Bastam as pequenas aldeias de Badami, Aihole e Pattadakal para destacar o Estado do Karnataka no mapa do sul da Índia: só nesta área de 45 quilómetros quadrados que envolve as povoações, encontramos cerca de 150 templos, erigidos a partir do século IV. Mas os atractivos não se ficam por aí; a população parece reproduzir a vida da época e visitá-los é também encontrar uma Índia rural, antiquíssima e hospitaleira. Só a dificuldade de acessos e o desconhecimento têm justificado que esta zona permaneça quase à margem do grosso do turismo.
Badami, Aihole, Pattadakal – três aldeias históricas do Karnataka
Apesar do seu aspecto humilde de aldeia, com as suas casinhas baixas e quadradas, brancas ou cor de terra, estamos em Badami, a antiga capital do reino Chalukya, um dos mais importantes do Sul indiano.
A rua principal não tem nada de emocionante, para além de bandos de miúdos que nos seguem cantando “tata” (olá) e “one pen”, numa demonstração de que por aqui têm passado outros viajantes.
O casario estende-se por poeirentas ruas de terra, que desembocam em praças minúsculas, com braçados de lenha miúda e instrumentos de lavoura à porta de cada casa. Mais tarde ou mais cedo iremos ter ao grande tanque verde de Agastyathirta, onde o eco das lavadeiras reproduz sons de festa animada.
Ao lado, alguns homens também se lavam, e um deles até aproveita para dar banho à vaca.
Em redor deste lago artificial do século V erguem-se as paredes de um desfiladeiro, encimadas por muralhas, que servem agora de palco às brincadeiras de macacos. As escadas que levam ao topo foram talhadas para gigantes, com degraus três vezes mais altos do que necessita o comum dos mortais, mas os pequenos templos, alguns ao nível da água, têm uma dimensão bem humana.
O lugar é misterioso, como se, ao chegar ali, deixássemos a aldeia e o seu tempo para trás. Ao entardecer, o eco das vozes reflecte-se nas paredes de pedra e ressoa até ao cimo dos velhos templos. No limite da aldeia começa um mar de girassóis, milho-miúdo e coqueiros, que se perde nas brumas que o calor levanta do chão.
Aihole e Pattadakal, duas povoações próximas, formavam com Badami o trio de cidades mais importantes do reino e, tal como esta, preservam agora as suas ruínas.
Todas são diferentes: se, em Badami, os templos se concentram em redor do lago artificial, em Aihole estão espalhados pela aldeia e, em Pattadakal, onde se realizavam as coroações e cerimónias religiosas mais importantes, estão protegidos pela UNESCO, vedados e guardados, com direito a bilhete de entrada.
Com os velhos edifícios abandonados e as povoações transformadas em aldeias agrícolas, onde os campos ainda são lavrados com a ajuda de búfalos, é difícil imaginar o luxo do império Chalukyan, que se impôs a partir do século IV, quando ainda na Europa não existia nenhum reino de importância ou complexidade comparável.
A tolerância devia ser regra, uma vez que há, pelo menos, três religiões representadas por templos: a hindu, a budista e a Jain, que só existe na Índia; a mesquita, que representa o Islão, foi construída bem mais tarde.
Sobre o interesse destes monumentos, nem precisamos de valer-nos da história; são de uma beleza enigmática, inteiramente feitos em pedra, cobertos de estátuas e relevos de cavalos, elefantes, dançarinos e figuras dos livros épicos indianos. Pela primeira vez surgem aqui os gopurams, torreões esculpidos e em forma de pirâmide, exclusivos dos templos do Sul da Índia.
A luz desce por aberturas estratégicas, que não se sabe se foram engendradas por arquitectos ou pelo tempo – rasgões na pedra deixam o sol cair sobre o touro Nandu e a deusa Kali posa, com um sensual ondular de ancas.
