Escrevo-vos do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, em trânsito para o Rio de Janeiro, depois de quase três semanas no Irão. E, antes de vos contar coisas da “cidade maravilhosa”, quero partilhar um episódio curioso passado há dias em Esfahan. Até porque não é fácil esquecer o Irão num par de dias…
Nas minhas recentes incursões à antiga Pérsia, tenho reparado que o Irão parece estar lentamente a mudar (ou melhor, os iranianos vão aos poucos arriscando mais no que toca ao cumprimento das regras impostas pela República Islâmica).
Senão vejamos.
No dia em que regressei de Teerão, nas proximidades de um belo restaurante onde encerrámos a viagem, vi uma adolescente sem véu. Em público! Foi a primeira vez que tal vi nas seis viagens que já fiz Irão. E não era distração, já que ela estava em amena cavaqueira com uma amiga, que a teria avisado se fosse “engano”. Onde? Teerão Norte, claro está.
Mas, na verdade, não é sobre isso que vos quero falar hoje.
Estou neste momento a fazer horas para a “cidade maravilhosa” e, ao pensar nesta minha viagem ao Irão, há um momento verdadeiramente insólito que tenho de vos contar.
Esfahan, dez e meia da noite. Entrei numa curiosíssima casa de chá subterrânea para fumar qalyan (cachimbo e água) e tomar o chá da praxe. É um lugar excêntrico onde gosto de parar quando visito Esfahan. Na mesa em frente estavam 3 jovens mulheres bem cuidadas – uma delas com um filho -, as faces pintadas em excesso como tantas vezes no Irão e as boquilhas do qyalian coloridas de rosa e vermelho pelo bâton dos lábios.
Até aqui, tudo normal.
Mas os olhares de simpatia e curiosidade habituais, que normalmente levam a risinhos, um “hello” tímido ou uma nova amizade, eram desta vez diferentes. A menina safada de Esfahan – chamemos-lhe assim -, com o seu baton cor-de-rosa e olhar incisivo, teria outras ideias.
Estranhei o seu olhar fixo no meu, insistente, em jeito de convite. Quando os olhares se cruzavam, nunca os desviava. Comentei com uma companheira de mesa que algo não batia certo, mas não me alonguei em explicações. Não sabia o que se passava, mas algo não batia certo com a minha experiência no Irão. E assim se passou uma boa meia hora, até que a teahouse fechou e tivemos todos de sair.
Caminhámos pelo bazar escuro e deserto.
As jovens acompanharam-nos, num caminho que seguramente não era o seu. Estavam mais histéricas que o habitual, falando alto e comportando-se sem a discrição habitual. Parecia que tinham bebido. Não falavam inglês. Ainda assim, perguntaram-me o nome e entre um “I love you” e outras simpatias, a menina do baton cor-de-rosa deu-me a mão, aproximando-se ainda mais fisicamente, falando em farsi coisas que não consegui entender.
Nem nas festas de Teerão as mulheres se comportam assim.
Caminhámos uns bons metros assim, fisicamente muito próximos, até que tirei a minha mão da sua suavemente, sem ser brusco. Duas delas voltaram à carga, aproximando-se sempre sorridentes e a falar alto, dizendo coisas que não entendi (tenho de aprender farsi!). A meio caminho, tão depressa como me deram a mão, voltaram para trás e o bazar ficou de novo em silêncio.
O que foi isto?
Nunca saberei ao certo o que ali se passou. Mas, assumindo que não tinha bebido, só me ocorre outra hipótese para a menina safada de Esfahan. Foi a minha primeira vez.
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