A sopa de miso da Junko San
Há várias razões que me levam a considerar que o Japão é um mundo à parte do mundo, mas uma das que aparece no topo da lista é, sem dúvida, a eficiência extrema do serviço postal. Depois de ter ido visitar uma quinta onde se produzia carne wagyu, e de lá ter saído com dois bifes congelados como recordação, vi-me perante um problema. Tinha uma das melhores carnes do mundo ali mesmo à mão, sem uma arca frigorífica para a guardar.
No dia seguinte, seguia para Fukuoka, onde me ia reencontrar com a Eriko, a nossa nova amiga japonesa, mas com o calor que se fazia sentir nesse dia tive a certeza de que nem mesmo um wagyu duraria até lá. Ainda tentei perceber se no hotel não conseguiam arranjar forma de cozinhar, mas nada feito. Até que a rececionista, com o ar mais natural do mundo, me aconselhou a ir ao correio enviar os bifes para casa da família que me ia acolher em Fukuoka.
Empurrei a porta dos correios de Yokkaichi desconfiado e para conseguir comunicar com o empregado tive de telefonar para Tóquio: coube à Eriko, sentada na outra ponta do país, a tarefa de explicar o que queríamos fazer. Confesso que fiquei à espera de que o homem me dissesse que estava doido, que estava nos correios e não num supermercado, que ele é carteiro e não carniceiro, mas nada disso.
Mandou-me comprar uma embalagem de refrigeração para embalar a carne congelada, colocou o embrulho dentro de um envelope e enviou tudo diretamente para casa dos tios da Eriko. A encomenda chegou no mesmo dia a Fukuoka; eu só no dia seguinte, e depois de várias horas fechado dentro de um autocarro.
O cansaço que senti foi totalmente compensado quando conheci Yoshiharu san, tio da Eriko. De sorriso tímido e sincero, fez questão de explicar em japonês que tinha um pequeno-almoço em casa à minha espera. Tive sorte porque a Eriko estava com ele: ela foi a garantia de que nos próximos dias não ia andar aos papéis. Tal como imagino que os nossos antepassados tenham sido recebidos quando chegaram ao Japão há mais de quatrocentos anos, também eu entrei de pés descalços em casa dos Yasuda.
Eu não sabia mas esperava-me uma semana à mesa em família. E ao que parece, com uma cozinheira de se lhe tirar o chapéu – Junko san, a tia da Eriko. Deu para desconfiar que assim seria, só pelo aroma delicioso que me deu as boas-vindas à entrada de casa. Tão impiedoso que me atraiu directamente para a mesa.
Sem dar por isso, vi-me subitamente conquistado por peixe frito escoltado por quiabo temperado com molho de miso e uma mistura de rábano, cogumelos shitake e cenoura, cozinhados em mirin, açúcar e molho de soja. De guarda, arroz e sopa miso, os escudeiros da maior parte das refeições japonesas. A barriga rejubila e a cara só se permite sorrir. Foi então que percebi o quanto estavam impressionados por eu gostar tanto de arroz. Ainda não sabem que nós portugueses somos os asiáticos da Europa, que comemos uma média de dezassete quilos de arroz por ano, mais do dobro de um europeu.
A forma que encontrei de retribuir tamanha generosidade foi ceder à vontade dos tios da Eriko de provar a gastronomia portuguesa. No dia em que me despedi do Japão, preparei uma açorda de marisco bem condimentada que fez as delícias da família. E fui também eu surpreendido pelos deliciosos bifes wagyu que tinham chegado no início da semana e “ficado esquecidos” no congelador. Com a qualidade de tudo o que fui provando confesso que nunca mais me lembrei deles.
Nessa noite, a conversa estendeu-se pela noite fora e percebi finalmente qual é o ingrediente secreto da cozinha japonesa. Além da importância dos sentidos, de uma boa dose de coração e bastante técnica, os japoneses dão a alma. Nessa noite, deixei no Japão parte da minha.
Uma sopa de miso memorável
Esta receita faz-me recordar esta que foi uma das melhores semanas da viagem Comer o Mundo. Junko San era a matriarca da família e, apesar de não falar inglês, fez questão de me ensinar a preparar alguns dos pratos mais tradicionais da cozinha japonesa. Foi assim que uma simples sopa de miso se tornou uma das melhores experiências gastronómicas de sempre.
Ingredientes
- 1 c. de sopa de óleo
- 1 beringela cortada em cubos (1 cm por 1 cm)
- 1 pedaço de gengibre com cerca de 1 cm, picado
- 2 c. de sopa de açúcar
- 2 c. de sopa de pasta de miso (mais esbranquiçada)
- 1 l de água fria
- ½ chávena de café de molho de soja
- 1 c. de sopa de sementes de sésamo tostadas
- 10 g de algas wakame (opcional)
- 50 g de tofu (opcional)
Preparação
Corte a beringela em fatias com 1 centímetro de largura. Depois corte-a em tiras e, por fim, em pequenos cubos. Numa panela, aqueça o óleo, junte a beringela e o gengibre e, logo de seguida, o açúcar. Deixe cozinhar durante 2 minutos. Junte a pasta de miso e cubra com a água. Quando levantar fervura, retire do lume e tempere com o molho de soja.
Sirva em tigelas. Polvilhe com sementes de sésamo tostadas. Se optar por usar algas e tofu, hidrate as algas em água fria durante 5 minutos. Corte o tofu em cubos pequenos e distribua pelas tigelas. Divida as algas hidratadas pelas tigelas e, sobre estas, sirva a sopa.
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