Um olhar sobre Las Bardenas Reales (Eurasia #05)

Por Rafael Polónia e Tanya Ruivo

Um olhar sobre Las Bardenas Reales - Eurásia

Fazer o percurso que nos leva até uma das entradas do Parque Natural Las Bardenas Reales é ter a sensação, pouco a pouco, que estamos a entrar num mundo completamente à parte, que estamos a entrar num deserto, ali mesmo, na Península Ibérica.

Quinze quilómetros separam Tudela, uma pequena cidade na comunidade autónoma de Navarra, da entrada de Las Bardenas Reales, um parque natural com mais de quarenta e dois mil hectares protegido pela UNESCO há uma década. Las Bardenas Reales é semidesértico e caso único em toda a Europa. Localiza-se na bacia do Ebro, e a sua elevação varia entre os 280 e os 660 metros. É impressionante a visão que se tem ao entrar por um dos caminhos onde são permitidos automóveis.

O motor desliga-se e o silêncio impõe-se. Lá fora, sopra uma aragem. Abro a porta e os pés aterram numa terra clara, solta, numa estrada árida. Os olhos apontam ao infinito e o que vêem é o imenso de uma paisagem sem ninguém, uma paisagem feita de picos arenosos que se levantam, imponentes, sobre a terra seca. Os pés arrastam-se e ouve-se o som das pedras que calcam, deslizando debaixo das solas, tirando-as de sítios onde estavam, talvez, há anos.

Las Bardenas Reales
Las Bardenas Reales

Subo a um dos picos a partir de onde é possível ver todo o isolamento do topo. Uma escada com degraus a menos trepa por ali acima. Os que faltam – percebo na subida – tombaram mortos no meio de sulcos e pequenos buracos que foram feitos, ao longo dos anos, pela erosão da chuva e do vento. Quando se atinge a altura máxima, consigo ver mais além, mais longe, mais. Consigo perceber que a pedra que arrastei com as minhas solas talvez não estivesse ali há tanto tempo como pensei, e que o nada que pensei existir, afinal, tem mais coisas do que imaginei, tem mais história, mais movimento.

Um trator encontrou nos círculos a forma perfeita para cultivar o solo seco. Rasga a terra, abrindo-a a pequenas sementes que, um dia, hão de crescer e hão de ver o trator regressar e colher os cereais. É assim, há centenas de anos. Este solo, que penso abandonado, fez com que o homem a ele se adaptasse e dele tirasse o seu rendimento. Outrora, o território de Las Bardenas Reales foi percorrido por reis e nobres que faziam correr os seus cavalos atrás das suas presas, fossem elas pequenos animais, que mais tarde serviriam de alimento, ou bandidos de renome internacional, como Sanchicorrota, que no século XV utilizou Las Bardenas como refúgio até ao dia em que, cercado por 200 homens a cavalo, se suicidou para não ser “caçado”.

Las Bardenas Reales
Las Bardenas Reales

Lá ao longe, a visão alcança ainda umas elevações mais escuras e, mais longe ainda, árvores que escondem uma vida animal rica em espécies diferentes. O silêncio continua. É somente cortado pelos disparos de uma máquina fotográfica digital, moderníssima, que me faz perceber que tudo isto existe, aqui, na Península Ibérica; que esta paisagem, completamente lunar, diferente de tudo o que me é normal ver numa paisagem europeia, está ali à minha frente.

Já cá em baixo, bem perto do motor que me há de levar mais uns quilómetros adentro desta imensidão de nada, um pastor com cinco cães e 500 ovelhas avança, indiferente, levando os seus animais para longe, fazendo-os trepar pequenos montes de terra mais afastados que, à primeira vista, fazem-me crer que as rochas estão em puro movimento.

É assim que, desde há centenas de anos, no Parque Natural Las Bardenas Reales, classificado como Património Mundial da Biosfera pela UNESCO, a vida passa. Lentamente. A lua na terra, talvez.

O projecto Eurásia é uma viagem de bicicleta entre Portugal e Macau, com passagem pela Europa, Médio Oriente e Ásia Central e 19 meses de duração. Ao longo de todo o percurso foram publicadas crónicas com periodicidade média quinzenal.

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Rafael Polónia e Tanya Ruivo

Rafael Polónia e Tanya Ruivo

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