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Amesterdão por quem lá vive: Rita Himmel

A Rita Himmel em Amesterdão
Amesterdão por Rita Himmel

A Rita Himmel tem 23 anos, é estudante de Mestrado em Relações Internacionais e está a viver em Amesterdão há quase um ano. Convidei-a a partilhar connosco um pouco da “sua” Amesterdão, marcada por espaços como o Café Brecht ou o T, ou ainda a praia urbana de Amsterdam Roest.

É um olhar diferente e mais rico sobre Amesterdão – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes.

Este é o primeiro post de uma série inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”, que muito admiro.

Conteúdos do Artigo

Em Amesterdão com a Rita Himmel (entrevista)

Define Amesterdão numa palavra.

Gezellig.

[É um conceito que existe em holandês que me parece muito ligado à cultura nacional – é uma espécie de mistura entre “aconchegante” ou “acolhedor” e “sociabilidade” ou “convívio”. Há uma série de livros muito engraçados sobre estereótipos de vários países, o “Xenophobe’s guide”. No livro sobre a Holanda este conceito está muito bem explicado: “The Dutch don’t say ‘what will the neighbours think?’, but ‘Think of the neighbours!’”]

Amesterdão é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

Amesterdão é uma cidade ótima para viver. Tem a oferta cultural e o ambiente de uma grande cidade (aliás, é a cidade do mundo onde vive o maior número de nacionalidades) mas ao mesmo tempo permite um estilo de vida de cidade média, com fácil deslocação, muita vida fora de portas e segurança total. A nível estético, é tão pitoresca quanto se espera. Mas, ao contrário da imagem que é muitas vezes pintada, não é a cidade dos vícios e das luzes vermelhas. Aliás, as coffee shops e o Red Light District parecem-me muitas vezes território reservado a turistas e não fazem parte do dia-a-dia dos residentes, de todo. É ainda mais multicultural do que eu esperava, encontra-se pessoas de todas as formas e feitios, religiões, tribos urbanas, etc.

O único aspeto que subestimei foi o mau tempo – semanas sem ver o sol, nem mesmo um pouquinho de azul no céu, não são infrequentes.

E o que mais te marcou em Amesterdão?

O respeito pela liberdade, a tolerância e a flexibilidade com que as regras são encaradas. Há uma postura relativamente à liberdade que é baseada na responsabilidade pessoal. Não são necessárias muitas regras para garantir a convivência em sociedade e as que existem são aplicadas com bom senso e não apenas porque existem. Talvez por isso se veja tanta diversidade de pessoas, a todos os níveis, e foi isso talvez que mais me marcou e que provavelmente mais falta me vai fazer.

Como caracterizas as pessoas de Amesterdão?

É difícil caracterizar as pessoas de um local sem cair em generalizações simplistas. Amesterdão é o verdadeiro melting pot, e o conceito “as pessoas de Amesterdão” inclui mesmo todo o tipo de pessoas de todo o tipo de proveniências. Mas, em geral, os holandeses são, no fundo, pragmáticos e relaxados.

São muito diretos (o que, às vezes, principalmente para quem é mais do Sul pode parecer grosseiro, mas é mais uma questão de honestidade, parece-me), e tolerantes (vou citar de novo o livrinho: “Tolerance is really pragmatism in disguise, and so counts as a good, solid Protestant value”).

Também me parece que há uma forte consciência das virtudes da própria cultura que causa um certo orgulho, mesmo que o tentem disfarçar.

Uma das primeiras coisas em que reparei é que são também muito bem-dispostos e sorridentes (tirando quando estão a andar de bicicleta e têm de lidar com os turistas a caminhar distraidamente nas ciclovias ou a parar as suas bicicletas vermelhas no meio do caminho à procura de indicações).

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Amesterdão sem…”

… fazer um passeio de bicicleta pelos canais e pelo Vondelpark.

Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Amesterdão. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

Amesterdão vê-se bem em 3 dias, dependendo do ritmo de cada um quando viaja, claro. Se estiver bom tempo (o que é raro), pode parecer pouco porque o que é mais interessante de se fazer cá é passear a pé pelos canais, visitar os parques, ou sentar-se num terraço a fazer people watching. Quando chove (o que é muito frequente) e no inverno, o melhor é passar mais tempo nos museus. Há cafés muito gezellig em todas as esquinas porque estar fora de portas torna-se um pouco desconfortável.

