Sempre gostei de hostels. Não pela dormida em camaratas, que não aprecio particularmente, mas pela socialização que um bom hostel – com espaços comuns bem pensados – proporciona. É por isso que ficar num quarto privado de um hostel é a solução que tenho usado várias vezes ao longo dos tempos (quando o preço o permite). Dessa forma, mantenho a privacidade e tenho a oportunidade de conhecer muita gente. Mas que tipo de gente? Viajantes. E esse é o meu “problema” atual.
Pensando bem, passaram “apenas” 10 anos…
Na primeira longa viagem que empreendi pelo mundo, durante 14 meses, conheci centenas de outros viajantes, respondi vezes sem conta às mesmas perguntas – de onde era, há quanto tempo andava a viajar, qual o itinerário, os lugares favoritos, por quantos países já tinha viajado, por quanto tempo mais andaria a viajar, como conseguia ter dinheiro para viajar tanto tempo e outras perguntas do género. A quase todas respondi sem enfado, aproveitando para conhecer a história do meu interlocutor. Era divertido.
Bem sei que, após vários meses de conversas iguais, as respostas saíam quase automáticas, mas sempre era um pretexto para socializar, fazer “amizades” ou mandar vir mais uma cerveja. Julgo até que, na maioria das vezes, era eu próprio que encetava as conversas – um “olá” faz maravilhas -, sedento que estava de conhecer gente e mundo e tudo.
E agora?
Nos últimos meses tenho viajado bastante, mas por períodos mais curtos de tempo e quase sempre vestindo a pele de jornalista de viagens ou de líder Nomad, e não a de viajante puro e duro, aventureiro e solitário. Têm sido, por isso, curtas viagens de trabalho – muitas na Europa – e não as minhas longas viagens de espírito livre que tanto aprecio. São experiências diferentes por natureza, mas que ainda assim me fizeram refletir.
Recentemente estive em Istambul, Estocolmo, Copenhaga, Praga e Berlim e dei comigo a pensar na mudança que se tem operado na minha forma de estar no terreno.
Em Istambul, fiz amizades de ocasião no Hostel BellaVista, onde dormi, e chegámos até a combinar uma saída noturna. Fomos a um bar num terraço, tomámos umas cervejas e, quando era hora de sair rumo a um club, um tipo disse algo como isto: “conheço um lugar espetacular, boa música ao vivo e barato; não tem turcos, só backpackers“. Aquilo fez-me confusão. “Não tem turcos, só backpackers” e “é espetacular”.
Em Berlim, fiquei uns dias no Industriepalast, um hostel da zona alternativa de East Side Gallery muito frequentado por jovens em viagem de fim de semana para aproveitarem a noite berlinense; nos outros dias dormi no Amano, um hotel excelente na zona de Mitte, mais requintado (e caro), que recomendo vivamente. Num e noutro, não me recordo de ter falado com quaisquer outras pessoas que não os próprios funcionários. Nunca me apeteceu conversar com os hóspedes. Em Copenhaga, idem – e estava alojado no gigante Generator rodeado pela alegria mochileira.
Em Praga, por seu turno, fiquei hospedado num quarto de um pequeno apartamento na zona de Vinohrady. A configuração da casa não era favorável ao contacto com os outros hóspedes e, na verdade, isso não me incomodou.
Até porque estava a decorrer um festival de música ao ar livre chamado United Islands e, por causa disso, fui várias vezes para as ilhas de Praga ouvir música sentado na relva de salsicha e cerveja na mão, abordei pessoas simpáticas e acabámos a beber copos com mais amigas e amigos das amigas num barzinho das redondezas. E até falei com portugueses há vários anos a morar em Praga que encontrei no festival, e todos esses momentos me souberam incrivelmente bem.
A essência das viagens são as pessoas – continuo a dizer. Os habitantes, não os viajantes.
Nunca me apeteceu soltar um “Hi, where are you from?” na Ponte Carlos. E mesmo quando ouvia falar em português do Brasil – e havia imensos brasileiros quer em Berlim quer em Praga -, dei comigo a ficar em silêncio.
E essa mudança é curiosa.
É evidente que nem sempre é assim – escolhi exemplos que ilustram o ponto que quero vincar. Em Estocolmo, dei-me muito bem com um viajante brasileiro que dormia na minha camarata no Skanstulls Hotel e ficámos amigos. Continuamos em contacto depois da viagem.
Em Copenhaga cruzei-me com uma finlandesa junto ao Palácio Rosenborg, começámos a conversar apenas porque sim e ao fim de cinco minutos parecia que nos conhecíamos há muito tempo. Sei que se chama Mari e que é professora de artes em Helsínquia, mas não faço ideia de quantos países visitou, se já tirou um cartão de estudante falso em Khao San Road e um curso de mergulho em Koh Tao, ou a quantas Full Moon Party já foi em Koh Phangan. Mas sei que, quando visitar Helsínquia, lhe ligarei.
Em suma, hoje em dia continuo a socializar com todo o tipo de pessoas que encontro nas ruas – novos e velhos, habitantes locais e viajantes de ocasião -, mas falo cada vez menos com os jovens viajantes que dormem nos meus hostels. Continuo a adorar pessoas e não me tornei antissocial, mas talvez esteja a ficar com pouca paciência para a conversa típica do backpacker. Ou então estou só a ficar velho.
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