Moçambique, a minha terra sagrada
Confesso que Moçambique nunca fez parte da minha lista de países com interesse gastronómico. Por razões óbvias, é fácil imaginar que na minha cabeça representasse exatamente o oposto: uma região com muita gente e pouca comida, onde fui parar como voluntário em outubro de 2008. No final de um ano, tornou-se a minha terra sagrada, graças à forma como transformou a minha perspetiva de casal, pelas pessoas que deixaram marcas em mim e pelos desafios dos projetos em que trabalhei. Sobretudo, graças à Dona Maria, a moçambicana de quem tenho mais saudades.
A Dona Maria nasceu no norte de Moçambique. Viveu a vida inteira em Ilé, um distrito perdido perto do fim do mundo, até decidir tentar a sorte na segunda cidade mais importante do país. Cruzei-me com ela três anos mais tarde, no mesmo dia em que cheguei à cidade da Beira para começar o trabalho como voluntário.
Macua de sangue e coração, não precisou de muito tempo para me conquistar. Nem de palavras. Bastou o olhar. Os macuas são um dos maiores grupos étnicos de Moçambique e há quem diga que se distinguem pela inclinação natural para sorrir. A Dona Maria também. Com gargalhadas sonoras fintava o mundo ingrato que tinha à sua espera, todos os dias, do lado de fora da porta de minha casa.
No final de um dos primeiros dias de trabalho, antes de sair, decidiu espreitar para a sala e perguntar, com toda a naturalidade do mundo: “Mininoji, caril dele pra amanhã?” Os seus olhos envergonhados fitaram, imediatamente, os dedos dos pés descalços, balançando-se para a frente e para trás demoradamente. Nos meus ficou refletido o embaraço de quem acabara de ser apanhado em falso, embora ela nem sequer tivesse reparado.
O que é que quereria dizer com “caril dele”?
Na realidade a que eu estou habituado, caril é o nome de uma mistura de várias especiarias que associamos, automaticamente, à cozinha indiana. Tentei perceber o que é que estaria a querer dizer.
Foi então que descobri que, para a Dona Maria, caril era tudo o que se comia com xima ou arroji. Na sua realidade, o alimento diário mais comum era um prato de xima, uma massa preparada com farinha de milho, à qual se adicionava água e nada mais. Era insípida e sem sabor, mas dava vida porque matava a fome durante o resto do dia. Ah, afinal, só queria saber o que é que ia ter de preparar para o almoço.
Com a Dona Maria aprendi muito. Imagino que ela nem tenha ideia do quanto. A maior parte das lições, guardo-as no coração e já me valeram em muitas situações. Mas quando a saudade bate mais forte, é nesta receita simples (e deliciosa!) que encontro conforto.
Vou até à cozinha e relembro, um por um, todos os passos para chegar a este caril de camarão inesquecível. Repito gestos, revivo a sua forma peculiar de falar e por momentos volto outra vez a Moçambique, a essa minha terra sagrada. Sei que esta receita não vos vai trazer metade das recordações que a mim me lembra mas é tão boa, e tão consoladora, que faz sucesso em qualquer mesa onde a decidam servir. Podem confiar!
O caril da Dona Maria
Para os moçambicanos, caril pode ser gordura de carne, feijão, camarão seco ou peixe frito. Uma verdadeira inversão daquilo a que estamos habituados porque cá o arroz, a massa ou as batatas é que assumem o papel de acompanhamento.
Ingredientes
Azeite
- 2 cebolas médias picadas
- 4 dentes de alho picados
- 1 malagueta sem sementes, picada
- 3 tomates em cubos pequenos
- 2 beringelas em cubos pequenos
- Sal a gosto
- 400 g de camarões descascados
- 2 chávenas de leite de coco
- 1 mão-cheia de coentros
Receita
Prepare um refogado com azeite, cebola, alho e malagueta. Em seguida, junte o tomate e a beringela, tempere com sal e tape a panela. Deixe cozinhar em lume brando, durante aproximadamente 15 minutos. Acrescente os camarões e o leite de coco. Deixe cozinhar durante mais 5 minutos. Por último, adicione os coentros e retifique os temperos.
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