Na Antiguidade, os povos da zona acreditavam que este lugar, dominando o belo Monte Parnasso e o golfo de Corinto, era o centro do mundo. Visitando hoje Delfos, não é difícil perceber porquê. Um roteiro de viagem a Delfos, Património Mundial da Humanidade.
A princípio, parece que chegámos a mais uma vilória grega, lugar de passagem para outro sítio qualquer. A aldeia que ocupava as ruínas foi mudada para aqui no fim do século XIX, e parece ter-se desenvolvido com o objectivo único de alimentar a indústria turística. A rua principal – e pouco mais existe -, é um desfile de hotéis, pensões, restaurantes e lojas de recordações.
É preciso percorrê-la até ao fim e continuar a caminhar pela estrada, até avistarmos, no meio dos olivais que cobrem a encosta, as três colunas do Tholos. Esta ruína elegante, da qual ainda se desconhece as funções, serve-nos de farol, orientando-nos pelo meio das oliveiras até à Marmaria.
O nome denuncia de onde vinham as pedras usadas na construção, durante a época medieval, e explica por que resta tão pouco desta espécie de rotunda de mármore, bem perto do ginásio. Este último permitia aos atletas participantes nos Jogos Pítios – as Olimpíadas locais – que se treinassem e banhassem antes das disputas desportivas propriamente ditas. Aumentado pelos romanos, também serviu de pedreira nos séculos posteriores, quando o oráculo ficou esquecido.
Do outro lado da estrada de asfalto que corta as ruínas a meio, fica a nascente onde os peregrinos se purificavam antes de visitar os recintos sagrados. Reservada aos homens, está agora fechada a todos, por causa das frequentes quedas de rocha, que resvalam do alto das escarpas avermelhadas do monte.
A localização da cidade, construída em socalcos numa encosta íngreme, semeada de oliveiras e ciprestes, deve ter sido uma das causas de assombro dos visitantes. Aos ocasionais terramotos e avalanches, juntava-se um grande buraco nas rochas, de onde Plutarco conta que saíam estranhos vapores, que tornavam vago e incoerente o discurso de quem ficava por perto – falas proféticas, sem dúvida…
A área já era palco de manifestações religiosas desde a época Micénica, entre os séculos XIV e XI a.C. O primeiro oráculo foi dedicado a Gea, a Mãe-Terra, e a Poseidon. A lenda conta que a cobra Píton guardava o oráculo, onde uma sacerdotisa – a pítia, ou pitonisa – transmitia as palavras sagradas aos que a procuravam.
A gruta deve ter desaparecido debaixo de uma avalanche de rochas, e do local só resta uma enorme pedra, que pode ter servido de “trono” à pitonisa. Após a purificação e o sacrifício de um animal, escreviam-se as dúvidas em placas de chumbo; a todos a pítia balbuciava respostas. Questões de guerra e paz, amores e negócios, foram colocadas nas mãos do oráculo, que interpretava as mensagens vindas do centro da terra.
Hoje, placas estrategicamente colocadas identificam os monumentos, e guiam os turistas monte a cima, pela Via Sagrada, até ao enorme recinto de um templo. Entre os séculos XI e IX a.C. instalou-se o culto a Apolo, depois de o deus ter aparecido sob a forma de um golfinho, matando a Píton e dando o nome definitivo ao lugar: Dhelfí. O templo de Apolo e de Atenas são as ruínas mais importantes da área e, por si só, justificam uma visita.
As descomunais bases de estátuas e a imponência das colunas que restam, de um mármore claro trabalhado ou coberto de inscrições, são uma pequena amostra do que seria o conjunto de templos e santuários da cidade. Os mais importantes foram construídos entre os séculos VI a IV a.C., assim como o teatro e o estádio. Este era o palco dos Jogos Pítios, que se realizavam de quatro em quatro anos, assim como de um grande número de concursos líricos e espectáculos musicais. Em tardes de calor, os lugares de pedra acolhem agora varredores cansados e turistas exaustos, abanando-se com os prospectos do museu.
A vitalidade socioeconómica só foi possível depois de Delfos obter a sua autonomia em relação a Krissa, cidade que extorquia pesadas taxas aos peregrinos. O santuário floresceu, então, como o mais importante da Grécia.
Acumularam-se riquezas oferecidas ao oráculo, em alguns casos estátuas e capelas votivas, recheadas de obras de arte, pedras e metais preciosos, que acompanhavam toda a Via Sagrada, até aos templos. Um excelente museu, dentro do recinto das ruínas, guarda as mais preciosas das oferendas trazidas por cidadãos, em nome individual ou representando as cidades-estado. Logo ao cimo das escadas encontramos o Umbigo, uma pedra coberta por uma rede de fitas e nós esculpidos.
Arrancado ao coração do templo de Apolo, assinalava o centro do mundo, o ponto de encontro das duas águias que Zeus enviou dos confins do universo. Igualmente impressionantes, são a enigmática esfinge de Naxos, os belos Kouros, de fortes influências egípcias, e uma das mais famosas estátuas de bronze da Grécia: o condutor de quadrigas.
Apesar de esmagado pelo peso dos séculos, um enorme touro feito com placas de ouro e prata é o exemplo perfeito do fausto que as ofertas atingiam. Menos opulentas, mas muito mais delicadas, são as cerâmicas em tons outonais, decoradas com pinturas leves e estilizadas, representando cenas da época.
Subimos os terraços da encosta devagar, pisando séculos de história, até vermos o Mar de Corinto, como num grande anfiteatro natural. O que resta das construções gigantescas de outrora vai desfilando: muros, colunas, escadas, ruas, a conduta da água, o teatro e o estádio, ambos num miraculoso bom estado. Impressionantes altos-relevos, justapostos como puzzles, recriam os pórticos dos templos, sarcófagos, paredes de santuários.
Exploradas pela primeira vez no século XVII e estudadas no fim do século XIX, as ruínas de Delfos assinalam um império espiritual que durou até ao fim do paganismo, sob os imperadores romanos Constantino e Teodósio – no século IV, o oráculo já não existia.
O declínio de Delfos chegou devagar, com as invasões persas, seguidas pelo controle macedónico. Durante mais de mil anos, gente de vários pontos do globo venceu os riscos da viagem, subindo a montanha para chegar aqui, ao próprio centro do mundo, e pedir a opinião divina sobre assuntos decisivos para as suas vidas.
Não fora a veracidade das respostas, e o oráculo não teria, com certeza, esta fidelidade acérrima e tão prolongada – vinda do centro da terra, a voz da pítia levantava o véu que cobre o futuro. Teria ela antecipado o fim de Delfos, e a sua transformação num “santuário cultural”, onde os fiéis chegam em autocarros climatizados?
Guia de viagens a Delfos
Este é um guia prático para viagens a Delfos, na Grécia, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis da cidade e sugestões de actividades na região.
Quando ir
Todo o ano, sendo a meteorologia parecida com a de Portugal, mas com mais extremos de calor no Verão.
Como chegar a Delfos
De Portugal há várias companhias aéreas a operarem voos para Atenas com escala numa outra cidade europeia. Uma vez na capital grega, há autocarros regulares para Delfos ou pode, naturalmente, alugar um carro. A viagem demora cerca de três horas.
Onde dormir
Existem em Delfos hotéis para todos os gostos e bolsas. Sugere-se que pesquise na lista abaixo, onde apresentamos uma selecção de alguns dos mais elogiados hotéis de Delfos.
Seguro de viagem
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