Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Cork pela mão do Gil Sousa. O Gil tem 34 anos, é Engenheiro de Software, alimenta o blog Look Left e está a viver em Cork há seis anos. Desafiei-o a partilhar connosco as suas experiências na República da Irlanda; bem como sugestões e dicas para quem quiser visitar Cork e conhecer um pouco melhor a cidade.
É um olhar diferente e mais rico sobre Cork – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da segunda maior cidade da Irlanda, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 56º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Cork com o Gil Sousa (entrevista)
- 1.1 Define Cork numa palavra.
- 1.2 Cork é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Cork?
- 1.4 Como caracterizas os irlandeses?
- 1.5 Como é um dia “normal” em Cork?
- 1.6 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Cork sem…”
- 1.7 Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Cork. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.8 Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Cork?
- 1.9 Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Cork?
- 1.10 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.11 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que zona nos aconselhas a procurar hotel em Cork?
- 1.12 Escolhe um café e um museu.
- 1.13 Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Cork?
- 1.14 Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Cork? O que comprar?
- 1.15 Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Cork; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Cork com o Gil Sousa (entrevista)
Define Cork numa palavra.
Acho que uma boa forma de descrever Cork numa só palavra é “música.
Para quem não conhece a Irlanda, será surpreendido com a quantidade de músicos de rua que vai encontrar. E Cork tem mesmo muita vida musical pelas ruas, tanto que até tem um festival de Jazz que acontece todos os anos no último fim de semana de outubro.
Cork é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Sim, sem sombra de dúvidas. É uma cidade pequena, dá para ir a quase todo o lado a pé, mas ao mesmo tempo dá para sentir um pouco daquele ambiente de metrópole.
Quando a expectativas, não tinha muitas, e para ser sincero até me desiludiu bastante quando cá cheguei. Tinha a ideia de que na Irlanda é tudo muito verde, e por verde imagina-se logo muitas árvores, mas Cork peca pela falta de espaços verdes no centro da cidade.
De início não gostei disso e fiquei bastante desiludido, mas com o tempo acabei por aprender a apreciar o facto de estar numa cidade pequena em que no centro os espaços verdes são escassos, mas os “arredores” estão a cerca de 20-30 minutos a pé. Com uma bicicleta então, dá para sair da pouca poluição citadina e em poucos minutos estar rodeado de pastos, vacas e ovelhas :)
E o que mais te marcou em Cork?
O espírito dos irlandeses. Uma das coisas que mais me marcou foi o facto de que até no meio de uma tragédia, os irlandeses conseguem fazer humor e divertirem-se. Um excelente exemplo são as cheias que todos os anos afetam o centro da cidade: há pessoas que aproveitam para andar de kayak nas ruas de Cork.
Como caracterizas os irlandeses?
Eu descreveria os irlandeses apenas com uma palavra: dicotomia.
A primeira impressão que transmitem é que são dos povos mais amigáveis que alguma vez encontrei. Entramos num pub e a probabilidade de algum desconhecido meter conversa connosco é alta, e até parece que quer saber tudo sobre nós. Adoram estrangeiros, e como são um povo com uma forte história de imigração, muito provavelmente essa pessoa já viveu na Austrália, Nova Zelândia ou noutro país anglófono.
Mas fazer amizades é mais complicado. No primeiro momento são muito calorosos e conversadores, mas não passam daí. Naquela noite são uma excelente companhia mas, até à próxima vez que nos encontrarmos, ao acaso, não há qualquer tentativa de contacto.
Quando conseguimos passar essa barreira, então temos amigos para a vida.
Como é um dia “normal” em Cork?
Cork é uma cidade algo calma, tem muita cultura para explorar, mas na Irlanda está enraizada a cultura de pubs. Depois de um dia de trabalho, muitas pessoas encontram-se num pub para relaxar e desanuviar. Há pubs para todos os gostos, com vários tipos de música e muitos deles até com música ao vivo.
A minha vida cá é algo variada, tenho vários grupos de amigos com gostos diferentes entre si, e assim consigo diversificar imenso os meus dias após sair da rotina do trabalho. Uma das coisas de que mais gosto é encontrar-me com amigos para jogar jogos de tabuleiro, por vezes em pubs, outras vezes em casa de um de nós.
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Cork sem…”
…ir à Universidade. É um dos locais que mostro sempre a quem me vem visitar. Adoro o estilo arquitetónico do campus: uma mistura entre o antigo e o novo e, ao contrário do que “reclamo” do centro da cidade, é uma zona com muitos espaços verdes.
Uma das rotas recomendadas pelo Turismo para visitar em Cork vai mesmo até à Universidade. Ora, se eles próprios também recomendam…
Quanto ao turismo, vamos tentar fazer um roteiro de 3 dias em Cork. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
As minhas sugestões não se limitam apenas à cidade de Cork, mas incluem também os arredores. A cidade é pequena e em dois dias dá para ver quase tudo o que é considerado como “top 10” da cidade, mas foi pelos arredores que me apaixonei.
