
Esfahan, Irão. Um pouco por todo o mundo, os monumentos erguidos pelo homem à sua fé são, não raras vezes, admiráveis obras de arte. Alguns dos melhores exemplos encontram-se no coração do Irão, em pleno Médio Oriente. Retrato de uma viagem à elegante urbe de Esfahan.
As mesquitas de Esfahan
“Isfahan isf-é-djahan”, Esfahan é meio-mundo, diz o ditado persa. E é a metade mais graciosa, pelo menos no Irão: avenidas arborizadas, um rio escasso atravessado por pontes antigas de tijolos pálidos e detalhes feitos de azulejos. Nas arcadas da ponte Khaju escondem-se cafés, onde se pode beber um chá ou uma bebida fresca e fumar um qalyan (narguilé), que desprende um agradável cheirinho a maçãs.
Por baixo corre a água do Zayandeh, que refresca o ar e regala os ouvidos dos que por ali matam o tempo, antes de se sumir nas areias do deserto, a algumas centenas de quilómetros daqui, como se existisse apenas para refrescar esta cidade-jardim, oferecendo as suas margens sombreadas aos que para aqui vêm ler ou conversar.
Atravessando a ponte dos Trinta e Três Arcos, de um lado deixamos o centro, mais buliçoso e comercial, do outro os bairros habitacionais e um curioso “enclave” cristão, o bairro arménio de Jolfa, com as suas igrejas envolvidas por muros altos.
A cidade é a imagem do país; o papão islâmico afinal tolera as outras religiões e Esfahan tem algumas igrejas, um punhado de sinagogas e outro de templos zoroastras, onde se pratica a mais antiga religião do país, de quando o Irão ainda era o império persa. Mas há um preço a pagar: a discrição.
Os únicos chamamentos que se ouvem são os das mesquitas, e todas as mulheres estão sujeitas ao uso do hijab, o vestuário “modesto” que aqui se popularizou sob a forma de chador durante a revolução de Khomeini. Pouco a pouco o preto vai passando a azul-escuro e cinzento, as florinhas discretas já aligeiram o desconfortável e nada prático lençol que tem de se segurar com uma mão. Ainda há bandos destas simpáticas aves negras, sobretudo junto às escolas corânicas.
Cumprimentam-me com sorrisos, mas não gostam de fotografias. Por mim, larguei o casacão até aos pés, demasiado quente, que tinha trazido da Turquia, e escolhi no bazar uma túnica cinzenta pelo joelho para cobrir as calças largas pretas, e um lenço igualmente negro. Os meus amigos iranianos saudaram a mudança com uma grande risota, já que a túnica, com o seu bolso na frente, era decididamente um modelo muito jovem, para miúdas da escola.
Na Avenida Chahar Bag pode comprar-se de tudo, de sapatos modernos a jeans, os melhores pistácios do mundo e mesmo posters do Figo. Mas o ex-líbris de Esfahan é a Praça Imam Khomeini. Foi traçada no século XVII pelo Xá Abbas, mas o Ayatollah Khomeini, senhor das mesquitas, deu nome a muitas ruas e praças. Esta é uma das maiores do mundo, protegida pela UNESCO, e o verdadeiro coração da cidade, o centro comercial onde se encontram as lojas de souvenirs, a entrada do bazar e o Palácio de Ali Ghapu.
No centro há um lago com repuxos, que refresca os treinos de futebol nocturnos da juventude dos arredores, mas sobretudo parece ser aqui que a arte persa de construir mesquitas gigantescas atinge a perfeição: a Masjed (mesquita) é-Sheik Lotfollah é de uma delicadeza comovente, com os seus azulejos floridos que mudam de bege para rosa e depois para dourado, conforme a hora do dia; e a Masjed-é-Imam é o apogeu de um estilo e de uma capacidade construtiva que não tem muitos rivais em todo o mundo.
