Destino: Europa » Grécia » Creta

Trekking no desfiladeiro de Samaria

Por Ana Isabel Mineiro
Desfiladeiro de Samaria, ilha de Creta

O desfiladeiro de Samaria, na ilha de Creta, Grécia, é um prazer para os olhos e um descanso do calor intenso das ilhas gregas: começa com um mergulho nas suas florestas sombrias e termina com um mergulho no mar.

A caminho do mar

A maior parte dos turistas chega de barco à pequena aldeia de Agya Roumeli, caminha durante meia hora até ao extremo Sul do desfiladeiro de Samaria, e regressa em grupos suados e felizes, para mais uma bebida fresca antes de apanhar de novo o barco. Deixam para trás o desfiladeiro mais longo da Europa, com as suas montanhas escarpadas e carecas que escondem bosques húmidos e riachos, uma das zonas mais particulares do continente pelas suas especificidades de fauna e flora. Mas esta é uma região reservada aos que gostam de caminhar: percorrido da maneira mais fácil, ou seja, a descer, o caminho ao longo da garganta leva bem cinco a seis horas a ser concluído.

Começamos na entrada do Parque Nacional de Samaria, em Xilóskala, a “escada de madeira”. No local onde se paga a entrada do Parque há um café diligente e bem fornecido, no que diz respeito a pequenos-almoços, onde adiamos mais alguns minutos a descida íngreme, pedregosa e longa, que exige toda a nossa atenção. O arvoredo é frondoso e poderíamos pensar que estamos nos Alpes, não fosse a quantidade de ciprestes a lembrar-nos que o clima é mediterrânico. Na nossa frente levantam-se as Montanhas Brancas, ligeiramente avermelhadas e a desfazer-se em calhaus redondos de todos os tamanhos. Chegados ao fundo, quase uma hora depois, podemos vê-los acumulados em redor do ribeiro que, apesar do seu ar indolente, pode ser extremamente perigoso, sobretudo na Primavera: em 1993 morreram várias pessoas numa enxurrada súbita que os arrastou até ao mar; difícil de imaginar, enquanto atravessamos estes bosques sombrios, onde a água corre num suave marulhar por baixo das pedras do caminho.

Trekking e caminhadas: Samaria, ilha de Creta, Grécia
Samaria, ilha de Creta, Grécia

Para trás vão ficando velhas igrejas, sabiamente contornadas por um trilho muito bem cuidado, e vários miradouros. Quase a meio do percurso, as ruínas da antiga aldeia de Samaria esperam os turistas, com bancos e mesas dispostos à sombra, a pedir pausa e piquenique. É mais ao menos por aqui que nos despedimos da floresta densa e entramos no reino mineral, num cenário que já não nos deixa esquecer que estamos na ilha de Creta: montanhas secas e encrespadas de pedra, fios de água que parecem não ter qualquer efeito no aspecto árido e morto da terra, um sol ofuscante como só se encontra no Mediterrâneo. Os caminhantes aproveitam os calhaus roliços arrastados pelas águas baixas e transparentes do rio, e dispõem-nos em centenas de montículos ao longo do trilho. E as paredes de pedra vão-se aproximando uma da outra, inexoravelmente, a ponto de parecerem fechadas na nossa frente; só depois da próxima curva é que temos a certeza de poder continuar.

À medida que avançamos pela parte mais estreita do desfiladeiro, verdadeiro corredor de pedra, a temperatura vai baixando e predomina a sombra, já que o sol só consegue tocar no chão durante muito pouco tempo por dia. Lá no fundo ficam as Portas de Ferro, o fim da garganta, onde temos a sensação de poder tocar nas duas paredes se esticarmos bem os braços; nós e as dezenas de turistas que vêm de barco até à aldeia, e que chegam a fazer fila para tirar aqui uma foto. Para quem fez todo o caminho está na hora de um mergulho no mar azul que já se avista. Lá do alto espreita-nos o kastro, as ruínas de um antigo castelo ainda imponente que parece vigiar os barcos dos piratas, e cá em baixo fica a pequeníssima aldeia de Agya Roumeli, cujas casas parecem ter todas quartos para alugar, um pequeno restaurante ou uma mercearia.

Se não houver coragem para continuar, na manhã seguinte, num passeio suave de apenas uma hora por praias de areia escura, alcançamos a igreja de todos os postais, Agyos Pavlos, com o seu ar romântico e desprotegido, encalhada numa praia de seixos negros. Mas para terminar a caminhada em grande e apreciar ainda melhor a natureza da ilha, vale a pena continuar mais três horas ao longo da costa, até à deliciosa aldeia de Loutró, uma das muitas onde só se chega de barco ou a pé. O turismo é que já lá chegou há muito; é por isso que se come muito bem e na praia há um cartaz a proibir o topless.

