A Muralha Fernandina unia as cumeadas da Batalha e do Monte da Vitória, ajustando-se o resto do traçado ao terreno para completar o circuito”, in SIPA.
Por incrível que possa parecer, até há alguns meses não conhecia a Muralha Fernandina do Porto. Julgo até que, apesar de estar à vista de todos e começar a aparecer nos guias de viagem internacionais, continua a ser um dos mais bem guardados segredos da cidade do Porto.
É verdade que passei boa parte da minha vida a viver fora do Porto – Santo Tirso, Vila Nova de Famalicão, Braga, Macau -, mas isso é apenas uma desculpa para me sentir menos mal. Nasci no Porto, mas nunca tinha visitado a Muralha Fernandina.
Também nunca visitei o Salão Árabe do Palácio da Bolsa, apenas uma vez fiz um cruzeiro no Douro, não me lembro de visitar algumas das magníficas igrejas da cidade e já não subo a Torre dos Clérigos há mais de vinte anos. Sou, por assim dizer, um mau turista na minha cidade (e não somos todos? – um dia ainda vou escrever sobre isto).
Mas isso já começou a mudar. Decidi que era chegada a hora de, aos poucos, ir conhecendo um pouco melhor as preciosidades do meu Porto.
Comecei pela Muralha Fernandina, importante herança da arquitetura militar que eu andava para visitar há algum tempo e que até considero um dos lugares fundamentais a visitar no centro histórico do Porto.
A minha visita à Muralha Fernandina do Porto
A Muralha Fernandina veio substituir a antiga cerca alto-medieval que, no séc. XIV, se mostrava demasiado pequena face ao desenvolvimento da cidade. Foi reedificada por D. Fernando, de quem conservou o nome, entre 1368 e 1437, com verbas da Sisa do Vinho e tinha uma extensão de 3.000 passos e altura média de 30 pés. Era guarnecida de ameias e reforçada por numerosos cubelos e torres quadradas. Presentemente existem ainda dois trechos, um localizado junto à Rua Arnaldo Gama intitulado Trecho dos Guindais e o outro junto das Escadas do Caminho Novo, intitulado Trecho do Caminho Novo. Ponto integrante da Rota Urbana do Vinho.
in Turismo do Porto
Foi precisamente o trecho dos Guindais que fui conhecer, o troço mais bem preservado de toda a muralha. Não há, na verdade, muitos mais pontos visíveis a lembrar a existência da muralha (que se estendia da Praça da Batalha ao Largo da Cordoaria, passando pela Alfândega antes de fechar o “circulo”), excetuando talvez, o chamado “postigo do carvão”, na zona da Ribeira, uma das 18 portas da muralha e local por onde entrava o combustível que abastecia a cidade do Porto.
Entrei pelo Largo Primeiro de Dezembro, passei sob o arco que dá acesso à magnífica Igreja de Santa Clara, bem junto ao Comando Metropolitano da PSP, e subi ao topo da muralha pelas escadarias de pedra.
Lá em cima, debaixo de um agradável sol de inverno, um pequeno grupo de turistas ouvia a explicação de um guia das cada vez mais populares walking tours que pululam na maioria das cidades europeias. Eram quase todos jovens, provavelmente hospedados num dos excelentes hostels da cidade.
Encontrá-los foi a primeira surpresa. Ingenuamente, num dia de semana soalheiro mas frio, pensei que teria a muralha só para mim. Estava enganado.
Felizmente não se demoraram muito; até porque o que ainda resta do trecho dos Guindais da Muralha Fernandina é pequeno. Mas tem vistas extraordinárias. Deste troço de muralha, avista-se o Rio Douro desde a Ponte D. Maria Pia até ao Cais de Gaia, com destaque para a Ponte D. Luís I – que fica praticamente colada à muralha – e, bem debaixo dos meus olhos, o funicular dos Guindais.
Assim que os turistas se foram, aproveitei para tentar desenhar os Guindais, mas os problemas que ainda tenho com a perspetiva fizeram-me desistir. Fiquei a observar o rio, o bulício turístico na Ribeira e os inúmeros turistas que frequentam o tabuleiro da Ponte D. Luís para fotografar o Douro.
Antes de descer à Ribeira pelas escadas dos Guindais (pode também descer pelo funicular, mas perde a paragem obrigatória na esplanada do Guindalense Futebol Clube), não pude deixar de me interrogar: como é possível não prestarmos mais atenção às coisas belas da nossa própria cidade? Mea culpa.
Deixo-o com algumas fotos, na esperança de que o façam ficar com vontade de visitar este grande tesouro da cidade do Porto.
Guia prático
Informações para visitar a Muralha Fernandina do Porto
Horário: dias úteis das 9:00 às 17:00.
Entrada: o acesso ao trecho dos Guindais da Muralha Fernandina faz-se como descrito no post. A partir do Largo Primeiro de Dezembro, passar pelo arco que dá acesso à Igreja de Santa Clara. A muralha fica à sua esquerda.
Preço: gratuito.
Atualização 2021: atualmente, a visita à Muralha Fernandina não é permitida. Desconheço os motivos de tal decisão.
Onde ficar no Porto
O Porto está na moda, pelo que têm surgido inúmeros hotéis de qualidade, bem como pequenas guesthouses com muito charme e hostels para quem gosta de socializar. Escrevi uma lista com os melhores hotéis do Porto e outra com os hotéis de luxo do Porto, que podem ser úteis.
Quanto à localização, ela depende naturalmente do objetivo da visita e do estilo do viajante. Para quem quer tranquilidade numa zona histórica, a Foz Velha é uma zona excelente; fica perto do mar mas afastada da movida noturna. As áreas da Sé e da Ribeira, por seu lado, têm muitos turistas mas são zonas históricas absolutamente fascinantes.
A minha preferência vai, no entanto, para a área compreendida entre a Avenida dos Aliados, Torre dos Clérigos, Cedofeita e a Rua Miguel Bombarda (no distrito das galerias de arte), pela sua localização central, de fácil acesso a boa parte dos pontos de interesse e perfeita para uma saída noturna sem precisar de táxis.
Deixo aqui algumas sugestões de alojamentos com muito bom gosto, para carteiras de diferentes recheios. Pode também ver o texto sobre onde ficar no Porto, onde explico as melhores regiões da cidade para se hospedar.
- Ribeira Apartments, apartamentos impecáveis em frente ao Rio Douro
- InPatio Guest House, exemplar recuperação arquitetónica, num pátio tradicional perto do rio e da renovada Rua das Flores
- Gallery Hostel, um dos hostels mais elogiados, no coração do bairro das galerias
- 6Only Guest House, local de eleição para quem quer dormir junto à Sé
- Vitoria Village, um oásis no centro histórico do Porto (não se assuste com a rua)
- 4Rooms Porto, na Foz Velha, para quem gosta de design e prefere paragens mais tranquilas
- Casa do Conto, delicioso espaço com cheiro a betão e localização privilegiada (rua de Cedofeita)
- Tattva Design Hostel, considerado o melhor hostel do mundo (categoria de 101 a 250 camas)
- The Yeatmen, o luxo dos luxos, do outro lado do rio
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.