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Viver a noite de São João no Porto como um tripeiro (um roteiro)

Por Filipe Morato Gomes
Martelos de São João, Porto
Tal como os manjericos, o alho-porro e os martelos de São João fazem parte da festa – © Fernando Veludo / nFactos

Lembro-me bem da noite de São João no Porto nos tempos da adolescência. Por motivos que a razão desconhece, fazia quilómetros intermináveis pelas ruas da cidade do Porto, num percurso circular que, bem vistas as coisas, era de loucos.

O percurso ligava a rotunda da Boavista, Avenida dos Aliados, Ribeira, Miragaia, toda a marginal até à Foz, Castelo do Queijo e regresso à Boavista pela homónima avenida (a pé, porque os autocarros iam sempre cheios) e não era um percurso imune às bolhas nos pés: são mais de 17 quilómetros de estrada, sem contar com as voltas nos bailaricos e desvios para dar umas quantas marteladas de São João (ou fugir delas) ou massajar a cara de outrem com um pestilento alho-porro.

Sim, é um São João possível e uma espécie de tradição entre os mais jovens – começar a noite na Boavista ou no centro histórico do Porto e ir andando, de bailarico em bailarico até à Foz do Douro, pela marginal; mas há outras formas de passar a noite de 23 de junho e eu ultimamente tenho sido mais comedido.

Sardinhas assadas
As sardinhas são o prato principal das festas de São João no Porto. São acompanhadas com pimentos assados, broa e vinho português – © Fernando Veludo / nFactos

Assumindo que não fica em casa de amigos a assar sardinhas, beber bom vinho, lançar um balão de São João e conversar noite dentro (o que é uma possibilidade que também me agrada) e que, portanto, quer viver o São João do Porto da forma mais genuína possível – nas ruas -, tenho uma proposta que, não sendo original, é praticamente imbatível.

Pontos-chave do São João no Porto

Eis um roteiro em 7 passos com epicentro na Baixa do Porto, para aproveitar a noite de São João como um verdadeiro tripeiro.

Roteiro para a noite de São João no Porto

Comer sardinhas na Cordoaria

Comece a noite cedo. Os restaurantes junto ao Jardim da Cordoaria já vão estar a preparar as brasas para assar sardinhas e febras. O nome oficial é Jardim de João Chagas, mas toda a gente no Porto o conhece por Cordoaria. Só tem de fechar os olhos aos preços (uma noite não são noites) porque na zona escolha não falta, pode até jantar ao ar livre e preparar tranquilamente o estômago para os excessos que previsivelmente vão acontecer.

E o melhor é que estará praticamente no olho do furacão das festas joaninas. Sim, o objetivo é esse mesmo: viver o São João do Porto como um tripeiro; e isso implica andar na rua, no meio da multidão, horas a fio.

Uma vez de estômago aconchegado, será então altura de descer a Rua das Carmelitas, espreitar a zona das Galerias de Paris – o novo epicentro da movida portuense -, deixar a Torre dos Clérigos para trás e rumar à Avenida dos Aliados, o coração da Baixa.

No caminho, talvez seja boa ideia comprar um martelo de São João; não vá dar-se o caso de receber demasiadas marteladas e querer ripostar…

Passar na Avenida dos Aliados (a caminho da Sé)

Por algum motivo que a razão desconhece, neste ano de 2015 a Câmara do Porto escolheu o cantor José Cid para “abrilhantar “ (cof cof) a noite de São João no Porto com um espetáculo na Avenida dos Aliados. Felizmente, o concerto está marcado para a 1 da manhã e, como o objetivo é chegar à Sé Catedral bem antes da meia-noite, tem tempo de passar tranquilamente pela confusão da avenida, dançar o apita o comboio (sempre tem mais a ver com o ambiente de festa popular do que o “como o macaco gosta de banana eu gosto de ti”), beber um par de minis, dar e receber marteladas e falar com muita gente como se fossem velhos amigos. Sim, nesta noite todos os portuenses se “conhecem” – não estranhe.

Talvez nem dê pelo tempo passar com tanta animação, mas tenha em atenção que calcorrear os 500 metros que separam os Aliados da Sé Catedral vai demorar mais tempo do que pensa. O objetivo é ver o fogo-de-artifício junto à Sé, que começa à meia-noite em ponto. Não deixe para a última.

Ver o fogo-de-artifício na Sé

Tal como na passagem de ano, ver o fogo-de-artifício é algo obrigatório na noite de São João. E não faltam bons locais para o fazer: há quem assista ao fogo no Cais da Ribeira ou na margem sul do rio, no Cais de Gaia; outros em embarcações no Rio Douro, outros ainda no Mosteiro da Serra do Pilar, outros no miradouro da Bataria da Vitória (ao fundo da Rua de S. Bento da Vitória) – tudo locais de excelência para o efeito.

As opiniões dividem-se, mas muitos defendem que a Sé do Porto é um dos melhores spots para ver o fogo-de-artifício. Verdade ou não, é para lá que vamos neste roteiro de São João.

Repito: faça é um esforço para chegar antes da meia-noite. Espere, divirta-se, dance, faça amigos. Quando baterem as doze badaladas, é hora de dobrar o pescoço e tirar os olhos do Douro. Não importa se não gosta de fogo-de-artifício, porque São João sem fogo é como dobrada sem tripas.

