Aarhus é o centro cultural e comercial da Jutland, a península onde a Europa Central se une à Escandinávia. Com um elegante e bem preservado bairro histórico, um ambiente jovem e vibrante e belas paisagens em redor da cidade, Aarhus é um belo destino para uma curta viagem primaveril. Relato de um city-break na Dinamarca.
Magnus disponibilizou amavelmente o sótão da pequena casa que divide com outros jovem dinamarqueses, para dar guarida a um viajante de fim-de-semana. É um jovem tipicamente escandinavo, alto, louro e de olho claro, mas enamorou-se pelos ritmos latinos e quentes do Sul da Europa: é louco por salsa. Quando chego à morada certa, Magnus não se encontra ainda em casa. Tem um compromisso relacionado com a dança, volta mais tarde, que não demora. Dou meia volta, combino o encontro num café daí a umas horas, parto à descoberta.
Na rua circulam grupos de jovens despreocupados e divertidos, à conversa pedalando, lado a lado, no alto das suas bicicletas pretas. Com uma população estudantil a rondar os 40 mil jovens, Aarhus é o aglomerado urbano mais juvenil de toda a Dinamarca. Cidade vibrante, bela e inconformada, terra de alguns excessos ao fim-de-semana, o espírito descontraído da urbe invade facilmente o viajante.
Paradoxalmente, Aarhus é também “a mais antiga cidade dinamarquesa” – assim a promove o posto de turismo local -, facto estampado na arquitectura do centro histórico, nas igrejas e catedrais, no intimista e bem preservado bairro latino, nos museus, nos detalhes das fachadas, nas ruas pedonais. Um contraste entre novo e velho, memória e modernidade, discrição e exuberância que só a torna ainda mais encantadora.
Esse mesmo confronto de estímulos se sente ao entrar, por exemplo, numa loja instalada numa casa secular e, lá dentro, deparar com o mais contemporâneo do design escandinavo, minimalista e funcional. Ou ao avistar malas Louis Vuitton suspensas no guiador de uma simples bicicleta em movimento.
É essa ausência de preconceitos que permite aos dinamarqueses encarar a bicicleta como o mais simples, eficaz e ecológico dos meios de transporte. E o mais prático. Jovens estudantes a caminho da escola, executivos de fato e gravata e pasta de couro na mão, senhoras de tailleur e salto alto a caminho dos empregos, todos se deslocam em duas rodas.
As bicicletas são o meio de transporte predilecto dos dinamarqueses – facto que, bem vistas as coisas, nada tem de surpreendente num país cujo ponto mais elevado se encontra a 147 metros de altitude e onde há ciclovias bem definidas um pouco por todo o lado. Aarhus não é excepção, e é à porta dos cafés que muitas delas se encontram estacionadas aos últimos raios de luz de um dia atarefado.
O prazer do convívio nos cafés faz parte da vida de Aarhus. Cidade das artes e dos jovens, existe em Aarhus uma intensa vida social em torno dos cafés e uma atmosfera boémia que bronzeia a tez pálida dos seus habitantes.
É uma cidade viva, porventura latina de espírito e com os ritmos da salsa – e até do samba – no corpo. Onde é um prazer puxar uma cadeira e parar o relógio sentado num desses botequins, sejam eles cafés minimalistas ou monumentais, cafés em livrarias ou em esplanadas de rua. Olhando para as feições de Magnus, que entretanto chegou ao Sigfreds Coffe Bar, é indesmentível que Aarhus está geograficamente localizada no Norte da Europa. Mas respira-se o ar festivo do Mediterrâneo, da América Latina, de latitudes mais quentes. O ideal para um city-break primaveril.
Passeio a pé pelo centro histórico de Aarhus
Municie-se de um mapa no posto de turismo localizado ao lado da estação de caminho-de-ferro, ponto de partida para este passeio pedestre. Depois fixe o nome Aboulevarden, a artéria pedonal mais trendy da cidade. E parta à descoberta.
Siga pela Rua Ryesgade, em frente ao edifício da estação, e, logo no seu início, repare à sua esquerda no café Sigfreds Coffe Bar, de quem dizem ter o melhor café expresso de toda a Dinamarca – um café na esplanada é uma bela forma de iniciar o passeio. Adiante, a rua muda de nome e torna-se definitivamente pedonal, em direcção à Catedral de Aarhus.
