Já não tenho paciência para a conversa do backpacker

Por Filipe Morato Gomes
Backpackers em festa num hostel de Berlim
Noite de festa no St Christopher’s Inn Berlin (foto promocional do hostel)

Sempre gostei de hostels. Não pela dormida em camaratas, que não aprecio particularmente, mas pela socialização que um bom hostel – com espaços comuns bem pensados – proporciona. É por isso que ficar num quarto privado de um hostel é a solução que tenho usado várias vezes ao longo dos tempos (quando o preço o permite). Dessa forma, mantenho a privacidade e tenho a oportunidade de conhecer muita gente. Mas que tipo de gente? Viajantes. E esse é o meu “problema” atual.

Pensando bem, passaram “apenas” 10 anos…

Na primeira longa viagem que empreendi pelo mundo, durante 14 meses, conheci centenas de outros viajantes, respondi vezes sem conta às mesmas perguntas – de onde era, há quanto tempo andava a viajar, qual o itinerário, os lugares favoritos, por quantos países já tinha viajado, por quanto tempo mais andaria a viajar, como conseguia ter dinheiro para viajar tanto tempo e outras perguntas do género. A quase todas respondi sem enfado, aproveitando para conhecer a história do meu interlocutor. Era divertido.

Bem sei que, após vários meses de conversas iguais, as respostas saíam quase automáticas, mas sempre era um pretexto para socializar, fazer “amizades” ou mandar vir mais uma cerveja. Julgo até que, na maioria das vezes, era eu próprio que encetava as conversas – um “olá” faz maravilhas -, sedento que estava de conhecer gente e mundo e tudo.

E agora?

Nos últimos meses tenho viajado bastante, mas por períodos mais curtos de tempo e quase sempre vestindo a pele de jornalista de viagens ou de líder Nomad, e não a de viajante puro e duro, aventureiro e solitário. Têm sido, por isso, curtas viagens de trabalho – muitas na Europa – e não as minhas longas viagens de espírito livre que tanto aprecio. São experiências diferentes por natureza, mas que ainda assim me fizeram refletir.

Recentemente estive em Istambul, Estocolmo, Copenhaga, Praga e Berlim e dei comigo a pensar na mudança que se tem operado na minha forma de estar no terreno.

Em Istambul, fiz amizades de ocasião no Hostel BellaVista, onde dormi, e chegámos até a combinar uma saída noturna. Fomos a um bar num terraço, tomámos umas cervejas e, quando era hora de sair rumo a um club, um tipo disse algo como isto: “conheço um lugar espetacular, boa música ao vivo e barato; não tem turcos, só backpackers“. Aquilo fez-me confusão. “Não tem turcos, só backpackers” e “é espetacular”.

Em Berlim, fiquei uns dias no Industriepalast, um hostel da zona alternativa de East Side Gallery muito frequentado por jovens em viagem de fim de semana para aproveitarem a noite berlinense; nos outros dias dormi no Amano, um hotel excelente na zona de Mitte, mais requintado (e caro), que recomendo vivamente. Num e noutro, não me recordo de ter falado com quaisquer outras pessoas que não os próprios funcionários. Nunca me apeteceu conversar com os hóspedes. Em Copenhaga, idem – e estava alojado no gigante Generator rodeado pela alegria mochileira.

Em Praga, por seu turno, fiquei hospedado num quarto de um pequeno apartamento na zona de Vinohrady. A configuração da casa não era favorável ao contacto com os outros hóspedes e, na verdade, isso não me incomodou.

Até porque estava a decorrer um festival de música ao ar livre chamado United Islands e, por causa disso, fui várias vezes para as ilhas de Praga ouvir música sentado na relva de salsicha e cerveja na mão, abordei pessoas simpáticas e acabámos a beber copos com mais amigas e amigos das amigas num barzinho das redondezas. E até falei com portugueses há vários anos a morar em Praga que encontrei no festival, e todos esses momentos me souberam incrivelmente bem.

A essência das viagens são as pessoas – continuo a dizer. Os habitantes, não os viajantes.

Nunca me apeteceu soltar um “Hi, where are you from?” na Ponte Carlos. E mesmo quando ouvia falar em português do Brasil – e havia imensos brasileiros quer em Berlim quer em Praga -, dei comigo a ficar em silêncio.

