Não era a primeira vez que visitava locais emocionalmente desafiadores.
Já visitei os campos de concentração em Auschwitz, o Museu da Guerra em Saigão, o Security Office 21 e os Campos da Morte em Phnom Penh e, provação suprema, fotografei os cenários de sofrimento e de luta pela sobrevivência por ocasião do tsunami de 2004, na Tailândia e no Sri Lanka.
Talvez por isso, aguentei-me bem ao visitar o Museu da Paz em Hiroshima. Fi-lo de forma tranquila, protegido por uma falsa frieza que me defendia do que os meus olhos observavam. Até ler aquela frase, simples mas sentida, no livro de visitas. Já lá vamos.
O Museu da Paz de Hiroshima
Estávamos em agosto de 1945. Dia seis. Manhã cedo, uma bomba atómica explodiu pela primeira vez na história da humanidade. O alvo foi a cidade japonesa de Hiroshima.
A energia libertada pela fusão do urânio e do plutónio gerou ondas de intenso calor com um poder destrutivo tal que boa parte da malha urbana de Hiroshima ficou reduzida a pó. No hipocentro da bomba nuclear, a chamada Cúpula Genbaku escapou, milagrosamente, de pé. É hoje o Memorial da Paz de Hiroshima, para que o mundo não esqueça.
Durante muitas décadas, o povo de Hiroshima desenvolveu malformações e graves problemas de saúde, fruto das radiações daquele fatídico dia.
Depois de observar o que resta da Cúpula Genbaku, atual Memorial da Paz de Hiroshima, atravessei o Parque Memorial em direção ao museu. Estava a caminhar, tranquilamente, quando ouvi cânticos vindos do outro lado do jardim. Aproximei-me.
Era um grupo de crianças – talvez 20 ou 30 – vestidas com uniforme escolar, provavelmente numa visita de estudo, que entoavam cânticos de forma harmoniosa. Dei por mim especado, a absorver o momento. Ali, ouvindo as crianças debaixo do arvoredo do parque, sentia-me em paz, preparado para visitar o museu.
Entrei no edifício, comprei o ingresso e subi a escadaria de acesso às salas de exposição. Havia uma maquete onde se podia ver o gigantesco grau da destruição da malha urbana de Hiroshima. Havia pedaços de ferro torcidos para demonstrar a força das ondas de calor libertadas pela bomba atómica. Havia pedaços de roupa de adultos e crianças. Havia brinquedos carbonizados. Havia fotografias e relatos de pessoas que desenvolveram doenças graves; ou nasceram com malformações provocadas pelas radiações. Tudo muito sóbrio.
Entre os visitantes, o ambiente era quase sempre pesaroso, embora aqui e ali se ouvissem risos e brincadeiras que me pareceram despropositadas. Eu observava, sem nada dizer. Estava tranquilo e não me sentia afetado.
Foi já perto do final da exposição que comecei a vacilar. Estava sentado a ouvir testemunhos dos sobreviventes, que relembravam aquela manhã. O que fizeram. Como se salvaram. Porque escaparam. Relatos em vídeo, na primeira pessoa. Gente com rugas na cara, na altura meninos e meninas. Terei ouvido três ou quatro testemunhos e, aí sim, a emoção começou a tomar conta de mim.
Aproximei-me da saída e preparava-me para descer as escadas quando dei uns passos atrás. Na verdade, algo me impeliu a voltar para trás e a olhar para o livro de memórias do museu.
Por impulso, como se eu não os estivesse a controlar, os meus olhos foram diretos à penúltima mensagem do livro de visitantes do Museu da Paz de Hiroshima. Tinha sido deixada no dia anterior. Assinava “Mari M K”, sem mais, numa letra que parecia de menina:
“Me desculpe pelo ocorrido“.
Depois de percorrer todo o Museu da Paz de Hiroshima e de resistir às imagens dos corpos queimados, às vestes em trapos, às malformações no corpo humano, a uma lancheira feita torresmo, aos testemunhos de sobreviventes e a muitas histórias envolvendo crianças, não consegui conter uma lágrima ao enfrentar o poder das palavras simples. “Me desculpe pelo ocorrido“.
Como se cada um de nós fosse um pouco responsável por Hiroshima.
Guia prático
Onde ficar em Hiroshima
Foi na cidade de Hiroshima que aproveitei para experimentar dormir num hotel-cápsula. É uma opção de alojamento barata, especialmente se viajar sozinho. Caso viaje a dois ou com mais amigos, há alternativas mais interessantes. Para os interessados, o meu hotel era o Capsule Hotel Cube Hiroshima. A localização era apropriada, a meio caminho entre a estação de caminhos-de-ferro e o Parque Memorial.
Gastronomia: onde provar okonomiyaki
Para além de visitar o Museu da Paz, não pode passar em Hiroshima sem comer okonomiyaki. A uma curta distância a pé do hotel, o complexo Okonomimura é uma instituição da cidade e o local perfeito para comer okonomiyaki ao melhor estilo da região. São duas dezenas de pequenos restaurantes especializados em okonomiyaki – escolha um ao acaso. Eu comi no Shinchan, no segundo piso, e gostei bastante.
Seguro de viagem
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