Um dia inteiro de chuva, foi o que me calhou no meu primeiro contacto com o Funchal. Calor e humidade. É por isso que a Madeira é um jardim frondoso, de flores exóticas e plantas de tamanho exagerado que vivem felizes com a humidade. E como as pessoas não gostam assim tanto de ser regadas, tive as ruas de uma cidade viçosa quase só para mim.
Um dia inteiro no Funchal, debaixo de chuva, não é o melhor cartão-de-visita para uma cidade. Mas as ruelas estreitas da zona velha permitem que nos esgueiremos de beiral em beiral, de café em loja, de restaurante em mercado, sem quase nos molharmos. A chuva era tropical e intensa, caindo com intermitências que deixavam a roupa encharcada e o corpo a fumegar de calor, os céus brancos e cinza, as plantas cobertas de gotículas brilhantes. Remeti-me às plantas, paredes (e portas) mais próximas, sem presunções de apreciar a paisagem, que só consegui ver de manhã bem cedo antes de chegar ao centro.
Apesar de ser a maior cidade da Madeira, no Funchal não se chega a perder a natureza de vista, seja nos jardins bem tratados que acompanham largos, igrejas e palacetes, seja nos montes verdes que a enquadram.
Mas a cidade parece sobretudo feita para ser apreciada a partir de um barco: começa no quase plano da baía onde fica a marina, o Palácio de São Lourenço e o Forte de São Tiago, e espalha-se em casinhas monte acima, iluminadas de noite e irradiando cores claras durante os dias de sol.
Já deve ter sido comparada com um presépio vezes sem conta, esta constelação de casas pálidas que polvilham o verde-escuro dos montes, empinados até oitocentos metros acima do nível do mar.
Do funcho ao Funchal
O funcho que lhe deu o nome já não é a coisa mais fácil de encontrar, mas bananas há com fartura. Também é natural que em quase seis séculos as coisas tenham mudado: os portugueses chegaram aqui em 1419, e nos anos seguintes começou o estabelecimento de colonos com as capitanias, cabendo o Funchal a um dos seus descobridores, João Gonçalves Zarco.
Com um coração escarpado e praticamente inacessível feito de penhascos cobertos de laurissilva, as zonas mais abrigadas e planas, como a baía do Funchal, mas também outras do sul da ilha, como Santa Cruz e Machico, foram as que mais se desenvolveram e ganharam importância em assuntos marítimos, desempenhando o Funchal um papel importante durante o século XVI e os Descobrimentos portugueses.
E são justamente dos séculos XV e XVI alguns dos monumentos incontornáveis da cidade, como o Mosteiro de Santa Clara, o Palácio-Fortaleza de São Lourenço e a Sé Catedral.
As rotas comerciais estabeleceram-se definitivamente tendo em conta o seu porto, com fácil ligação à Europa e ao estreito de Gibraltar, situado a cerca de setecentos quilómetros da costa africana (quase à mesma latitude de Casablanca, em Marrocos). Hoje a cidade está firmemente implantada em várias rotas de cruzeiros, e os avisos de partida e chegada dos paquetes, um som rouco e profundo que faz vibrar as nuvens e se ouve à distância, já faz parte do ruído urbano.
A capital da Região Autónoma da Madeira concentra cerca de 45% da população da ilha, e muitos dos que cá não vivem, vêm pelo menos até aqui para trabalhar. Aliás, durante algum tempo tive a impressão que ninguém era mesmo de cá: eram todos de São Vicente, de Santana, de São Jorge e de Boaventura. Do norte, portanto, a trabalhar na capital – seria a Madeira um macrocosmos do país inteiro?
Fui sabendo, depois, que afinal a cidade tem cerca de cento e doze mil habitantes, e que apesar de a ilha ser pequena, rondando os 750 quilómetros quadrados, a esmagadora maioria do trabalho, que está ligado ao turismo, encontra-se aqui concentrado, com uma multitude de hotéis de todos os tipos, restaurantes, lojas e agências de serviços. Uma verdadeira capital, portanto.
E quando se afirma que a Madeira é a segunda região mais rica de Portugal, logo a seguir a Lisboa, é no Funchal que se pensa, e em toda esta concentração de palacetes e hotéis de luxo, esplanadas com vista para uma marina cheia de veleiros sobre um fundo de paquetes a abarrotar de cruzeiristas, que permanentemente invadem as ruelas do centro.
A chuva só parava para ganhar balanço e retemperar forças, recomeçando a cair num espaço de minutos. Teimei em seguir a pé da Fortaleza de São Tiago, que abriga o Museu de Arte Contemporânea, pelas ruas de Carlos I e Santa Maria, desenhando zigues e zagues por um bairro que já foi mal-afamado, e que graças a algumas intervenções vai recuperando o seu encanto arcaico: chão empedrado, casinhas de um piso, muitas delas agora dedicadas ao turismo sob a forma de cafés, restaurantes e lojas de vários géneros. Um toque especial está-lhe presentemente a ser dado pelas mãos de artistas locais: aos poucos, fadas e seres estranhos, pássaros e livros, paisagens, flores e gente vão-se espalmando sobre a madeira das portas, em cores e estilos distintos. A Rua de Santa Maria é a mais beneficiada, com mais de uma dezena destas obras, e vale a pena percorrê-la devagar, nem que seja só para apreciar esta surpreendente exposição de pintura ao ar livre.
