Diu, Índia. Um pedaço de terra e de céu, uma ilha presa à costa pelas palmeiras, pássaros e gentes, que são os mesmos de um lado e do outro da ponte que liga a aldeia piscatória de Ghogla à pequena cidade de Diu. Aprazível e pouco turística, a ilha indiana parece ter parado no tempo.
Paz em Diu
Deste lado, uma praia de areia escura cheia de barcos engalanados; do outro, Diu, onze quilómetros de comprimento por três de largura, povoada de cristãos, hindus e muçulmanos, numa cordial comunhão adoçada pelo clima tropical. Algumas cristãs usam vestidos um pouco abaixo do joelho, mas todas usam também o tradicional sari indiano, elegante peça de tecido enrolada à volta da cintura que termina com um drapeado sobre o ombro.
Com igrejas tão bonitas como Goa, praias praticamente desertas, e o tamanho ideal para percorrer a pé e de bicicleta, Diu, a “Ilha” – de dwee, em sânscrito – dá-nos vontade de ficar por uns tempos.
A presença portuguesa na Índia
Salta à vista a presença portuguesa bem antes de chegarmos ao forte.
As ruas interiores da única cidade, que tem o mesmo nome da ilha, por vezes lembram uma Lisboa antiga e arruinada, e algumas ruas mantêm mesmo os nomes portugueses.
Da língua, já muito poucos sabem e, mesmo esses, têm dificuldade em entender o português moderno, limitando-se a acenar com a cabeça quando falamos, mas acabei por encontrar quem me desse informações sobre “a carreira” para Nagoa e a localização da belíssima Igreja de S. Paulo, que abriga uma N. Sra. de Fátima muito venerada.
Mas a imagem mais difundida é a do forte, que hoje é prisão. A vista do cimo é linda, abrangendo o verde da ilha e a linha de terra mais adiante, separadas por um mar azul que muda de tonalidade com a luz. Os canhões estão no seu lugar de sempre, muito bem conservados, mas o pátio interior está coberto de ervas altas e não permite outro passeio que não seja à volta das muralhas, ao longo do mar, de uma torre para a outra.
Os turistas indianos gostam de se fazer fotografar encavalitados nestas memórias de ferro e bronze da época colonial, do tempo daqueles templos estranhos chamados “igrejas”, brancos por fora e dourados por dentro, onde nem é preciso tirar os sapatos antes de entrar.
De manhã cedo antes que o sol aqueça demasiado, monto numa velha bicicleta de aluguer e vou ver a paisagem de perto. Um pouco por todo o lado, capelas e templos hindus chamam a atenção dos forasteiros que saem da cidade à procura das praias longas e desertas, que são a atracção principal para os poucos que se deslocam à ilha. De fachadas altas e brancas, as igrejas são um elemento surpreendente no meio das palmeiras e coqueiros, que sombreiam a estrada fina que rodeia a ilha e debruam a baía de Nagoa.
Nos campos de milho-miúdo, camponeses trabalham debaixo do sol arrasador, e os saris coloridos das mulheres destacam-se no verde da paisagem.
É difícil encontrar um lugar para comer; nas aldeolas que vamos passando não há aqueles pequenos restaurantes de rua que encontramos por toda a Índia, mas por todo o lado as mulheres sorriem e estendem-me cântaros de água fresca enquanto tentam comunicar – em guzarate, claro, a língua do estado.
Meninas de laçarotes no cabelo passam em bandos para a escola e repetem as palavras que sabem em inglês, curiosas com aquela estranha de calças e bicicleta. Muralhas de cactos cobertos por um véu fino e branco, tecido por aranhas invisíveis, ladeiam a estrada durante quilómetros, tornando quase impenetráveis pequenas cabanas de terra batida e tecto de folhas de palmeira, rodeadas de quintais e redes de pesca penduradas.
Inferno e paraíso
Parte da ilha foi declarada santuário para pássaros, e as melodias que chegam das árvores dizem porquê. Na zona das salinas, frequentada por flamingos, íbis e muitos outros, dependendo da época do ano, são os corvos e os papagaios que fazem hoje a banda sonora. Garças brancas imobilizam-se, à espera do peixe. A paisagem mudou por completo.
O branco dos montes de sal dói nos olhos e ofusca tudo. Homens e mulheres, debaixo de um sol impiedoso carregam cestos com pedras de sal, de pés descalços, despejando-os numa máquina que as tritura, reduzindo-as a areia branca.
