O nome dá que pensar e a arquitetura também: cheio de torres que mais lembram minaretes, alpendres com arcadas e pátios, este é um monte original situado numa zona tradicional do Alentejo, a dois passos de Estremoz. Visita à casa de turismo rural Monte dos Pensamentos.
Monte dos Pensamentos
O portão aberto deixa ver o edifício mais ao fundo, baixo, de telhados inclinados e paredes muito brancas. À volta, o arvoredo cobre qualquer vista sobre o resto da quinta, que tem cerca de vinte e seis hectares. Dos dois lados da entrada principal abrem-se grandes arcos que formam alpendres, dando o do lado direito para um corredor arborizado entre os dois edifícios que compõem o monte, o do lado esquerdo para um pequeno pátio coberto, onde cadeiras e uma mesa esperam companhia.
Antigas talhas, oliveiras, cedros e muitas flores, sobretudo gerânios e as buganvílias que trepam pela fachada principal, emprestam-lhe um ar campestre, contrastando com o aspeto de “castelo” que lhe vem das torres redondas. De onde veio a inspiração é difícil de dizer, mas sabe-se que aqui era a Quinta de Santa Rita, e que foi a partir de dois montes já existentes, de construção simples e tradicional, que este foi edificado como casa de habitação. Mas a arquitetura singular é só o primeiro “segredo” da casa.
Fica apenas a dois quilómetros de Estremoz, terra de tradições e uma das mais bonitas do Alentejo – onde, diga-se, a competição é ferrenha. Mas a originalidade arquitectónica, que parece ter influências árabes, distingue este monte dos outros.
Se entrarmos pela porta principal encontramos um átrio com azulejos decorativos antigos; alguns degraus acima entramos numa cozinha com uma lareira de mármore e começa o desfile de antiguidades: nas paredes, pinturas e pratos “ratinhos” do século XVIII e XIX de faiança de Coimbra, levados para o Alentejo pelos beirões que vinham trabalhar sazonalmente (os “ratinhos”), na apanha da azeitona, e que no final os vendiam. Os tectos são de pinho, por vezes com os troncos de suporte à vista, outras vezes com o forro de madeira completo, e o chão é de tijoleira antiga.
Nos quartos, todos diferentes, prevalecem as cores fortes: verde-pistácio, vermelho, azul. Cada um tem a sua cor predominante, que se espalha das colchas ao mobiliário rústico, algum dele, roupeiros e camiseiros, pintado à mão. Candeeiros e espelhos de cor condizente com os móveis dão-lhes um ar cuidado; banquinhos de madeira e cadeiras de palhinha reforçam o lado rústico. Corredores, arcos e degraus criam no interior uma variedade de espaços que parecem tornar a casa maior.
Se contornarmos o edifício principal, podemos pensar que há quase tantas portas como janelas – uma ou duas em cada fachada -, com vidros que permitem ver um exterior verde, feito de oliveiras, laranjeiras ou parreiras que ensombram os pátios e o corredor lateral, que separa o edifício principal de um segundo, mais pequeno, onde se situam dois apartamentos com quarto, cozinha, casa de banho, lareira – tudo o que é preciso para conjugar autonomia e descanso. Poisados sobre algumas das mesas estão estrategicamente colocados livros sobre a região e também sobre o escritor Ruben A.
E revelamos agora o segundo “segredo” da casa, para além do seu aspeto exterior único: até 1975, o Monte dos Pensamentos pertenceu ao escritor Ruben A., que aqui conviveu com outros homens de letras, como Miguel Torga. E continua a ser património da família, estando agora nas mãos de um dos seus filhos.
Ruben Andresen nasceu em Lisboa em 1920, terminou o ensino primário no Porto e só regressou a Lisboa com vinte e um anos, para frequentar a Faculdade de Letras, transferindo-se depois para Coimbra, onde termina a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas. Lecionou cultura portuguesa em Londres e colaborou com vários jornais até à sua morte, em 1975.
A casa veio parar às suas mãos em 1966, de maneira original: depois da morte da sua tia, proprietária do monte, e que aqui vinha duas vezes por ano acompanhando o seu marido na época da caça, a casa ficou a pertencer ao marido e a treze sobrinhos. Ruben decide comprar a parte dos primos, pagando-as com documentos antigos de D. Pedro V, que colecionava, e com as cadeiras da mesa da sala de jantar, antigas e muito valiosas. Depois da morte do tio, a casa passa para as suas mãos. O atual proprietário é um dos filhos, Cristóvão Leitão, e ainda se lembra de passar aqui os fins de semana com o pai até à sua morte, altura em que a casa ficou desabitada. As casas de banho estavam fora dos quartos, um pequeno desconforto que se superava nessas curtas estadias, que se foram tornando ainda mais curtas depois da morte do pai.
Depois de passar algum tempo no Brasil, onde Cristóvão conheceu as agradáveis pousadas da cidade histórica de Paraty, nasceu a ideia de adaptar o monte de modo a receber turistas; a sua localização, nos campos que rodeiam Estremoz, e a decoração com azulejos de antanho e antiguidades do pai, nomeadamente as coleções de pratos, davam-lhe um toque apetecível de “lar” num monte alentejano. Deitadas mãos à obra, nasceu o que vemos hoje: uma unidade de Turismo Rural que dispõe de um quarto e duas suites no edifício principal, dois apartamentos num edifício lateral independente, três salas com lareira, corredores exteriores de pátios empedrados com cadeiras e mesas de jardim, uma área de piscina num antigo laranjal, com espreguiçadeiras em redor. Nas traseiras abre-se o começo da quinta, que começa por um grande tanque de rega. O arvoredo é fechado, com árvores, bambus e arbustos sobre uma área relvada, onde o espaço apetece fazer piqueniques, e sestas nas camas de rede penduradas à sombra.
Com Estremoz a dois passos, Vila Viçosa e Évora a mais dois e a fronteira logo ali, tudo no meio de uma paisagem de vinhas e oliveiras, difícil seria encontrar melhor localização. Para melhor explorar a zona, é mesmo possível alugar bicicletas e cavalos, a uma distância de oito quilómetros.
A última originalidade, a do nome, curiosamente não teve origem no escritor nem na sua formação literário-filosófica: foi simplesmente o marido da tal tia proprietária da casa, o que vinha caçar para as suas terras todos os anos que, sendo ateu, lhe mudou o título de Quinta de Santa Rita para Monte dos Pensamentos, nome de outro monte que também possuía.
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