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O que fazer em Pequim, as dicas do Miguel Madeira

Por Filipe Morato Gomes

Quer visitar Pequim e está farto de ler as mesmas dicas de viagem em todos os guias? Desafiámos o português Miguel Madeira, profundo conhecedor da cidade – onde vive desde 2013 -, a partilhar cinco sugestões sobre o que fazer em Pequim para tornar a sua estadia única e inesquecível. “Se um amigo te visitar em Pequim, onde o levarás?” – eis as dicas do Miguel.

Pequim, Beijing, 北京, literalmente a “Capital do Norte“, não esconde as marcas de uma história com mais de três mil anos. Capital de impérios, foi casa de dinastias, palco de profundas revoluções e o resultado é tudo menos óbvio.

Escolher as cinco sugestões para visitar em Pequim não foi fácil, pois a cidade é frenética e caótica, a velocidade com que edifícios nascem, restaurantes, bares e lojas abrem, fecham, re-abrem antes de fechar novamente, continua a surpreender. Há sempre algo que acontece, algo novo para espreitar – o que faz com que mesmo vivendo há três anos em Pequim, continuo com a sensação de infinita surpresa!

Vai encontrar tudo o que preenche o seu imaginário de China numa escala diferente de tudo o que já viu. Será um Lǎowài, um “velho estrangeiro”, por isso não se esqueça de trazer muita paciência, desenrascanço e bom humor.

O que fazer em Pequim com um amigo

Hutongs

Hutong Nanluoguxiang, Pequim
Hutong Nanluoguxiang, Pequim

Muitos dizem que o coração de Pequim bate nos hutongs, os característicos bairros desenvolvidos há centenas de anos e símbolo da história da cidade. De facto, desde artérias principais durante o período imperial, até condenados à extinção durante (e após) a revolução cultural, estes labirintos térreos resistem e são vitais para quem vive e visita a capital. É fácil uma pessoa perder-se nos hutongs de Pequim, nestas encruzilhadas de ruas apertadas, paradas no tempo, ladeadas em toda a extensão por corredores de muros cinzentos, não só pela similaridade das fachadas e cruzamentos como também pela falta de referências externas (é como se estivéssemos numa aldeia isolada da cidade).

Mais do que alugar uma bicicleta e deambular pelas ruas estreitas, como muitos guias aconselharão, os hutongs são melhor experienciados por quem os conhece depois do sol se pôr. Aí, trocam o ar residencial pacato por pontos de convívio, dinamizados pelas dezenas de bares e restaurantes escondidos no interior dos pátios ou mesmo no meio da rua. Ande de bar em bar, não se assuste com as constantes scooters e bicicletas em sentidos contrários, deixe-se perder até encontrar a próxima luz ténue no meio da rua.

O que visitar em Pequim: Hutong Baochao
Hutong Baochao, Pequim

Algumas escolhas pessoais são os hutongs de Baochao, onde poderá encontrar o Modernista, bar de música ao vivo, ou o de Fangjia, onde se situam os bares El Nido, Cellar Door e o Hot Cat Club (também palco de noites de Stand Up); o de Nanluoguxiang é dos mais animados e coloridos à noite, passear aqui é imprescindível; no hutong de Doujiao há o Great Leap (uma micro cervejaria), no Zhangwang o Palms L.A. (restaurante de fusão mexicana-coreana), no Xiguan o Cuju (restaurante marroquino com uma incrível carta de rums) e ainda o 4Corners (restaurante e bar) no hutong de Dashibei.

Templo de Dongyue

Visitar Pequim: Templo de Dongyue
Pormenor no Templo de Dongyue

Quem visita Pequim não deve perder o Palácio de Verão, o Templo do Céu, o Templo Yong He Gong ou mesmo o Templo de Confúcio. São marcos culturais e qualquer guia, corretamente, recomenda essas visitas. No entanto, se quiser apreciar um templo riquíssimo em história, muito menos turístico e com uma personalidade distinta, aconselho vivamente uma passagem pelo Templo de Dongyue.

Fundado em 1319, este templo Taoísta tem a particularidade dos seus três pátios principais serem todos ladeados com pequenos “departamentos”, cada um simbolizando um aspecto da vida taoísta, numa espécie de burocracia divina surreal. Cada um destes cerca de 30 anexos recria uma situação emblemática com a divindade taoísta Lao Zi rodeado de diferentes figuras coloridas, excêntricas, algumas animalescas e todas bem expressivas. “Departamento dos Fantasmas Perdidos” ou “Departamento das 15 formas violentas de morte” são alguns exemplos do que pode esperar.

Mesmo sem ser conhecedor das tradições ou fundamentos religiosos, no Templo de Dongyue pode observar os rituais de oração e adoração, boas exposições temporárias, um museu de costumes tradicionais e centenas de figuras bizarras, em ritmo divertido, relaxado e sem multidões.

Um bónus não relacionado: mesmo ao lado do templo existe um excelente mercado de electrónicos, desde computadores até câmaras fotográficas. Sim, regatear é uma necessidade!

