Delfos, o umbigo do mundo

Por Ana Isabel Mineiro
Delfos, Grécia
Vista sobre Delfos, Grécia

Na Antiguidade, os povos da zona acreditavam que este lugar, dominando o belo Monte Parnasso e o golfo de Corinto, era o centro do mundo. Visitando hoje Delfos, não é difícil perceber porquê. Um roteiro de viagem a Delfos, Património Mundial da Humanidade.

A princípio, parece que chegámos a mais uma vilória grega, lugar de passagem para outro sítio qualquer. A aldeia que ocupava as ruínas foi mudada para aqui no fim do século XIX, e parece ter-se desenvolvido com o objectivo único de alimentar a indústria turística. A rua principal – e pouco mais existe -, é um desfile de hotéis, pensões, restaurantes e lojas de recordações.

Anfiteatro de Delfos, Grécia
Anfiteatro de Delfos, Grécia

É preciso percorrê-la até ao fim e continuar a caminhar pela estrada, até avistarmos, no meio dos olivais que cobrem a encosta, as três colunas do Tholos. Esta ruína elegante, da qual ainda se desconhece as funções, serve-nos de farol, orientando-nos pelo meio das oliveiras até à Marmaria.

O nome denuncia de onde vinham as pedras usadas na construção, durante a época medieval, e explica por que resta tão pouco desta espécie de rotunda de mármore, bem perto do ginásio. Este último permitia aos atletas participantes nos Jogos Pítios – as Olimpíadas locais – que se treinassem e banhassem antes das disputas desportivas propriamente ditas. Aumentado pelos romanos, também serviu de pedreira nos séculos posteriores, quando o oráculo ficou esquecido.

Do outro lado da estrada de asfalto que corta as ruínas a meio, fica a nascente onde os peregrinos se purificavam antes de visitar os recintos sagrados. Reservada aos homens, está agora fechada a todos, por causa das frequentes quedas de rocha, que resvalam do alto das escarpas avermelhadas do monte.

A localização da cidade, construída em socalcos numa encosta íngreme, semeada de oliveiras e ciprestes, deve ter sido uma das causas de assombro dos visitantes. Aos ocasionais terramotos e avalanches, juntava-se um grande buraco nas rochas, de onde Plutarco conta que saíam estranhos vapores, que tornavam vago e incoerente o discurso de quem ficava por perto – falas proféticas, sem dúvida…

A área já era palco de manifestações religiosas desde a época Micénica, entre os séculos XIV e XI a.C. O primeiro oráculo foi dedicado a Gea, a Mãe-Terra, e a Poseidon. A lenda conta que a cobra Píton guardava o oráculo, onde uma sacerdotisa – a pítia, ou pitonisa – transmitia as palavras sagradas aos que a procuravam.

Templo de Delfos
Templo de Delfos

A gruta deve ter desaparecido debaixo de uma avalanche de rochas, e do local só resta uma enorme pedra, que pode ter servido de “trono” à pitonisa. Após a purificação e o sacrifício de um animal, escreviam-se as dúvidas em placas de chumbo; a todos a pítia balbuciava respostas. Questões de guerra e paz, amores e negócios, foram colocadas nas mãos do oráculo, que interpretava as mensagens vindas do centro da terra.

Hoje, placas estrategicamente colocadas identificam os monumentos, e guiam os turistas monte a cima, pela Via Sagrada, até ao enorme recinto de um templo. Entre os séculos XI e IX a.C. instalou-se o culto a Apolo, depois de o deus ter aparecido sob a forma de um golfinho, matando a Píton e dando o nome definitivo ao lugar: Dhelfí. O templo de Apolo e de Atenas são as ruínas mais importantes da área e, por si só, justificam uma visita.

As descomunais bases de estátuas e a imponência das colunas que restam, de um mármore claro trabalhado ou coberto de inscrições, são uma pequena amostra do que seria o conjunto de templos e santuários da cidade. Os mais importantes foram construídos entre os séculos VI a IV a.C., assim como o teatro e o estádio. Este era o palco dos Jogos Pítios, que se realizavam de quatro em quatro anos, assim como de um grande número de concursos líricos e espectáculos musicais. Em tardes de calor, os lugares de pedra acolhem agora varredores cansados e turistas exaustos, abanando-se com os prospectos do museu.