Os homens, muito negros e magros, de turbante e calções brancos, parecem escravos coloniais que pagam, com trabalhos forçados, uma falta qualquer. Os diamantes de sal brilham no quadriculado das salinas, agitados pelo bico das aves, e ondas de calor levantam-se do chão alvo, pisado pelos pés negros e gretados dos trabalhadores.
O resto da ilha tem mais de paraíso que de inferno. A estrada é quase sempre estreita e sombria, atapetada pelas espigas de milho-miúdo, espalhadas por raparigas alegres e barulhentas. Apenas na zona do aeródromo, devido ao corte excessivo de árvores e aproveitamento da pedra – para o forte e para as igrejas, sobretudo -, a areia avançou invadindo os dois lados da estrada e reduzindo-a a um estreito trilho de pneus de motorizada. Sem obstáculos, o vento atirava punhados de areia pelo ar e cegava-me, enquanto a bicicleta rangia desesperadamente em direcção às próximas palmeiras.
De regresso a Diu, compreendi que a ilha era mesmo muito pequena: levei uma manhã inteira a percorrê-la de bicicleta, com inúmeras paragens para conversas, bebidas, repousos e visitas a igrejas sumptuosamente arruinadas, morada de cães vadios e pastagem de vacas.
Negócios e passeios em Diu
Todas as manhãs há mercado no centro de Diu. Camponeses dos arredores trazem o produto da época e do seu esforço: um montinho de beringelas, um punhado de quiabos, algumas peças de fruta e batatas. As donas de casa aproximam-se e discutem o preço durante uns minutos; se não conseguem o que querem passam à banca seguinte, que no negociar é que está o ganho.
Já em Ghoghla o negócio é o peixe que não para de chegar, os barcos invadidos por mulheres mal atracam; de sari arregaçado e bacia à cabeça, transportam-no para terra onde é seleccionado, vendido imediatamente ou seco ao sol, pendurado em cordas esticadas sob a cobiça dos corvos.
Os pescadores, alguns vindos da distante costa Sul, aproveitam a paragem para pecar: as três ex-colónias portuguesas são conhecidas pela livre circulação e venda de bebidas alcoólicas, proibidas ou restritas nestas zonas da Índia. E apenas com uma refeição, um hindu devoto – vegetariano e abstémio – pode prejudicar seriamente o seu karma, comendo peixe e regando-o com uma cerveja Kingfisher fresquinha.
O ar quente convida a passeios matinais pelas ruelas sombrias e asseadas, onde as vacas e trânsito são raros. À tarde, um passeio pela praia, as vistas do cimo da Igreja de S. Paulo e uma conversa amena com quem passa; ao pôr-do-sol, a vista do forte sobre o fortim de Panikota, verdadeira ilha fortificada entre Diu e Ghoghla.
No fim, o que fica na memória é o verde dos coqueiros e o garrido dos saris das mulheres que rezam à N. Sra. de Fátima, numa fusão oriental de trópicos portugueses.
Guia de viagens a Diu
Este é um guia prático para viagens a Diu, na Índia, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.
Quando ir
Evitar Junho a Dezembro. A melhor época é entre Fevereiro e Abril, com dias de cerca de trinta graus e noites mais frescas, sem chuva.
Como chegar a Diu
Voar para Mumbai, Índia, e daí para Diu; também há a possibilidade de tomar um autocarro até à ilha, mas a viagem é longa e as estradas más. Uma vez na ilha, o melhor é alugar uma bicicleta ou uma vespa; ou, se gostar, andar a pé, sobretudo na estação e às horas de mais frescura.
Onde ficar
O melhor é ficar na cidade, por exemplo no Hotel Central, em Bunder Chowk, ou no Samrat, em Collectorate Road, que também tem um bom restaurante.
Informações úteis
É necessário visto para a Índia, a pedir na embaixada, em Lisboa. A maior parte das pessoas fala inglês, alguns conseguem articular umas frases em português. A comida é picante e excelente, como é costume na Índia, e a comida “portuguesa” é uma mistura de sabores nacionais com tempero indiano, que por vezes resulta muito bem. Um Euro vale cerca de 57 Rupias e há Bancos para trocar dinheiro em Diu.
Seguro de viagem
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