E essa mudança é curiosa.

É evidente que nem sempre é assim – escolhi exemplos que ilustram o ponto que quero vincar. Em Estocolmo, dei-me muito bem com um viajante brasileiro que dormia na minha camarata no Skanstulls Hotel e ficámos amigos. Continuamos em contacto depois da viagem.

Em Copenhaga cruzei-me com uma finlandesa junto ao Palácio Rosenborg, começámos a conversar apenas porque sim e ao fim de cinco minutos parecia que nos conhecíamos há muito tempo. Sei que se chama Mari e que é professora de artes em Helsínquia, mas não faço ideia de quantos países visitou, se já tirou um cartão de estudante falso em Khao San Road e um curso de mergulho em Koh Tao, ou a quantas Full Moon Party já foi em Koh Phangan. Mas sei que, quando visitar Helsínquia, lhe ligarei.

Em suma, hoje em dia continuo a socializar com todo o tipo de pessoas que encontro nas ruas – novos e velhos, habitantes locais e viajantes de ocasião -, mas falo cada vez menos com os jovens viajantes que dormem nos meus hostels. Continuo a adorar pessoas e não me tornei antissocial, mas talvez esteja a ficar com pouca paciência para a conversa típica do backpacker. Ou então estou só a ficar velho.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

26 comentários em “Já não tenho paciência para a conversa do backpacker”

  1. Talvez, apenas, porque há um tempo para tudo.. umas coisas deixam de fazer sentido para darem espaço a outras. Nem melhores, nem piores, apenas diferentes. :)

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  2. Na minha opinião, penso que começa a haver um pouco mais de atenção à qualidade em prol da quantidade das conversas! Pelo menos, nas primeiras viagens que fiz sozinho pela Europa, tinha “fome” de falar, de conhecer, fosse qual fosse o tema. Agora sinto-me aborrecido de falar por falar. Mas as pessoas são o ponto fundamental das viagens. Tanto os viajantes com prosa “interessante”, mas principalmente (na minha opinião), os habitantes locais com quem podemos ter conversas “interessantes”.

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  3. Subscrevo e sinto o mesmo, a filtrar as pessoas e a desviar das conversas como que a avaliar primeiro, tirar medidas e ver se vale a pena.

    Também adoro hostels com as suas cozinhas e salas, mas evito os dormitórios. Continuo a conhecer viajantes pelo caminho, ainda agora estive na Islândia com um grupo de franceses muito boa onda: o “líder” que já ia na 9a viagem à ilha estava a mostrar os cantos preferidos dos Westfjords aos amigos. Não foi preciso conversa de backpacker, a malta deu-se bem e fomos andando juntos, apenas isso.

    Mas as pessoas que realmente me interessam são os locais e não os viajantes, e o momento que trago aqui mais bem guardado foi quando, já sozinho, fiquei com o carro empanado e pude estar à conversa na cabana dos islandeses que me desempenharam, a beber café enquanto me contavam como da janela da cabana viam as baleias que entravam no fiorde.

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    • Momentos, pequenos momentos… é quase sempre o que fica, não é? :)

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      • Nem mais, e gosto tanto disso! Em duas semanas com vistas avassaladoras e o que ficou a fazer eco na cabeça foi uma chávena de café e um bolo de canela caseiro :)

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  4. Eu fiquei sem paciência para os backpackers ainda a meio da minha primeira “longa viagem” de 12 meses à volta do mundo (já lá vão 10 anos), sobretudo pela desilusão que senti com a maioria dos backpackers com quem me cruzava. Ia também eu com uma sede imensa de conhecer outros viajantes, pessoas que eu assumia serem super interessantes e cheias de histórias para contar, quando me apercebi que na sua grande maioria eram jovens que iam para o outro lado do mundo para passarem as noites num qualquer pub até perderem os sentidos. Passei então a prestar mais atenção aos locais, esses sim com histórias interessantes para partilhar. Continuo, no entanto, a preferir os hostels como local preferencial de dormida, não só por causa do “vibe” único, mas também porque há sempre um ou outro viajante que, escapando ao estereótipo do backpacker, me fazem recuperar a fé na humanidade.