É uma artéria marcadamente comercial, que deve percorrer vagarosamente até ao pontão sobre o canal, de onde avista os requintados restaurantes da Aboulevarden, lá em baixo, na margem do canal. Resista a descer a escadaria de acesso, e prossiga em frente até à Catedral de Aarhus, edifício imponente que marca a paisagem do centro histórico.
Está agora próximo do chamado bairro latino, o mais antigo e provavelmente o mais interessante da cidade. É um bairro de ruas curvilíneas e com carácter, que merecem ser percorridas ao sabor do instinto. Pode, por exemplo, seguir pela praça que se encontra à sua esquerda, em frente à catedral, e virar ao fundo à direita na Rua Volden, para o coração do bairro latino.
Repare nas pequenas lojas de artesanato e design e, ao chegar à Rua Graven, está na altura de voltar à esquerda e logo de novo à esquerda. Está agora na Badstuegade, que abriga uma das mais fascinantes lojas de design de toda a cidade: a DesignerTorvet. Entre e deixe-se seduzir pelo design escandinavo.
Se tem vontade de caminhar, perca-se pelo bairro latino e marcamos encontro adiante, numa rua absolutamente imperdível: a pitoresca Rua Mollestien, com as suas casas térreas que parecem saídas de um filme de bonecas juvenis e que encontrará, no seu mapa, próximo ao Parque Molle, a uns 500 metros da Badstuegade. Atravesse e aprecie condignamente a Mollestien, e depois prossiga em direcção à margem do canal.
Chegado às águas, vire à esquerda, seguindo sempre pela margem, até que o canal faz uma curva acentuada e começam a vislumbrar-se os afamados restaurantes da Aboulevard. Altura para desfrutar de uma bebida refrescante, apreciar a vida local, retemperar energias. Prossiga então até ao pontão que outrora não descemos, suba pelas escadarias e está de novo na mais importante rua pedonal de Aarhus, que pode percorrer novamente, em sentido inverso, até à estação de caminho-de-ferro.
Se ainda tiver tempo e interesse, pode aproveitar para efectuar uma visita ao museu ao ar livre Den Gamble By, que exibe 75 casas antigas trazidas de várias partes da Dinamarca, numa espécie de recriação da história dinamarquesa pela arquitectura.
Fica em Viborgjev e para lá chegar recomenda-se – porque os pés começam a doer – que intervale o passeio a pé e pegue numa das bicicletas gratuitas que se encontram no passeio oposto à entrada do edifício da estação.
Há 55 locais em toda a cidade onde pode pegar e largar as bicicletas disponibilizadas pelas autoridades para usufruto comum, outro dos quais à entrada do museu Den Gamble By. Lá chegado, se a fila de acesso ao museu for demasiado grande – como tantas vezes acontece – esqueça o museu e aproveite a bicicleta para descobrir outros recantos da cidade.
Arredores de Aarhus – um dia de carro alugado
Por toda a Dinamarca, o automobilista encontra esporadicamente na berma das estradas pequenas tabuletas quadradas, de madeira, com uma margarida desenhada. Indicam a chamada “Rota da Margarida”, uma ideia tão simples quanto genial e que guia os visitantes por estradas secundárias, escolhidas com critérios cénicos e de interesse turístico. A rota percorre o país de lés-a-lés e, no caso concreto da região próxima de Aarhus, proporciona um excelente passeio para quem alugar um automóvel. Nem que seja por um dia.
Em jeito de sugestão, siga então a “Rota da Margarida” à saída de Aarhus, para Norte, em direcção a Ronde, passe pela aldeia de Agri, serpenteie a costa durante algumas dezenas de quilómetros, atravesse de ferry em Voer já a caminho de Randers, passe por Randers sem entrar na cidade porque o próximo objectivo é a simpática Silkeborg, detenha-se logo de seguida nos 147 metros do ponto mais alto da Dinamarca e aprecie a vista sem desatar à gargalhada, e regresse passando por Skanderborg, com uma última paragem nas praias a sul de Aarhus.
