Fez no início do verão passado 12 anos que iniciei a minha volta ao mundo solitária. Nessa altura, uma das maiores dúvidas que me assaltou foi a questão dos bilhetes de avião à volta do mundo – ou Round-The-World tickets, na terminologia inglesa. Estudei aprofundadamente todas as opções existentes quanto aos voos, ponderei q.b. e, no final, optei por não comprar um bilhete volta ao mundo.
Mais recentemente, a mesma dúvida. Em 2012, aquando de uma segunda longa viagem, dessa feita em família, voltei a estudar o assunto e, dadas as especificidades da viagem, tomei a decisão oposta e comprei bilhetes volta ao mundo para os três. Antes de partir, escrevi um texto sobre o assunto chamado “Bilhetes Volta ao Mundo: comprar ou não comprar, eis a questão“. O texto continua 100% atual e, por isso, pode ajudar quem esteja a ponderar lançar-se numa viagem de longa duração nos próximos tempos e venha a passar por esta dúvida de difícil decisão.
Em suma, comprar um bilhete volta ao mundo pode ser muito vantajoso, mas é preciso pensar bem. Cada uma das opções tem as suas vantagens e desvantagens, como podes ler no texto que reproduzo abaixo na íntegra.
Como comprar um bilhete Volta ao Mundo
Comprar ou não um bilhete Volta ao Mundo (round the world, ou simplesmente RTW, na designação mais comum, em inglês) é uma das decisões mais importantes que o viajante tem de tomar durante a fase de planeamento de uma viagem à volta do mundo.
Assumindo que não viaja de barco, bicicleta, à boleia ou a pé, mais cedo ou mais tarde terá de voar, pelo que há, basicamente, três opções a considerar:
- comprar um bilhete Volta ao Mundo ou outras Tarifas de Circuito disponibilizadas pelas grandes alianças de companhias aéreas, como a Star Alliance ou a OneWorld;
- comprar um bilhete Volta ao Mundo em agências de viagens especialistas, denominadas consolidators;
- ou ir comprando as passagens aéreas que se revelem necessárias ao longo da viagem.
Analisemos, pois, cada uma das hipóteses.
1. Alianças de companhias aéreas
Apesar de serem, quase sempre, mais caros do que os bilhetes dos consolidators, os bilhetes Volta ao Mundo das alianças – e em especial da Star Alliance, de que a TAP é membro – são uma opção que vale a pena considerar. Desde logo, se for viajante frequente e possuir milhas aéreas suficientes que possam ser convertidas num bilhete à volta do mundo. Ou, mesmo não sendo esse o caso, pela possibilidade de ir acumulando milhas ao longo da viagem, que se traduzirão, com toda a certeza, em voos (quase) gratuitos depois do regresso a casa.
Além disso, viajará com companhias aéreas reconhecidas e, argumento não desprezível, o facto de possuir um bilhete de avião poderá facilitar a entrada em determinados países. Para muitos, estes dois últimos argumentos significam segurança e paz de espírito, que por si só justificam o investimento.
No entanto, esses bilhetes têm a duração máxima de um ano, o que pode não ser suficiente para si. Além disso, podem obrigar a viajar por rotas demasiado longas, com escalas pouco convenientes nos principais hubs das companhias-membro. E, pior que tudo, os preços não são os mesmos em todo o mundo. Por exemplo, um bilhete Volta ao Mundo comprado para partidas nos Estados Unidos da América ou Portugal é quase sempre mais caro do que se a origem for Londres – o local mais barato em toda a Europa e, por isso mesmo, o ponto de partida mais aconselhável para viagens de longa duração.
Por último, os bilhetes Volta ao Mundo das alianças estão, obviamente, limitados aos destinos servidos pelas companhias-membro, que podem não incluir países que gostaria de visitar na sua viagem. A esse propósito, a Star Alliance é, de longe, a que tem uma oferta mais vasta.
2. Bilhetes Volta ao Mundo em consolidators
Para quem procura bilhetes baratos, os consolidators (ou especialistas em viagens volta ao mundo) podem muito bem ser a escolha perfeita. Basicamente, juntam uma série de segmentos para cobrir todos os destinos pretendidos, utilizando companhias aéreas que podem ou não estar na mesma aliança, e quase sempre conseguem oferecer preços mais baixos do que os canais de venda oficias das companhias e alianças.
Por incrível que possa parecer, é muitas vezes mais barato comprar um bilhete Volta ao Mundo, com paragem em três ou quatro continentes, do que uma passagem aérea de ida e volta intercontinental. Parece estranho, mas é verdade.
