Haia, um brinco de cidade (com pérola)

Haia foi, muito provavelmente, a maior surpresa da viagem-relâmpago que fiz à Holanda. É certo que gostei muito de conhecer a simpática Delft (a minha cidade favorita) e a pós-moderna Roterdão mas, como cheguei a Haia sem grandes expectativas, a verdade é que fui positivamente surpreendido.

Fiquei com a sensação de que Haia navega entre a modernidade de Roterdão e a beleza pitoresca de Delft – com um piscar de olhos a Amesterdão -, num cenário que tanto inclui o ambiente descontraído de uma praia como museus de enorme qualidade, edifícios Art Déco, mais de uma centena de condomínios secretos (onde apenas se aceitam mulheres) a fazer lembrar as antigas villas operárias de Lisboa e até um exemplar da chamada arquitetura brutalista.

De resto, não tendo a fama de Amesterdão e até de Roterdão, Haia recebe poucos turistas – o que, para quem a visita, é quase uma bênção. Eis, pois, o que fazer em Haia durante um dia bem aproveitado; foi mais ou menos o meu roteiro (em modo rápido).

O que fazer em Haia: lugares a visitar

Museu Mauritshuis

Comecei o dia a explorar o Mauritshuis, um museu verdadeiramente avassalador e uma das principais atrações de Haia. Quem me conhece, sabe que sou mais um viajante de ruas, mercados e pessoas do que de igrejas e museus. Mas, em Haia, há museus cuja visita é mesmo imprescindível. Como o Mauritshuis.

Nele se encontra, por exemplo, a maior coleção do pintor holandês Rembrandt. Telas conjuntas de Peter Paul Rubens e Jan Brueghel. O jovem Touro, de Paulus Potter. E, naturalmente, a obra mais conhecida de Johannes Vermeer, também holandês, e que concentra boa parte das atenções dos visitantes: Rapariga com Brinco de Pérola.

Prepare-se para “perder” algum tempo no Mauritshuis. É uma das coisas que recomendo mesmo fazer em Haia.

Gemeentemuseum (Museu Municipal de Haia)

De Vermeer para Mondrian, segui de elétrico do Museu Mauritshuis para o Gemeentemuseum (Museu Municipal de Haia). É lá que se encontra o maior acervo de Piet Mondrian, criador do chamado neoplasticismo. Mesmo não sendo eu um especialista em pintura, a obra de Mondrian sempre me intrigou; pelo que, mesmo que não houvesse outros motivos de interesse no Gemeentemuseum, já teria dado o tempo por bem empregue. Mas há! É outra das coisas fundamentais a fazer em Haia.

Café Lola Bikes & Coffee

Remco, excêntrico cicerone durante um par de horas em visita por Haia, disse várias vezes que a cidade foi construída sobre dunas de areia, atribuindo a esse facto a irregularidade das ruas do centro histórico. Uma dessas ruas é Noordeinde.

Trata-se de uma das artérias mais interessantes de Haia. Em poucas centenas de metros, juntaram-se coisas tão diversas como fachadas Art Déco, lojas de antiguidades e alfarrabistas, boutiques de roupa exclusiva, galerias de arte e cafés criativos como o Lola Bikes & Coffee – o meu principal objetivo.

Depois de almoçar no restaurante do extraordinário Hotel Indigo, aproveitei para conhecer o Lola Bikes & Coffee. Tal como o nome sugere, o projeto mistura um café com uma loja e oficina de bicicletas. Um espaço inspirador, perfeito tanto para um café pós-refeição como para descansar a meio de um dia passado a calcorrear as ruas e museus de Haia. É seguramente um dos cafés mais entusiasmantes de Haia.

Museu de M.C. Escher

Desde muito jovem que me lembro de ficar fascinado com o talento de Escher, artista de origem holandesa, para brincar com as perspetivas, ludibriando o cérebro humano com ilusões de ótica brilhantes e desafiadoras. Por isso, quando passei à porta do Palácio Lange Voorhout, atualmente dedicado ao artista, não resisti.

Para mim, apreciar a exposição Seeing the World through Escher’s eyes foi um dos momentos altos da visita a Haia.

Há planos para instalar o acervo de Escher no edifício da antiga embaixada norte-americana em Haia. Trata-se de exemplar único da arquitetura brutalista na cidade holandesa, da autoria de Marcel Breuer. Fica a poucas centenas de metros do Lange Voorhout e ter Escher “lá dentro” seria um casamento perfeito.

Praia de Scheveningen

A praia de Scheveningen é uma espécie de refúgio de veraneio para os habitantes de Haia. Tem um enorme areal, um calçadão pejado de bares de praia e restaurantes especializados em peixe; um pontão transformado em ponto comercial com vários cafés; e, ao fundo, uma roda gigante.

Experimentei andar na roda gigante e, apesar de não ter ficado fascinado, agradaram-me as vistas sobre toda a zona de Scheveningen. Por esta altura, o cansaço já apertava, pelo que sentar-me numa das esplanadas do calçadão a beber uma cerveja pareceu-me uma excelente opção.

Restaurante Catch by Simonis

Para terminar o dia em beleza, nada melhor do que beneficiar da proximidade com o mar e degustar uma refeição de peixe na zona de Scheveningen. A opção recaiu num restaurante chamado Catch by Simonis, e eu não poderia ter ficado mais satisfeito. Foi seguramente a melhor refeição que fiz em Haia.

Eis as palavras dos inspetores do Guia Michelin a propósito do Catch by Simonis: “Não, você não está em Nova Iorque, mas este impressionante restaurante não estaria fora de lugar [na cidade norte-americana], com o seu interior elegante, ambiente moderno, garrafas de prestígio adornando a adega e comida deliciosa. Peixe e marisco espetaculares, em pratos tão frescos quanto modernos. Uma ótima pescaria!”.

Depois de um dia calcorreando o melhor de Haia, não poderia ter escolhido melhor forma de terminar a viagem.

Viajei para Delft, Haia e Roterdão a convite da Transavia, com apoio dos organismos de turismo locais.