Dia 1: a cidade
Quanto ao centro, recomendo uma passagem pelo Mercado Inglês. É um edifício antigo e a “menina dos olhos” dos nativos de Cork. Tão querido por eles que até a rainha o foi visitar quando cá veio há uns três anos. Foi a primeira vez, desde a independência da República da Irlanda, que um monarca do Reino Unido veio a solo Irlandês!
Depois, além da Universidade, claro, sugiro visitarem a Catedral de São Finbar. É um dos marcos da cidade. Ainda numa onda meio religiosa, um dos edifícios icónicos de Cork é a Shandon Bells (“sinos de Shandon”), uma torre que tem uma vista magnífica sobre a cidade. Pelo menos é o que dizem. Em seis anos a viver em Cork, tenho adiado tanto essa visita que ainda está por cumprir.
Por fim, a melhor coisa a fazer numa cidade é deixarem-se perder, o que será um pouco difícil numa cidade tão pequena como Cork, mas é uma excelente forma de encontrarem alguns locais menos turísticos e igualmente interessantes. Olhem bem para as paredes, há muita arte urbana espalhada pela cidade!
Dia 2: os arredores
Um pouco fora de Cork, há dois sítios que recomendo vivamente.
O primeiro é o famoso Castelo de Blaney, onde deverão beijar uma pedra quase numa posição acrobática no topo da torre do castelo. Sim, parece (e é) estranho, mas até Churchill o fez e dizem que dá poderes de eloquência e bem-falar. Porque não tentar?
Ainda bem perto de Cork, principalmente para quem gosta de whiskey mas não só, podem visitar a destilaria da Jameson. Todo o whiskey da companhia é feito nesta vila perto de Cork, e apesar de terem um museu em Dublin, não se deixem enganar: esta experiência em Cork vale bem mais do que a de Dublin, pois é aqui que tudo acontece e durante a visita guiada faz-se uma visita interativa ao passado. A Jameson’s Experience é mesmo algo a fazer, e sinceramente, recomendo até para quem não gosta de whiskey.
Dia 3: um pouco mais longe
Por último, um pouco mais longe e de preferência de carro, vale bem a pena visitarem a pequena vila de Kinsale. Fica a cerca de 30 minutos de Cork, é uma vila costeira com reputação de ter muitos bons restaurantes, com comida deliciosa, e o ponto de partida para a Rota Selvagem do Atlântico, a maior rota costeira (turística) da Europa.
E, se tiverem coragem, porque não dar um salto até à praia?
Tens algumas dicas para poupar dinheiro em Cork?
Andar a pé, ou de bicicleta. Há cerca de um ano instalaram vários pontos de bicicleta pela cidade. Para quem trabalha e vive no centro é fantástico: por meia hora podem usar a bicicleta a custo zero. A cidade é pequena, portanto um carro nem sequer faz falta.
Quanto a comida, infelizmente não encontro com facilidade a qualidade de produtos que temos em Portugal, principalmente nos vegetais e frutas, mas dá para poupar imenso nos restantes produtos. É frequente encontrar promoções tipo “leve 3, pague 2” e coisas do género, e os preços praticados não são muito mais caros do que em Portugal.
Já no que é considerado “luxo”, como beber e comer fora, aí sim, vai sair bem caro. Se querem viver na Irlanda, pensem em cozinhar muito em casa. Se vierem passear, considerem que é talvez nos restaurantes onde vão acabar por gastar mais dinheiro. Mas não deixo por isso de recomendar provarem a gastronomia irlandesa. Não é só batatas, como muitos pensam. :)
Sou grande apreciador da gastronomia em viagem. Na tua opinião, que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar em Cork?
Não sei se se poderá considerar estranho, mas para mim o que estranhei mais foram os pequenos-almoços. Em Portugal tinha o hábito do café, de que tenho imensas saudades, e de uma torrada ou um doce. Aqui na Irlanda é um pouco como no Reino Unido, o pequeno-almoço é quase um almoço dos nossos. O chamado “pequeno-almoço Irlandês” é algo que recomendo. Até dizem que é quase como “medicinal” quando se está de ressaca…, mas isso são outras histórias.
Outra coisa que recomendo, e que também achei bem diferente do que estava habituado, são as panquecas com bacon e mel. Aquela mistura de carne de porco com o doce das panquecas e ainda com mel por cima, foi algo a que torci um pouco o nariz, mas que acabei por adorar.
Quanto a comida típica irlandesa, eles têm um orgulho muito grande na sopa de peixe (essencialmente salmão), a que chamam “seafood chowder”. Cada restaurante confeciona de uma forma diferente. Há umas que adoro, outras nem por isso. Uma das que mais gosto fica bem no centro da cidade, no restaurante Amicus. Mas este nem é um dos melhores restaurantes, apenas gosto do chowder que eles lá servem.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
O Market Lane é um restaurante que está muito bem situado no centro da cidade. A relação qualidade-preço não é má mas peca um pouco pela acústica. Às vezes fica um bocadinho barulhento demais. É um dos restaurantes onde levo os amigos que me vêm visitar. Não é muito caro e até gosto da comida, e claro, no menu há sempre comida irlandesa.
