Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Washington pela mão do Luís Costa Ribas. O Luís tem 55 anos, é jornalista e consultor e está a viver em Washington desde 1984. Convidei-o a partilhar connosco um pouco da “sua” Washington, definida pela palavra “poder” e marcada pelos espaços verdes – a começar pelo Rock Creek Park -, ruas arborizadas e inúmeros museus e galerias de arte.
É um olhar diferente e mais rico sobre Washington – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes.
Este é o 15º post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”. As fotos são da também jornalista Paula Alves Silva, que se encontra temporariamente a viver em Washington.
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Em Washington com o Luís Costa Ribas (entrevista)
- 1.1 Define Washington numa palavra.
- 1.2 Washington é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
- 1.3 E o que mais te marcou em Washington?
- 1.4 Como caracterizas as pessoas de Washington?
- 1.5 Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Washington sem…”
- 1.6 Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Washington. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
- 1.7 Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Washington?
- 1.8 Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
- 1.9 Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
- 1.10 Como é a movida em Washington? O que sugeres a quem queira sair à noite?
- 1.11 Escolhe um café e um museu.
- 1.12 Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que zona nos aconselhas a procurar hotel em Washington?
- 1.13 Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Washington?
- 1.14 Antes de te despedires, partilha o teu “segredo” de Washington; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
- 2 Guia prático
Em Washington com o Luís Costa Ribas (entrevista)
Define Washington numa palavra.
Poder.
Washington é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.
Vive-se bem em Washington, sobretudo no quadrante Noroeste da cidade. É uma cidade de cerca de 600 mil habitantes, com 4 milhões na zona urbana envolvente.
Sabia pouco, quase nada, sobre a cidade quando cheguei, em 1984. Ao contrário de Nova Iorque, não há muitos filmes sobre Washington ou rodados nela. Li sobre Washington, mas cheguei sem opinião.
Gostei imediatamente das árvores na maioria das ruas, dos espaços verdes que dominam a baixa, com o National Mall (uma espécie de Parque Eduardo VII, com 3 km de comprimento e mais de 450 metros de largura no centro da cidade)… e do espaço. É uma cidade com espaço. Podemos estar perto das coisas que nos interessam e ter à nossa volta espaço para respirar.
Gostei dos museus “vivos” da Smithsonian Institution (uma versão galáctica da Gulbenkian), mas sobretudo do espetacular Museu do Ar e do Espaço, onde estão o primeiro avião, o “Flyer” dos irmãos Wilbur e Orville Wright, o Spirit of St.Louis, o Voyager, o X-1 com que Chuck Yeager fez o primeiro voo supersónico, o laboratório espacial Skylab (em que se pode entrar) e até rocha da Lua em se pode tocar.
Gostei da variedade gastronómica – as páginas amarelas tinham uma secção especial para restaurantes catalogados por tipo de cozinha, de Afegã a Zimbabueana -, do cuidado com que são tratados, preservados e, até, venerados os monumentos nacionais.
Aborreceu-me que os bares servissem a última bebida à 1h30 (3h00 ao fim de semana) e que as pessoas jantassem às 18h30), mas gostei que os carros fossem mais baratos do que os nossos – o IVA na região metropolitana (abrangida por três jurisdições) é de 4% a 6% e não há 38% de imposto automóvel.
Gostei da eficácia dos serviços públicos, que já eram bons muito antes da generalização dos computadores – muito embora tenham entretanto piorado.
Gostei de Plácido Domingo como diretor artístico da Ópera, dos cinemas com sessão ao meio-dia e a sala semi-deserta, mas não imediatamente dos desportos americanos de que hoje sou grande fã. Gostei das casas com aquecimento central, da água quente que não espera pelo esquentador e dos autênticos garrafões de sumo de laranja no supermercado. Em trinta anos não faltam coisas para gostar… e não gostar.
Com raras exceções, não sou do género de embirrar com as cidades. Chego e adapto-me para desfrutar delas. Dito isto, detesto os condutores que são tão aselhas quanto os portugueses, são perigosos; detesto a câmara municipal incompetente, que vive para multar tudo e todos (há centenas de câmaras ocultas para a caça à multa e um limite de velocidade artificialmente baixo de 40 km/h em quase toda a cidade).
Gosto da simplicidade com que a cidade está organizada, dividida em quadrantes tendo o Capitólio como centro da rosa-dos-ventos.
E o que mais te marcou em Washington?
Ser a capital do mundo ocidental. O centro do poder mundial do lado oposto a Moscovo – o que naquela altura da Guerra Fria era impressionante.
Lembro-me de cobrir as cimeiras entre Reagan e Gorbachev e era como estar no centro da terra. Hoje, sente-se alguma erosão do poder americano, mas ainda é muito mais poder do que muitos imaginam – basta ver os bastidores revelados pelo escândalo NSA ou a excelente qualidade dos diplomatas americanos que o escândalo Wikileaks revelou.
Como caracterizas as pessoas de Washington?
Interesseiras. Fazem tudo por uma fatia de poder. Por isso se diz que, em Washington, ”se queres um amigo compra um cão”.
Em abono dos washingtonianos genuínos, deve dizer-se que a esmagadora maioria dos residentes nasceu noutro lado. Logo, esta apreciação não se refere aos naturais da cidade, mas à maioria dos que lá vivem e trabalham.
Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Washington sem…”
… visitar Mount Vernon, uma espécie de Castelo de Guimarães dos Estados Unidos
Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Washington. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.
