Localizada na vila de Porto da Cruz, na Madeira, a Quinta da Capela é muito mais que uma unidade de habitação rural. O seu interesse histórico assenta no edifício, restaurado a partir de uma habitação originalmente erguida em 1692, e também na capela do século XVIII, onde ainda se realiza casamentos e se recebe escolas em visitas de estudo. Junte-se umas vistas de sonho e um acolhimento caloroso, e encontramos um lugar a não perder.
Quinta da Capela, uma noite no museu
A Quinta da Capela fica quase invisível no cimo de um monte sobranceiro à vila de Porto da Cruz, na costa norte da Ilha da Madeira. Isolada pelo arvoredo do jardim mas separada da estrada apenas por uma longa escadaria, oferece uma vista espantosa que vai até ao mar. A paisagem é tão graciosa que pode bem servir de entretenimento durante longas horas, especialmente ao fim do dia, com as chaminés das casas próximas a começar a fumegar, os sons de gente e de água a correr que nos vão chegando em lufadas, as mudanças de luz sobre o mar e a Penha da Águia. Em dias mais claros chega a avistar-se no horizonte a silhueta escura da ilha de Porto Santo.
Acedemos à Quinta trepando mais de cem degraus, e deparamo-nos com um edifício quase solene, a torre da capela a deixar dúvidas sobre a sua condição de casa de Turismo de Habitação. Originalmente propriedade de nobres latifundiários da família Leal, nos séculos XVII e XVIII, foi restaurada entre 1990 e 1994 de forma a manter a traça própria da época. Só então começou a sua nova vida com funções turísticas.
Nos dias de hoje é uma das raras acomodações da ilha classificadas pelo governo regional como Monumento de Interesse Público, e está aberta todo o ano. Podemos, portanto, dormir num monumento visitado por escolas pelo seu valor histórico e arquitetónico, e também pelo seu recheio de antiguidades; “aqui respira-se história e cultura, misturadas com o perfume das flores silvestres”, é como a Quinta da Capela se anuncia, sem falsidades. A verdade é que se procura mais do que um vulgar quarto de hotel encontra aqui um ambiente diferente, com um toque de museu, envolvido por um pequeno e tranquilo jardim bem cuidado.
O edifício abriga cinco quartos distintos com casa de banho privada, preenchidos com mobílias e peças de decoração antigas, adquiridas e recuperadas pelo atual proprietário, António Estevinho.
Objeto de uma verdadeira paixão, a casa foi-se ganhando de camas de dossel, cabeceiras pintadas, telas religiosas, pequenas esculturas decorativas, louça e outros objetos amorosamente restaurados e dispostos pelos corredores e salas, muitas vezes em plena utilização, como é o caso do mobiliário dos quartos e da cozinha. Contígua à sala dos pequenos-almoços, no rés-do-chão, a cozinha é mesmo uma verdadeira pérola da tradição madeirense, complementada por utensílios regionais e um forno de pão, e aberta à utilização pelos hóspedes. Já a TV, está onde deve estar: relegada para uma sala comum do piso superior, onde se chega por um corredor que exibe mais pinturas e móveis antigos.
O ex-líbris da Quinta, a capelinha dedicada a São João Nepumoceno, data de 1777, mas o edifício da moradia está datado de 1692. No interior da capela descobrem-se mais telas, sendo a principal da autoria do pintor madeirense Nicolau Ferreira. Em dias de chuva podemos circular sem nos aborrecermos entre a sala de entrada, a capela, os corredores e o quarto, apreciando as peças de mobília, os anjos dourados ou a velha manteigueira manual.
Nos dias de sol podemos descer a pé até à vila, a cerca de três quilómetros de distância, e apanhar banhos de sol junto à piscina enquanto apreciamos a costa recortada da ilha. Ou acostar numa das esplanadas à beira-mar, com vistas para uns rochedos gigantescos ancorados no mar, na companhia de boa leitura e um par de ponchas acabadas de fazer.
Uma afável D. Margarida certifica-se de que o pequeno-almoço é servido às horas pretendidas e entrega-nos à privacidade do lugar, que é mais um daqueles onde apetece fazer um retiro para escrever um livro. E quem não se atreve a escrever o seu próprio livro, pode sempre deixar o seu contributo no livro de visitantes, um registo que está a ficar tão primoroso como o local ao qual pertence. Quem por aqui passa parece ganhar inspiração no espaço e vai deixando textos, desenhos e mesmo pinturas em aguarela, que o estão a transformar em mais um objeto de arte que merece estar aqui exposto.
Guia prático
Este é um pequeno guia com informação prática para planear a sua estadia na casa de turismo rural Quinta da Capela.
Como chegar a Porto da Cruz
Antes de mais, terá de voar para a Madeira – a TAP tem ligações com partida do Porto e de Lisboa, a easyJet apenas da capital. Uma vez na Madeira, partindo do aeroporto pela via rápida na direção de Santana, siga as indicações para Porto da Cruz. Ao chegar à saída para Porto da Cruz, siga para a direita na rotunda, tal como está indicado numa tabuleta da Quinta da Capela. Suba a estrada regional durante cerca de 5 minutos até encontrar outro letreiro da Quinta, indicando uma viragem à esquerda.
Após 700 metros encontra-se uma escadaria de acesso devidamente assinalada. A viatura pode ficar estacionada em frente à entrada. Também pode aceder à Quinta da Capela em transporte público, apanhando o autocarro da SAM na Avenida do Mar, no Funchal, e esperando depois pela ligação na vila de Porto da Cruz (os condutores sabem onde deve sair). A Quinta fica no Sítio do Folhadal.
O que fazer
Sem sair da Quinta vale a pena apreciar a paisagem, que é o perfeito exemplo do que a Madeira oferece: uma combinação idílica de montanhas e mar. Para uma estadia mais ativa, informe-se sobre as levadas mais próximas – há pelo menos uma que tem início nas proximidades. Para quem gosta de caminhar e de belas paisagens, recomenda-se também uma subida à Penha da Águia, e quem preferir praia tem a habitual enseada de seixos complementada por uma bela piscina, mesmo à beira-mar, sem sair de Porto da Cruz.
Se tiver transporte próprio, Machico fica apenas a dez minutos. E vale a pena ir a Santana, cidade ainda mais próxima, fazer pelo menos uma refeição no restaurante Cantinho da Serra, que serve delícias locais para todos os gostos com uma qualidade acima do normal, apostando em produtos biológicos. Contacto: 291 573 727.
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