Destino: Ásia » Japão

Sopa de miso, Japão

Por Kiko Martins
Sopa miso, comida japonesa
Sopa miso © istock.com

A sopa de miso da Junko San

Há várias razões que me levam a con­siderar que o Japão é um mundo à parte do mundo, mas uma das que aparece no topo da lista é, sem dúvida, a eficiência extrema do serviço postal. Depois de ter ido visitar uma quinta onde se produzia carne wagyu, e de lá ter saído com dois bifes congelados como recordação, vi-me perante um problema. Tinha uma das melhores carnes do mun­do ali mesmo à mão, sem uma arca frigorífica para a guar­dar.

No dia seguinte, seguia para Fukuoka, onde me ia reencontrar com a Eriko, a nossa nova amiga japonesa, mas com o calor que se fazia sentir nesse dia tive a certeza de que nem mesmo um wagyu duraria até lá. Ainda tentei perceber se no hotel não conse­guiam arranjar forma de cozinhar, mas nada feito. Até que a rececionista, com o ar mais natural do mundo, me aconselhou a ir ao correio enviar os bifes para casa da família que me ia acolher em Fukuoka.

Empurrei a porta dos correios de Yokkaichi desconfiado e para conseguir comunicar com o empregado tive de telefonar para Tóquio: coube à Eriko, senta­da na outra ponta do país, a tarefa de explicar o que queríamos fazer. Confesso que fiquei à espera de que o homem me dissesse que estava doi­do, que estava nos correios e não num supermercado, que ele é carteiro e não carniceiro, mas nada disso.

Mandou-me comprar uma embalagem de refrigeração para embalar a carne congelada, colocou o embrulho dentro de um envelope e enviou tudo diretamente para casa dos tios da Eriko. A encomenda chegou no mesmo dia a Fukuoka; eu só no dia seguinte, e de­pois de várias horas fechado dentro de um autocarro.

O cansaço que senti foi totalmente compensado quando conheci Yoshiha­ru san, tio da Eriko. De sorriso tímido e sincero, fez questão de explicar em japo­nês que tinha um pequeno-almoço em casa à minha espera. Tive sorte porque a Eriko estava com ele: ela foi a garantia de que nos próximos dias não ia andar aos papéis. Tal como imagino que os nossos antepassados tenham sido re­cebidos quando chegaram ao Japão há mais de quatrocentos anos, também eu entrei de pés descalços em casa dos Yasuda.

Eu não sabia mas esperava-me uma semana à mesa em família. E ao que parece, com uma cozi­nheira de se lhe tirar o chapéu – Junko san, a tia da Eriko. Deu para desconfiar que assim seria, só pelo aroma delicioso que me deu as boas-vindas à entrada de casa. Tão impiedoso que me atraiu direc­tamente para a mesa.

Sem dar por isso, vi-me su­bitamente conquistado por peixe frito escoltado por quiabo temperado com molho de miso e uma mistura de rábano, cogumelos shitake e cenoura, cozinha­dos em mirin, açúcar e molho de soja. De guarda, arroz e sopa miso, os escudeiros da maior parte das refeições japonesas. A barriga rejubila e a cara só se permite sorrir. Foi então que percebi o quan­to estavam impressionados por eu gostar tanto de arroz. Ainda não sabem que nós portugueses somos os asiáticos da Europa, que co­memos uma média de dezassete quilos de arroz por ano, mais do dobro de um europeu.

A forma que encontrei de retribuir tamanha ge­nerosidade foi ceder à vontade dos tios da Eriko de provar a gastronomia portugue­sa. No dia em que me despedi do Ja­pão, preparei uma açorda de marisco bem condimentada que fez as delícias da família. E fui também eu surpreendido pelos de­liciosos bifes wagyu que tinham chegado no início da semana e “ficado esquecidos” no congelador. Com a qualidade de tudo o que fui provando confesso que nunca mais me lembrei deles.

Nessa noite, a conversa estendeu-se pela noite fora e per­cebi finalmente qual é o ingrediente secreto da cozinha japonesa. Além da im­portância dos sentidos, de uma boa dose de coração e bastante técnica, os japone­ses dão a alma. Nessa noite, deixei no Japão parte da minha.

Uma sopa de miso memorável

Sopa miso: Chef Kiko no Japão
O chef Kiko em casa da família de Junko San, no Japão

Esta receita faz-me recordar esta que foi uma das melhores semanas da viagem Comer o Mundo. Junko San era a matriarca da família e, apesar de não falar inglês, fez questão de me ensinar a preparar alguns dos pratos mais tradicionais da cozinha japonesa. Foi assim que uma simples sopa de miso se tornou uma das melhores experiências gastronómicas de sempre.

Ingredientes

  • 1 c. de sopa de óleo
  • 1 beringela cortada em cubos (1 cm por 1 cm)
  • 1 pedaço de gengibre com cerca de 1 cm, picado
  • 2 c. de sopa de açúcar
  • 2 c. de sopa de pasta de miso (mais esbranquiçada)
  • 1 l de água fria
  • ½ chávena de café de molho de soja
  • 1 c. de sopa de sementes de sésamo tostadas
  • 10 g de algas wakame (opcional)
  • 50 g de tofu (opcional)

Preparação

Corte a beringela em fatias com 1 centímetro de largura. Depois corte-a em tiras e, por fim, em pequenos cubos. Numa panela, aqueça o óleo, junte a beringela e o gengibre e, logo de seguida, o açúcar. Deixe cozinhar durante 2 minutos. Junte a pasta de miso e cubra com a água. Quando levantar fervura, retire do lume e tempere com o molho de soja.

Sirva em tigelas. Polvilhe com sementes de sésamo tostadas. Se optar por usar algas e tofu, hidrate as algas em água fria durante 5 minutos. Corte o tofu em cubos pe­quenos e distribua pelas tigelas. Divida as algas hidratadas pelas tigelas e, sobre estas, sirva a sopa.

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Kiko Martins

Cozinheiro e viajante e um dos professores da Chefs' Academy. Já deu uma volta ao mundo gastronómica, é casado, tem dois filhos e está à frente das cozinhas d'O Talho e d'A Cevicheria. Gosta de estar à mesa, ainda mais a beber pisco sour.