Não deverá haver melhor lugar para encontrar o Pai Natal do que Rovaniemi, cidade mais importante da Lapónia, a norte do Circulo Polar Árctico, na Finlândia. Mas há mais para conhecer no Inverno da Finlândia, a começar pela capital Helsínquia, pela pitoresca Porvoo e pela estância de esqui em Levi, de regresso à Lapónia, numa viagem centrada em tons de azul e branco.
O Pai Natal mora em Rovaniemi
Desiludam-se aqueles que não querem acreditar na magia do Pai Natal – estão desautorizados a ousar pensar que a figura não existe. Nós estivemos lá, e pusemos-lhe as vistas em cima. O homem que sempre se esconde por entre chaminés, estava ali à vista desarmada. Não dava para acreditar. Mas puxámos-lhe as barbas, que iam até ao joelho, e eram verdadeiras.
E também é verdade que sempre tem o olhar simpático, meigo e doce que tanto se publicita. E é verídico que sabe tudo a nosso respeito, e que conhece todos os países, mesmo aqueles que ficam no lado oposto da Europa. “Ohhh Portugal, Ho Ho Ho! Gosto muito do Algarve!”. Desfaça-se, pois, o mistério: o S. Nicolau, o Santa Claus, o Pére-Noel – tudo o que lhe quiserem chamar, que a linguagem natalícia é universal – existe mesmo. E, na terra onde nasceu, foi baptizado de Joulupikki.
É em Rovaniemi, “capital” do Círculo Polar Árctico em plena Lapónia, na Finlândia, que o “verdadeiro” Pai Natal pode ser encontrado na sua “gruta”. Verdade seja dita, com os desenvolvimentos civilizacionais já lá não existe apenas a gruta, mas toda uma aldeia em torno da sua figura, incluindo um parque de diversões.
Por estes dias de época natalícia, Rovaniemi anda mais do que agitada, com tanto movimento de gente a querer salvar à última hora a reputação de um comportamento anual exemplar. Um só exemplo de tanta movimentação: o posto de Correios. Desde que começou a contá-las, o Pai Natal afirma ter recebido mais de seis milhões de cartas, 32 mil cartas em dias de recorde. Não admira que tenha tantos duendes e elfos a ajudar.
Inverno na Lapónia
Visitar a Lapónia no Inverno pode ser uma experiência inolvidável. O breu domina, mas isso traz muitas vantagens: ver como um simples candeeiro de petróleo ilumina a brancura da neve e, sobretudo, ter a oportunidade de vislumbrar uma aurora boreal fazem parte da experiência de viagem ao Norte da Finlândia. E a temperatura – de Inverno costuma roçar os 30 graus negativos – não é tão dissuasora como à partida se poderia pensar. Funciona aqui o psicológico: olhar à volta e ver uma paisagem acolhedora como que aquece o corpo (conseguem imaginar o brilho que a neve tem de noite?). O branco domina e chega a parecer irreal, pespontado apenas por pinceladas verdes que nos abetos e pinheiros a temperatura não conseguiu enregelar. Não há tempo para sentir frio…
Sente-se, isso sim, uma vontade sôfrega de aproveitar cada minuto até à exaustão e, sobretudo, valer-se de todas as forças para experimentar as actividades que só a Lapónia pode oferecer: safaris com renas ou huskies e, para os mais radicais, em motas de neve. Isto para não falar das diversas modalidades relacionadas com o esqui, incluindo o agradável esqui de fundo, para quem tem medo das descidas e dos saltos.
No final de cada dia há uma receita infalível para conseguir aquecer o corpo e assegurar a verdadeira sensação de tranquilidade e relaxamento: uma sessão de sauna finlandesa. A sauna será talvez uma das características mais marcantes dos finlandeses – há quase tantos postos de sauna como de habitantes. Para eles é o local por excelência onde, pelo menos uma vez por semana, a família se reúne para a higiene, a saúde e o convívio. Como eles costumam dizer, e com veracidade, os finlandeses nasceram na sauna e morreram na sauna.