Um dos restaurantes mais famosos de Cork fica dentro do Mercado Inglês. É o Farm Gate. Desvantagem? Está aberto apenas até às cinco da tarde, hora a que fecha o mercado, mas tem muito boas críticas e é frequentemente alvo de críticos gastronómicos que visitam o restaurante de forma anónima. O restaurante fica no primeiro andar, com vista para uma das alas do mercado; de um lado servem “comida de restaurante” e do outro lado servem apenas sopas e sandes e comida mais simples.
Para quem está de carro, há um outro restaurante que recomendo, já um pouco fora de Cork. A vista é fenomenal, e aparece em várias listas de melhores restaurantes de Cork e até da Irlanda, principalmente devido à localização. E mais uma vez, o seafood chowder do Bunny Connellan é bem recomendado! Este restaurante é uma das pérolas escondidas da zona; não é fácil encontrá-lo, mas vale bem o esforço para lá chegar.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que zona nos aconselhas a procurar hotel em Cork?
Apesar de ser a segunda maior cidade da República da Irlanda, Cork é uma cidade pequena e dá para andar a pé por todo o lado. Qualquer hotel ou hostel no centro é bem seguro e bem localizado.
Escolhe um café e um museu.
Quase todos os meses abre um café novo digno de se visitar, mas tenho alguns preferidos. Ultimamente, tenho frequentado mais um café com uma decoração mais hipster. Chama-se Alchemy.
Museu? Sem sombra de dúvidas que recomendo o Crawford Art Gallery; fica bem no centro junto à Casa da Ópera e tem várias exposições temporárias que merecem atenção. Também tem um café para quem quiser fazer uma pausa antes ou depois da visita.
Falemos de diversão. O que sugeres a quem queira sair à noite em Cork?
Depende muito dos gostos. Eu gosto mais de locais mais calmos onde possa conversar, ou ouvir música. Não sou muito de discotecas e música demasiado alta. E, felizmente, não faltam bares e pubs na cidade para quem não quer ter de gritar para se fazer ouvir.
Uma das sugestões que faço é visitarem um dos pubs mais antigos da cidade. Ainda são alguns e os donos tentam manter a tradição e o espírito irlandês vivo, como, por exemplo, a música tradicional irlandesa. Um dos pubs onde levo amigos a ouvirem musica irlandesa é o Sin É. Não tem muito espaço para podermos ver os músicos, mas certamente é uma experiência mais genuína.
Para quem gosta mais da noitada, sugiro começarem a noite no Crane Lane ou no Deep South, ambos os bares são animados e excelentes para começar uma boa noite.
De realçar, que em comparação com Portugal, a noite na Irlanda termina cedo (2:30). Mas depois, se conhecerem alguém, há sempre after parties onde o pessoal vai para casa de alguém continuar a noite, normalmente com muito mais álcool.
Tens alguma sugestão para quem pretender fazer compras em Cork? O que comprar?
Um bom ponto de partida será mesmo o centro de Cork. A rua principal, Patrick’s Street, está muito bem servida de lojas, tanto tradicionais como das marcas mais conhecidas. E claro, o Mercado Inglês, mesmo para quem não quer gastar dinheiro é sempre interessante de visitar.
Mais fora do centro, temos duas áreas “comerciais”, uma na zona de Blackpool com algumas lojas grandes e um pequeno centro comercial. E um centro comercial maiorzinho do outro lado da cidade, em Mahon Point, também com cinemas.
A ter em conta que as lojas aqui fecham cedo. Pelas 18:00 já é difícil encontrar lojas abertas.
Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Cork; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
Uma zona de que gosto bastante é o Cork Lough. Fica um pouco fora do centro, e requer uma caminhada colina acima para lá chegar.
Aparentemente, é só um lago com uma ilha no meio. Mas, na verdade, é um lago com alguma história e com um impacto bastante importante; a ilha que está no meio do lago serve de zona de nidificação protegida para as muitas espécies de aves que ali vivem. A zona do lago é considerada como um santuário de ornitologia dentro da cidade, e é excelente para quem gosta de fotografar pássaros – afinal de contas estão ali bem perto e até se sentem em segurança.
Na zona da marina também existe um lago similar; a mesma estratégia, com uma ilha no meio e a zona circundante até é bem mais agradável. Mas por algum motivo que não sei bem explicar, gosto mais do Cork Lough. Falando nisso, acho que estou a precisar de lá ir fazer mais uma visita…
Um grande abraço deste cantinho da Irlanda!
Obrigado, Gil. Vemo-nos numa próxima viagem a Cork.
Guia prático
Onde ficar
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