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Em Tunes, os cafés ainda são o que eram

Por Ana Isabel Mineiro
Esplanada do café Chaabane, em Sidi Bou Said
Esplanada do café Chaabane, em Sidi Bou Said

A Tunísia combina tradição e modernidade e o ponto de encontro entre as duas é nos cafés. Sempre cheios, tradicionalmente servem chá, café e a shisha, o cachimbo de água local. Da medina de Tunes a La Marsa e Sidi Bou Said, estâncias de veraneio da capital tunisina, os cafés de Tunes continuam a ser uma instituição em alta.

Cafés, pontos de encontro tunisinos

Tunes é a mais mediterrânica das cidades da Tunísia. Um passeio pelas ruas do centro revela uma arquitectura de casas brancas com janelas de gelosias azuis, em estilo “colonial”, que ficariam bem no sul de França, de Itália ou até na Grécia. A medina estende-se a partir da Avenida Bourguiba, e também por aqui a vida flui ao ritmo mediterrânico, pausada e com muito tempo para o convívio.

Chicha (cachimbo de água) e gatos são frequentes nos cafés de Tunes
Shisha (cachimbo de água) e gatos são frequentes nos cafés de Tunes

Os cafés são os pontos de encontro entre gente de todas as idades, e embora não seja frequente encontrar por lá mulheres sozinhas, é comum ver duas ou três jovens em conversa ou grupos mistos de estudantes em convívio – ou não fosse a Tunísia um país pioneiro da emancipação da mulher no Magreb, o que inclui, claro está, a presença de mulheres em lugares públicos de lazer urbanos.

O chá e o café saem do balcão que antecede uma pequena cozinha de chaleiras fumegantes, servidos geralmente em pequenos copos de vidro e acompanhados de açúcar.

Mas esta é apenas a desculpa para fazer uma pausa: o que se procura é o convívio, e tal como nos cafés ou tasquinhas de bairro portugueses, já se sabe quem vamos encontrar. Amigos, familiares, namorados, vizinhos de casa ou da loja ao lado, ficam por ali o tempo necessário para trocar as últimas novidades, fumar uma shisha – o cachimbo de água local – ou terminar um jogo de cartas ou de xadrez. As salas não primam pela luminosidade mas pelo ambiente; lugar de sussurros de namorados ou de conversas animadas, servem para as pausas e fins-de-dia, antes do regresso a casa.

De portas abertas sobre as ruas animadas da medina ou instalados em pátios e corredores interiores, os cafés de Tunes são uma janela sobre a medina, labirinto de casas brancas intercaladas pelos minaretes de antigas mesquitas, que pouco mudou desde a época medieval. Do arco da Bab el Bhar, a Porta do Mar, também conhecida como “Porta de França”, até ao arco de Halfaouine, cafés e hammam (banhos turcos) distribuem-se entre lojas, mercados e habitações familiares, fazendo desta zona antiga da capital tunisina uma das mais genuínas do norte de África. Para a encontrarmos temos de nos afastar das ruas do bazar turístico que leva à mesquita Zitouna, mas mesmo por aí podemos encontrar cafés muito populares, como o Zitouna ou o M’Rabet.

Chá com pinhões, uma especialidade tunisina
Chá com pinhões, uma especialidade tunisina

Nas estâncias balneares da costa de Tunes, os cafés estão também virados para o turismo, e alguns tornaram-se passagem inevitável para grupos ou turistas individuais, que ali descansam de compras e visitas.

São mais caros que os cafés de bairro, mas a localização é privilegiada e a decoração incrementada para garantir o cenário “tradicional” que se espera: tapetes nas paredes, colunas pintadas de cores vistosas, objectos antigos e até a opção por estrados cobertos de esteiras onde os clientes se instalam descalços, em vez de cadeiras e mesas.

É o caso do Café des Nattes, em Sidi Bou Said, mas também de um cafezinho dentro da medina: salas amplas com uma espécie de samovar ao centro, onde o chá se mantinha quente e que hoje serve apenas para decoração. Mosaicos antigos, candeeiros de vidro colorido e, claro, a shisha, com o seu cheirinho por vezes perfumado com maçã ou morango.

Em La Marsa, o pátio interior do conhecido café Safsaf manteve o seu poço de tracção animal, onde um dromedário (camelo de África, com apenas uma bossa, ao contrário dos originários da Ásia) ainda espera pela actividade, mas cujo único trabalho é agora posar nas fotos dos turistas.

Mas a coroa de glória dos cafés de Tunes, bem tunisino no estilo mas decididamente mais turístico do que popular, é o inevitável Café Chaabane, em Sidi Bou Said, onde uma fabulosa vista sobre a marina e o famoso “thé aux pignons” (chá com pinhões) atrai veraneantes nacionais e estrangeiros.

Um chá no café

Namoro no café-medina de Tunes
Namoro no café-medina de Tunes

Os europeus chamam “café” aos locais onde este é servido, mas a verdade é que, tradicionalmente, os árabes sempre deram preferência ao chá. Na Tunísia não é diferente, pelo que é tão ou mais fácil encontrar chá nestes estabelecimentos do que café.