A vitalidade socioeconómica só foi possível depois de Delfos obter a sua autonomia em relação a Krissa, cidade que extorquia pesadas taxas aos peregrinos. O santuário floresceu, então, como o mais importante da Grécia.

Acumularam-se riquezas oferecidas ao oráculo, em alguns casos estátuas e capelas votivas, recheadas de obras de arte, pedras e metais preciosos, que acompanhavam toda a Via Sagrada, até aos templos. Um excelente museu, dentro do recinto das ruínas, guarda as mais preciosas das oferendas trazidas por cidadãos, em nome individual ou representando as cidades-estado. Logo ao cimo das escadas encontramos o Umbigo, uma pedra coberta por uma rede de fitas e nós esculpidos.

Parede lateral do templo principal, Delfos
Parede lateral do templo principal, Delfos

Arrancado ao coração do templo de Apolo, assinalava o centro do mundo, o ponto de encontro das duas águias que Zeus enviou dos confins do universo. Igualmente impressionantes, são a enigmática esfinge de Naxos, os belos Kouros, de fortes influências egípcias, e uma das mais famosas estátuas de bronze da Grécia: o condutor de quadrigas.

Apesar de esmagado pelo peso dos séculos, um enorme touro feito com placas de ouro e prata é o exemplo perfeito do fausto que as ofertas atingiam. Menos opulentas, mas muito mais delicadas, são as cerâmicas em tons outonais, decoradas com pinturas leves e estilizadas, representando cenas da época.

Subimos os terraços da encosta devagar, pisando séculos de história, até vermos o Mar de Corinto, como num grande anfiteatro natural. O que resta das construções gigantescas de outrora vai desfilando: muros, colunas, escadas, ruas, a conduta da água, o teatro e o estádio, ambos num miraculoso bom estado. Impressionantes altos-relevos, justapostos como puzzles, recriam os pórticos dos templos, sarcófagos, paredes de santuários.

Exploradas pela primeira vez no século XVII e estudadas no fim do século XIX, as ruínas de Delfos assinalam um império espiritual que durou até ao fim do paganismo, sob os imperadores romanos Constantino e Teodósio – no século IV, o oráculo já não existia.

O declínio de Delfos chegou devagar, com as invasões persas, seguidas pelo controle macedónico. Durante mais de mil anos, gente de vários pontos do globo venceu os riscos da viagem, subindo a montanha para chegar aqui, ao próprio centro do mundo, e pedir a opinião divina sobre assuntos decisivos para as suas vidas.

Não fora a veracidade das respostas, e o oráculo não teria, com certeza, esta fidelidade acérrima e tão prolongada – vinda do centro da terra, a voz da pítia levantava o véu que cobre o futuro. Teria ela antecipado o fim de Delfos, e a sua transformação num “santuário cultural”, onde os fiéis chegam em autocarros climatizados?

Colunas em redor do templo principal de Delfos
Colunas em redor do templo principal de Delfos

Guia de viagens a Delfos

Este é um guia prático para viagens a Delfos, na Grécia, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis da cidade e sugestões de actividades na região.

Quando ir

Todo o ano, sendo a meteorologia parecida com a de Portugal, mas com mais extremos de calor no Verão.

Como chegar a Delfos

De Portugal há várias companhias aéreas a operarem voos para Atenas com escala numa outra cidade europeia. Uma vez na capital grega, há autocarros regulares para Delfos ou pode, naturalmente, alugar um carro. A viagem demora cerca de três horas.

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Onde dormir

Existem em Delfos hotéis para todos os gostos e bolsas. Sugere-se que pesquise na lista abaixo, onde apresentamos uma selecção de alguns dos mais elogiados hotéis de Delfos.

Pesquisar hotéis em Delfos

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Ana Isabel Mineiro

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