Museus “obrigatórios”: Stedelijk Museum (arte moderna, contemporânea e design), Van Gogh Museum, Rijksmuseum (Rembrandt, Vermeer e tudo o que tem a ver com História da Arte nos Países Baixos).

Museus recomendados: FOAM (Museu de Fotografia), Eye (mais pela visita ao café do museu ao pôr do sol e pelo passeio de ferry gratuito para a parte Norte da cidade).

Parque obrigatório: Vondelpark (em qualquer estação do ano, seja para passear na neve, ver os tons de dourado a cobrir as árvores ou fazer um piquenique com as restantes centenas de pessoas que enchem o parque no verão).

Cervejaria: Brouwerij’t IJ (cervejaria ao lado do moinho de vento Gooyer, fabrico tradicional).

Mercados: Flea Market Noordermarkt às segundas de manhã (principalmente velharias e roupa), Farmers’ Market ao sábado de manhã (queijo, legumes e fruta frescos, produtos orgânicos, biológicos), IjHallen geralmente no primeiro fim de semana do mês (dizem que é a maior feira da ladra da Europa; não sei se é verdade, mas pelo ritmo a que as pessoas renovam os seus guarda-roupas pode bem valer a pena. A entrada custa 4,50€ mas encontra-se roupa dos 0,50€-2€. E dá sempre para fazer um passeio numa antiga zona industrial e pela marina), Albert Cuypmarkt (desde peixe fresco a artigos para a casa, souvenirs e roupa, há de tudo um pouco, e é numa das zonas mais bonitas da cidade, de Pijp), Waterloopleinmarkt (a feira da ladra mais turística, mesmo atrás da Câmara Municipal e da Opera).

Concertos: Às quartas-feiras há concertos gratuitos no Concertgebow das 12:30 às 13:00; e de setembro a maio às terças-feiras feiras no foyer do Muziektheater. Durante o verão, também há concertos, teatro, dança e espetáculos infantis de graça no anfiteatro do Vondelpark.

Praças e Monumentos: Leidseplein e Dam são os sítios mais visitados, assim como a Centraal Station. Mas eu recomendo a zona dos canais, principalmente pela arquitetura, mais do que o centro do centro.

Zonas para passear: Jordaan (antigo bairro operário agora é das zonas mais caras da cidade), de Pijp (zona cosmopolita onde viveram artistas como Mondriaan), Old Zuid (zona mais chique da cidade).

Tens algumas dicas para se poupar dinheiro em Amesterdão?

Amesterdão não é uma cidade barata, principalmente o alojamento, os restaurantes e os museus, mas há formas de visitar a cidade sem ir à falência. Para além dos concertos gratuitos no Concertgebow e no Muziektheater, o ferry para a parte Norte da cidade também é gratuito e oferece vistas da cidade a partir do Ij.

Os bares e cantinas da Universidade são sempre uma boa forma de poupar uns trocos, uma vez que o café e as refeições oferecidas são bastante abaixo do preço normal da cidade e estão bastante bem localizados (por exemplo, o CREA Café).

Outro sítio barato para comer são as squats, ou ocupas, com comida vegetariana, como a MKZ (sem menu mas com entrada, prato principal e sobremesa a 5€ e cervejas a 1€. É necessário telefonar durante a tarde para marcar lugar).

Para visitar os museus (a entrada custa cerca de 15€), pode valer a pena comprar o IAmsterdam Card.

Mercado no bairro Jordaan, Amesterdão
Mercado no bairro Jordaan, Amesterdão

Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?

Experimentar o queijo holandês é obrigatório, principalmente o Gouda. No Cheese Museum dá para experimentar imensas variedades, incluindo queijo com wasabi, mas para comprar o melhor é ir a um dos mercados de rua. A maior especialidade é o arenque (heering), que deve ser comido cru ou fumado, com cebola, numa das muitas bancas espalhadas por toda a cidade. A forma tradicional de comer o arenque é segurá-lo pela cauda, inclinar a cabeça para trás, e introduzi-lo na boca (mas também é aceitável no pão). Mmmh lekker!

