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Olhares de um andarilho #1: A menina das nuvens

Comecei a escrever estes Olhares de um Andarilho em 2006 mas, por motivos que nem eu sei explicar, parei ao fim de pouco tempo. Recupero agora esses escritos para o blog. São fotografias de viagem com histórias associadas. Pequenas histórias. Reais ou adocicadas. São, enfim, os olhares de um andarilho pelo mundo, numa viagem sem fim à vista (pelo menos assim espero).

O primeiro desses olhares chama-se “A menina das nuvens”, a partir de uma foto tirada em Angkor Wat.

Aldeia próxima de Angkor Wat, Camboja
Aldeia próxima de Angkor Wat, Camboja

É ainda uma menina. Gosta de brincar, de andar, de correr desajeitadamente pelos caminhos de terra batida em torno da aldeia.

A mãe ralha-lhe pela imundice no vestido de boneca, pelo castanho da terra nas mãos e na boca, por sair de casa sem avisar. Mas ela é apenas uma menina, gosta de brincar, de andar, de acompanhar as correrias dos miúdos mais velhos quando eles desatam aos saltos pela floresta.

Não se importa quando cai, quando esmurra os joelhos de petiza, quando juntos se aventuram para além dos trilhos marcados pelos adultos e se afastam da aldeia. É quando mais se divertem, aliás.

A mãe não se importa que ela vá, só lhe ordena que leve consigo o ramo, sempre, preso às nuvens lá no alto. Diz que ele a orientará pela floresta, que a impedirá de pisar uma coisa ruim.

Não entende a mãe, mas sabe que não gosta do ramo.

Tem alturas que gostaria de correr atrás de bicharocos, de saltar sobre folhas secas, de esgravatar a terra húmida e ele puxa-a, bruscamente, para trás. O ramo é um chato, não percebe porque tem de ser guiada pelas nuvens, mas a mãe assusta-a.

Diz que se ela o largar, um dia deixará de poder correr. Que ouvirá um estrondo tão grande, tão grande como aquele barulho que um dia a fez chorar muito, muito. Que lhe pode acontecer como ao menino amigo da palhota vizinha, que ela encontra, desde esse dia, com uma perna pequenina e um sorriso triste.

Às vezes acha que a mãe só a quer assustar porque ela se suja muito quando brinca com a terra.

Não entende a mãe e só sabe que o ramo é um chato. Mas nunca o larga. Deixa sempre que as nuvens lhe indiquem o caminho. Porque é ainda uma menina, e adora correr na floresta.

Nota: segundo a base de dados Cambodia Mine Victims Information System (CMVIS) foram contabilizados em solo cambojano, apenas durante o ano de 2005, 862 acidentes com minas terrestres e outros engenhos explosivos não detonados. Cerca de metade vitimaram crianças.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

1 comentário em “Olhares de um andarilho #1: A menina das nuvens”

  1. Pois é Filipe, as crianças na sua pureza e ingenuidade são as principais vítimas dos erros dos adultos. No que tange à guerra e do que dela vai sobrando não faltam tragédias para relatar. A fotografia está bonita, a menina é linda e bem haja pela partilha.

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