Jarras de pedra do tamanho de uma pessoa encontram-se espalhadas por uma extensa área do Norte do Laos. Têm mais de dois mil anos, e ainda se discute quem as fez e para que serviam. E tão impressionante como o sítio é o caminho até lá.
Para chegar por terra a Phonsavan, na Planície dos Jarros, começamos em Luang Prabang, num camião com duas tábuas corridas ao longo da caixa, cheio de gente, sacos e algumas galinhas. Dormimos em Nong Khiaw, aldeia enterrada nas montanhas, nas margens do belíssimo Rio Nam Ou.
No dia seguinte apanhámos um outro camião, que serpenteou durante horas montanha acima, através de aldeias com casas de madeira e palha equilibradas sobre estacas; por baixo havia invariavelmente um tear, onde as mulheres fabricavam as próprias roupas, com os padrões e cores da sua etnia.
Depois o condutor parou e explicou que não continuava mais, sabe-se lá porquê. Ficámos à boleia várias horas numa estrada sem trânsito, e acabámos por seguir viagem numa pick up de caixa aberta, terminando o dia empilhados sobre sacos e caixas com mais cinco passageiros.
A estrada até Nam Noem, onde pernoitámos numa barraquinha de madeira, foi um pesadelo de curvas, trambolhões, buracos e pedras, que nos torturou durante horas através de uma paisagem paradisíaca de montanhas cobertas de selva tropical.
No dia seguinte continuámos até Phonsavan, onde chegámos doridos, cobertos de pó, e com uma maior compreensão da vida diária no Laos: como resolver os problemas de transporte, como pernoitar em aldeias onde não há hotéis nem restaurantes; enfim, como sobreviver ao dia-a-dia.
A Planície dos Jarros, na província de Xieng Khuang, foi uma das áreas do Laos mais violentamente bombardeadas pelos EUA durante a guerra do Vietname. Depois de uma viagem através da selva verde que cobre as montanhas, entramos nesta zona de colinas suaves, ervas e árvores baixas que ainda reforçam mais o tamanho gigantesco das jarras.
Phonsavan é a cidadezinha mais próxima destes lugares históricos e misteriosos, conhecidos pelas suas “jarras” uniformes escavadas em pedra, de tamanho variado e com um peso que ronda os seiscentos quilos. Discute-se sobre a pedra, que não é daqui, e sobre as suas funções: sarcófagos? jarras para fermentação ou para armazenamento do arroz?, mas pouco se adianta para além de uma datação: têm cerca de dois mil anos e constituem, sem dúvida, um dos mais enigmáticos locais deste continente.
Passear por entre estes objetos tombados ao acaso pela planície é uma experiência estranha. Nas jarras maiores e intactas podemos mesmo brincar às escondidas. Em vão espreitamos para dentro das peças, tentando compreender e sentindo-nos vagamente liliputianos, neste planeta onde as jarras atingem os dois metros e meio de altura.
O tempo na região também não ajuda, sendo frequentes as nuvens baixas e ameaçadoras, e uma chuva lenta que transforma os estradões de terra em lodaçais. O nosso veículo, uma verdadeira antiguidade de fabrico russo alugada no hotel, ameaçava atolar-se a cada quilómetro, e ao fim de dois dias demos as investigações por terminadas.
O regresso a Luang Prabang foi feito num avião chinês de dez lugares, que nos deu uma visão ampla sobre as jarras – agora no seu tamanho “normal” -, as montanhas verdes e uma certa estrada de terra, um caminho que nos tinha levado três dias a fazer mas que, visto do alto, até nem parecia mau de todo.
Guia de viagens à Planície dos Jarros
Este é um guia prático para viagens à Planície dos Jarros, no Norte do Laos, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar e os melhores hotéis na região.
Quando viajar para o Laos
A melhor época para visitar a Planície dos Jarros é o verão, mas no resto do país chove menos de novembro a fevereiro.
Como chegar a Phonsavan
Voar de Portugal para Vientiane, a capital do Laos, fica pouco abaixo dos 2.000, dependendo da época, e a Lao Aviation é uma companhia a evitar. Da capital pode fazer um voo interno direto para Phonsavan, ou apanhar um autocarro para Luang Prabang, mais a norte, onde é possível encontrar transporte para continuar a viagem, que demora cerca de dois dias e é cansativa, mas belíssima.
Onde ficar e comer
Em Luang Prabang há muito por onde escolher, com pequenos hotéis a cobrarem a partir de 8 a 15 por pessoa. Em Phonsavan há muito menos escolha e preços idênticos. Geralmente os hotéis arranjam um carro com condutor para visitar a Planície dos Jarros. A comida laociana tem como base o arroz glutinoso, cozido até ficar numa pasta, e carnes variadas. Em Luang Prabang, cidade protegida pela UNESCO e a mais turística do Laos, não faltam restaurantes para outros sabores, nomeadamente chinês e “francês” (europeu). Em Phonsavan a escolha é muito menor mas há pelo menos um indiano recomendado, o Restaurante Nisha.
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Informações úteis
Não existe embaixada do Laos em Portugal, mas pode adquirir um visto de duas semanas à chegada, no aeroporto de Vientiane ou Luang Prabang. A moeda é o kip, e um Euro vale atualmente cerca de 10.700 k. O Laos continua a ser dirigido por um dos últimos governos ditatoriais do antigo bloco maoísta, e continua a ser também um dos países mais pobres do mundo.
Seguro de viagem
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