A Fajã dos Padres é um lugar com alma. Senti isso ainda antes de descer no teleférico e começar a explorar a fajã na companhia de Catarina. Não sabia bem o que ia encontrar, mas as expectativas foram largamente superadas. Já lá vamos.
Antes de mais, por quê visitar a Fajã dos Padres?
Na verdade, não me consigo lembrar onde li pela primeira vez sobre o lugar. Sei que, ao planear esta curta visita à Ilha da Madeira, fiz questão de a incluir no itinerário, juntamente com a Levada dos Balcões ou a Praia da Prainha. E em boa hora o fiz; foi um dos momentos altos da minha viagem ao arquipélago da Madeira.
Descida à Fajã dos Padres
Fajã é um termo muito utilizado nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, e designa uma pequena extensão de terreno plano e cultivável, geralmente à beira-mar.
É o caso da Fajã dos Padres.
Trata-se de uma língua de terreno fértil e plano encravada entre o mar e escarpas muito íngremes, no sopé do Cabo Girão, com uma frente de praia de calhau rolado, ao longo de toda a fajã, que sobressai à vista lá de cima.
Estacionei junto ao teleférico, saí do carro e Nélio recebeu-me de sorriso aberto e com enorme simpatia. É ele quem trata do teleférico, inaugurado há apenas dois meses, que veio substituir o velho e pouco prático elevador. Lá de cima, a visita prometia!
Esperei uns minutos até que a cabine chegasse ao topo, tempo durante o qual chegaram dois trabalhadores que também iam descer até à Fajã dos Padres. Seguimos os três de teleférico.
Uma vez na fajã, conheci Catarina, da família que administra a propriedade. Explicou-me que o nome Fajã dos Padres se deve ao facto de o terreno ter pertencido aos padres da Companhia de Jesus. O seu bisavô adquiriu a propriedade em novembro de 1921 e, desde então, a fajã está nas mãos da família.
A história da Fajã dos Padres
“Habitada e cultivada desde o início do povoamento da Ilha da Madeira, a história da Fajã dos Padres acompanha a história da própria ilha, existindo inúmeros registos e referências aos proprietários, às colheitas agrícolas e aos próprios habitantes do local, desde o séc. XV.
O nome da fajã deve-se ao facto de ter pertencido aos padres da Companhia de Jesus durante mais de 150 anos. Na sua passagem pela Fajã dos Padres, os Jesuítas deixaram marcos notórios, dos quais se destaca, sem dúvida, a introdução do vinho malvasia, um vinho cuja reputação ultrapassou as fronteiras de Portugal, e chegou até à Inglaterra ou aos Estados Unidos e até à Rússia.
Apesar do isolamento do local, chegaram a viver na Fajã cerca de 50 pessoas, entre colonos e jesuítas, distribuídas por um conjunto de cerca de 10 casas. Para além do amanho das terras, julga-se que o local terá servido então de local de veraneio dos frades.
Hoje é possível reviver um pouco da herança deste passado, ao visitar algumas destas pequenas casas recuperadas, ao provar o delicioso vinho malvasia numa visita à antiga adega, ou ao percorrer os antigos caminhos de pedra entre os poios de cultivo.“, in site oficial da Fajã dos Padres.
Catarina fala da Fajã dos Padres com emoção na voz. Nota-se que esta terra lhe diz muito. Memórias de infância; do tempo em que ela e outras crianças da família passavam o dia na praia de calhau rolado a brincar; do tempo em que só se chegava de barco à fajã.
Cresceu ali. É a terra da família. E isso é uma das grandes mais-valias da Fajã dos Padres. As coisas são feitas com amor. Com alma. Sim, mais do que tudo o resto, foi isso que tanto me atraiu na Fajã dos Padres.
Caminhei por toda a Fajã dos Padres, apreciei as vinhas, as casas, a praia sem areia. Sem pressas. O verão ainda não tinha chegado em força à Ilha da Madeira, pelo que as espreguiçadeiras e guarda-sóis não estavam ainda montados no pequeno cais junto à praia. Pouco importava isso. Por esta altura, já estava rendido ao ambiente da fajã.
É claro que vos podia falar das agradáveis casas de turismo rural, da agricultura de origem biológica que por ali se pratica, das araças que comi diretamente das árvores (há quanto tempo não comia fruta assim?!), do magnífico almoço de atum salpresado servido no restaurante, ou até do Vinho da Madeira que provei na adega.
Tudo isso foi magnífico, não há dúvida, mas foi a alma da Fajã dos Padres que mais me marcou. Essa coisa subjetiva, um “fogo que arde sem se ver” que transforma a Fajã dos Padres numa ilha dentro da própria ilha. Um pequeno tesouro.
Não sinto isso em muitos lugares do mundo.
Guia para a Fajã dos Padres
Como chegar
Para chegar à Fajã dos Padres de carro alugado, a partir do Funchal, basta seguir pela via rápida em direção a Ribeira Brava e sair para Quinta Grande / Cabo Girão. A partir daqui, há indicações para o teleférico da Fajã dos Padres (quando visitei, a placa ainda se referia ao “elevador”).