Esta é a mesquita que importa ver, antes de apanhar uma overdose destes monumentos – o que acontece quase sempre a quem visita o país todo. Maravilha do mundo islâmico, com os seus azulejos de um azul refrescante cobertos de uma caligrafia fina e das mais belas flores do paraíso.
A tranquilidade dos pátios e das madrassas laterais, as cúpulas gigantescas de um verde-azul extraordinário, os elegantes minaretes que espreitam por trás de um portal desmesurado, justificam cada um dos vinte e seis anos que levou a ser construída.
Pergunto-me quem será este Deus, adorado com tanta magnificência, adulado com toneladas de tijolos e algumas das mais belas obras de azulejaria de que há memória. Não será para nosso próprio regalo que criamos estes monumentos faustosos, abertos à admiração prosaica dos visitantes, ao interesse dos estudantes que tentam captar as suas linhas em desenhos toscos, às famílias que pretendem imortalizar-se junto deste fausto inigualável de flores e plantas e estrelas que abraçam o nome de Al Lah?
Uns após outros sucederam-se os senhores deste vasto império, e a elegante Esfahan foi capital por várias vezes, crescendo em jardins de flores e vinhedos de onde saíam vinhos muito apreciados. Em louvor do mesmo Deus, todos rivalizaram em construções magníficas, tendo sido o Xá Abbas o responsável pelas mais imponentes destas mesquitas. Mas o grande poeta persa Omar Khayyam diz-nos nos seus Rubaiyat:
“Nos mosteiros, nas sinagogas ou nas mesquitas,
se refugiam os fracos que temem o Inferno.
O homem que conhece a grandeza de Alá
Não acolhe no seu coração as más sementes do terror e da imploração”.
Guia de viagens a Esfahan
Este é um guia prático para viagens a Esfahan, no Irão, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.
Geografia do Irão
Conhecido até 1935 como Pérsia, o Irão limita a norte com a Arménia, o enclave azerbaijanês de Nachitchevan, o Azerbaijão, o Mar Cáspio e o Turquemenistão; a leste com o Afeganistão e o Paquistão; a sul com o golfo de Omã; a sul e oeste com o golfo Pérsico (através do qual tem ligação aos Emirados Árabes Unidos, ao Qatar, ao Bahrein, à Arábia Saudita e ao Kuwait); e a oeste com o Iraque e a Turquia.
Quando ir
Convém ir antes ou depois do Verão, que é muito quente. A chuva é mais intensa em Março e no Inverno.
Como chegar a Esfahan
Não há voos directos de Portugal para Teerão, sendo necessário voar via uma cidade europeia. A Turkish Airlines é uma das companhias aéreas que oferece tarifas mais atractivas de Portugal para o Irão, voando de Lisboa para Teerão via Istambul. De Teerão há autocarros diários que fazem a viagem de sete horas até Esfahan.
Onde ficar
Em Esfahan, o hotel mais bonito deve ser o “cinco estrelas” Abbasi Hotel, instalado num antigo caravanserai na Ayatollah Madani Av, mas o preço não justifica. Um dos restaurantes mais conhecidos da cidade é o Shahrzad.
Informações úteis
Os cidadãos portugueses necessitam de visto para visitar o Irão e devem contactar a Embaixada do Irão em Lisboa (telefone 21 3010871 / 706) para conhecer os detalhes necessários. Uma vez no Irão, é fácil pedir a extensão do visto por alguns dias mais, num dos departamentos do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Esfahan.
O nível de vida é bastante mais baixo do que em Portugal, mas os hotéis e restantes serviços turísticos estão longe de ser baratos; já os transportes e os restaurantes populares são bastante acessíveis. A língua nacional é o persa, e é sempre possível encontrar alguém que saiba algumas palavras de inglês. As mulheres, muçulmanas ou não, são obrigadas a cobrir cabelos, pescoço, pernas e braços com vestuário discreto e folgado e os homens devem tapar sempre o tronco e as pernas.
Seguro de viagem
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