Vinho a martelo e bailarico no Guindalense

Depois do fogo-de-artifício ecoar por todo o Porto e iluminar a zona ribeirinha, tem ainda outra missão antes de começar a descer em direção ao rio: passar pelo Guindalense Futebol Clube (não estranhe o nome, que não o estou a mandar para um campo de futebol, mas quem não for ao Guindalense “é lampião”!). Passe por lá que vale a pena. Confie. Digo-lhe apenas que é um tasco que fica nas Escadas dos Guindais e tem provavelmente o bailarico com melhores vistas de toda a cidade do Porto.

É claro que não terá muito espaço para dançar, mas a diversão é garantida. Só não pense em se alapar, porque as mesas e as cadeiras são retiradas da esplanada. De resto, é bem provável que o vinho na noite de São João seja “a martelo” mas, tal como no Santo António de Lisboa, a qualidade do vinho é o que menos conta nesta noite.

Dê dois passos de dança até estar farto das vistas e, quando isso acontecer (pode demorar), será altura de começar a descer.

Um traçadinho no Está-se bem, na Ribeira

Seja que horas estejam marcadas no seu relógio, a noite ainda é uma criança e a ordem é, agora, descer em direção ao Rio Douro. A Sé ficou para trás, caso contrário poderia rumar à Ribeira pelas Escadas da Verdade e Escadas do Barredo – com paragem no miradouro da Lada, localizado no topo do homónimo mas desativado elevador (ainda pode fazê-lo, se não se importar de voltar para a Sé) – mas, já que veio ao Guindalense, porque não descer pela Escada dos Guindais?

Lá em baixo, espera-o uma multidão de foliões de martelos na mão e, claro, o traçadinho do Está-se bem. Não sabe o que é? Não faz mal: atravesse todo o Cais da Ribeira em direção aos números 70-72 da Rua Fonte Taurina, chegue-se ao balcão (se conseguir), peça um traçadinho ao senhor Adriano Ferreira ou à Dona Maria do Carmo e vá bebê-lo para a rua. Repita a operação quantas vezes for capaz mantendo-se lúcido e com energia para continuar (dois podem já ser demasiados – estou a avisar).

Se ainda não está preparado para caminhar mais, deixe-se ficar pela zona do Cais da Ribeira. Como é dia de festa, releve o facto de encontrar mais turistas na Ribeira do que em qualquer outra zona do Porto e não se chateie com os encontrões. Guarde uma réstia de energia porque ainda há um último bailarico para visitar; mas não se acanhe que na Ribeira há sempre festa, música e animação.

Bailarico em Miragaia (e uma bifana)

Pouco mais de 500 metros separam a praça do “Cubo” do Largo de Artur Arcos, nos chamados Arcos de Miragaia, onde o Grupo Musical de Miragaia costuma organizar um baile de São João divertido e bem regado.

Por esta altura, talvez esteja na hora de acompanhar a cerveja com uma bifana e um caldo verde, fonte de energia para acompanhar o ritmo do bailarico até ao final da noite. É muito provável que, mais cedo que tarde, o cansaço comece a pedir para recolher aos aposentos; mas, se energia é coisa que ainda sobeja e a vontade de dormir é ainda parca, tem sempre a opção de ver o dia amanhecer suavemente enquanto percorre a marginal até uma das praias da Foz para tomar o pequeno-almoço ou esticar-se no areal e descansar ou namorar. Se for essa a sua decisão, prepare-se que é longe, muito longe (mas não será o único a fazê-lo na noite de São João).

É capaz de ser hora de dormir…

A noite de São João no Porto terminou. Se não adormeceu na praia, vá dormir para casa.

As festas de São João em imagens

Festa de São João no Porto
Durante o São João do Porto é impossível não levar com um alho-porro e um martelo na cabeça. O martelo de plástico é um substituto moderno do alho-porro. E há quem venha preparado – © Fernando Veludo / nFactos
Balão de São João
Lançamento de um balão de São João. © Darko Pevec, via flickr
Fogo-de-artifício no rio Douro
Há muitos locais distintos para assistir ao fogo-de-artifício na noite de São João. Na imagem, visto a partir do Rio Douro – © Fernando Veludo / nFactos
Fogo-de-artifício no São João do Porto
O fogo-de-artifício é um dos pontos altos da festa de São João – ©iStock.com / rui_noronha

Bom São João!

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

2 comentários em “Viver a noite de São João no Porto como um tripeiro (um roteiro)”

  1. O roteiro não é original, mas está de tal forma bem engendrado que com o ritmo empreendido no texto só se termina a leitura no fim do artigo e a pensar: não há mais?! Excelente.

    Fiquei só com uma dúvida: Avenida da Liberdade? Essa fez-me ir aos meus velhinhos mapas em papel que me confirmaram o que o Google me tinha já dito. No Porto só há uma Rua da Liberdade e uma da Praça da Liberdade. Não haverá confusão com a Av, dos Aliados ou com a Av. da Boavista?

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    • Olá Tânia,
      Sim, o roteiro não é desconhecido dos portuenses, mas parecem-me boas escolhas para recomendar a quem nunca passou o São João no Porto.
      Quanto ao resto, sim, deveria estar escrito Avenida doa Aliados – obrigado pelo aviso, já corrigi.
      Abraço e bom São João!

      Responder

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