Celina da Piedade senta-se sozinha com o seu acordeão e começa. Logo se juntam pares para a mazurca. Ela está feliz de cá estar, nós felizes de que esteja. Após quatro músicas apresenta o resto da banda. “Tocar um bocadinho sozinha foi um capricho meu. É bom estar de volta. Em 16 anos, só falhei o ano passado”. Celina é também voluntária, como todos nós, em honra de quem é feito este baile. Todos os músicos o são. Então, este baile é de e para todos nós: os que chegaram hoje, os que trabalham todo o ano para que aqui estejamos hoje, os que vão tocar, os que vão ensinar.
Começou assim o Andanças 2014. Na noite antes da primeira noite oficial, num baile para os 700 voluntários que ajudam a fazer o festival. Seguiu-se uma semana de noites longas de hidromel. De mergulhos. De braços dados em Círculos Circassianos, em Scottishes, em Polkas, em Andros, em Hanter Dros, em Valsas, em Mazurcas e em todas as outras danças. De energia numa Fanfarra afinada, numa Tarantela louca. De silêncios partilhados, quando a música diz tudo. Acabou com todos juntos, os resistentes do último baile da última noite, de braços entrelaçados, várias correntes humanas num Hanter Dro interminável. A banda saiu do palco, as Sopa de Pedra, no meio de nós, parte da corrente, cantavam. Depois todos nós cantávamos também e ninguém parava. Queríamos que aquele momento durasse, que não fosse o fim. E quando as correntes começaram finalmente a partir, havia olhos molhados, mas os sorrisos estavam lá. Os mesmos que não nos abandonaram toda a semana.
Foi o meu segundo Festival Andanças. O primeiro como voluntária. Este festival “promove a música e a dança popular enquanto meios privilegiados de aprendizagem e intercâmbio entre gerações, saberes e culturas. Com um olhar dos dias de hoje, o Andanças propõe-se reavivar hábitos sociais de viver a música retomando a prática do baile popular através de múltiplas abordagens às danças de raiz tradicional, portuguesas e do mundo, com vista à recuperação das tradições musicais e coreográficas, fundindo-as com elementos contemporâneos”. E fá-lo há 20 anos. Mas é também muito mais que isso, e esse mais surge do crescimento, nestes 20 anos. Como um ser vivo, orgânico e em evolução. Como as pessoas que o fazem, e a ele vêm.
Através desta evolução estabeleceram-se os quatro pilares do Andanças, que lhe dão a estrutura que o distingue de todos os outros. O primeiro, a Dança e Música, que é o mote para que tudo aconteça. Depois, o Voluntariado, a Comunidade, e o Ambiente/Sustentabilidade.
E todos estes pilares funcionam em conjunto e interagem. Ao assumir como compromisso a manutenção e divulgação das danças sociais, o Andanças é logo por definição gerador de comunidade: há comunidade no reunirmo-nos num círculo movendo-nos ao mesmo ritmo com dezenas de outros, que podemos ou não conhecer; há comunidade nas ligações que se criam ao emparelhar para dançar e partilhar aquele sorriso que só a dança consegue gerar.
E há também nas canecas que todos trazemos penduradas à cintura, que transmitem um valor de sustentabilidade comum; na reunião de pessoas que se organizam em boleias para chegar ao espaço que querem partilhar; na simples vontade de aprender e de contribuir. Gera-se comunidade com a opção da organização através de voluntariado, transmitindo a responsabilidade de o cuidar àqueles que querem usufruir do festival. Atua-se diretamente na comunidade local ao estabelecer uma relação de proximidade e envolvimento da população, para que sinta e viva o Festival como seu, e ao contribuir para o desenvolvimento cultural e económico, atraindo e gerando riqueza para a região.
Talvez seja a partilha destes valores e da dança que explique a união de tanta gente diferente. Não há um “andante” típico, há pessoas de todas as idades, cores, feitios e profissões. E todos nos entendemos e partilhamos momentos, ao mesmo tempo que cada um vive o seu Andanças particular. No histórico do festival, diz-se a determinada altura “A diferença do Andanças reside neste ponto particular, onde cada um é convidado a inventar o seu Andanças, a programar a sua viagem. Pode dizer-se então que não há um Andanças, mas 3.000 ou 4.000 Andanças, sendo cada um desenhado por cada interveniente. O Andanças é um espaço aberto e criativo, onde cada um é convidado a escolher os seus próprios ingredientes, como se de uma receita se tratasse”, ou seja, há espaço e tempo para sermos o que quisermos. Connosco e com os que nos rodeiam.
No ano passado escrevi no último artigo para o jornal Andanças: “O sentimento, mais que o sentido, ultrapassa assim a definição de comunidade. Fica, mesmo quando as pessoas se vão. Porque o que se viveu e se partilhou começa antes de chegarmos e mantém-se na memória. Então sabemos que existem estas pessoas que conhecem este lugar que nos é comum e especial. Aquelas com quem estabelecemos laços duradouros, mas também todas as outras. Comungamos da alegria que isso traz.”
Fica o convite para virem partilhar essa alegria também.
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Vídeos sobre o Andanças
Andanças 2016: vídeo promocional
Andanças 2014
Mais informações sobre o Festival Andanças em www.andancas.net.
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