Embarco numa lancha em direcção à ilha Sipadan, mundialmente famosa pela excelência dos locais de mergulho em seu redor. Tartarugas, tubarões, barracudas, mantas gigantes e muitas outras espécies de grande dimensão são avistadas diariamente. Para este viajante planetário, mergulhar é agora um vício ao qual é difícil resistir.
A ilha Sipadan é mundialmente famosa pela sumptuosidade da vida subaquática existente em seu redor. Mais de três mil espécies de peixe e centenas de espécies de corais foram já classificadas no seu riquíssimo ecossistema. A ilha é, aliás, formada por corais vivos que crescem no topo de um extinto vulcão subaquático. O vulcão eleva-se verticalmente desde o fundo oceânico até à superfície, numa parede com seiscentos metros de profundidade. Alguns dos mais conceituados fotógrafos submarinos do planeta fazem de Sipadan ponto de paragem regular. Mergulhadores amadores e profissionais são atraídos como ímanes a este pequeno pedaço de terra. Foi para lá que me dirigi.
Entrei numa lancha rápida não com destino à ilha de Sipadan, mas sim a Mabul, a pouco menos de vinte milhas de distância. Na verdade, actualmente ninguém tem permissão para ficar em Sipadan, fruto de uma das mais arrojadas medidas do ponto de vista ambiental de que há memória na região. Até há cerca de dois anos, o número de mergulhadores costumava ser tão elevado que o frágil ecossistema corria o risco de ser irremediavelmente danificado. Para os decisores malaios, nos pratos da balança encontravam-se os benefícios do turismo no curto prazo, de um dos lados, ou a conservação de um ecossistema delicado e a preservação do turismo a longo prazo, no outro. E foi então que as autoridades da Malásia decidiram tomar uma medida radical e corajosa.
De uma assentada, mandaram deslocalizar todos os centros de mergulho de Sipadan, ordenaram a destruição de todos os bungalows e resorts e proibiram a estadia de turistas na ilha. Alguns centros de mergulho foram transferidos para a razoavelmente afastada ilha Mabul, outros encerraram portas. E hoje, para Sipadan, há de novo esperança.
Uma vez em Mabul, foi chegada a altura de vestir um fato de mergulho, carregar um tanque de ar comprimido e demais equipamento, e partir à descoberta da aclamada fauna da área envolvente. O cenário que encontrei era arrebatador. Dezenas de graciosas tartarugas vagueavam pelos recifes de coral, alimentando-se e esfregando a carapaça contra a rigidez das pedras, enquanto outras acasalavam diante dos olhos dos mergulhadores. Inofensivos tubarões do recife repousavam imóveis nos fundos arenosos, enquanto outros mais activos nadavam sem destino definido. Mantas gigantes pareciam voar sincronizadas até desaparecerem na imensidão azul do oceano. Escolas de barracudas apareciam e abalavam rapidamente. Peixes crocodilo, leão e papagaio, cobras de água e um sem fim de outros animais de todas as formas e tamanhos marcavam também presença debaixo de água. Absolutamente assombroso.
Tal como pasmado fiquei ao parar nos areais de Sipadan pela primeira vez. As águas rasas de um azul-turquesa luminoso esbarravam lentamente numa praia de areia imaculadamente branca. Filas de palmeiras delimitavam um areal onde não havia banhistas, pese embora não estivesse deserto. Mas, ao invés de fatos-de-banho e biquínis, homens fardados e de metralhadora em punho patrulhavam as areias de Sipadan, de olhar atento aos céus e a cada barco que chegava. Uma visão no mínimo caricata, mas com uma justificação aparente.
Cinco anos atrás, a paradisíaca ilha recebeu uma visita indesejada. O temido grupo terrorista Abu Sayyaff, oriundo da vizinha Filipinas, ali aterrou com um contingente de homens fortemente armados. Em lugar tão idílico e tranquilo, as forças policiais eram praticamente inexistentes pelo que, para os separatistas, não foi tarefa difícil capturar vinte indivíduos, número no qual se incluíam alguns turistas. Os reféns foram mantidos em cativeiro até que, ao fim de cinco meses de tensão e angústia, acabariam por ser todos libertados. “E tu, não tens receio de ser raptado?”, tinha-me perguntado dias antes, a propósito, uma jovem viajante num botequim de rua de Kota Kinabalu, assim que soube que iria para Sipadan. “Em Sipadan deve haver agora mais polícias do que nunca”, respondi, em jeito de antevisão. O que não imaginava é que patrulhavam uma ilha deserta.
Esta é a capa do livro «Alma de Viajante», que contém as crónicas de uma viagem com 14 meses de duração - a maioria das quais publicada no suplemento Fugas do jornal Público. É uma obra de 208 páginas em papel couché, que conta com um design gráfico elegante e atrativo, e uma seleção de belíssimas fotografias tiradas durante a volta ao mundo. O livro está esgotado nas livrarias, mas eu ofereço-o em formato ebook, gratuitamente, a todos os subscritores da newsletter.
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