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Barcelona por quem lá vive: Diana Cerdeira

Por Filipe Morato Gomes
Viver em Barcelona: Diana Cerdeira
Barcelona por Diana Cerdeira

Hoje, na série de portugueses pelo mundo, vamos até Barcelona pela mão da Diana Cerdeira. A Diana tem 37 anos, é Consultora de Sistemas Informáticos e de Informação e está a viver em Barcelona, Espanha, há 15 anos. Convidei-a a partilhar connosco um pouco da “sua” Barcelona, marcada por lugares como o bar de tapas El Jardi, o Teatre Grec, a Plaza de la Concordia ou o Parque Turó.

É um olhar diferente e mais rico sobre Barcelona – o de quem vive por dentro o dia-a-dia da cidade, estando simultaneamente fora da sua “zona de conforto”, deslocado, como acontece a todos os viajantes.

Este é o quarto testemunho de uma série de posts inspirada no programa de televisão “Portugueses pelo Mundo”.

Em Barcelona com a Diana Cerdeira (entrevista)

Define Barcelona numa palavra.

Cidade viva.

Barcelona é uma cidade boa para viver? Fala-nos das expectativas que tinhas antes de chegar, e se a realidade que encontraste bateu certo com a ideia preconcebida que trazias.

Barcelona é uma cidade que apaixona. Que te sabe receber, que te deixa viver a vida que quiseres. Podes ser feliz sozinho ou rodear-te de todo o tipo de gente – há espaço para todos e, sobretudo, para ser diferente. Os olhares não te recriminam nem te ignoram.

Quando cheguei a Barcelona pela segunda vez, em finais de agosto, sozinha, de armas e bagagens para começar a minha vida profissional, fui recebida por uma Barcelona quente, cheia, feliz nas suas festas e tradições. Era o que esperava? Sim!

Pouco a pouco, com o outono, a cidade foi-se esvaziando e apareceu uma outra Barcelona, como eu também a recordava, mágica, com as sombras do outono e o frio do inverno que te permitem estar quase sozinho nos espaços emblemáticos de Barcelona e desfrutá-los ao som de um violino, como se Gaudí os tivesse construído para ti.

Conheci uma Barcelona que hoje é difícil de encontrar. O turismo aumentou exponencialmente nos últimos 10 anos, a entrada nas magníficas igrejas de Barcelona e seus claustros já não é livre, e é praticamente impossível sentares-te sozinho numa varanda do Parc Guëll. Mesmo assim, a Barcelona de Gaudí continua a encantar.

Hoje, já não sou uma turista em Barcelona (apesar de continuar a frequentar muitos dos espaços chamados turísticos) e aprecio enormemente a qualidade de vida que a cidade me proporciona. Barcelona é uma cidade cheia de pequenos bairros onde tens tudo à mão, como se estivesses numa cidade pequena. Não tenho carro em Barcelona – não me faz falta.

E o que mais te marcou em Barcelona?

A primeira vez que cheguei, o tamanho da cidade (ok, confesso que não tinha viajado muito). Essa quadrícula tão perfeita vista do avião: o Example de Barcelona impõe e conquista.

A partir de aí, o dia-a-dia de uma pequena-grande cidade. Que podes andar a pé e chegar a todo o lado, que sempre há um lugar onde ir independentemente do que te apeteça fazer – com gente, sem gente, com mar, sem mar, com música, sem música… e há sempre um sitio novo, escondido, para descobrir.

Barcelona é uma cidade bonita, repleta de sítios bonitos, de cafés bonitos, de restaurantes bonitos, de lojas bonitas, de casas impressionantes.

Como caracterizas as pessoas de Barcelona?

Orgulhosas da sua cidade, da sua Catalunha e das suas tradições.

Amáveis, dispostas a ajudar e a dar a sua opinião. E, sobretudo, verdadeiras: não abrem com facilidade a porta das suas casas, mas quando abrem é de par em par; um amigo catalão é um amigo para toda a vida.

Como terminarias esta frase: “Não podem sair de Barcelona sem…”

… passear, passear e passear: “callejear”. De preferência sozinho(a).

… se sentarem atrás da catedral ou na Plaza del Rey e fechar os olhos ao som da música que se escutar no momento (há sempre música por lá).

Vamos complicar a conversa e tentar fazer um roteiro de 3 dias em Barcelona. Indica-nos as coisas que, na tua opinião, sejam “obrigatórias” ver ou fazer.

Los Cubos, Barceloneta
Escultura L’Estel Ferit, mais conhecida por Los Cubos de Barceloneta

Dia 1

Parc Guëll. Com ou sem gente, é um sítio que não se pode deixar de visitar em Barcelona. Aconselho ir de manhã, nos primeiros dias, para estar fresco e poder percorrer todos os seus cantos e recantos, sem pressa.