Samaria e as montanhas brancas

A lenda conta que foi um Titã que rasgou as montanhas com a sua espada, criando assim esta improvável garganta de pedra, enquanto Zeus, nativo de Creta, instalou o seu trono no cimo do monte Gygilos, um dos cinquenta e oito cumes com mais de dois mil metros que a ilha possui. Estudos mais recentes, no entanto, mantêm que foram as torrentes de água que descem das montanhas a caminho do Mar da Líbia que escavaram esta impressionante passagem, ao longo de milénios.

As Montanhas Brancas, onde se destaca o monte Gygilos, levantam-se na nossa frente logo no início do caminho, exibindo encostas íngremes de pedra pálida onde só os mais atentos – sortudos – poderão detectar alguma silhueta de kri-kri, a cabra-montês cretense. O seu número já não ultrapassa os dois mil, mas vivem aqui muitas outras espécies raras e endémicas da ilha, assim como uma impressionante variedade de flora, alguma relacionada com espécies africanas e asiáticas. Foi este carácter único da zona que levou à criação do Parque Nacional de Samaria, que deve as suas especificidades ao posicionamento da ilha, o ponto mais a Sul da Europa, a umas centenas de quilómetros da costa líbia. E como se não bastasse este recorde, Creta possui ainda o da garganta mais longa da Europa: Samaria tem cerca de dezoito quilómetros, um corredor de pedra que apetece justificar com lendas de deuses. O percurso começa com uma descida abrupta por bosques frondosos e termina entre paredes de pedra que alcançam os trezentos metros de altura, mas não ultrapassam os três e meio de largura – as famosas “Portas de Ferro”, um dos locais mais fotografados da ilha.

Guia prático

Este é um guia prático para viagens a Samaria, ilha de Creta, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.

Quando viajar para Creta

As melhores épocas são a Primavera e o Outono, para fugir ao calor excessivo e ao frio.

Como chegar a Creta

Voar para Atenas com a Olympic Air ronda os 250€. Os barcos para Creta são diários, mas a frequência varia com a época do ano. A cidade mais próxima da entrada do Parque Nacional de Samaria é Khánia, e entre Novembro e Março terá de se informar localmente sobre os horários e ligações de autocarro e barco. De Abril a Outubro há autocarros que ligam a cidade à entrada do Parque a partir das 6.15 da manhã, e barcos que ligam Agya Roumeli, no fim das gargantas, a Khora Sfakion, o primeiro às 9 da manhã e o último às 18 horas; de Khora Sfakion, o último autocarro para Khánia parte às 18h30. Aconselhamos que se passe a noite em Agya Roumeli e que se continue o caminho até à belíssima aldeia de Loutró, onde pode apanhar o barco para Khora Sfakion.

Pesquisar voos

Onde ficar

Para fazer o percurso tal como o fizemos, terá de pernoitar em Khánia, e em Agya Roumeli antes de prosseguir caminho. Como a ilha é muito turística não faltam hotéis, pensões e quartos para alugar. Em Khánia, por exemplo, o Lucia, na Akti Koundouriótou, frente ao porto, vale bem os 40€ por duplo. Em Agya Roumeli, os quartos em casas de família, como o “Rooms Kastro”, são a opção mais interessante e rondam os 20€.

Pesquisar hotéis em Creta

Restaurantes

Trekking: Samaria, Creta, Grécia
Loutró, ilha de Creta

Em Khánia só há dificuldade na escolha; ao pé da Porta Renieri, por exemplo, o Restaurante Tamam tem um menu grego original, que também satisfaz os vegetarianos. Na zona do porto não faltam lugares um pouco caros, mas que oferecem a possibilidade de comer ao ar livre, com frescura e vista sobre o mar. Agya Roumeli é uma aldeia muito pequena mas com as tavernas do costume, onde é sempre possível encontrar peixe fresco e salada grega com verdadeiro queijo feta.

Informações úteis

Como em qualquer zona muito turística da Europa, não terá dificuldades em comunicar (em inglês), encontrar transportes ou alugar automóvel. A comida grega é muito boa e abusa de legumes como a beringela, o tomate e o pepino. Para os apreciadores também há queijos deliciosos, sobretudo de cabra, e os doces são requintados, combinando mel ou calda de açúcar com amêndoas e pistáchios.

Seguro de viagem

A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.

Fazer seguro na IATI (com 5% de desconto)

Ana Isabel Mineiro

Deixe um comentário