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A caminho de uma Bolívia a ferro e fogo (VM #52)

Por Filipe Morato Gomes | Volta ao Mundo América do Sul Bolívia Rurrenabaque Uyuni
Atualizado em 8.07.2017 | Tempo de leitura: 4 minutos

Viagens: Salar de Uyuni, Bolívia - Volta ao Mundo

Sem a certeza de poder prosseguir viagem após Uyuni – em virtude de manifestações e bloqueios de estrada -, atravesso a fronteira do Chile com a Bolívia. Passo por lagoas incrivelmente belas e pelo maior planalto de sal do planeta, antes de pernoitar num hotel construído exclusivamente com sal. À chegada a Uyuni, perante os meus olhos, a linha de caminho-de-ferro é dinamitada e as dúvidas sobre se seria sensato continuar adensam-se.

Flamingos na Lagoa Hedionda, Bolívia
Flamingos na Lagoa Hedionda, Bolívia

Ainda no Chile, a internet era o meio privilegiado para acompanhar de perto a tensa situação na Bolívia. O periódico La Razón titulava: “La Paz está sem água, combustível e há racionamento de alimentos”. “Manifestantes asseguram que os bloqueios de estradas são para continuar”. “Camionista assassinado em Sucre – a primeira vítima do conflito”. Os operadores turísticos confirmavam a conjuntura. Algumas embaixadas estrangeiras aconselhavam os seus concidadãos a abandonar o país. Não sabia bem o que fazer. A Bolívia era um destino no topo da lista de prioridades desde que iniciei esta viagem. Tentei convencer-me. O sudoeste do país é demasiado remoto para ter verdadeiras estradas – logo, não poderia haver bloqueios – pensei. O pior que poderia acontecer era não ser possível prosseguir viagem, depois de Uyuni, e ter que regressar ao Chile. Decidi arriscar.

Na fronteira, à entrada da Bolívia, um casal norte-americano que saía do país confirmava os piores receios. “Não é perigoso, mas as estradas estão todas bloqueadas e há viajantes retidos em várias cidades”, afiançaram, para depois concluir: “De Uyuni para a frente não é possível prosseguir, mas talvez possas furar os bloqueios, desembolsando duzentos ou trezentos dólares”. Quando imergi nas fabulosas paisagens dos planaltos bolivianos, estava já resignado. O resto da Bolívia teria que esperar. Iria apenas até Uyuni.

Entrei num jeep juntamente com outros cinco viajantes. Seguíamos num sentido sul-norte, sempre próximo da linha divisória com o Chile, e as paragens eram frequentes para permitir a exploração de algumas das mais emblemáticas atracções da região. A Lagoa Branca, imediatamente após a fronteira. A Lagoa Verde. A Lagoa Colorida, que apresentava uma palete multicolor onde predominavam tons avermelhados, fruto da existência de algas microscópicas que serviam de alimento a um grupo de flamingos. Mais adiante, um batalhão dessas graciosas e rosadas criaturas alimentava-se na denominada Lagoa Hedionda. Encontrava-se quase gelada mas era uma das mais bonitas lagoas que já havia visto, apesar do nome desencorajador.

Habitante da ilha Incahuasi, Salar de Uyuni, Bolívia
Habitante da ilha Incahuasi, Salar de Uyuni

Penetrámos pelo território boliviano a caminho da maior superfície de sal de todo o planeta. Na verdade, o Salar de Uyuni é o principal motivo que traz tantos viajantes a estas paragens e compreende-se os motivos. Um terreno incrivelmente plano e branco, a perder de vista, com algumas elevações montanhosas em redor, proporcionava uma imagem única e espectacular. Tudo era imaculadamente branco. Adiante, a Ilha de Incahuasi, rodeada de sal e povoada de cactos enormes, oferecia uma interessante alteração visual. Noutro local, um trabalhador amontoava sal com uma pá, em elevações piramidais, para secagem e posterior purificação. “Na Bolívia, não há dinheiro para máquinas”, assegurava o guia, face à óbvia ausência de maquinaria pesada nas imediações.

Percorrer de jeep parte dos doze mil quilómetros quadrados desse monstro salgado espantou todos aqueles com quem partilhava a viatura mas, à noite, nova surpresa. Por muito que se saiba sobre um hotel construído exclusivamente com blocos de sal, nada como vivenciar a experiência. Ao segundo dia, pernoitámos numa dessas excentricidades bolivianas: o Hotel Marith, localizado na povoação de Atulcha.

Durante o percurso, avistámos ainda um vulcão activo, de seu nome Olhague; parámos por breves instantes no lugarejo de San Juan del Rosário, onde uma velhota separava quinua – o cereal mais utilizado na culinária dos altiplanos; e assistimos à fúria explosiva dos Geysers Sol de la Mañana, a 5.000 metros de altitude, onde um intenso cheiro sulfuroso, lamas borbulhantes e um barulho assustador impunham respeito.

A cabeça de uma manifestação de mineiros, cidade de Uyuni, sul da Bolívia
A cabeça de uma manifestação de mineiros, cidade de Uyuni, sul da Bolívia

À chegada a Uyuni, depois de três dias sem acesso a informações noticiosas, indaguei sobre a situação dos bloqueios nas estradas bolivianas. “Ontem o congresso reuniu em Sucre e os manifestantes decidiram dar uma trégua de três semanas ao novo Presidente”, afirmou a gerente de uma pousada. Rejubilei. Podia prosseguir para o interior do país. A estação de caminho-de-ferro ficava do outro lado da rua. Saí da pousada com uma pernoita reservada e a decisão de seguir para Potosí no dia seguinte.

Na rua, pessoas corriam desvairadas e homens de farda verde ordenavam aos transeuntes que saíssem dali. Agitavam os braços virados para mim e outros viajantes, exaltados, para que corrêssemos numa direcção específica. Segundos depois, um estrondo brutal. Assim começava uma manifestação. Os de verde eram mineiros e tinham acabado de dinamitar a linha de caminho-de-ferro. Afinal, os problemas não tinham ainda terminado.

Esta é a capa do livro «Alma de Viajante», que contém as crónicas de uma viagem com 14 meses de duração - a maioria das quais publicada no suplemento Fugas do jornal Público. É uma obra de 208 páginas em papel couché, que conta com um design gráfico elegante e atrativo, e uma seleção de belíssimas fotografias tiradas durante a volta ao mundo. O livro está esgotado nas livrarias, mas eu ofereço-o em formato ebook, gratuitamente, a todos os subscritores da newsletter.

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Sobre o autor

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens

Olá! O meu nome é Filipe Morato Gomes, vivo em Matosinhos, Portugal, sou blogger de viagens, co-autor do projeto Hotelandia e Presidente da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Tenho 52 anos e muita experiência de viagem acumulada. Já dei duas voltas ao mundo, fiz dezenas de viagens independentes e fui líder de viagens de aventura.

Mais recentemente, abracei um novo desafio chamado Rostos da Aldeia, onde se contam histórias positivas sobre as aldeias de Portugal e quem nelas habita.

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