Sagrada Família. Entrar não é obrigatório, passar por fora sim.

Parc de la Ciutadella – dependendo do ânimo, neste parque podes sentar-te e não fazer nada; passear e tirar uma foto com o famoso Mamut; entrar no Jardim Botânico; visitar o Museu de Arte Moderna; desfrutar de algum dos espetáculos que sempre há por ali.

Ir até ao Porto Olímpico, jantar na Barceloneta e caminhar pelo passeio marítimo.

Dia 2

Casa “La Pedrera” para começar o dia. Fica no Passeo de Gracia com Provença. Descer o Passeo de Gracia, descer as Ramblas, visitar o Mercado de San Josep (La Boqueria), passear pelo bairro gótico, ver La Iglesia del Pi, a Plaza de Sant Jaume e a Catedral de Barcelona, visitar o Templo de Augusto e a Plaza del Rey, atravessar a Via Laetana e entrar no Born. Ir ao Palau de La Musica Catalana, visitar o Mercado de Santa Catarina, visitar o Museu Picasso (ou pelo menos passear pela entrada do museu), ver a Catedral de Santa Maria del Mar… passear, passear e passear. Se possível, assistir a um concerto no Palau de La Musica Catalana.

Dia 3

Montjuic e os seus jardins, Fundación Joan Miró e Estádio Olímpico. Para terminar a viagem, sugestões diferentes consoante os interesses do viajante.

Para os amantes do desporto, visitar Camp Nou (estádio da equipa de futebol do Barcelona) e a imprescindível visita ao museu. Está extremamente bem montado, mas é caro.

Para os amantes de bairros típicos, ir ao bairro de Gracia, tomar uma cerveja na Plaza del Diamante ou na Plaza del Sol; visitar A Casa Portuguesa na Calle Verdi; jantar num dos muitos restaurantes que há por Gracia.

Para os amantes de arte moderna: para além do já referido Museu de Arte Moderna, visitar o CCCB – Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, no bairro gótico.

Acabar a estadia com um toque de glamour: um café no Hotel Casa Fuster (Passeig Gràcia, 132 – por cima da Diagonal), de preferência no terraço, ou o Hotel Villa Emilia (Carrer Calàbria, 115). Alternativamente, acabar a etapa turística nas fontes de Montjuic – é um espetáculo bonito, agradável porque estás sentadinho ao ar livre e… grátis. Vale a pena!

Há muito, muito mais para conhecer, mas este é um possível roteiro para 3 dias em Barcelona.

Veja também O que fazer em Barcelona, as dicas de Tony e Cecília.

Tens dicas para se poupar dinheiro em Barcelona?

Cuidado com a carteira e as distrações. Há muitos assaltos em Barcelona (não é um mito), mas só acontece a quem anda com o nariz no ar e com a carteira, telemóveis ou máquinas fotográficas à vista.

Não te sentes numa esplanada das zonas turísticas do Passeo de Gracia, Rambla Cataluña ou Ramblas. É tudo caríssimo e a qualidade não está assegurada (provavelmente está assegurada a má qualidade). O mesmo aplica-se a praticamente todos os restaurantes das Ramblas.

Procura sítios com menu de almoço (ao fim de semana pode ser mais difícil), e em quase todos os restaurantes se pode pedir só meio menu (depende da fome de cada um). E se preferes uma sandes, leva o teu bocadillo de casa ou de uma padaria de bairro. Apesar de tudo, há alguns bons sítios para comer sandes boas e completas.

Compra um T10 – bilhete integrado de Bus e Metro. Pode-se utilizar também para o comboio que vem do aeroporto.

Falemos de comida. Que especialidades gastronómicas temos mesmo de provar?

Pa amb Tomaquet (Pão com tomate – os catalães não sabem viver sem ele e realmente é bom). Butifarra e Fuet (enchidos da terra); Escalivada (pimento, beringela e cebola assados). Se puder ser com anchovas, melhor; Esqueixada (uma salada de bacalhau fresco, muito diferente do bacalhau que se come em Portugal); Caracoles a la llauna (sim, são caracóis) – é preciso estômago e de preferência que não esteja calor; Canelones de l’avia – sim, é um dos pratos típicos normalmente muito bons (“avia” significa “avó”); e ainda o Crema Catalana e o Mel y Mató.

Referir que em Barcelona também se come muito paella e arroz negro y fideua, pratos com origem em terras valencianas.

Imagina que queremos experimentar comidas locais. Gostamos de tascas, botecos, lugares tradicionais com boa comida e se possível barato. Onde vamos jantar?

