Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Sydney, uma das maiores cidades da Austrália, pela mão do João Afonso Fonseca. O João é engenheiro químico e está a viver em Sydney há praticamente dois anos. Convidei-o a partilhar connosco as suas sugestões de dicas com o melhor de Sydney, incluindo desde logo o Fish Market – o preferido do João -, passeios em Bondi Beach, Jardim Botânico, às montanhas Blue Mountains e, claro, a inevitável Sydney Opera House.
É um olhar diferente e mais rico sobre Sydney – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes. Este é o 19 post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.
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Em Sydney com o João Afonso Fonseca (entrevista)
- 1.1 Define Sydney numa palavra.
- 1.2 Sydney é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Sydney?
- 1.4 Como caracterizas os australianos?
- 1.5 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Sydney sem…”
- 1.6 Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Sydney. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.7 Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Sydney?
- 1.8 Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
- 1.9 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.10 Como é a movida em Sydney? O que sugeres a quem queira sair à noite?
- 1.11 Escolhe um café e um museu.
- 1.12 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Sydney?
- 1.13 Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Sydney?
- 1.14 Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Sydney; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Sydney com o João Afonso Fonseca (entrevista)
Define Sydney numa palavra.
Envolvente.
Sydney é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Ir para a Austrália era um sonho antigo e quando me mudei, em 2012, já imaginava Sydney como um ótimo sítio para viver. Todos os rankings a punham no Top 5 das melhores cidades do Mundo e alguns amigos que aqui residiam já partilhavam comigo opiniões bastante motivadoras.
A primeira impressão é inesquecível; e, passado quase dois anos, continuo fascinado – é essa a palavra exata para expressar o que sinto, todas as manhãs, quando passo a Harbour Bridge, de comboio, para ir para o trabalho! Não me imagino a ficar em Sydney o resto da vida, quero morar noutros países e um dia voltar a Portugal, mas tenho receio de não conseguir encontrar nada parecido com isto.
E o que mais te marcou em Sydney?
A cultura da família e do desporto.
Relativamente à família, penso que a explicação é simples: sendo um dos poucos países do Mundo que cresce de forma sustentável, o poder económico promove um ambiente que transpira confiança. É muito comum ver casais com menos de 30 anos com 2 ou 3 filhos. Visto que grande parte das famílias são emigrantes e não podem contar com o apoio familiar, são muitas vezes criados grupos de mães que têm filhos na mesma altura, de forma a criarem um bom núcleo de apoio entre elas.
O desporto está em todo o lado, a todas as horas e para todas as idades. Na última Ocean Swim que fiz – e eu faço natação há muitos anos e, sem falsa modéstia, nado bem -, depois de 2,5 Km em mar alto e 42 minutos de cãibras nos braços, corri para a meta em Bronte Beach, lado a lado com um atleta que acabou por me vencer nos últimos metros. Tinha 83 anos e eu fiquei feliz por saber que, nesta terra, não existem novos nem velhos.
Caso pensem que era algum senhor do Guiness, fica aqui uma estatística esclarecedora: 40 pessoas da categoria acima dos 65 anos ficaram à minha frente nesta corrida (nesta prova participaram, como sempre, centenas de atletas, incluindo dezenas de provecta idade). Em Sydney, há também o culto de levar o corpo ao extremo em provas como Tough Mudder ou o Iron Man.
Como caracterizas os australianos?
A ideia que muita gente tem sobre os australianos é que são todos loiros, altos e de grande compleição física. No entanto, quem der uma volta por Sydney percebe rapidamente que é raro encontrar alguém com essas características.
Sydney é claramente distinta do resto da Austrália e não será muito diferente, em termos de misturas raciais, de Nova Iorque ou Londres. Há uma enorme mistura cultural, com grande predominância dos países asiáticos que enchem 50% das salas universitárias. O Governo Australiano agradece, sendo a educação o segundo maior negócio do país, depois das minas.
