A ideia era ir até ao Fundão sobrevoar cerejais e ver a Serra da Gardunha de cima, mas o voo de Balão acabou por ser cancelado devido ao mau tempo. Assim, acabei a desfrutar da serra com os pés bem assentes na terra, durante o dia, e, à noite, com os olhos postos no céu dentro de uma tenda com ar condicionado.
Vistos de fora, os domos geodésicos do Natura Glamping (uma espécie de tendas) não deixam adivinhar o que nos espera lá dentro. E eu teria de esperar até ao fim da tarde, já que o dia seria de descoberta de uma serra misteriosa e acolhedora.
Tinha de avançar, portanto, passar a Casa do Guarda, mirar as tendas a curta distância e começar a subir a encosta Norte da Gardunha. A serra, com cerca de 10 quilómetros de largura, tem a particularidade de criar diferentes microclimas nos dois lados e, por isso, as cerejeiras do lado Norte começam a dar cerejas em maio e as do lado Sul só amadurecem em junho.
Essa variedade climatérica foi fácil de perceber ao longo do percurso entre Alcongosta, a aldeia que acolhe a tão afamada Festa da Cereja, e Castelo Novo, a última das doze aldeias a ser classificada como aldeia histórica e a única entre elas que pertence ao concelho do Fundão.
As giestas amarelas e os pedregulhos de granito dominam a paisagem e a travessia, que inclui parte da Rota de Alpreade, um dos 10 percursos pedestres assinalados. Não só serviu para ouvir mentalmente a minha avó (“naquele tempo só existiam congostas”), por causa do nome da aldeia, como para descobrir que existe o “chamamento da Gardunha”, que leva algumas pessoas a não quererem abandonar a serra assim que lá põem os pés.
Eu confesso que estive próxima de sentir esse chamamento enquanto provava o gaspacho de cereja que nos aguardava na Casa Lagariça, sentada ali ao lado da própria lagariça escavada na rocha e cercada de granito, depois de caminhar durante um par de horas.
É uma coisa minha, isto de ser levada pela comida, e ainda nem mencionei o arroz de carqueja, a panela no forno, os queijos e os enchidos desta zona ou a cherovia panadinha e o sabor do serpão, uma erva da família do tomilho muito usada no Fundão e “que não se encontra na serra, só em vasos”, disse-me o Sr. José, motorista da comitiva onde eu estava integrada, já depois de termos trocado Castelo Novo pela aldeia de Soalheira.
Natura Glamping, uma experiência do outro mundo
A caminho do Natura Glamping, não consegui deixar de pensar que, apesar da omnipresença das cerejeiras, eram os roseirais que mais me chamavam a atenção. Como era possível que toda a gente conseguisse ter tantas rosas a espreitar dos muros das casas, quando se sabe que estas flores “funcionam” com umas pessoas e com outras não? Talvez seja um dos mistérios da Gardunha – como o que ficaria a conhecer depois de largar as malas no domo.
Na verdade, ainda não tinha ouvido falar “DO” mistério, nem tampouco que a Gardunha será um dos “15 melhores sítios do mundo para observação de OVNIs” e, de repente, as semelhanças entre os domos e as naves espaciais dos filmes começaram a parecer-me evidentes. Jorge Pessoa, proprietário do Natura Glamping, garante que é pura coincidência, mas não nega que acontecem “coisas estranhas” na Gardunha.
Quando finalmente entrei na tenda, pude verificar que o melhor de tudo estava do lado de fora: a vista da Gardunha até à Serra da Estrela. Nada a reclamar do interior, claro; a tenda está muitíssimo bem equipada com dois confortáveis quartos e uma casa de banho, com direito a jatos de massagem no polibã e tudo, e ainda ar condicionado. Mas é o facto de poder estar deitada na cama a olhar para a serra, através da parte transparente do domo, que torna esta estadia numa experiência única.
As únicas semelhanças entre os domos do Natura Glamping e as tendas “normais” de um parque de campismo são os fechos das aberturas da entrada. De resto, não há qualquer outra comparação possível. A estrutura de aço está assente em plataformas de madeira maciça e a cobertura é de uma lona resistente ao tempo da montanha. A parte da frente é feita numa espécie de plástico transparente que permite a tal vista, que pode ser cortada por umas enormes cortinas.
E antes que me perguntem porque é que alguém quereria deixar de acordar com a serra aos pés, devo dizer que depois de ouvir histórias sobre OVNIs e acontecimentos estranhos na Serra da Gardunha, uma pessoa dentro de uma tenda em forma de nave espacial fica, digamos, um pouco medrosa.
Nada que uma cama confortável, com vista para as estrelas, não resolva. Na verdade, a noite foi muito tranquila – como não poderia deixar de ser quando se dorme mais perto do céu – e o acordar um regalo para os olhos.
As cerejas do Fundão
Às 6h07 da manhã o sol acordou-me. Não precisava de sair tão cedo da cama, porque já não ia voar de Balão, mas quase me apeteceu fazer o Surya Namascar, a saudação ao sol (a minha professora de Yoga haveria de ficar orgulhosa se soubesse disto).
Além disso, aguardava-me uma visita a um pomar de cerejas, porque não há como ir ao Fundão e não ver cerejas; comer cerejas a toda a hora; comer vários pastéis de cereja; compota de cereja; bombons de cereja; beber licor de cereja; cocktail de cereja…
Sim, o Fundão é cerejas.
E percorrer um cerejal é uma experiência sensorial imperdível. Não sei como são as cerejeiras em flor ao vivo, mas as cerejeiras com fruto são magnéticas; as mãos ganham vida própria e começam a colhê-las aos molhos.
Na Quinta do Pombal, na Aldeia Nova do Cabo, mãos calejadas procediam à apanha das cerejas; e eu quis naturalmente saber quais são as melhores cerejas do Fundão (as minhas mãos achavam todas igualmente boas e o meu paladar confirmava-o). A resposta? Prime Giant calibre 32. Está visto: no que toca às cerejas, o tamanho conta.
Não sobrevoei os cerejais do Fundão nem vi a Serra da Gardunha de cima; mas prazeres terrenos não faltaram nesta visita ao concelho do Fundão.
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