Ali, a sauna não implica apenas estar uns largos minutos numa cabine altamente aquecida para transpirar em bica. Uma sessão completa implica também um banho em águas geladas. Nas saunas que têm um rio ou um lago na vizinhança – e muitas são estrategicamente colocadas nas margens de lagos – a superfície congelada é rasgada num buraco para lhe permitir o acesso às suas águas.
Se está curioso sobre como tudo se processa, passamos a explicar. Depois de estar o tempo suficiente no interior da sauna, onde é a lenha incandescente que determina a temperatura ambiente, o viajante deve seguir para o exterior, passear pela neve e dar um mergulho (naturalmente rápido!) nas águas geladas. Alternativamente, pode “desenhar um anjo” na neve!
É assim: deve-se sair da sauna com o corpo bem quente e nu, deitar-se de costas no manto de neve e abrir e fechar braços e pernas várias vezes. Quando se levantar terá a surpresa de vislumbrar que um “anjo” ali apareceu. Por aqui se diz que é este método que assegura ao Pai Natal tamanha longevidade…
Os dias azuis da Lapónia
O branco absoluto sobre a superfície terrestre, trazido pela neve. Sob um céu escuro, mas azul, conquistado por uma luz ténue que advém do sol abaixo da linha do horizonte mas relativamente próximo. Pode não ser dia durante muito tempo – se por “dia” for considerado aquele intervalo de tempo em que domina a luz natural – mas pode dizer-se com propriedade que, na Lapónia, nesta altura do ano, os dias são sempre azuis.
Como se isto não fosse razão bastante para uma viagem a norte do Círculo Polar Árctico, deixam-se aqui mais duas (três, quatro, quantas querem?) boas razões para visitar Rovaniemi, a capital da Lapónia, e outra localidade que ofereça ao visitante não só a Natureza no seu estado bruto mas também todas as comodidades que, por si só, são a garantia de umas férias na neve bem passadas: Levi.
Estâncias de esqui há muitas, é certo, mas em quantos outros locais do planeta podemos encontrar aqueles animais simpáticos que toda a gente conhece por serem o “transporte oficial” do Pai Natal? E em quantos outros sítios podemos passear com huskies de manhã, fazer um safari de renas à tarde, e jogar uma partida de golfe ou andar a esquiar à meia-noite?
Vamos por partes. A sensação de se sentar, quase deitado, num trenó puxado por uma rena, tapar o corpo com uma pele e deixar o animal conduzir-nos por trilhos de neve não é facilmente verbalizável, tal a dimensão da paz e da tranquilidade que proporciona. Para emoções mais vertiginosas, o melhor é tentar um safari com matilhas de huskies (ou cães esquimós, como também são chamados).
Neste tipo de transporte, o viajante segue num trenó mas de pé, com cada uma das pernas estabilizadas num suporte e, ao meio, um freio. Ao candidato a Pai Natal basta tentar equilibrar-se e, de vez em quando, travar um pouco, sobretudo quando sentir que a matilha o quer conduzir depressa demais. E é deixar-se ir, com um único som que irromper o silêncio: o latir dos cães (não se inquiete que eles não ladram pelo esforço; pelo contrário, ficam irrequietos quando estão parados).
Por fim, uma razão de visita ainda mais radical. Pode não ser um exclusivo da Lapónia, mas aqui os percursos para andar em motos de neve são exemplares. Conduzi-las não é difícil e nem sequer obriga à posse de carta de condução. Para uma primeira viagem recomenda-se, no entanto, não sair dos trilhos que acompanham os cursos de água gelados, que cortam ao meio florestas e que se cruzam com estradas e linhas de caminho-de-ferro. Para os mais experientes, o combustível é o único limite.
