Não sou uma pessoa demasiado urbana. Quando me perguntam pelos meus destinos preferidos, quase sempre digo que me sinto melhor em lugares pequenos do que em grandes cidades. Tenho aversão a clichés, mas este é mesmo verdade.
Porque gosto quando, ao fim de meia hora num sítio, já conheço o senhor Abdul da padaria, a Fatemeh que serve na casa de chá, o grupo de reformados que passa o tempo na praça central da aldeia, a “Ti” Maria que se detém para conversar por curiosidade ou simpatia, o homem que me convida para a sua mesa.
E porque gosto de lugares onde, no dia seguinte, caminho na rua e alguém me chama pelo nome.
Mais do que os museus ou monumentos, são essas pequenas coisas que me fazem sentir bem num qualquer destino. Coisas que só acontecem em pequenos lugares, aldeias recônditas sem os efeitos do turismo massificado, vilórias a meio caminho entre duas cidades ou a caminho de coisa nenhuma. Sítios onde as pessoas ainda cultivam as relações humanas, têm prazer em receber forasteiros pelo simples prazer de bem receber. Lugares onde a impessoalidade das metrópoles ainda não fez regra.
Mas há cidades e cidades.
Também há as que se entranham na pele do viajante. Seja pelo cheiro do mar, pelo vento da montanha, pela beleza emocionante, pelo calor humano e simpatia das suas gentes. Por motivos diferentes, já me apaixonei, por exemplo, pelo calor do Rio de Janeiro, pela orografia da Cidade do Cabo, pelo salero de Buenos Aires e pelo caos urbano de Hanói.
Sim, há grandes cidades que me ficaram na memória. Mas nenhuma conquistou tamanho espaço no meu coração como Esfahan.
É um lugar especial, Esfahan.
A magnífica arquitetura persa, os bem aproveitados espaços verdes, o impassível Rio Zayandeh (Zayanderud) e suas pontes, a fabulosa Praça Imam, as monumentais mesquitas, os esfahanis. Sim, os esfahanis. Principalmente eles, os esfahanis.
Bem vistas as coisas, há imensos motivos que fazem de Esfahan uma cidade mágica.
O que fazer em Esfahan
1. Caminhar pelo bazar já de noite, com ele vazio e escuro, é uma experiência quase cinematográfica.
2. Fumar qalyan na casa de chá Azadegan, com a sua parafernália de candeeiros, lamparinas, cachimbos de água e velharias penduradas no teto é um emergir no âmago de uma sociedade inclinadamente masculina.
3. Sentar-se na relva da Praça Iman ao entardecer, apreciando todo o seu esplendor arquitetónico enquanto turistas iranianos se passeiam a cavalo em torno da praça, é uma dádiva dos deuses.
4. Atravessar vezes sem conta as pontes Khaju e Si-o-Seh Pol é voltar ao esplendoroso tempo de Shah Abbas.
5. Corresponder aos sorrisos marotos das jovens iranianas é entrar no complexo jogo das relações humanas no Irão.
6. Comer os kebabs de galinha, fígado, coração e pénis de carneiro com pão e salada numa tasquinha de rua (o segredo mais bem guardado de Esfahan) num beco sem saída junto à movimentada Chahar Bagh Abasi é um deleite para o palato.
7. Tal como provar a sopa ash-e reshte num caravanserai transformado no mais chique hotel da cidade.
8. Visitar a sala de música do Palácio Ali Qapu é render-se à criatividade arquitetónica da antiga Pérsia.
9. Fechar os olhos e ouvir os chamamentos dos muezzins é absolutamente delicioso.
10. Sentar-se no chão da delicada Sheikh Lotfollah, apreciando os raios de luz que invadem o interior da mesquita é um exercício de paixão.
11. Conhecer a magnânima Mesquita Jameh, uma das mais importantes de todo o Irão, olhando as inigualáveis cúpulas de tijolo é arrebatador.
12. Distinguir entre mosaicos e azulejos da superlativa Mesquita Iman é algo que ajuda a interpretar a mais bela mesquita de Esfahan.
13. Visitar a Catedral Vank, no bairro Arménio, é penetrar no coração de uma zona totalmente distinta de Esfahan, mais tolerante e liberal.
14. E até entrar numa loja de tapetes para conhecer a arte das diferentes tribos nómadas do Irão é culturalmente enriquecedor.
Ainda assim, e apesar de tudo isso, são os esfahanis que mais me surpreendem. Se o povo iraniano já é afável e hospitaleiro, os de Esfahan superam tudo o que estamos acostumados em viagem.
15. Fazer um piquenique em qualquer parque verde da cidade a uma sexta-feira, por exemplo, na companhia de centenas de famílias iranianas, é um encontro com o que de mais belo e puro tem a hospitalidade persa.
16. Corresponder à curiosidade dos iranianos jovens e parar vezes sem conta para responder às suas perguntas sobre o Irão, sobre o meu país, sobre tudo e nada é um imperativo de qualquer viajante.
17. Passear pelas margens do Rio Zayandeh sendo convidado para tomar chá a cada 20 metros por famílias inteiras, é uma oportunidade única de socializar e conviver com a genuína arte de bem receber iraniana.
18. Aceitar os convites totalmente desinteressados para jantar e até dormir em casa de esfahanis acabados de conhecer é uma experiência única e uma prova de que os iranianos são um povo de uma generosidade sem limites.
19. Sentar-se num café do bairro Arménio à mesa com os jovens cultos e liberais de Esfahan, falando de artes, sonhos e política enquanto se bebe um Nespresso, é uma surpresa contínua.
Sim, também há grandes cidades onde me sinto bem. Como Esfahan. Minha bela e adorada Esfahan.
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Adorei a descrição… essa fotografia revelada em palavras. Já passaram dois anos… deixei-me levar pelas tuas recomendaçoes em relação ao Irão, confesso foi uma autêntica descoberta fascinante… e, por tua culpa, depois de ler este texto, eu quero voltar ao Irão.
Boa tarde,
Não consigo encontrar horeis em Isfahan no Booking, tem algum que recomende. Vou com o meu namorado portanto ficaremos em quartos separados.
Obrigada
Rita