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    • Obrigado Carla. Há gente interessante em todo o lado, sejam viajantes ou habitantes locais, e nós próprios não seremos “interessantes” aos olhos de todos os outros. Eu é que constatei que, ao longo dos tempos, fui mudando a forma de lidar com o ambiente backpacker. Não é bom nem mau… é como é :)

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  5. Não posso estar mais de acordo com o texto… Quando eu e o João Almeida estivemos na India, falamos com pessoal da guesthouse e trocámos experiências e contactos, como normalmente. Mas depois ao chegar a Portugal, dei por mim a pensar que os melhores momentos que lá tive foram os que passei na rua a descobrir os locais, a falar com as pessoas de lá, mesmo que fosse só um simples sorriso.

    Agora mais recentemente no Japão, onde fui com a minha namorada, aconteceu-nos o mesmo. Era na rua, e com os japoneses, que nos sentíamos mesmo bem, ainda por cima porque tanto eu como ela temos muita afinidade com a cultura japonesa. E quando cheguei a Portugal, dei por mim com saudades de ouvir a lingua japonesa todos os dias, de responder no pouco que sei. No fundo, com saudades das pessoas de lá.

    Um bocado off-topic, mas tenho há uns tempos um filme para ver, onde se fala, entre muitas outras coisas, disto. Chama-se Gringo Trails (podem ver aqui o trailer), e uma das coisas que é mencionada são precisamente aquelas full moon parties nas praias da Tailandia, que acabam por ser tornar mais festas para os “backpackers” e turistas, do que formas de estar com os locais.

    jm

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    • Acho que o ponto é mesmo esse, se quisermos generalizar: a “rua” versus o “hostel“.

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    • Assim de repente podia lembrar-me de uma chávena de chai :)

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  6. É como dizes… cansa. Mas cansa, porque a maior parte dos “viajantes” não tem do que falar, sobre o que falar, não está preparado para os “locais” e por isso o contacto com outros mochileiros que agem da mesma maneira, deixa-os mais seguros no discurso. Um documentário muito interessante e que não sei se já viste, é o A Map for Saturday e fala exactamente disso!

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    • Talvez seja. Eu não me sinto melhor nem pior do que os outros viajantes, sou um tipo simples e fiel à minha velha mochila. Só estou cansado da conversa típica numa roda de “mochileiros” – foi um desabafo.
      Vou procurar o filme, nunca o vi.

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  7. Adorei o artigo, sinto precisamente o que tu escreveste. Neste momento estou em Ko Chang e na semana passada estive em Ko Samet, um género de parentes pobres das ilhas Thai. Que excelentes parentes pobres, backpackers nem vê-los porque aqui o turismo é mais thai. Nas minhas viagens tenho formado opinião acerca da maioria dos backpackers: acho que a maioria é fundamentalista, ou seja, se eu não for à Full Moon Party não sou bom chefe de família aka backpacker boa onda, se não tiver 300 tatuagens também não, se não for vegetariano não posso entrar no “grupo”, se não gostar de Manu Chao sou uma versão do demo. Acho que na tentativa de ser “tão diferente” das pessoas “normais”, a maioria dos backpackers cai em fundamentalismos.

    Mas, tal como dizes, adoro a minha mochila, adoro o meu single room / bungalow e adoro pessoas e falar com elas. Infelizmente, aqui na “minha” Tailândia há uma grande percentagem de backpackers tal e qual os que descreves, aqueles que evitam os locais e preferem encontrar “farangs” tal e qual eles próprios – mas apesar de tudo ainda se encontram backpackers interessantes.

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    • É isso… querem ser tão diferentes e tornam-se todos iguais…

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  8. Engraçado, é tal e qual. Estou na minha primeira “solo travel” e apenas no quarto mês, mas sinto precisamente o mesmo.

    Dou por mim a fugir aos backpackers para mais facilmente me poder infiltrar num grupo de locais, mesmo que por vezes a diferença de idioma torne a comunicação algo difícil. Mesmo assim, é geralmente mais interessante do que as conversas do costume em inglês perfeito. Ainda há 2, 3 meses era eu a dar a seca do “where are you from” e ficava meio ofendido quando a resposta era um pouco seca. Mas agora percebo o porquê.