No inverno, uma boa e densa sopa de ervilhas com salsicha é a melhor forma de aquecer antes de enfrentar o vento gelado. Para quem gosta mais de doces, as panquecas ou as poffertjes (espécie de mini panqueca) podem ser boas opções. Devido ao passado colonial do país, uma visita a Amesterdão também é uma ótima oportunidade para experimentar comida do Suriname ou Indonésia.

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

Para além de arenque, os holandeses gostam de pão. Basicamente, uma refeição cá é um broodje, uma sandes, e em todos os cantos há um café, padaria ou mesmo talho onde preparam broodjes deliciosos. Com queijo, camarão, salmão…

Como é a movida em Amesterdão? O que sugeres a quem queira sair à noite?

Em Amesterdão a cena eletrónica e techno é muito forte, por isso muitos dos locais mais famosos (como o Trouw – entretanto encerrado), andam à volta desse estilo musical. Como não sou grande fã, não posso fazer muitas recomendações. Mas, para além do muito turístico passeio noturno pelo Red Light District (que vale a pena porque é algo muito específico da cidade), há alguns locais que posso recomendar.

Antes de mais, evitaria a Leidseplein, apesar de ser uma praça incluída em todos os guias como o centro da vida noturna. Mas próximo da praça, há o Melkweg (uma antiga fábrica de lacticínios transformada numa discoteca / bar / sala de cinema / teatro) ou o Paradiso (uma antiga igreja transformada em sala de concertos / discoteca).

Na Westergasfabriek há um antigo complexo industrial transformado em zona de bares para todos os gostos, desde o jazz do North Sea Jazz Club até ao ambiente mais eclético e informal do Pacific Parc. Depois, há também as squats com concertos, DJs, filmes, performances ou outros eventos mais alternativos, como por exemplo o OT301, que também tem um restaurante vegan.

Mas, na verdade, há oferta para todos os gostos e depende muito do estilo de cada um.

Centro de Amesterdão
Centro de Amesterdão

Escolhe um café e um museu.

Cafe ’t Smalle, uma antiga destilaria no bairro Jordaan, com um terraço sobre o canal.

Van Gogh Museum – tenho que ser muito honesta e admitir que ainda não visitei o Museu, porque esteve em obras durante a maior parte da minha estadia cá, e reabriu há pouco, mas parte da coleção estava no Hermitage, e, pelo que vi, posso recomendar.

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Amesterdão?

Amesterdão é relativamente pequena, principalmente o centro, e totalmente segura. Para estar inserido num ambiente mais pitoresco o melhor é ficar junto a um dos canais centrais – Kaizers, Prinsen, ou Heren. Alugar um barco-casa através de um site como o airbnb deve ser uma experiência única.

A minha zona preferida onde ficar em Amesterdão é o Jordaan, mas qualquer sítio dentro do Canalring (anel de canais) é útil para quem quer andar a pé. Mesmo se se ficar um pouco fora, perto do Vondelpark também é uma boa opção, no Oude Zuid ou de Pijp. De qualquer forma, mesmo podendo andar a pé, alugar uma bicicleta pelo menos por um dia, faça chuva, sol ou neve, é obrigatório para vivenciar realmente a cidade.

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Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Amesterdão?

Para quem gosta de objectos em segunda mão, vintage ou não, os já referidos IjHallen, Noordermarkt e Waterloopleinmarkt merecem uma visita. Há também a zona conhecida como as 9 Ruas (De 9 Straatjes), entre a Leidsestraat e a Raadhuisstraat, repletas de lojas para todos os gostos.

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo” de Amesterdão; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.

No verão, a praia urbana de Amsterdam Roest, para beber uma cerveja fresca junto à água. No inverno, apesar de ser uma sala de chá ao estilo berlinense, o muito gezellig Café Brecht, ou um chá de limão e gengibre bem quente acompanhado de uma amostra de bolos no T eten en drinken (entretanto encerrado).

Obrigado, Rita. Encontramo-nos numa próxima viagem a Amesterdão.

Guia prático

Onde ficar em Amesterdão

Veja o artigo sobre onde ficar em Amesterdão, mas pode igualmente procurar os melhores hotéis e apartamentos de qualidade usando o link abaixo.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

1 comentário em “Amesterdão por quem lá vive: Rita Himmel”

  1. Informação muito util,…..muito obrigado

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