Um dos factos mais interessantes é a possibilidade de apreciar a vida quotidiana das aldeias, e o relacionamento que as pessoas têm com aquelas jóias arquitectónicas. As cidades já não existem como tal e os templos já não são utilizados para culto, mas quem vive por ali aproveita sempre a sua sombra para conversar.
Miúdos brincam por entre colunas de pedra trabalhadas, e a companhia das estátuas é boa para uma soneca à hora do calor. Rebanhos de cabras atravessam os velhos pátios, carros de bois contornam as paredes, macacos e morcegos penduram-se no seu interior.
E alguns muros antiquíssimos também servem para secar “bolachas” de bosta de vaca, que será usada como combustível. Por vezes, o ambiente é de tal modo cativante e são tantos os apelos aos sentidos, que os monumentos passam para segundo plano.
A única excepção é Pattadakal onde, dentro da vedação, um casal de guardas nos exibe o crachá, sorrindo e dando indicações com o orgulho de quem mostra o que é seu. Aí, embora a visita se pareça mais com “ir ao museu”, o conjunto arquitectónico está protegido contra os descuidos de quem por ali vive e passa.
Abandonadas pelos luxos imperiais, as três cidades tornaram-se magníficos exemplos da Índia profunda, que se descobrem quase por acaso.
Guia de viagens a Karnataka
Este é um guia prático para viagens a Karnataka, na Índia, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.
Quando ir
A Índia é um país de extremos, até no clima: a Primavera (pré-monção) é tórrida; o Verão (a monção, que começa em Junho, no Sul) é muito quente e chuvoso – só o Inverno, a partir de Outubro, oferece temperaturas e graus de humidade agradáveis.
Como chegar
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Onde ficar
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Gastronomia indiana
A comida indiana é uma das melhores do mundo, e a Índia um paraíso para os vegetarianos. Os temperos são fortes e picantes, e os sabores variados. No sul reina o thali, uma variedade de caris de diversos legumes e lentilhas, servido em pequenas tigelas e acompanhado de um grande prato de arroz e pão (chapati), e a masala dosa, um grande crepe com recheio de batatas com especiarias.
Imperdível
Contornar o lago artificial de Agastyathirta, em Badami, subir lentamente ao cimo da fortaleza e assistir ao pôr-do-sol. Ou esperar que a chuva pare, dentro de um dos templos de Aihole ou Pattadakal.
Custos
Um euro vale cerca de 62 rupias indianas. A vida é muito barata; o maior custo da viagem é o voo para Mumbai. Desde 2001, as autoridades indianas resolveram cobrar entradas exorbitantes nos sítios protegidos pela UNESCO apenas aos estrangeiros, num desrespeito por quem se interessa pela sua cultura e em absoluto contraste com o nível de vida do país. O facto tem afastado de percursos como este, fora dos circuitos frequentados por viagens organizadas, centenas de viajantes individuais, prejudicando muito a economia local.
O que levar
Lanterna, para as falhas de luz e o interior dos templos, sandálias resistentes, protector solar (todo o ano) e chapéu. Dá sempre jeito um lençol saco-cama, toalha e chinelos de plástico para o banho, e todos os artigos de higiene que costuma usar. Comprimidos de cloro e cantil também podem ser úteis, já que só deve beber água engarrafada. Mesmo de Inverno a roupa deve ser leve, com um agasalho para a noite. Preveja também um bom repelente de mosquitos, um mosquiteiro (para o caso de não existir no hotel), e um anti-diarreico para o primeiro impacto com a comida.
Informações úteis
É fácil obter um visto na Embaixada da União Indiana, em Lisboa. Em Badami, ficámos no KSTDC Hotel Mayura Chalukya, pertencente ao turismo local. Quanto a transportes, é fácil chegar a Aihole; o mais complicado é ir daí a Pattadakal e regressar. O melhor é informar-se localmente sobre os transportes públicos e a possibilidade de alugar um táxi para todo o dia – sem esquecer de discutir o preço primeiro. É possível visitar Aihole e Pattadakal num dia, a partir de Badami.
Seguro de viagem
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