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Sauran, as ruínas silenciosas (e o rapaz da cabra)

Por Filipe Morato Gomes
Visitar Sauran, Cazaquistão
Entrada nas ruínas de Sauran, outrora a maior cidade do Cazaquistão

Antes de atravessar a pequena ponte de madeira que dá acesso às ruínas da fortaleza, ninguém diria que Sauran foi, em tempos, a maior cidade do Cazaquistão. Descrita como “uma grande cidade rodeada por sete muralhas com uma mesquita localizada no coração da cidade”, Sauran foi também das poucas cidades da região que “sobreviveu ao ataque mongol”.

Tudo somado, entre os séculos XIII e XVI, Sauran desempenhou um papel de grande relevo na Rota da Seda, importante rota comercial entre o Ocidente e o Oriente. Mas, aos poucos, os habitantes foram partindo em busca de melhores condições de vida, fazendo Sauran definhar, enquanto localidades como Turkistan iam ganhando importância.

Muralhas de Sauran, Cazaquistão
Muralhas da antiga cidade de Sauran

Hoje, Sauran é apenas memórias e sol e ruínas. Um retângulo de quase nada rodeado pelo pouco que resta das muralhas defensivas, com algumas paredes dos edifícios semi-recuperadas. Ainda assim, tinha de ir ver com os meus próprios olhos.

Quando Dylia, uma das rececionistas do Hotel Edem, em Turkistan, me disse o preço de um táxi para visitar a velha cidade de Sauran, indaguei se não haveria turistas no hotel com quem pudesse partilhar a viagem – e o custo. “Mas aqui não há turistas”, respondeu prontamente. “Amanhã chega um americano, podemos-lhe perguntar”. Estava dado o mote para a visita a Sauran – uma região totalmente fora das rotas do turismo de massas (tal como todo o Cazaquistão, aliás), visitado por alguns intrépidos viajantes com bastante tempo disponível.

A minha visita a Sauran

Visitar Sauran, Cazaquistão
O que resta da antiga cidade de Sauran

Como seria de esperar, fui visitar Sauran sozinho. Melhor dizendo, na companhia de um taxista com quem não tinha uma única palavra em comum. Percorremos parte da estrada que liga Turkistan a Qyzylorda debaixo de um calor insuportável, a caminho de Sauran.

Estava deserta.

Encontrei as extensas ruínas cobertas de vegetação. Ao que consta, o solo arenoso esconde um sofisticado sistema de canais subterrâneos semelhantes aos qanats iranianos que tiveram um papel fundamental na prosperidade de Sauran. Acredito; mas, a olho nu, sem a companhia de um guia especialista, era para mim muito difícil interpretar o que aquele amontoado de “pedras” significava. Ainda assim, fui olhando e vendo e tocando.

Sauran
Chegada a Sauran

E assim estava, explorando em silêncio, sozinho, quando uma grande família cazaque estacionou os seus carros e entrou de rompante na fortaleza de Sauran. Eram três gerações distintas, mais uma cabra bebé levada ao colo, todos muito curiosos com a minha presença e muito sorridentes após ouvirem a resposta mil vezes repetida ao longo da passagem pelo Cazaquistão: “Portugalia“!

Intrigou-me a presença da pequena cabra ao colo do petiz, qual animal de estimação, mas a barreira linguística não permitiu grandes conversas. Por essa altura, o silêncio de Sauran desaparecera, mas felizmente para mim era hora de deixar as ruínas para trás. Despedi-me, afaguei a cabra uma última vez e regressei a Turkistan.

Muralhas de Sauran, Cazaquistão
Caminhando no que resta das muralhas de Sauran, a 45km de Turkistan

Guia prático

Como chegar

Vindo de Almaty, no Sul do Cazaquistão, a melhor forma de chegar a Turkistan é de comboio. A viagem é longa – entre 13 e 20 horas – mas faz-se relativamente bem. Eu comprei o bilhete de comboio numa agência local, em Almaty (para evitar ter de ir à estação de comboios).

A partir de Turkistan, e na quase ausência de transportes públicos (há autocarros esporádicos que fazem a ligação Turkistan – Qyzylorda, mas teria de regressar à boleia), a melhor hipótese é arranjar um táxi para o levar a Sauran, esperar que visite as ruínas e regressar a Turkistan. Eu paguei 10.000 Tenge pelo serviço, mas acredito que conseguia mais barato negociando diretamente com os taxistas.

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Onde ficar

Eu fiquei hospedado no Hotel Edem e, apesar de não ser o hotel mais barato de Turkistan, penso que foi uma excelente escolha. Até porque paguei 8.000 Tenge (menos de 20€) por um quarto individual com casa de banho e pequeno-almoço incluído. Esteja preparado para ouvir música e muita animação, uma vez que o Edem é o ponto de encontro da noite do Turkistan (acaba antes da meia-noite).

Uma alternativa sem dúvida melhor (e mais cara) é o Hotel Khanaka, onde também ponderei ficar. Ambos têm localizações fantásticas, muito perto do Mausoléu de Khoja Ahmed Yasawi. Note que não há muitos hotéis na cidade de Turkistan em que seja possível reservar online. Pesquise através do link abaixo.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

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