Durante o trajecto, saia da “Rota da Margarida” e opte por estradas principais sempre que desejar, mas tenha em consideração que, muitas vezes, o mais interessante não são os destinos, mas sim a própria viagem, a paisagem atravessada por estradas secundárias entre um povoado e outro, as florestas, a ruralidade desta região da Dinamarca. A “Rota da Margarida” foi pensada para ser desfrutada assim. Será um dia longo, mas muito agradável.
Guia prático
Este é um guia prático para viagens a Aarhus, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e actividades em Aarhus.
Localização geográfica de Aarhus
Aarhus é a segunda maior cidade da Dinamarca e fica localizada no Norte da península Jutland que une o sul da Dinamarca ao norte da Alemanha. Dista cerca de 180 quilómetros da capital Copenhaga e não se encontra a uma latitude tão grande como se poderia supor, ficando sensivelmente ao “nível” de Glasgow ou Edimburgo, na Escócia.
Quando ir
A Dinamarca tem um clima que se pode considerar temperado quando comparado com os seus vizinhos escandinavos. Em todo o caso, no Inverno os dias são curtos e as temperaturas demasiado baixas, pelo que é um período a evitar. Os meses de Maio a Setembro são os mais agradáveis do ponto de vista climatérico, e proporcionam mais horas de luz. Julho e Agosto, são, naturalmente, os meses com maiores enchentes de turistas.
Como chegar a Aarhus
A forma mais económica de chegar a Aarhus é voar até Londres com uma companhia de baixo custo e de lá seguir até Aarhus com a Ryanair. O problema desta solução é que, muito provavelmente, acabará por ter que ficar uma noite na capital britânica, no regresso, pois o voo da Ryanair chega demasiado tarde a Londres Stansted para poder ter ligação a Portugal. O aeroporto de Aarhus Tirstrup fica a 43 quilómetros da cidade (1h30 de autocarro, com horários adequados às chegadas dos voos Ryanair, por 80 Dkr).
Alternativamente, a TAP voa de Portugal para Copenhaga, capital da Dinamarca, de onde pode seguir para Aarhus de comboio, via Odense, (3h15, 290 Dkr) ou num voo doméstico com a Scandinavian Airlines (35 minutos).
Onde ficar
A oferta é vasta e para todas as bolsas, mas genericamente de qualidade. Destaca-se a imponência do Radisson SAS Scandinavia Hotel, de quatro estrelas, e a localização do Cabinn Aarhus, de duas estrelas, bem no centro histórico e junto ao canal e à Aboulevarden. Quanto a hostels, o City Sleep-In é a opção geralmente recomendada. Em alternativa, o Posto de Turismo arranja quartos em casas privadas.
Informações úteis
A moeda oficial da Dinamarca é a Coroa Dinamarquesa (Dkr), e um euro equivale sensivelmente a 7,5 coroas. Há caixas de levantamento automático por toda a Jutland. O território da Dinamarca pertence ao chamado espaço Schengen, pelo que os visitantes lusos precisam apenas de um documento de identificação válido para entrar no país.
Design nórdico
Se aprecia mobiliário escandinavo, dê um salto à BoConcept, na Rua Østergade, nem que seja para ver as novidades da marca já franchisada em Portugal no seu país de origem. Mais exclusiva é a pequena mas imperdível loja de design DesignerTorvet, na Rua Badstuegade, com uma panóplia de peças que combinam funcionalidade com design excepcional. Um dos melhores locais de Aarhus para perder a cabeça.
Seguro de viagem
A World Nomads oferece um dos melhores e mais completos seguros de viagem do mercado, recomendado pela National Geographic e pela Lonely Planet. Outra opção excelente e mais barata é a IATI Seguros, que não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. São os seguros que uso nas minhas viagens.
Sérgio Machado
Obrigado pela descrição deste belo país.
Estava a pensar fazer um percurso pelo país (já conheço Copenhaga) com a minha esposa e duas filhotas, o que me sugeria? Uma semana será muito?
Larissa
Olá, estou indo passar 15 dias em Copenhaga e gostaria de saber se é obrigatório mostrar a carta convite e seguro de saúde quando passar pela imigração. Grata desde já.
Larissa
Estou indo para Aarhus essa sexta e adorei as dicas. Obrigada!