Ser barato é realmente complicado, porque o nível de vida é alto e Barcelona é uma cidade cara. Não conheço muitos. Seja como for, aconselho os bares de qualquer mercado de Barcelona (no mercado da Boqueria será mais caro e com mais gente… mas muito bom).

Outros bares e restaurantes que aconselho: La Vinateria del Call, Restaurant Palmera e La Llavor dels Orígens e ainda o Bar Tomás (Carrer Major de Sarrià 49), onde se comem Patatas Bravas.

Como é a movida em Barcelona? O que sugeres a quem queira sair à noite?

Aqui estou perdida, porque cada vez saio menos e com o tempo tornei-me um bocado sibarita. Seja como for, a movida em Barcelona não é muito “espanhola”. O normal é cada vez mais ires a um local por noite e não saltar de bar em bar em ruas cheias de bares e baretos.

Na Plaza Real, vale a pena ir, ver e experimentar. Ali há algumas discotecas abertas até tarde. O Paseo del Born tem bares interessantes, muito agradáveis e com boa música (a zona fecha cedo, por volta das 2 – 3 da manhã).

Uma das melhores discotecas da cidade é a Razz Matazz, en Poblenou. Na zona há muitos bares, muito frequentados por estudantes e gente de Barcelona. Está um bocado afastada de tudo o resto e é conhecida sobretudo pelos seus concertos.

Na zona mais alta da cidade, a Luz de Gaz é uma das discotecas com mais prestígio de Barcelona. Podem não te deixar entrar e qualquer coisa custa “mucha pasta”, mas se queres ver o glamour da sociedade é aí e nos bares da zona (ruas Tusset, Mariá Cubi e Santaló) que tens de ir.

Para finalizar, os meus preferidos: Café Berlin, pela boa música; Apolo (Paral-lel), un antigo teatro que atualmente é uma discoteca fantástica (estilo techno house) e uma sala de concertos alternativos e normalmente muito bons. Se procura um bom Gin Tonic, um sítio turístico mas que vale a pena é o Boadas – as pessoas de Barcelona também vão lá.

Para mais dicas sobre a noite de Barcelona vê o Guia del Ocio.

Escolhe um café e um museu.

Café: o Cafe d’estiu.

Museu: julgo que o Museu Joan Miró, porque é diferente e tem tudo a ver com Barcelona.

Casa Milá, Barcelona
Casa Milá, Barcelona

Uma das decisões críticas para quem viaja é escolher onde ficar. Em que bairro nos aconselhas a procurar hotel em Barcelona?

O melhor é indicar as áreas que não aconselho, especialmente por questões de segurança: Sants-Montjuic, Paral·lel, Barrio Chino (lado direito das ramblas, do mercado da Boqueria para “baixo”) e a zona da Sagrada Familia. Talvez também desaconselhe a zona da Diagonal mar para quem viaja em turismo, porque os hotéis são caros, estão mais pensados para que viaja em negócios… e está-se longe de tudo.

De resto, em Barcelona há tanto que ver que se está sempre perto de alguma coisa e em geral podes sempre ir a pé a algum lado. A rede de transportes (metro e autocarros) é muito boa. Há autocarros noturnos. Eu vivo no Eixample Esquerdo de Barcelona e venho a pé para casa a qualquer hora.

Veja também o artigo sobre onde ficar em Barcelona.

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Tens alguma sugestão para quem quiser fazer compras em Barcelona?

Depende muito do tipo de compras. Pelo bairro de Gracia há muitas lojinhas diferentes; pelo Born também, mas na sua maioria caras. Ao fim de semana, ao fundo das Ramblas, há sempre um mercado de artesanato, e também costuma haver um em Portal del Angel.

Para compras de artigos de luxo, o Passeo de Gracia.

Para comprar recuerdos de Barcelona aconselho as lojas dos museus, especialmente nos museus Picasso, Miró e La Pedrera.

Antes de te despedires, partilha o maior “segredo”de Barcelona; pode ser uma loja, um barzinho, um restaurante, um parque, uma galeria de arte, algo que seja mesmo “a tua cara”.

Escolher um só é difícil, por isso sugiro vários locais em zonas diferentes da cidade: o El Jardi – bar de tapas, no Bairro Gótico; o Teatre Grec, em Montjuic; a Plaza de la Concordia, em Les Corts; o Parque Turó, em San Gervasi. Finalmente, sugiro as festas no dia de San Jordi, para desfrutar todos os anos a 23 de abril em toda a cidade de Barcelona.

Obrigado, Diana. Encontramo-nos numa próxima viagem a Barcelona.

Guia prático

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.