Falemos então de Levi. Uma boa escolha para ter ao dispor todas estas actividades é a estância de esqui de Levi, localizada 180 quilómetros a norte da linha do Círculo Polar Árctico. É considerada a maior estância de turismo da Finlândia, apesar da sua capacidade não ultrapassar as 15 mil camas, das quais um terço se compõe por 500 cabanas de madeira, ideais para famílias ou grande grupos.
De resto, actividades na neve à parte, há sempre a possibilidade de “tropeçar” num Lapão. Os seus trajes coloridos, feitos à base de pele de rena são inconfundíveis e a sua simpatia será a derradeira garantia de uma estada inesquecível.
As cidades da Finlândia por entre bosques com neve
Para além da Finlândia ser um local de excelência para ver a aurora boreal e ter, curiosamente, quase tantas renas como habitantes, outros motivos se impõem para além dos bosques com neve e da aldeia do Pai Natal. Mesmo no Inverno. São eles as cidades, de maior ou menor dimensão. Sempre limpas, brancas e deslumbrantes, e com habitantes de olhar afável e uma história digna de se conhecer.
Com passado de ocupação por russos (100 anos) e suecos (500 anos), a Finlândia começou a sua luta pela independência por volta de 1860, batalhando pela moeda e pela língua nacional. Consta que graças ao Czar Nicolau II, o único russo com direito a uma estátua na cidade de Helsínquia, e logo na sua praça mais importante – a Praça do Senado.
A liberdade foi conquistada em definitivo com a Revolução Russa de 1917, que formou a União Soviética, deixando os finlandeses de fora, orgulhosamente sós, com Helsínquia como principal cidade do país.
Totalmente reconstruída após um incêndio que a devastou em 1757 – só um edifício de pedra, agora museu, resistiu à voracidade das chamas, sendo que os trabalhos de reconstrução terminaram apenas em 1812 – Helsínquia compõem-se por quarteirões de edifícios neoclássicos e muitos apontamentos Arte Nova, sem prédios altos. A harmonia surge das pinturas em azul-bebé, amarelo-torrado e cor de tijolo, num carácter bucólico que contrasta e complementa muito bem a urbanidade da vida na capital.
Helsínquia é uma capital compacta. Num só passeio pode-se percorrer grande parte dos bairros de interesse arquitectónico indiscutível. Curioso é o facto de no Inverno Helsínquia “ganhar” considerável extensão, uma vez que é possível atingir a pé praticamente as 200 ilhas do Báltico que pululam em frente à baía de Helsínquia. E há uma que não dispensa a visita: aquela onde está instalada a Fortaleza de Suomenlinna, classificada como património da Humanidade pela UNESCO.
Do ponto de vista do património monumental, merecem ainda uma referência as igrejas e catedrais que povoam a cidade: as luteranas (a religião que tem maior expressão na Finlândia) e as ortodoxas. Para além da Catedral da Praça do Senado, de J.L. Engel, onde impera o rigor e austeridade ditados pelo luteranismo, é igualmente grandiosa a catedral ortodoxa Uspenski (“O sonho a Morte da Mãe de Deus”) construída na segunda metade do século XIX, com a sua forma a simbolizar a força do Espírito Santo e rematada por 13 cúpulas de Ouro Fino.
Ao lado da Uspenski, um edifício moderno, de Alvar Aalto, um dos arquitectos mais consagrados do país, a revelar que é possível uma salutar convivência de estilos. Uma nota final para a mais recente catedral de Helsinquia, na Praça de Temppeliauko, escavada numa rocha com uma simples cobertura de cobre e betão armado, numa obra notável dos irmãos Timo e Tuomo Suomalainen.
Deixando a capital, e a menos de 50 quilómetros de distância é possível ver como se organiza a vida numa pequena cidade que tem ainda os traços da época medieval. Se Helsínquia tivesse um centro histórico medieval esse poderia muito bem ser Porvoo, a segunda maior cidade finlandesa. Aí pode sentir-se a atmosfera festiva que transpira das janelas enfeitadas de cada casa.