Dia 1
– Circuito turístico: Casa Branca, Capitólio, Mall, Monumentos a Jefferson, Roosevelt, Lincoln e guerras Mundial e do Vietname. Na primavera, não perder as cerejeiras japonesas em flor, na baixa: parecem as amendoeiras do Algarve mas, como são muitas num espaço reduzido, o efeito é espetacular.
– Cemitério Nacional de Arlington (chama eterna na campa de John Kennedy) –
– Fim de tarde: cocktail no bar do terraço do Hotel Washington, na Rua 15 NW, junto à Casa Branca, seguido de jantar num dos “power restaurants” da baixa, como Lafayette Room, Equinox, The Palm, Old Ebbitt Grill ou o Bombay Club. Nenhum deles é muito barato, mas a experiência é ímpar.
Dia 2
– Museus do Mall: Museu do Espaço, Museu Hirschorn (escultura), Galeria Sackler (arte asiática), Museu de Arte Africana, Museu de História Natural, Museu de Artes e Ofícios, Galeria Nacional de Arte. Mesmo em visitas seletivas a apenas alguns dos museus, isto é programa para o dia todo.
– Almoçar na cave da Galeria Nacional de Arte, sob uma pirâmide de vidro com uma cascata.
– Fim do dia: Jantar e copos no bairro de Adams Morgan
Dia 3
– Old Town Alexandria (em Virgínia, na margem Oeste do Rio Potomac). Cidade histórica. Foi posto de venda de escravos até à Guerra Civil americana de 1861. No séc. XVII acolheu George Washington existindo, ainda, no local, o Gadsby’s Tavern Museum onde o primeiro presidente americano recebia amigos.
– Mont Vernon (quinta de George Washington, a Sul da cidade e que funciona, ainda, como no séc. XVIII)
– Jazz (e jantar) no Blues Alley, um clube de referência onde vi tocar o saudoso Dizzy Gillespie e o lendário Wynton Marsalis.
Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Washington?
Procurar sempre o que está em saldo e resistir ao que não está – há-de estar, mais dia menos dia. (Aqui não temos essa cena estúpida de o governo decidir o que são saldos e quando podemos tê-los; há saldos a toda a hora).
Ter cartão de cliente do supermercado e comprar com os descontos do cartão. Nunca comprar a primeira coisa que se vê – há sempre mais barato noutro sítio e é uma questão de procurar.
Quem, como eu, detesta compras e prefere fazer as que pode na internet, também poupa dinheiro: na grande maioria dos casos, na net não se paga IVA.
Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?
Não tendo a oferta de Nova Iorque, superior a 15 mil restaurantes, Washington está bem servida e tem de tudo um pouco. Mas vou limitar-me a três sugestões.
Pulled pig BBQ – carne de porco desfiada e cozinhada no fumeiro.
Southern fried chicken – receita tradicional de frango frito, criada por escravos, no século XIX.
Cachorros quentes – a sério!!! Daqueles com um palmo de comprimento e “tudo em cima”.
Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?
Ben’s Chili Bowl, para cachorros e chili irrepetíveis. Sarita’s, para comida mexicana barata, num tasco barato. Juke Box, um diner de comida americana tradicional servida por árabes e filipinos.
Para uma versão completa e atualizada consultaria a revista Washingtonian e a sua famosa lista “Dirt Cheap Eats”, com dezenas de bons restaurantes baratos da cidade e arredores, onde uma refeição completa custa à volta de 15 dólares.
Como é a movida em Washington? O que sugeres a quem queira sair à noite?
Vão a Nova Iorque.
Escolhe um café e um museu.
Na falta de cafés como os portugueses, o bar do terraço do Hotel Washington, ao lado da Casa Branca.
Museu: National Air and Space Museum.
Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que zona nos aconselhas a procurar hotel em Washington?
- Georgetown / Foggy Bottom (bares e restaurantes, lojas gourmet, muitos jovens e animação noturna; Georgetown não tem metro, Foggy Bottom tem e fica a 10/15 minutos a pé)
- Dupont Circle (bares, restaurantes, a famosa livraria/restaurante original da cidade “Kramerbooks and Afterwards” e metro)
- Metro Center (zona à volta desta estação de metro onde se cruzam as linhas Azul, Encarnada e Laranja, perto da Casa Branca, restaurantes e lojas)
- Crystal City (não tem graça nenhuma, mas os hotéis são mais baratos e há metro para o centro da cidade).
- Em geral o quadrante NW (noroeste) da cidade, a Oeste da Rua 16. Evitar NE (nordeste), SE (sudeste) e SW (sudoeste) longe da marina.
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Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Washington?
Tyson’s Corner Mall e Tyson’s Galleria (o maior da costa Leste dos EUA, direcionado para a classe média – fora da cidade, sem transportes públicos), Fashion Center at Pentagon City (classe média, metro Linhas Azul e Amarela, estação Pentagon City), ou para quem gosta de outlets, Potomac Mills (em Dale City, cerca de 30 kms a sul da cidade) – todos no estado de Virgínia, com um IVA de 5,5%.
Antes de te despedires, partilha o teu “segredo” de Washington; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.
Rock Creek Park – dentro da cidade, um parque com riachos e pequenos lagos, com jogging trails, circuitos de ginástica e de BTT, espaços para piqueniques e desportos de equipa, estábulos e caminhos para passeios a cavalo. Exemplifica a minha preferência pelos espaços verdes, ar livre e viver descongestionado: a minha casa é mesmo ao lado.
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Leia os relatos de outros Portugueses pelo Mundo - os seus testemunhos sobre viver no estrangeiro são de uma riqueza extraordinária.
Boa leitura, obrigado pela partilha.
Nossa, muito bem elaborado.
Obrigada