E não vale a pena procurar um bom “cimbalino”, “bica” ou “expresso” – a versão deste favorito dos portugueses chama-se alongé, e decididamente não é a especialidade do norte de África, que dedicou séculos a aperfeiçoar a arte de confeccionar um bom chá: de manhã, antes dos clientes chegarem, a água é fervida com açúcar e chá verde e vertida alternadamente em dois recipientes, para “arejar”.

O resultado é uma bebida forte e amarga servida em pequenos copos, à qual pode ser adicionada nahnah, folhas de menta. Às vezes, sobretudo em zonas mais turísticas, o açúcar é fornecido em cubos à parte. Mais raramente serve-se o “thé aux pignons”, com alguns pinhões a flutuar no líquido escuro, um sabor neutro que amacia o sabor amargo e doce do chá. Quanto ao alongé, é igualmente amargo, e os tunisinos, tal como os espanhóis, preferem as misturas do café com leite, ao café simples; a modalidade mais corrente é o capucin, inspirado no capuccino italiano.

Os cafés também servem refrigerantes e, por vezes, sumo natural, sobretudo de laranja, mas não se peça cerveja ou outras bebidas alcoólicas, nem tão pouco comida (à excepção do mês do Ramadão, durante o qual é costume servir docinhos). Por isso não é mal visto comprar um bolinho na pastelaria, ou mesmo uma sandes, e abancar no café mais próximo para acompanhar com uma bebida. Excepção seja feita para os cafés de “estilo europeu”, como o Café de Paris, na Av. Bourguiba, que têm croissants e outros produtos de cafetaria, e também servem cerveja. Só não têm tremoços, mas os pistácios acompanham muito bem.

Café Saf Saf, La Marsa, Tunísia
O café Saf Saf, em La Marsa, ainda tem um poço e um camelo no pátio

Guia de viagens a Tunes

Este é um guia prático para viagens em Tunes, La Marsa e Sidi Bou Said, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e cafés na capital da Tunísia.

Quando ir

Todo o ano, com as temperaturas e pluviosidade de Inverno a aproximarem-se das do sul de Portugal, e no Verão sempre acima dos 30 graus.

Como chegar a Tunes

A Tunisair tem voos directos de Lisboa para Tunes uma vez por semana no Inverno e duas durante o Verão. O voo dura cerca de duas horas e um quarto, e ronda os 400 €, dependendo da época. Do aeroporto para o centro da cidade pode apanhar um táxi ou o autocarro 35, que pára junto à Avenida Bourguiba. Para chegar a La Marsa e Sidi Bou Said, o comboio urbano TGM sai durante todo o dia da mesma avenida, junto à torre do relógio.

Hotéis e restaurantes

Localizações nas proximidades da medina: há pelo menos uma dezena de hotéis económicos na zona das ruas de Barcelone e Yougoslavie, junto à Av. Bourguiba, na sua maior parte antigos e sem luxos, mas limpos. Veja onde ficar em Tunes para as melhores sugestões hoteleiras.

Na mesma zona, perto da Porte de France, há uma série de pequenos restaurantes que correspondem aos nossos snack-bares, com pratos do dia prontos e económicos. Na Rua de Yougoslavie, o restaurante Abid serve cozinha de Sfax, (cidade famosa na Tunísia pela culinária). Também há na zona várias casas de sanduíches, excelentes e com “recheio à escolha”, por apenas 1 ou 2 dinares.

Pesquisar hotéis em Tunes

Informações úteis

A Tunísia é o mais pequeno dos países do Magreb. A língua oficial é o árabe, mas toda a gente fala também francês. Não é preciso visto para entrar no país, apenas passaporte válido. A moeda é o dinar, 1 € vale cerca de 1,74 Dinares, e o nível de vida é barato, quando comparado com o de Portugal. Em Tunes, os meios de transporte urbanos incluem autocarros, táxis, eléctrico e o comboio urbano TGM, ao dispor para deslocações nos arredores ao longo da costa, até Sidi Bou Said. A medina fica no centro da capital, é muito turística e percorre-se facilmente a pé.

Seguro de viagem

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Ana Isabel Mineiro

3 comentários em “Em Tunes, os cafés ainda são o que eram”

  1. Olá Felipe, sou Brasileira, vou a Tunísia ano que vem e estou com uma dúvida.
    Quero conhecer primeiramente Tunis, Cartago e Sidi Bou Sid. Em que região devo me hospedar? Tunis? La marsa? Gammarth? Está difícil decidir!

    Obrigada!

    Responder
  2. Obrigada pela resposta ao meu comentário anterior.

    Você foi a alguma praia? Estou também em dúvida entre Sousse e Hammamet. Além disso, estou achando muito difícil encontrar informações online sobre o turismo na Tunísia. Li também que talvez seja inseguro, vou apenas com a minha mãe, devo me preocupar? Consigo fazer os pontos turísticos por conta ou contrato alguém?

    Desculpe enche-la de perguntas, mas você realmente me ajudou!

    Responder
  3. Obrigada pela resposta ao meu comentário anterior.

    Você foi a alguma praia? Estou também em dúvida entre Sousse e Hammamet. Além disso, estou achando muito difícil encontrar informações online sobre o turismo na Tunísia. Li também que talvez seja inseguro, vou apenas com a minha mãe, devo me preocupar? Consigo fazer os pontos turísticos por conta ou contrato alguém?

    Desculpe enche-la de perguntas, mas você realmente me ajudou!

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