Com esta riqueza cultural, Sydney consegue reunir o melhor de cada país e, incrivelmente, todos se entendem e vivem em grande harmonia. Claro que há zonas menos simpáticas – subúrbios como Parrammata ou Blacktown, por exemplo – mas, numa cidade tão grande, seria impossível isto não acontecer.
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Sydney sem…”
…ver a Opera House. Não estou a adiantar nada de novo, eu sei, mas experimentem olhar para este monumento do lado do jardim botânico. Verão então este símbolo da cidade “rodeado”, ao mesmo tempo, por uma autêntica selva e pelos arranha-céus das grandes multinacionais. O cenário, em que a cidade é “invadida pela selva”, chega a ser idílico visto de certos ângulos.
Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Sydney. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Dia 1. Cidade e selva: De manhã, explorar o Jardim Botânico, espreitar a NSW Gallery e passear no CBD. De seguida, apanhar o ferry em Circular Quay e passar a tarde a Manly.
Dia 2. Praias: Passeio ao longo da costa de Coggee a Bondi e acabar o dia a ver lojas de coisas em segunda mão em Newton onde podem aproveitar para jantar ou beber uma cerveja num dos muitos restaurantes/bares em King Street.
Dia 3. Montanha: Passeio nas Blue Mountains. Se ainda tiverem energia depois disso, acabar a tarde com uma visita ao aquário – normalmente fecha às 20:00.
Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Sydney?
Qualquer viajante que chegue a Sydney vai notar que os produtos e serviços são cerca de duas a três vezes mais caros que em Portugal (apesar disso depender muito da conversão AUD/Euro do momento). Ter um quarto alugado perto do centro pode custar cerca de 1.750AUD por mês (1.600€).
Dito isto, é preciso encontrar um equilíbrio e aproveitar as infraestruturas que a cidade tem para atividades outdoor e cortar em hábitos menos saudáveis. O tabaco custa quase 20 dólares o maço e uma cerveja pode custar facilmente 9 dólares num bar. Eu não janto tantas vezes fora como jantava em Portugal, por isso tento fazer mais festas e repastos em casa.
Nunca tinha pensado em fruta da época até chegar aqui; mas, desde que me apercebi que os tomates custam $10/kg em novembro e $3/kg em junho, tive de começar a olhar a isso. As palavras de ordem serão flexibilidade e adaptação.
Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
Vou falar-vos então de uma pasta negra com que os Australianos barram o pão todas as manhãs! Chama-se Vegemite e é feita a partir do extrato de levedura que sobra do fabrico da cerveja. É extremamente salgada e tão adaptada às papilas gustativas australianas que nunca teve êxito noutras regiões. Eu confesso que também não sou grande fã. Os ingleses têm uma versão mais soft desta iguaria, que se chama Marmite.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Qualquer pessoa que more em Sydney vos dirá que não há comida típica australiana. Se insistirem muito, talvez vos falem das famosas tartes de Woolloomooloo; no entanto, a enorme escolha gastronómica de Sydney é uma mistura de restaurantes de todos os lugares do mundo. Vou sugerir três bares / restaurantes com diferentes estilos:
- The Local, tap house com óptimos petiscos e os melhores hambúrgueres que alguma vez provei. Pelo menos uma vez por semana mudam o menu de bebidas, que consiste numa variedade de cerca de 20 cervejas e meia dúzia de vinhos. Trata-se de um pub Old School com três pisos (o último é terraço) com música ao vivo alguns dias por semana. Fica nos limites de Darlinghurst.
- Home, ótimo Thai na Sussex Street. Aqui preparem-se para ficar algum tempo na fila enquanto olham para os chefs a preparar todas as pequenas iguarias. Se não são grandes fãs de picante, provem o tradicional Pad Thai; se estiverem prontos para algo mais desafiante, a minha sugestão é o caril de pato com tomates cherry, mini beringelas e lichias!
- Don-Don, é um pequeno Japa em plena Oxford Street onde a comida é deliciosa e os preços acessíveis. Aqui a especialidade são os noodles, mas não se esqueçam de passar na liquor shop primeiro e trazer umas cervejas ou vinho pois o restaurante é BYO (Bring your own – drink).