    Abraços da Bulgária

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  9. Minhas viagens são na maioria sozinho. No Brasil, acabo ficando em casa de amigos ou hostels, e na Europa, apesar de ficar em hostels, raramente saía com eles, pois em sua maioria queriam ficar dentro do hostel fazendo o “esquenta” para depois sair e beber ainda mais em bares. Principalmente em Budapeste.
    Na Croácia, ao ouvir alguem falar português eu saía de fininho, afinal, saí do Brasil pra conviver com os locais, senão ficava no meu bairro.
    Até meus amigos estrangeiros acharam horrível ir numa festa no Vidigal, motivo: caro e só tinha estrangeiros, nada de locais (pelo alto custo).
    O contato no hostel pode ser bom. Dessa forma pude visitar Santiago e me hospedar com familiares de um rapaz que conheci num evento aqui no Brasil.

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  10. Acho que esse é um processo natural em quem está habituado a viajar. No início esse ambiente é novo, é a primeira vez que estamos a conhecer pessoas do país Y ou Z, a primeira vez que estamos naquele contexto… quando se torna repetitivo, começa a cansar. Quando fiz Erasmus, o meu primeiro inter-rail e a primeira summer school (1 ano depois) passei por imensas dessas situações. Fiquei sempre em hostels, conhecia outros viajantes e ia jantar com eles ou visitar alguma coisa.

    Passados uns anos, voltei a viver no estrangeiro, para trabalhar durante 5 meses e voltei a fazer mais uma summer school e notei também que estava menos aberta para essas conversas. Já tinha viajado bastante pela Europa, já tinha amigos em vários países, já tinha passado imensas vezes pelo “olá, de onde és? eu sou de X. a sério? Estive lá no ano passado e bla bla bla”, por isso mantive-me mais na minha e não alinhei tanto naquilo que o grupo ou a maioria das pessoas ia fazer. Acho que é normal e sinal de uma certa “idade” em termos viajantes :)

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  11. É normal… ao fim de muitos quilómetros (ou se calhar nem tantos assim…) acabamos por descobrir aquilo que realmente queremos: ou ser mais um que vai “p’ra estranja” à procura de companhia de cromos iguais a ele próprio, e que volta de lá com uma carga de bubas e de charros em cima e montes de moradas de desconhecidos nos bolsos, ou pelo contrário, ser alguém que procura compreender outros povos, assimilar novas culturas, alargar os horizontes… principalmente alargar os horizontes!
    E nem me atrevo a dizer que coleccionar bubas e charros é mau… é apenas uma maneira diferente de se ver a vida! E quem sou eu para criticar as opções dos outros…

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  12. Tentanto fugir aos party backpacker’s hostels desde sempre (totalmente não me identifico com a onda), eu por exemplo fico mais tempo à conversa com algum viajante que a primeira pergunta que me faz não seja: “where do you come from?” – como se importasse alguma coisa para a continuação da conversa. abraço!

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  13. Olá Filipe,
    Eu nunca viajei sozinha (nunca precisei nem tive vontade), mas eu falo com qualquer mexilhão que mexa, esteja eu só ou acompanhada, com quanto que a pessoa me pareça minimamente interessante.
    Tanto me faz se é local ou estrangeiro.

    Aqui há uns anos fui de carro com uma (então) amiga de Amesterdão até à Bósnia. Na passagem de barco para Hvar, fui abordada por um casal Israelita com a idade dos meus Pais, seguramente estavam pelos 60. Tinham feito uma viagem sem nada marcado, meteram-se no avião, alugaram um carro e andavam mais ou menos à deriva, e perguntaram-me se eu sabia de algum quarto para alugar pra essa noite, e eu dei-lhes o nome da guest house particular onde iamos ficar. Falamos mais um bocado, ligamos pra dita casa, e eles também lá ficaram. Os senhores, agradecidos, convidaram-nos para jantar e a minha amiga recusou, com o argumento: não vês que são velhos e colas?
    Não tens noção do quão furiosa eu fiquei por ter desperdiçado a oportunidade de conhecer duas pessoas que deviam, com certeza, ter imenso pra contar, pessoas cultas e interessantes, de outro País, que tinham a capacidade de se mandar sozinhos sem nada marcado pra outro País, pa…. tomara eu que os meus Pais fizessem destas coisas. Eu ali super interessada em conhecer as pessoas, e a outra considerou-os velhos e chatos.
    Acabei por ir jantar a um restaurante da moda que vinha num guia, que ela escolheu, e de trombas. O restaurante estava cheio de estrangeiros ingleses e franceses e italianos, e Croatas (que são um dos meus povos favoritos) niclas. Não falamos com mais ninguém nessa noite.