Para dar um exemplo concreto, à data das pesquisas de voos para o projeto Diário da Pikitim – volta ao mundo em família, um bilhete Volta ao Mundo com partida e chegada a Londres e paragem em Bangkok (ou, em alternativa, Hong Kong, Singapura ou Tóquio), Austrália, Nova Zelândia, Fiji e EUA tinha um preço mínimo de £1052, o equivalente a cerca de 1.200€.
Há, no mercado, algumas agências de confiança a operar no nicho de mercado das viagens à volta do mundo. Entre essas, vale a pena pesquisar as britânicas Travel Nation, Round The World Flights e STA Travel (entretanto encerradas devido à pandemia), até porque, ao contrário do que possa pensar, vendem bilhetes das maiores e mais conhecidas companhias aéreas do mundo, e não de transportadores de reputação dúbia ou de que nunca tenha ouvido falar. De resto, uma boa ferramenta para tomar contacto com as infinitas rotas possíveis numa viagem à volta do globo é a TripPlanner e Airtrecks.
3. Comprar os voos no caminho
Aqui chegados, estará provavelmente a interrogar-se sobre as razões por que nem toda a gente compra um bilhete Volta ao Mundo. Em primeiro lugar, e desde logo, por uma questão de duração e flexibilidade. Nem todas as viagens duram menos de um ano, e nem todos os viajantes gostam da obrigação de planear todo o itinerário à partida.
Muitos apreciam a total liberdade de decidir o que fazer no dia ou semana seguintes, e colocam a flexibilidade acima de tudo, permitindo-se ficar meses a fio num lugar porque se sentem bem, seguir uma paixão repentina e mudar totalmente de rota, ficar num local a trabalhar ou fazer voluntariado, ou até voltar a casa mais cedo do que o previsto por qualquer razão pessoal ou profissional. É certo que muitos bilhetes Volta ao Mundo permitem alterações de data de forma gratuita, mas o mesmo não se aplica, regra geral, à mudança de itinerário (são cobrados 100 ou mais dólares por alteração).
Assim, comprar os voos no caminho é, naturalmente, a opção que permite maior flexibilidade, apenas dependente da disponibilidade de tarifas aceitáveis para o destino pretendido daí a poucos dias. É ideal para quem não tem plano definido ou prefere viajar ao sabor do vento, ou ainda para viagens de duração superior a doze meses.
Quase sempre, acabará por tornar a viagem mais cara, mas a flexibilidade de, a todo o instante, poder aproveitar uma promoção e voar para qualquer lugar não planeado ou, simplesmente, acordar e decidir o que fazer no dia seguinte é um luxo verdadeiramente impagável.
4. Solução de compromisso (comprar apenas os voos de longo curso)
Uma opção de compromisso e interessante para a maioria (desde que a viagem dure até doze meses) poderá ser comprar um bilhete Volta ao Mundo simples, com apenas os voos intercontinentais, em rotas populares e baratas (exemplo: Londres – Singapura – Sydney – Los Angeles – Londres), sendo o resto do trajeto planeado na altura e efetuado por terra ou recorrendo a companhias aéreas low cost.
5. A minha decisão
Antes de mais, referir que já optei pelas duas situações: na primeira volta ao mundo que realizei, sozinho, em 2004/05, optei por não comprar um bilhete desse tipo. Na altura, preferi a flexibilidade em detrimento do custo e, além disso, a viagem tinha mais de doze meses de duração, o que me colocava à margem das regras dos bilhetes RTW.
Na verdade, a maior parte das vezes fiquei totalmente feliz com a decisão. A exceção terá sido quanto voei entre Timor-Leste e a Austrália, ou da Austrália para a América do Sul, pagando um preço muito alto devido à falta de concorrência. Com um bilhete Volta ao Mundo na mão, teria poupado bastante dinheiro.
Da segunda vez [volta ao mundo em família, em 2012], porém, a opção recaiu pela compra de bilhetes Volta ao Mundo. Em primeiro lugar, porque a viagem durará apenas um ano. Em segundo, porque, estando acompanhado por uma criança, viajarei de forma mais pausada, com menos percursos terrestres longos e desgastantes, pelo que os voos terão um peso mais significativo – logo, compensa mais pensar nesta opção.
Além disso, o itinerário previsto inclui inúmeras ilhas do Pacífico Sul e a única forma razoavelmente económica de lá chegar é através das Tarifas de Circuito ou bilhetes Volta ao Mundo existentes no mercado. Por último, sendo esta uma viagem a três – e não solitária – o fator custo tem um peso três vezes maior em qualquer decisão relacionada com voos.
Muito importante, também, é não viajar sem seguro para volta ao mundo (neste artigo explico tudo).
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Oi Felipe, eu gostaria de ter uma noção de valores de um ticket desses… Estou pesquisando para poder me planejar a respeito…
Olá Cristina, no artigo eu refiro agências de confiança onde pode pesquisar bilhetes Volta ao Mundo, em função do seu roteiro. Os preços variam muito.
