Andava há algum tempo para fazer um passeio de balão no Alentejo. Já estive para voar de balão na Capadócia, mas a viagem foi cancelada devido à pandemia; e já tinha tido oportunidade de fazer um voo de balão em Portugal mas, por algum motivo que não me recordo, a experiência acabou por não se concretizar.
Ora, quando descobri que o meu roteiro pelo Montado de Sobro e Cortiça me faria estar na região do Ribatejo precisamente durante o Flutuar – Festival de Balonismo de Coruche, não hesitei. Seria desta que iria fazer um passeio de balão de ar quente!
Neste artigo, partilho precisamente essa experiência de voar de balão, com partida da vila de Coruche e aterragem na freguesia de Santana do Mato. Vamos a isso!
O meu (primeiro) passeio de balão de ar quente
Cheguei ao descampado junto ao Terminal Rodoviário de Coruche ainda era noite cerrada. Ao fundo, um ou outro frontal emitia raios de luz que rapidamente se perdiam na escuridão. Fui até lá, dei o meu nome no pequeno guichet de madeira à entrada do descampado e deixei-me ficar a observar.
Os jipes iam chegando com atrelados de dimensões variadas que transportavam os balões de ar quente; mas as movimentações eram, naquela altura, reduzidas. Não havia sequer a certeza de que iria haver voo, já que as previsões meteorológicas apontavam para vento forte logo de manhã, com tendência para ir piorando ao longo do dia. Seria preciso aguardar pela decisão final.
Às tantas, já o dia começava a clarear, o grupo de pilotos foi chamado por um responsável da Windpassenger para uma espécie de reunião preparatória. Tínhamos luz verde para voar.
Depois de definido quem iria fazer o passeio de balão e o número de passageiros de cada cesta, foi lançado para o ar um pequeno balão com uma luz intermitente no seu interior. Os pescoços dos pilotos curvaram-se, os olhos cravaram-se nos céus e, por um par de minutos, foram observando o efeito do vento na trajetória do balão, à medida que ele subia e se afastava de nós.
Aparentemente, o vento levar-nos-ia para sul, em direção à freguesia de Santana do Mato, passando por cima de uma região de montado e do Açude do Monte da Barca. Estávamos com sorte – e não havia tempo a perder.
Paulatinamente, os pilotos e seus ajudantes foram enchendo os balões – um processo demorado e delicado. Lentamente, os enormes envelopes coloridos (parte principal do balão, que tem a função de reter o ar quente), originalmente estendidos no chão, foram ganhando forma com a ação de uma enorme ventoinha e, depois, foram-se erguendo do chão com a ajuda de maçaricos gigantes.
Estava a filmar tudo por entre os diferentes balões quando Alcides Ribeiro, o simpático e tranquilo piloto responsável pelo meu passeio de balão, atirou: “temos de ir… agora”.
Alcides transmitiu as instruções básicas e, assim que levantámos voo, uma sensação incrível de liberdade apoderou-se de mim. Era o meu primeiro voo de balão – nunca tinha feito um passeio de balão nas minhas viagens pelo mundo – e estava extasiado. Mas lembro-me de uma vez em que senti algo parecido: quando andei de parapente pela primeira vez, há muitos anos, nas montanhas da Suíça.
O balão ganhou altura e, lá de cima, enquanto a manhã se ia tornando adulta e um clarão de luz ia pintando com cores quentes tudo em meu redor, Coruche foi ficando para trás.
Lá em baixo, a malha urbana e o rio Sorraia deram lugar a campos de cultivo e montado. As copas das árvores iam desfilando diante dos meus olhos enquanto que, nos ares, os outros balões moviam-se graciosa e tranquilamente, proporcionando imagens fotográficas magníficas.
Creio ter perdido a noção do tempo. Além do vento, os únicos sons que me recordo ouvir eram os do maçarico do balão sempre que Alcides o ligava para aquecer o ar dentro do envelope.
E assim, aos poucos, o Açude do Monte da Barca foi ficando cada vez mais próximo. Lá chegados, nova surpresa: Alcides fez com que o balão perdesse altitude e sobrevoámos o espelho de água a uma altitude incrivelmente baixa. Wow!
Depois de o balão ganhar novamente altitude, o local onde iríamos fazer a aterragem, em Santana do Mato, estava já muito perto. Alcides fez questão de relembrar os procedimentos de segurança durante a aterragem e lá me agarrei à cesta na posição indicada, preparado para o embate com o solo.
Pouco depois, um pequeno impacto assinalou a chegada a terra firme. Tinham sido 48 minutos de puro prazer (eu diria que não tinham sido mais de 15, tal a rapidez com que o tempo pareceu passar!). Aos poucos, os outros balões foram aterrando nas proximidades e o campo foi-se enchendo de caras sorridentes que saltavam das cestas.
Estava em êxtase com o meu primeiro passeio de balão de ar quente. E por ali fiquei mais algum tempo, a ver as aterragens dos restantes balões e modestamente a ajudar na logística de arrumação, que implica dobrar e acomodar os envelopes no saco protetor (como se fora um saco-cama gigante) e depois colocar tudo – cestas, maçaricos e envelopes – de volta nos atrelados.
Quando o jipe me deixou de novo em Coruche, era então hora de tomar o pequeno-almoço e de explorar a vila. Estava imensamente feliz. A experiência tinha sido espetacular!
Veja, de seguida, o primeiro episódio em vídeo, da minha autoria, sobre os territórios do Montado de Sobro e Cortiça, onde se inclui o passeio de balão de ar quente feito a partir de Coruche.
Guia prático
Como organizar o passeio de balão
Creio não exagerar se disser que Coruche é um dos melhores lugares para fazer um passeio de balão no Alentejo/Ribatejo. Caso seja essa a sua opção, a melhor forma de organizar um voo de balão em Coruche é visitar o site da Windpassenger e consultar a agenda de passeios.
Quanto a preços, um passeio de balão de ar quente custa pelo menos 140€ por pessoa, quando incluído num grupo de, pelo menos, 24 pessoas e apenas às sextas-feiras (durante o fim de semana são mais caros). Não é barato, mas vale muito a pena.
Note que os voos estão “sujeitos a confirmação de número mínimo de passageiros (24 pax) e condições climáticas favoráveis”, podendo ser cancelados à última hora e adiados por questões de segurança, sendo que o operador pode cancelar ou confirmar o voo “até 12 horas antes do mesmo”.
Caso queira comer qualquer coisa antes de voar, saiba que há um café-restaurante no Terminal Rodoviário, chamado Abaladiço, que abre muito cedo (creio que às 6:00). Seja como for, no ponto de partida dos passeios de balão, no referido guichet de madeira, havia café quente e bolachas para os participantes.
Onde ficar em Coruche
Há um conjunto de unidades hoteleiras de qualidade em Coruche, especialmente pequenas unidades de cariz familiar e de turismo rural. Em concreto, a Casa do Rio Sorraia e o Monte Macário são boas opções, tal como a Casa dos Ingleses, mas basta pesquisar no link abaixo para encontrar outras opções de alojamento em Coruche. Antes de reservar, note que os passeios de balão ocorrem, regra geral, de manhã muito cedo, pelo que é fundamental dormir em Coruche na noite anterior ao passeio.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.
Artigo publicado com o apoio do projeto Montado de Sobro e Cortiça.
Adorava fazer um passeio de balão. Está na minha lista, mas nunca surgiu a oportunidade. Tenho mesmo de a procurar.
Que vídeo lindo! Com muita sensibilidade, captou momentos mágicos! Parabéns.