    Já deu pra perceber que a viagem foi um desastre do ponto de vista pessoal, mas acima de tudo ficou-me na mente a falta de vontade que algumas pessoas têm de conhecer os outros pelo que estes têm pra nos ensinar, e não pelo que fazem. E o quanto isso me desagrada enormemente.

    Já fiz conversa de backpacker, já dei dicas e recebi dicas, mas eu fiz isso depois de ter feito erasmus e ter passado um ano com a conversa de encher chouriços, pelo que a limitei sempre ao necessário. Eu percebo o teu cansaço, mas acho que é pura e simplesmente natural…. não te queria dizer que isto é sintoma da idade, por isso vou-te dizer que é, isso sim, da experiência acumulada ;)

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  14. Artigo e comentários bastante interesantes! quando me comecei a aventurar pela Europa fora nos finais dos anos sessenta (com 19 anos…) e inicio dos anos setenta, muito antes do advento dos »Lonely Planet» e quejandos…, tudo era bastante natural. Viajar à boleia de Copenhaga para Londres via Calais, apanhar o Sud Express até Irun e depois auto stop França adentro, fazer trabalho voluntário para conhecer melhor os Países, suas pessoas e companheiros de Estrada com os mesmos hábitos (Holanda 1971, Dinamarca+Inglaterra 1972, Finlandia 1973) viajar de carro (Fiat 127) em 1974 de Lisboa a Helsinquia e volta com paragem na Dinamarca para um estágio técnico/IAESTE etc etc. (so many stories of those days to tell!). Fiz várias amizades por essas alturas as quais ainda se mantém passados 40 anos!. Nessa altura não havia locais e dicas como agora existem donde ficar comer etc, que constituem quase uma obrigação para os agora seguidores da »biblía» »Lonely Planet» por exemplo…Não nego que é uma boa referência para as minhas viagens, mas só como guião…tenho o primeiro guia da viagem overland feita em 1972 pelos fundadores do «Lonely Planet« quando foram de VW de Londres a Singapura salvo erro. Era nessa altura o começo das grandes viagens overland! Enfim para concluir, os «backpackers» à maneira existiam sim e muitos nesse tempo (eu fazia também parte dessa cultura)…. Depois, com o passar dos anos tudo se perdeu e agora os »bacpackers» são uma tribo diferente….

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  15. é o conceito de “poser”. é mais fácil viajar, então talvez já nem toda a gente o faça por verdadeira paixão à descoberta.

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  16. Tive o mesmo sentimento na minha última viagem… e pensei: que raios, queres ver que estou a ficar anti-social nesta idade?! :)

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  17. Alô, inscrevi-me há pouco no seu blog. O que é isso do backpacker?
    Tenho 55 anos e sempre tive o gosto de ver outras coisas, enfim… de viajar, que não é olhar, é ver…
    Só há uns 5 anos comecei sozinha, nada de grandes viagens mas esses dias sabem-me pela vida! Adoro a minha companhia e talvez pela idade esteja também a partilhar o mesmo sentimento do pessoal aí.
    Abraço

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  18. Filipe, tenho pensado muito nisso. Estou prestes a fazer minha primeira longa viagem, mas já vou estar com 38 anos… não tenho mais o mesmo pique dos jovens de 20… e também acho interessante conhecer a cultura local… será que vou ficar deslocada nos hostels?

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    • Olá Josy, para mim o compromisso ideal é ficar num hostel, sim, mas num quarto privado. Assim tem a sua privacidade mas beneficia do ambiente social do hostel.

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