Em primeiro lugar: parabéns pelo site! É um “melhor amigo” na hora de obter dicas sobre viagens ;)
Gostava de fazer uma volta ao mundo (ou meia volta, já que a nossa ideia é concentrarmo-nos mais por África, Europa de Leste e Ásia – deixando talvez o continente Americano para uma segunda parte) mas tenho uma dúvida: tenho uma criança com 1 aninho e gostava de a levar connosco. Claro que não é agora… até porque planear estrategicamente e financeiramente a viagem ainda vai demorar! Mas penso fazê-lo quando ela tiver uns 4/5 anos. Uma vez que fez uma volta ao mundo também com uma criança gostava que me desse a sua opinião sobre isto (é muito complicado ou faz-se bem, como qualquer pequena volta que se dê neste mundo?). Gostava mesmo de ter uma opinião de alguém que já passou pela experiência pois se eu perguntar isto aos outros (não viajantes) chamam-me louca e mais umas quantas coisas! hehe
Oi Filipe, adorei seu site. Alem de descrever suas aventuras, traz dicas maravilhosas sobre o que há disponível, como p.ex. o bilhete volta ao mundo, do qual eu desconhecia a existência, e de como se organizar para uma viagem longa. Fora o fato de que você escreve muito bem!
Penso muito, cada vez mais, em fazer a minha viagem volta ao mundo. Sou brasileira, moro no Canadá e ando pesquisando sobre o assunto. Conheço bastante a Europa ocidental e meu grande interesse e pelos países que ainda não conheço do Leste Europeu, Oriente Médio, Russia e Sudeste Asiático e Oceania.
Entrei em duas das agências que você recomenda e vi algumas rotas de bilhetes volta ao mundo, mas elas não cobrem todos os trechos da viagem. Como você se deslocou entre os países não cobertos pelos bilhetes aéreos? Acredito que, dentro de cada país, você usou trens e ônibus, certo? Em quanto isso encareceu essa parte da viagem?
Obrigada e parabéns mais uma vez!
Os bilhetes volta ao mundo servem principalmente para os trechos mais longos, intercontinentais. O resto depende das regiões e dos custos locais – podem ser voos ou overland.
Somos um casal de idosos, por enquanto saudáveis e, principalmente eu, venho de muito tempo planejando a volta ao mundo. Já li algumas considerações ao respeito. Já viajei por alguns países do Cone Sul, sozinho. Gostei, gosto de coisas novas, aventuras, mas a parceira não tem essas experiências. Não me preocupo com alojamentos “confortáveis”, desde que sejam limpos e confiáveis, como alguns hostel que existem por aí e gostei. Meu sonho é conhecer África, Ásia, pode ser Laos, também quero Tailândia e por aí vai. Estou aprendendo a cozinhar, principalmente comidas do cardápio brasileiro, para, se for preciso e oportuno, trabalhar de cozinheiro e ganhar a comida e talvez estadia e algum dinheiro para continuar a viagem. Também aprendi a fazer artesanatos de diversos materiais que, se encontram em qualquer lugar, e podem ser vendidos e ganhar algum. Porém, faz parte de meu sonho viajar de carro. Seria um carro pequeno, como um Land Rover Defender equipado para dois. Enfim, qual seria a sua opinião? Falo português, espanhol e rasgo um pouco inglês. Gosto de escrever e gostaria de ter um blog onde relatar as peripécias de um casal idoso na estrada. Por favor, espero sua resposta. abraço e parabéns pelo seu site. Hernan Hernandez.
Olá Hernan, não entendi bem a sua pergunta, mas a minha opinião é que devem seguir em frente, sim, com tempo. Vai ser uma volta ao mundo maravilhosa! Sobre o blog, recomendo a leitura deste post detalhado sobre como começar um blog de viagens. Grande abraço.
Olá Filipe!
E cruzeiros, qual a sua opinião / experiência?
Nunca fiz nenhum, não posso ajudar.
Olá Filipe, com miúdos pequenos há algum continente/destino que aconselhes ‘evitar’?
Obrigada pelo excelente post.
Bjs
Eu tento evitar locais em altitude.
Gosto muito de todos os posts, vinha à procura de dicas para Malta e acabei por ler o blog todo.
Gosto também muito de viajar, também. Tivesse eu mais tempo e iria a muitos mais sítios, tempo e dinheiro. A minha idade equivale ao número de países visitados, engraçado.
Votos de muitas viagens e tudo a correr bem!
Você poderia me indicar alguém pra me ajudar a comprar a passagem volta ao mundo e ter dicas? Desde já obrigado.
O artigo tem indicação de entidades que o podem ajudar a comprar os bilhetes volta ao mundo.