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À sombra de Cartago

Por Ana Isabel Mineiro
Ruínas de Cartago, Tunísia
Ruínas de Cartago, Tunísia

Fundada por uma princesa fenícia conhecida por dois nomes distintos, Elissa ou Dido, Cartago sempre esteve envolta em lendas desde a sua criação. Hoje está envolta na vegetação frondosa das margens mediterrânicas, as ruínas que restam da invasão romana expostas aos olhos dos visitantes.

Cartago

Cartago marcou o início histórico da Tunísia, cuja capital fica agora na sua sombra. Situa-se mesmo ao lado de Tunes, junto a uma costa com poucas praias de areia mas banhada por um Mediterrâneo especialmente calmo e azul. As suas ruínas estão espalhadas por uma área extensa, que obriga a várias paragens diferentes no comboio local, ou a uma longa caminhada entre os vários sítios a visitar.

Ruínas de Cartago, antiga cidade fenícia no norte da Tunísia
Ruínas de Cartago, antiga cidade fenícia no norte da Tunísia

São doze locais visitáveis com espaços de dois ou três quilómetros entre cada um deles, de La Marsa até Sidi Bou Said. É um percurso que vale a pena, quer pelos vestígios cartagineses e romanos, quer pelas ruelas de vivendas modernas, moradas de embaixadores, o palácio do próprio presidente, tudo ensombrado por uma vegetação luxuriante, tão agradável durante o quente estio do Norte de África.

A lenda grega diz que a princesa fenícia Dido chegou de Tiro, depois de o seu marido ter sido morto pelo irmão, e só lhe foi permitido comprar uma área de terra correspondente ao tamanho de uma pele de vaca. Dido cortou então a pele em tiras finas e com elas delimitou território suficiente para fundar uma cidade: Cartago.

Não demorou muito até que esta se tornasse um grande centro de comércio e poder, com cerca de quinhentos mil habitantes, de tal modo que no tempo de Aníbal este ousou mesmo atacar Roma, dando origem à extraordinária história da travessia dos Alpes com quarenta mil homens e trinta e oito elefantes.

As Guerras Púnicas terminaram com um cerco que durou três anos, ao fim dos quais os romanos a queimaram, arrasando-a por completo. Estava-se no ano de 146 a.C., e este não foi o fim da cidade; tal como a Fénix, Cartago levantou-se das cinzas, agora integrada no Império Romano como um centro cultural e intelectual mas, sobretudo, como o celeiro do império, já que se situava – e situa – numa zona fértil como poucas. Foi preciso mais uma série de invasões, nomeadamente de bizantinos e árabes, para que a cidade desaparecesse da história.

O seu mito, porém, nunca foi esquecido. Usada como pedreira e fonte de material para construções – incluindo a da moderna capital – desde o século VII, chegou ao século XIX com pouco para mostrar. Em finais do mesmo século começaram as primeiras escavações a sério, feitas pelos franceses, que revelaram aos poucos o que hoje podemos ver. Ao mesmo tempo, os artefactos, estatuária e mosaicos encontrados foram sendo guardados num museu. Em 1979, a UNESCO reconheceu o local como Património da Humanidade, e a partir daí Cartago conheceu uma nova história.

Cartago
Cartago

Da época cartaginesa sobrou pouco: o “tophet”, santuário com pedras tumulares, algumas moradias e o local dos célebres portos púnicos onde se fazia a riqueza da cidade; mas da posterior época romana, os vestígios são muito mais impressionantes. Basta visitar as Termas de Antonino para percebermos a importância que estes davam a Cartago.

São o local mais bem preservado e apesar de pouco mais restar que os seus subterrâneos – ou talvez por isso mesmo – o que resta é tão grandioso que já foi classificado como o maior banho público de África e o terceiro maior do Império Romano. Com uma magnífica localização, junto ao mar e dentro de um jardim frondoso, o conjunto de arcadas subterrâneas, paredes e colunas colossais ainda dão uma ideia do que deveria ter sido o complexo.

Ainda na zona de Carthage Hannibal, no cimo do Monte Byrsa podemos ver o que resta da acrópole, um conjunto de moradias e um teatro romano, que a música anima todos os anos durante o Festival Internacional de Cartago. Em Carthage Salammbo fica o “tophet”, no cimo de uma colina, onde eram cremadas crianças e pequenos animais no que é considerado hoje o maior local de sacrifícios do mundo.

Na costa ainda há vestígios dos grandes portos de onde saía toda a riqueza do Norte de África em direcção a Roma. O Museu de Cartago fica junto à Basílica de São Luís, assim como alguns vestígios de ruínas, estelas e sarcófagos cartagineses. Mas para apreciar o que de melhor se fez em termos de arte, convém completar a visita com uma manhã no Museu do Bardo, em Tunes, verdadeiramente excepcional no que toca a estatuária e, sobretudo, mosaicos.

Apesar da destruição progressiva, que começou com a conquista da cidade pelos romanos e continuou com invasões e pilhagens ao longo dos séculos, Cartago levanta-se do chão por entre novas construções, estradas e a linha do comboio. É necessário um pouco de paciência e visão histórica para reconstruir a antiga opulência do local, mas os pormenores estão lá para quem os quiser ver. E se já não têm a mesma grandiosidade no presente, a sua importância histórica continua fora de questão.

Cartago, próximo de Tunes
Cartago, próximo de Tunes

Guia de viagens a Cartago

Este é um guia prático para viagens a Cartago, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos em Cartago, os melhores hotéis e atividades na região de Tunes.

Quando ir

O Inverno é parecido com o nosso, mas a Primavera chega mais cedo, podendo contar-se com bons dias a partir de Março e muito calor (e mosquitos) no Verão.

Como chegar a Cartago

A Tunisair voa de Lisboa para Tunes uma a duas vezes por semana, dependendo da altura do ano. O preço também varia, mas ronda normalmente os 400€. Da Avenida Bourguiba, bem no centro da capital, sai o TGM, comboio urbano que para em todas as estações de Cartago.

Onde ficar

A escolha é grande. A pensão Maison Dorée, por exemplo, fica bem no centro, na Rua de Hollande nº 6, entre a Av. Bourguiba e a Place Barcelone. Um duplo com pequeno-almoço custa cerca de 28 dinares.

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Restaurantes em Tunes

Há para todos os gostos, de comida local (cuscuz, espetadas) a pizzas, comida francesa, chinesa, etc. Muito comuns e económicas (1 ou 2 dinares) são as sanduíches, feitas na hora, com os ingredientes escolhidos pelo cliente. Para quem gostar de picante (mas não muito), recomenda-se a sopa de grão-de-bico conhecida por lablabi, à qual também pode juntar uma série de ingredientes à escolha.

Informações úteis

Não é preciso visto para entrar na Tunísia; com a apresentação do passaporte na fronteira ser-lhe-á dado um mês de permanência em solo tunisino. A moeda é o dinar, e 1€ vale cerca de 1,75 dinares. Há máquinas de Multibanco nos bancos das cidades; muitas na Av. Bourguiba. Não há qualquer problema de segurança nem regras de vestuário. A língua oficial é o árabe, mas quase toda a gente fala algum francês e gosta de comunicar.

O site oficial do Turismo da Tunísia no Reino Unido oferece informação atualizada sobre os principais pontos turísticos do país, incluindo, naturalmente, sobre a região de Cartago.

Seguro de viagem

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Ana Isabel Mineiro