De tarde a chuva não desistiu – e eu também não. Uma pausa para secar a roupa e para um dentinho (petisco) no Mercado dos Lavradores, onde os turistas deliram com as vendedoras de flores em trajo típico, e de onde se sai com o estômago cheio de salada de fruta, caso se atenda às demonstrações de maracujá-banana, manga-limão e outras experiências gastronómicas que a natureza por aqui tem a decorrer, oferecidas pelos vendedores.
Lá fora, a ribeira que tanta dor causou a 20 de fevereiro parece querer sumir-se no chão, e dos estragos quase não há vestígios.
Continuei o dia com uma visita ao Jardim Botânico, bem acima da linha do mar, a meio da uma encosta a pique que sobe até ao Monte. O teleférico, que sai da Avenida do Mar e faz uma paragem no local, aliciava-me com passagens rasantes e silenciosas sobre o casario.
E de facto, este é um lugar a não perder, pelas vistas sobre a cidade com o sol a iluminar só o mar, mantendo-nos literalmente a cabeça nas nuvens, e pelas maravilhosas plantas que não esperam pela primavera para florir: belíssimos fetos arbóreos, que concretizam o desejo de um arbusto que quis ser palmeira, orquídeas variadas, as famosas estrelícias e uma secção destinada aos endemismos da Madeira, onde encontramos as principais árvores que formam a floresta da laurissilva.
No geral descobre-se uma enorme coleção de preciosidades estranhas, na forma ou no tamanho exagerado, e uma combinação muito agradável de jardim “artístico” e selvagem, incluindo uma secção de catos – que devem sofrer horrores nesta nuvem húmida que cobre a cidade.
Debaixo de chuva, o verde aparecia lavado e mais brilhante, assim como os amarelos-torrados, os vermelhos e os rosas das casas lá no fundo, que dão ao Funchal um divertido ar de “Portugal dos Pequenitos”.
O contraste de uma arquitetura “soalheira” com os dramáticos rolos escuros das nuvens carregadas de chuva deram-lhe um ar reservado – e acabei por dar por mim a pensar que não sei se teria gostado assim tanto da cidade num dia de sol.
Guia de viagens ao Funchal
Este é um guia prático para viagens à cidade do Funchal, na Ilha da Madeira, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis da Madeira e sugestões de atividades no Funchal.
Quando viajar para a Madeira
A cidade do Funchal pode ser visitada em qualquer altura do ano, já que o clima não sofre variações consideráveis. É natural, no entanto, que nos meses de inverno as temperaturas sejam mais baixas e a probabilidade de chuva seja maior, embora, na verdade, mesmo nessa época, o Funchal seja atraente e visitável. Caso pretenda evitar grandes concentrações de turistas, não deverá visitar a Ilha da Madeira durante a passagem de ano, a Festa das Flores – que ocorre na primavera – e o mês de agosto.
Como chegar ao Funchal
A TAP tem voos regulares desde Portugal continental para a Ilha da Madeira, e lança com alguma regularidade promoções com passagens aéreas entre Lisboa e o Funchal a 36€ por percurso. A “responsável” por preços tão baixos é a low cost easyJet, que veio trazer concorrência à rota Lisboa – Funchal e é outra opção a ter em conta para chegar à Madeira a partir da capital portuguesa.
Hotéis no Funchal
O Funchal dispõe de todos os tipos de hotéis existentes no mercado turístico. A um nível mais diferenciado, a Quinta Devónia tem ao dispor três casas com uma ocupação mínima de duas pessoas, que dispõem de kitchenette e estão situadas num extenso jardim com vistas sobre o Funchal, acessível em transporte público. As reservas podem ser feitas através da Associação Madeira Rural, e os preços começam em 72€.
Para outras opções hoteleiras, consulte uma criteriosa lista de hotéis na Madeira, escolhida com base nas opiniões de hóspedes que neles pernoitaram recentemente.
Restaurantes
A oferta é mais que muita, abrangendo a tradicional oferta de espetadas, bem como comida italiana, indiana, etc. Como indicação genérica, vale a pena dar uma volta pela zona velha da cidade do Funchal e beira-mar, à procura de restaurantes agradáveis.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Ola Ana
Adorei todo seu texto mas nao vi o que procurava.
Um bom local pra se hospedar em termos de localizacao ja que estaremos sem carro. Entao acho que no centro historico seria o melhor. Voce ppde dizer o nome do bairro ou um ponto de referencia, assim posso fazer o bokking do hotel. Obrigado. Paulo