As casinhas de madeira que se organizam rio acima – Porvoo ganhou notoriedade como porto e terminal ferroviário – são um deleite para os amantes da fotografia. E o dobrar de cada esquina em qualquer uma das artérias estreitas de Porvoo será sempre um convite à contemplação.
Porvoo é dona ainda de outra curiosidade: é o único arcebispado (chamemos-lhe assim, relembrando que 98% dos finlandeses são luteranos) sueco-falante. A dupla toponímia existente em toda a Finlândia ganha aqui mais sentido.
Dicas para visitar Rovaniemi
Este é um guia prático para viagens à Lapónia, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região de Rovaniemi.
Quando viajar para a Lapónia
De Verão, é sempre dia. De Inverno, é sempre noite. Na Primavera a neve começa a derreter e a Natureza encarrega-se de quebrar as superfícies das águas geladas. No Outono, as tonalidades coloridas das folhagens em queda são deslumbrantes. E no Inverno, destacam-se a aurora boreal, o silêncio e a luz azulada. Em resumo: pode viajar para a Finlândia – e para a Lapónia em particular – durante todo o ano, dependendo do tipo de viagem e actividades que pretenda efectuar.
Como chegar ao norte da Finlândia
A partir de Helsínquia, capital da Finlândia, a viagem para outras cidades do país, nomeadamente na Lapónia, pode ser feita por via aérea, de comboio ou em pequenos cruzeiros a bordo de navios quebra-gelo.
Onde ficar
A cadeia de hotéis Scandic, espalhados um pouco por toda a Finlândia, é uma boa opção. Nas estâncias de esqui é geralmente mais agradável e vantajoso ficar em cabanas de madeira envelhecida, que oferecem preços não proibitivos. O melhor é contactar as oficinas de turismo ou as centrais de reserva finlandesas.
Gastronomia finlandesa
Destaca-se a carne de rena, o salmão e o caviar. Alem disso, a gastronomia da Lapónia oferece pratos especiais durante a época natalícia, de que são bons exemplos a Ceia celestial e o Jantar da Aurora do restaurante panorâmico Tuikko, bem no cimo da montanha de Levi, ou do hotel Hullo Poro (tradução literal: “Rena doida”).
No que toca às bebidas, não se devem esquecer dois vocábulos: Glog e Kappara. O primeiro é uma mistura de vinho quente com vodka, a que cada casa adiciona especiarias a gosto. As mais comuns são o gengibre, o cravinho, a canela e mesmo a amêndoa. Parece uma mistura surreal? Experimente. A Kappara é uma bebida bem mais fresca, confeccionada também com a inevitável vodka, a que se adicionam framboesa migada e gelo picado. A acompanhar estas bebidas, nada melhor do que os biscoitos típicos de Natal chamados piparkkaku.
A não perder: auroras boreais
Não é garantido que venha a ser um dos felizes contemplados, visto ser quase uma lotaria meteorológica. Mas se, durante o dia, reparar que o céu se mantém limpo – isto é, sem qualquer tipo de nebulosidade – prepare-se para a eventualidade de poder assistir a um dos fenómenos meteorológicos mais deslumbrantes do planeta: a Aurora Boreal.
Caracterizam-se por um céu rasgado por traços de luz e pontos cintilantes de muitas cores, e aparecem na Lapónia apenas nas noites de Inverno. Formam-se a uma centena de quilómetros do solo, quando partículas carregadas electricamente “chocam” com a atmosfera terrestre nas proximidades dos pólos magnéticos. Para não correr o risco de perder tão majestoso espectáculo natural contacte por telefone (0600-16230) aqueles que tentam adivinhar os humores da meteorologia: o Centro de Prognóstico das Auroras Boreais de Rovaniemi.
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