Depois é só comprar o bilhete ao simpático Nélio (10€, ida e volta) e descer até à fajã. Note que o teleférico funciona apenas entre as 10:00 e as 18:00 durante a semana; e das 10:00 às 19:00 aos sábados e domingos.
Se não tem carro, saiba que também é possível viajar de barco até à Fajã dos Padres. A embarcação Malvasia transporta 10 passageiros e faz transfers diários desde o Funchal ou do porto vizinho de Câmara de Lobos, sujeitos a marcação prévia. Marcações pelo número +351 291 944538.
Calcular preço do aluguer de um carro
Onde ficar
As casas de turismo rural da Fajã dos Padres não têm luxos mas são um encanto. São pequenos chalés construídos em pedra, à beira-mar, e com terraços privados com vista para o Oceano Atlântico.
Se procura luxos, néons ou urbanidade, ou tem medo do isolamento, não pense em dormir na Fajã dos Padres. Se quer tranquilidade e não se importa de ficar num local belíssimo mas isolado, não hesite; se procura inspiração para escrever, pintar ou alguma atividade criativa, idem.
Reservar casa na Fajã dos Padres
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Este local misterioso mostra o quão lindo Portugal é, e o quão ainda falta por descobrir neste destino maravilhoso. Já conhecia este lugar através do teu artigo que já tinha visitado no outro dia. Não podia deixar de deixar um pequeno comentário para mostrar o meu agrado e dizer que vou pôr este lugar na lista de locais a visitar numa próxima visita à Madeira. Engraçado como Fajã dos Padres faz lembrar Fajã de Água na Ilha Brava de Cabo Verde. Bom fim de semana.
Filipe
Fui há Madeira várias vezes, em anos seguidos, por diversos motivos. Agora estou há anos sem regressar mas já tenho saudades. Na próxima vez não vou falhar a Fajã dos Padres… ;-) … Obrigada pelas dicas práticas de como chegar e pela partilha deste lugar lindo… :-)
Lindo este local! Já fui várias vezes à Madeira mas parece que há sempre algum lugar, algum recanto, que ainda ficou por visitar. Não conhecia mas fica registado para uma próxima visita. Obrigada por todas as dicas!
Ilha da Madeira… No Brasil me lembro que as pessoas falavam muito dos bordados. Adorei conhecer mais sobre este lugar. Ótimo Post
Bjs
A ilha da Madeira já anda na minha lista há vários anos, mas ainda não tive a oportunidade de realizar essa viagem. A Fajã dos Padres será mais um motivo extra para me levar a visitar a Madeira! Obrigado pelo artigo.
Lindo!!!
Ainda não conheço Portugal, mas cada vez que vejo um novo destino, me surpreendo. Realmente fantástico. Vou tentar encaixar no meu roteiro quando for :)
Como é possivel que ainda não tenha ido às ilhas portuguesas? Espero tratar já do assunto! Ainda ontem estive com uma amiga que viveu 2 anos na Madeira e contou-me sobre a riqueza cultural e agora ao ver estas fotos fiquei com uma vontade enorme de comprar o voo já!
Que lugar lindo! Parece super aconchegante, rs. Minha lista de lugares incríveis para conhecer em Portugal aumenta cada vez mais!
Mais um recanto lindíssimo para descobrir na ilha da Madeira. Já lá estive por duas vezes mas nunca visitei esta Fajã. A parte do vinho da Madeira cativa-me!
Conheço a Madeira muito bem … pois já lá fui umas dez vezes, sempre com aluguer de carro, percorrendo a ilha de ponta a ponta! À Fajã dos Padres ainda não fui … embora já estivesse junto ao elevador (agora teleférico) , porque a minha tem pavor de andar nisso por causa das alturas! Mas ainda não perdi a esperança de visitar tal “paraíso”! … Estive na ilha de 31 de maio a 7 de junho!
Agradeço imenso a sua publicação. Há uns anos, durante uma viagem de barco para ver golfinhos, ao avistar a Fajã fiquei com uma vontade enorme de ir ao local. Folgo em saber que existe elevador! Já tomei nota para a próxima ida à Madeira. Continuação de “boas caminhadas” por este Portugal maravilhoso!
A Fajã dos Padres é um sítio especial.
Eu fui lá há 30 anos atrás a uns anos de uma amiga da família a que pertence a fajã – fomos de barco dessa vez. Há 15 anos atrás fui lá com a minha namorada, que é hoje a minha mulher – ela teve coragem de se meter no elevador antigo por isso tive que casá-la. E amanhã volto com os meus dois filhos para experimentar o teleférico novo.
Olá Filipe, o vinho Malvasia também existe na Sicília sendo um dos mais conhecidos. Supostamente terá sido trazido pelos gregos na colonização inicial da ilha, hoje, italiana. Segundo me informaram, teria origem em Monemvasia, daí o nome. Monemvasia é uma península do Peloponeso, com uma antiga acrópole em ruínas e um conjunto habitacional muito bem recuperado. Algumas casas pertencem e foram recuperadas, e bem, por cidadãos de países com reformas superiores às gregas e já agora, também às nossas.
Cumprimentos, Álvaro Barcelos