Templo da Terra

Templo da Terra no inverno
Parque do Templo da Terra no inverno

Apesar da fama (e proveito) de grande metrópole cinzenta são muitos os parques que proliferam pela cidade de Pequim, desde os mais pequenos, típicos dos bairros antigos, até aos enormíssimos, como o de Chaoyang. São refúgios perfeitos para escapar ao barulho do trânsito, passear tranquilamente e até, em certos dias, respirar um pouco melhor.

Pela sua conveniente localização e boa preservação, o Templo da Terra (também conhecido como Ditan Park), outrora lugar de sacrifícios, é hoje ideal para o exercício físico, convívio ou simples relaxe. Para contextualizar historicamente, faz parte de um conjunto de quatro templos clássicos em Pequim, alinhados pelos pontos cardeais e respeitando assim a antiga crença de que aspectos cósmicos importantes poderiam ser simbolizados em direcções e formas. Neste sentido, o templo situa-se na zona norte da cidade (esta é a direcção associada ao elemento Terra) e os restantes Templo do Céu (ponto turístico obrigatório!), Templo da Lua e Templo do Sol localizam-se a sul, oeste e este, respectivamente.

Parque do Templo da Terra, Pequim
Parque do Templo da Terra, Pequim

Na verdade, o templo em si é bastante simples, quase desapontante, e representa uma pequena parte do complexo. O melhor desta sugestão é mesmo os jardins onde poderá contemplar as mais diversas actividades quotidianas das diferentes gerações de Pequim: Tai Chi, ping-pong, grupos de dança, artes marciais, lançamento de papagaios de papel, caligrafia com água no chão de cimento, jogos tradicionais ou apenas transeuntes.

Durante a semana do Ano Novo Chinês, este silencioso parque perde toda a sua calma pois é casa da tradicional Feira do Templo, uma confusão de barraquinhas, comidas, souvenirs, incenso e lanternas um pouco por todo o lado.

Um bónus desta sugestão é o Jin Ding Xuan, na entrada norte do parque – um restaurante de dumplings bem conhecido localmente, aberto 24h e acessível a todas as carteiras. Perfeito para brunch, jantares ou ceias tardias!

Grande Muralha da China

Grande Muralha da China
Grande Muralha da China, em Huanghua

Visitar a China e não ver a Muralha será como ir ao Vaticano e não ver o Papa. Incontornável (quase literalmente), foi construída ao longo de dois milénios e durante várias dinastias, teoricamente como estrutura militar de defesa. Hoje, este símbolo máximo do país é um ponto turístico de renome tanto para visitantes como para locais.

Eu não fujo à regra e, seja qual for a estação do ano, passear na Grande Muralha da China continua a ser um dos meus passeios preferidos para passar um dia afastado do caos da cidade de Pequim. O que é menos óbvio nesta sugestão são os trechos a visitar, de forma a evitar armadilhas turísticas ou pedaços da muralha com mais pessoas que tijolos.

Curiosamente, a Muralha não é uma linha contínua, não é uma estrutura única mas sim um conjunto de trechos que variam de região para região! Assim, aconselho vivamente a evitar secções como Badaling ou Mutianyu, efectivamente mais próximas de Pequim mas sem qualquer tipo de feeling original ou autêntico.

A minha sugestão passa por investir um pouco mais de tempo na deslocação e visitar Jinshanling, a 130Km de Pequim, ou Huanghua, a 70km da capital. A primeira é apelidada de “Paraíso para Fotógrafos”, dada a sua estrutura que serpenteia através das montanhas; a segunda, traduzida como “Flor Amarela”, apesar de ser um percurso menor, é uma excelente combinação de montanha, lagos, passagens estreitas e torres ainda originais, o que confere uma beleza natural envolvente bastante única.

Bairro artístico 798

Distrito de arte 798, Pequim
Grafiti no distrito de arte 798, Pequim

Também conhecido como distrito de arte, o 798 é um antigo complexo militar fabril hoje dinamizado como pólo e centro da cena artística em Pequim. A sua estrutura e arquitetura originais foram mantidas, pelo que são abundantes os grandes armazéns, tubos, ventilações, passagens estreitas e edifícios simples.

No 798 existe um pouco de tudo, desde variada oferta gastronómica internacional, comida de rua típica, muitos cafés, exposições temporárias, galerias de arte, lojas de autor, uma exposição 3D e até uma linha de comboio inactiva. A escolha é imprevisível, a qualidade também. A velocidade com que abrem e fecham lojas, exposições ou galerias torna a 798 uma zona muito efervescente, dinâmica e surpreendente.

Os grafitis decoram grande parte das paredes e as instalações artísticas (umas mais estranhas que outras) não deixam que exista um metro de espaço sem cor ou interesse. É perfeito para um almoço seguido de um passeio sem rumo para se deixar surpreender, até ao entardecer. Não estranhe se passar por uma quantidade significativa de noivos em pose, pois o bairro artístico 798 é agora um lugar da moda para fotos de casamento.

Mapa: o que visitar em Pequim

Se está a pensar viajar para Pequim, conheça o excelente trabalho do Miguel Madeira em www.curinga.net, um site recheado de inspiração em forma de fotografias – de Pequim e muitas outras cidades da China (atualmente desativado).

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.