Como é a movida em Sydney? O que sugeres a quem queira sair à noite?
Sydney tem ótimos bares e discotecas. Aconselho o God Good Small Club e o The Standard na Oxford Street (um pouco mais comercial). Para noites mais glamorosas, o The Ivy. Mas lembrem-se de vestir um casaco pois as amplitudes térmicas diárias são, muitas vezes, surpreendentes. A noite é normalmente bastante cara, mas há inúmeros eventos gratuitos. É o caso do Sydney Jazz Festival que traz grandes nomes do panorama mundial ao Jardim Botânico.
Escolhe um café e um museu.
Uma vez que já falei da NSW Gallery, tenho também que referir o MCA – Museu de Arte Contemporânea, que não só tem uma exposição permanente de grande interesse como traz até Sydney alguns artistas emergentes. Aqui podem também encontrar uma loja com diversos presentes originais e ainda, no topo do edifício, um café espetacular com vista sobre o porto, a Opera House e a famosa Harbour Bridge.
Cafezinhos giros é o que não falta nesta terra, mas o meu café de eleição é, até agora, o Getrude & Alice em Bondi Beach. Um pequeno café rodeado de livros para comprar e ler no momento. Para acompanhar as belas leituras, aconselho-vos a experimentarem o famoso Alice’s Chai.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Sydney?
Sydney tem zonas para todos os gostos e feitios, mas pensando em alguém que apenas vem de passagem, a minha sugestão será ficar entre o centro (CBD) e o caminho para as praias. Com isto refiro-me a áreas como Surry Hills, Paddington, Darlinghurst, Woolloomooloo, Potts Point, Rushcutters ou Elizabeth Bay.
Tudo fica relativamente perto para se deslocarem a pé, com bons acessos às praias, e são zonas recheadas de cafés, bares e restaurantes giros. Os pontos de ligação do centro da cidade são a Oxford Street e a William Street (paralelas), a Elizabeth Street e a George Street (perpendiculares) – portanto, qualquer área que tenha bom acesso a estas ruas é, no geral, uma boa escolha para pernoitar.
Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Sydney?
A Pitt Street é a Baixa – Chiado de Lisboa! Aqui podem encontrar quase todo o tipo de lojas, tal como encontrariam em qualquer outra grande cidade. Para souvenirs, o melhor é irem ao encontro do coração de Chinatown e perderem-se no Paddys Market – onde podem comprar recordações como boomerangs, didgeridoos aborígenes, PaPaw cream ou mesmo um frasco de Vegemite.
Em cima, no mesmo edifício, podem também espreitar os outlets da Market City e comprar algumas coisas de marca a metade do preço. No entanto, sem dúvida que o melhor em termos de ambiente e se querem encontrar algo especial, são os mercados de Paddington, aos Sábados, ou o do The Rocks, aos Domingos.
Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Sydney; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
Não é bem um segredo; mas é impossível não falar sobre ele. O meu sítio preferido é o Fish Market que fica na zona de Pyrmont, a 20 minutos a pé do CBD. É o maior mercado de peixe do Hemisfério Sul e tem uma enorme variedade de peixe e marisco. Se puderem, vão num sábado, depois das 13:30, quando o ambiente já está mais desanuviado. Peçam umas Ostras da Tasmânia (17 AUD a dúzia), camarões cozidos (do Peters) e sashimi de salmão. E sentem-se na esplanada com a “paparoca” e umas Cooper fresquinhas…
Aconselho também o tour pelo mercado – que normalmente é às terças e quintas-feiras de manhã (confirmem e façam a marcação) – para verem os bastidores deste fantástico mercado e aprender como se escolhe um bom atum e como funciona a venda aos grandes clientes através de leilão.
Obrigado, João, pela tua visão sobre como é viver em Sydney. Encontramo-nos numa próxima viagem à Austrália.
Guia prático
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