconselhas a procurar hotel?

Aconselho a ficar num dos apartamentos de Apartment International, e aproveito para fazer publicidade. Eu diria que as zonas de Chapinero Alto ou Central, Quinta Camacho, Zona G ou Zona T são os melhores sítios onde ficar em Bogotá.

Procurar hotéis em Bogotá

Escolhe um café e um museu.

Café: Mistral, em Chapinero Alto.

Museu: Museu do Ouro.

Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Bogotá?

Sugiro que não saiam sempre na mesma zona e deixo algumas dicas:

  • Zona T, a melhor zona noturna;
  • Zona G e Quinta Camacho, zona mais gastronómica, mas também com alguns bares porreiros:
  • Chapinero Central, o melting pot bogotano;
  • Modelia, um ambiente tipicamente bogotano de classe média;
  • Candelaria, um ambiente mais de backpackers.

Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Bogotá? O que comprar?

Bairro La Candelaria, Bogotá
Bairro La Candelaria

Em Bogotá encontra-se todo o tipo de lojas, não é uma cidade onde haja algo muito típico, mas vende-se todas as coisas tradicionais do país, como peças indígenas, da costa, etc.

Para comprar roupa, eu diria que a zona Rosa é a melhor zona; para peças de decoração baratas, na Pasaje Rivas, a poucos metros da Plaza Bolívar, ou no Centro Internacional.

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Bogotá; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.

A zona do Parque República de Portugal, em Chapinero Alto. É pura coincidência o nome. Antes de saber que se chamava assim, já adorava a zona.

A poucos metros do parque ficam alguns dos meus sítios favoritos para comer, beber, sentar-me a conversar ou a ler.

Obrigado, Fausto. Vemo-nos quando fizer uma próxima viagem a Bogotá.

Guia prático

Onde ficar

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.